( Herta Müller - Foto Diário de Notícias )
Mais uma vez a Academia sueca surpreendeu ao atribuir um dos Nobel de maior impacto mediático a uma escritora algo desconhecida do grande público. Mas isso também não é novidade !
Subscrevemos e sentimo-nos identificados ( sem que isso ponha em causa o valor literário da obra da escritora ) com as palavras da crítica literária Mafalda Lopes da Costa no DN :
"Quando existe um Mario Vargas Llosa ou um Philip Roth na calha, não se dá o prémio a uma Herta Müller, mas isso é a minha opinião pessoal. [...] Mas a Academia é o que é e não é por acaso que nos últimos anos o impacto do Nobel da Literatura não tem sido muito".
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A escritora alemã Herta Müller disse hoje, em Berlim, ainda não acreditar que ganhou o Prémio Nobel da Literatura 2009,e que apesar dos rumores que era um dos candidatos julgou que não iria acontecer nada.
"Ainda não está na minha cabeça, não esperava, estava certa de que não se passaria nada, ainda não consigo falar, é muito cedo, preciso de tempo para ordenar isto", disse a autora de origem romena, 56 anos, em conferência de imprensa improvisada, na pequena delegação da Associação dos Editores e Livreiros Alemães.
"Agora estou a pensar que quem ganhou não fui eu, foram livros, e não a minha pessoa, e julgo que é a melhor forma de lidar com a situação", acrescentou Herta Müller, pouco à vontade perante dezenas de objectivas fotográficas e câmaras de televisão.
A autora, que emigrou da Roménia comunista para Berlim-Oeste em 1987, quase três anos antes da queda da ditadura de Ceausescu, como um prémio à sua escrita, e ao facto de "ter vivido 30 anos sob uma ditadura e ter fugido dela".
"Mas há muitas pessoas que não sobreviveram à ditadura, eu própria tenho amigos que lamentavelmente morreram, e a queda da ditadura não os faz viver de novo", observou.
"Nos meus livros, reflecti sempre sobre como é que uma mão cheia de poderosos usurpam um país, a ponto de o país desaparecer e ficar só o Estado", referiu depois Müller.
A escritora disse ainda que o tema de todos os seus livros é a ditadura em que viveu na Roménia, "porque os autores não escolhem os seus temas, são eles que vão ao seu encontro".
As pessoas "arrastam sempre consigo" as sequelas das ditaduras em que são obrigadas a viver, acrescentando que se sente livre desde que chegou à Alemanha, apesar de ainda ter sido perseguida pela securitate, a polícia política romena, depois de passar a residir em Berlim-Oeste.
"Esta país salvou-me, senti que finalmente podia respirar e que tinha deixado a ditadura para trás, mas só quando a ditadura caíu, em 1989, senti que já não estava ameaçada".
Herta Müller revelou ainda que escreve em Alemão, e não em romeno, porque não tem "intimidade" suficiente" com a língua do seu país natal, apesar de a falar e de gostar muito dela.
"Mas para escrever é preciso uma intimidade com ao língua que não tenho com o romeno, só com o alemão", explicou.
In Diário de Notícias de 08 de Outubro de 2009