Estive ontem na inauguração do Ciclo de Conferências, "Nas Fronteiras do Universo", promovido pela Fundação Caloustre Gulbenkian, em colaboração com outras entidades ligadas à ciência. Não era a primeira vez que me deslocava ao auditório 2 da Fundação para assistir a conferências. Fui "nas calmas" , com o tempo suficiente para chegar dentro do horário, o que aconteceu. Mas as "minhas calmas" não foram suficientes para me dar acesso ao auditório, que estava repleto, tendo que ficar "confortavelmente" instalado na escadaria de acesso ao hall dos auditórios, onde as seis ou sete dezenas de cadeiras ali provisoriamente colocadas já estavam esgotadas, tendo as pessoas que continuavam a chegar depois de mim que se espalhar pelo largo espaço que frente ao retroprojector disponível que transmitia para o exterior o que se passava dentro do auditório.
Uma surpresa, para mim, quando a porta do auditório 2 se abriu, após terminar a Conferência de ontem, e centenas de adolescentes e jovens sairam de supetão. Sei que "esqueceram" a sessão de interpelações ao conferencista que, para mim, é quase tão interessante, por vezes, quanto as Conferências em si. Mas pronto, não se pode pedir tudo, e já é um princípio, e um bom princípio, ver tanta gente no início da vida interessada em ciência e particularmente em astronomia, cosmologia, ou astrofísica, como queiramos.
Perguntarão porque é que eu gosto tanto de astronomia e, de uma forma geral, de ciência ? É simples a resposta: Foi por aí que eu vim a Jesus ! Foi pela contemplação do Universo nas noites estreladas do alentejo, em criança, e pelas explicações do meu avô José sobre o mesmo, um homem formado apenas na "Academia da Vida", muitas vezes bastante "criativas", que eu achei que queria conhecer mais sobre quem tinha criado algo tão profundo, perfeito e misterioso. Depois, foi só seguir Copérnico, Galileu, Newton, Kepler, Herschel e até Kant e somar um mais um que dá sempre dois. O resultado de um Universo tão matematicamente perfeito não pode ser obra do acaso. Só uma "mente" perfeita o podia ter criado e desenvolvido.
É por isso que ontem não me importei de ficar hora e meia sentado numa escada do hall dos auditórios da Gulbenkian, sabendo que três quartos do 2 estavam preenchidos por jovens e adolescentes ávidos de ouvir sobre o Universo que aprendi a "vasculhar" e entender desde os meus dias de menino, mesmo sem ser na actualidade um especialista ou cientista na matéria, bem longe disso, aliás.
Depois, para além do mais, sabe-me bem ouvir um homem da ciência, como o Prof. Alfredo Barbosa Henriques, dizer, humildemente, que na abordagem para a compreensão do Universo "temos ainda mais problemas do que soluções" ! É isto que admiro e gosto na ciência e nos verdadeiros homens da ciência: a não presunção de que sabem tudo ou que dominam o conhecimento total sobre tudo.
É sempre bom recordar Sócrates ( não o nosso primeiro-ministro, é claro ): "Só sei que nada sei !" . Ou mesmo Immanuel Kant : “Duas coisas satisfazem a mente com crescente admiração e receio: O céu estrelado por cima de mim e a lei moral dentro de mim”.
Tamanha simplicidade é desarmante e cativante e leva-me a gostar, cada vez mais, de ciência honesta e cientistas não preconceituosos. A ciência honesta, ao contrário do que uma larga corrente da igreja cristã estatuiu, não é inimiga de Deus nem da igreja, bem pelo contrário. E bom seria que, neste domínio, o da ausência de algumas certezas e ideias feitas, a igreja tomasse o exemplo da ciência séria. Talvez isso, e a Graça de Deus, impedissem a produção de fariseísmos e legalismos inconsequentes e o Espírito Santo tivesse assim espaço para actuar mais profundamente no coração dos homens e mulheres que povoam as casas de oração de hoje.
Jacinto Lourenço
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Breve apresentação da Conferência de ontem na Gulbenkian, e do Conferencista.
Neste seminário falaremos do impacto das ideias de Einstein, em particular na Teoria
da Relatividade Geral e suas aplicações na cosmologia. A cosmologia estuda o
universo na sua mais larga escala, como um todo, e este estudo tem na relatividade
geral o seu mais perfeito instrumento matemático. É claro que um projecto tão
ambicioso só pode ser levado avante, aceitando à partida um certo número de
hipóteses simplificadoras, baseadas na experiência e na observação. São estas
hipóteses que definem o modelo do Big-Bang, o modelo cosmológico com maior
aceitação na comunidade científica.
