Acolheste-me em tua hospedaria. Porque fui alvo de tua deferência, cuidam do meu corpo moído. Ressoam as canduras que me segredaste enquanto caminhamos. Não preciso mortificar a minha mente exausta. Não tenho que quitar dívida. Cego para a minha vilania, és magnânimo. Delicado com o meu passado, mostras o tamanho de tua discrição.
Sem relutar, achega-te. Mesmo com muitas alternativas, decides ajudar-me a florescer. Não medes esforços para te revelares. Nunca te esquivas de meu olhar suplicante. Continuas a falar-me através dos violinos, das flautas, dos realejos. Percebo a tua simpatia no sorriso das crianças. Moras no absoluto silêncio, mas nunca me deixas sem intuir a tua presença.
Sinto o teu fôlego na brisa. Noto o teu luto no sol que se desmancha em trevas todas as tardes. Percebo tua companhia em meus desassossegos insones. Escutei-te na derradeira e trágica hora em que me despedi de minha mãe. Não, não reclamo que te mantenhas abscondito.
Porque és manso e humilde, encontro descanso para a minha alma. Caminhas comigo uma segunda milha. Perco a conta dos teus perdões. Aceitas meu perfume sobre a tua cabeça. Sem rotas, te elejo o caminho. Sem certezas, faço de nosso relacionamento a verdade. Sem neurose ou fantasia, considero-te o meu modelo de vida.
Transformas meu resguardo em audácia; meu arrojo, em cautela; meu atrevimento, em circunspeção; minha timidez, em fibra. Animaste o meu cotidiano. Estimulas o meu enfado. Pacificas a minha afoiteza. Eu, fujão, aprendo resiliência contigo. Trêmulo, encaro os dias maus porque me vestes com a tua armadura. Apesar de petrificado com temores infantis, tua compaixão me constrange a continuar.
Em ti cabem todos os elogios: esplêndido, nobre, sublime, majestático. Abano palmas, grito aleluias, quero que o mundo saiba que és notável. Auréolas, halos, fumos, vivas, tornam o entorno de teu trono o espaço mais sagrado do universo. Tu não constas em hierarquias; não cabes em definições; transbordas os limites.
Meu ser se agita e minha língua trepida, só de pensar que sou alvo de teu interesse. Despertas o meu fervor. Aqueces a minha pele. Condimentas a minha alegria.
Plácido, lembro que és amor. Seguro, busco refazer-me. Já não temo rancores teus. Mesmo inadequado, recebi o anel da tua fidalguia. Ilustro o meu brasão com a tua boa vontade. Todas as medalhas que carrego no peito provam a tua concórdia.
Tabernaculaste em mim. Meu coração é a tua tenda, meus pés, as tuas passadas e as minhas mãos, o teu toque. Resta-me sussurrar: Muito obrigado!
Soli Deo Gloria