Há dez anos, em 31 de Outubro de 1999, escrevíamos no extinto semanário aveirense Litoral, que a cidade alemã de Augsburgo assistiu a um acontecimento que poderia ter sido – na linha da definição de poética de Aristóteles contrária à história- outro muro derrubado na Alemanha.
Uma alusão compreensível ao Muro de Berlim, derrubado em 1989, desta vez para falar de aproximações entre instituições católicas e protestantes.
No dia preciso em que se comemorava mais um aniversário (31 de Outubro de 1517) da afixação histórica das 95 Teses de Lutero contra as indulgências, assistia-se a um acordo católico-luterano sobre a «Doutrina da Justificação por Graça e Fé».
Discutida durante mais de três décadas, chegava ao ponto culminante essa declaração conjunta como um marco miliário – de acordo com a afimação do papa João Paulo II. «Na difícil estrada da recomposição da plena unidade entre cristãos».
Aquela declaração, elaborada por comissões mistas internacionais luterano-católicas, firmava uma ideia comum sobre a Salvação, no que dizia -e diz- respeito às duas Igrejas cristãs.
Não sei ainda na íntegra, passada uma década, os termos e o conteúdo desse acordo, tanto mais que o mesmo procurava superar questões não apenas de fé, mas jurídicas também de base confessional para as igrejas históricas luteranas, na Alemanha, que vêm desde o século XVI. Há precisamente dez anos, dizia-se que o evento «deixara a opinião pública indiferente.» E hoje, em 31 de Outubro de 2009?
E no entanto, esse assunto foi considerado há quase quatrocentos e oitenta anos magno e de estado.
Com efeito, a leitura da chamada Confissão de Augsburgo aconteceu a 25 de Junho de 1530, às 3 horas da tarde, e demorou cerca de duas horas.
O artigo 4º da mesma, coisa crucial para os luteranos, protestantes ou evangélicos, agora também se diz evangelicals (de Evangelicalismo), versava a doutrina incontornável da Justificação.
De Justificatione, o que, como todos os cristãos devem saber, se baseia na verdade doutrinária que S. Paulo escreveu aos Romanos, segundo a qual «somos justificados gratuitamente pela redenção que existe em Cristo Jesus.»
Se houve sempre este ponto de fé e de discórdia educada e civilizada entre nós, evangélicos e católicos, o mesmo continua bem vivo no Céu e de posse do Redentor.
Não faz parte exclusiva dos cânones da Terra, diríamos, é determinação divina, não só no discurso sobre Deus que é a teologia, mas de Deus mesmo, que «a justificação do pecador só se faz pela fé, não através de obras e sacrifícios», segundo se afirma, e bem, naquela referida Confissão.
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João Tomaz Parreira