Começaremos a palestra com uma exposição, que se pretende simples, dos conceitos
básicos que definem a relatividade geral, chamando a atenção para as diferenças
importantes que separam esta teoria da mecânica newtoniana. Feito isto, entraremos,
então, na descrição do modelo do Big-Bang. Veremos o papel crucial que a
relatividade geral tem no estudo da cosmologia, em particular na compreensão desse
fenómeno espantoso que é a expansão do universo, expansão que não é uma
expansão através do espaço, mas sim uma expansão do próprio espaço. Deste
fenómeno da expansão poderemos tirar importantes conclusões sobre o passado do
universo, sobre a história da sua evolução e sobre os fenómenos físicos que foram
relevantes nesta evolução.
Como não podia deixar de ser, importantes dificuldades foram e estão a ser
encontradas, à medida que as nossas observações se foram tornando mais precisas e
sofisticadas, exigindo a introdução de novas componentes de energia e matéria do
universo, cuja interpretação é, ainda, altamente problemática.
Uma das maiores dificuldades, do ponto de vista teórico, resulta da aparente
incompatibilidade entre a teoria da relatividade geral e a mecânica quântica que rege
todos os fenómenos físicos conhecidos, com excepção das forças gravitacionais. É
aqui que nos aparece a teoria das supercordas, como tentativa de ultrapassar aquelas
dificuldades, através de uma unificação de todos os tipos de forças conhecidas,
baseando-se numa nova representação dos fenómenos mais elementares, mas que
está, ainda, longe de nos dar resultados definitivos. O mesmo se passa com outras
teorias em desenvolvimento, como seja a teoria da gravitação quântica em “loop”, de
que, também, falaremos muito genericamente.
Será que, da resolução deste problema, relatividade geral vs. mecânica quântica,
surgirá a solução das nossas dificuldades?
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Prof. Alfredo Barbosa Henriques
Alfredo Barbosa Henriques licenciou-se em Engenharia Electrotécnica na
Faculdade de Engenharia do Porto, e doutorou-se em Física pela Universidade de
Glasgow, em 1976, com uma tese intitulada “Relativistic Equations for Meson
Structure”. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian.
Desenvolve a sua actividade docente no Departamento de Física do Instituto Superior
Técnico, onde é professor catedrático, desde 1992. É investigador do Centro
Multidisciplinar de Astrofísica, CENTRA/IST, de que foi um dos fundadores e primeiro
presidente, até 2000. Baseado na sua actividade docente e nas suas aulas, publicou,
em colaboração com o Professor Jorge Crispim Romão, o livro “Electromagnetismo”,
IST Press, 2006. Recentemente, e tendo, também, como ponto de partida as suas
aulas sobre relatividade e cosmologia, publicou o livro “Relatividade Geral – uma
introdução”, IST Press, 2009.
A sua actividade científica pode ser dividida em dois períodos, mais ou menos distintos,
um que vai de 1976 a 1985/1986, e outro que vai desde 1986 até ao presente. O
primeiro período foi dedicado à exploração e desenvolvimento de modelos relativistas
de quarks e suas aplicações ao estudo da estrutura e espectro dos mesões e bariões.
Foram publicados vários artigos sobre estes assuntos.
A partir de 1986 começou a interessar-se pelos limites de baixas energias das teorias
de supergravidade e supercordas, e suas consequências na cosmologia (modelos
inflacionários, incluindo modelos com dimensões extra) e na astrofísica (estrelas de
neutrões e estrelas de bosões-fermiões, cujo conceito introduziu). Além destes,
publicou artigos científicos sobre perturbações em cosmologia. Durante uma parte
deste período teve uma colaboração activa com R. G. Moorhouse (Glasgow) e Andrew
R. Liddle (Sussex).
Mais recentemente, em colaboração com Paulo Sá (Algarve) e Robertus Potting
(Algarve), tem focado a sua investigação nas ondas gravitacionais de origem
cosmológica e no cálculo do respectivo espectro. Particular atenção tem sido dedicada
ao regime das muito altas frequências (MHz e GHz), pois este regime pode dar-nos,
em princípio, importantes informações sobre a época inflacionária, podendo mesmo vir
a fornecer-nos um teste importante dos modelos inflacionários.
Tem, também, trabalho publicado na área da cosmologia quântica em “loop”. Sobre
estes diversos temas tem publicado, regularmente, artigos científicos nas principais
revistas internacionais de física, Physical Review, Nuclear Physics, Physics Letters,
Zeit. f. Physik, Classical and Quantum Gravity, entre outras.
In site da Fundação Caloutre Gulbenkian