Há uma frase encontrada em muitos auto-colantes em carros que diz: “Não tenho tudo o que amo, mas amo tudo o que tenho”. Pode parecer um algo inocente, e até coerente, mas no fundo expressa um dos maiores mal-entendidos da história humana. Trata-se da coisificação do amor.
As coisas estão aí para serem usadas, e não amadas. Enquanto que as pessoas deveriam ser amadas, em vez de usadas. Portanto, há aí uma inversão de valores. Este tipo de amor é completamente antagónico ao tipo de amor apresentado nas Escrituras. Não devemos investir afeição demasiada naquilo que possuímos, posto que tudo isso é passageiro. Somente o amor às pessoas é maior do que a morte, sobrevivendo a esta.[1]Pelo facto da alma humana ser eterna, o seu amor deve ser devotado a algo igualmente eterno. Razão pela qual o apóstolo João nos alerta: “Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele (...) Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre”.[2]Em vez de amar as coisas deste mundo, devemos e podemos usá-las, sem jamais abusar delas,“pois a aparência deste mundo passa”.[3]
Não devemos usar pessoas para alcançar as coisas que amamos. Devemos, sim, usar as coisas para beneficiar as pessoas que amamos. Como disse John Piper, “dedicar a sua vida a confortos e prazeres materiais é jogar dinheiro pelo cano. Investir a vida no esforço do amor rende dividendos de amor insuperáveis e intermináveis”. E mais: “Há mais felicidade em amar do que em viver no luxo!”[4] E ele remata: “Os prazeres mais profundos e satisfatórios que Deus nos dá através da criação são dádivas gratuitas da natureza e de relacionamentos amorosos com pessoas”.[5]
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[1] Cantares 8:6[2] 1 João 2:15,17[3] 1 Coríntios 7:3[4] Piper, John, Teologia da Alegria, Sheed Publicações, 2001, p.105[5] Ibid. p.159
Extraído do livro "Amor Radical", de autoria de Hermes C. Fernandes
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Via Blogue de Hermes Fernandes