quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Crónica de Férias - 2 : Acerca das Pontes

Ocorreu-me hoje, quando passava sobre a Ponte Romana de Tavira, um ex-libris desta cidade : "pontes são construções importantíssimas, e apenas por um pequeno detalhe que as distingue de outras construções: elas ligam duas margens ! Se assim não for, não são pontes". Uma verdade de La Palisse, esta !
Ao passar nesta tão importante ponte Romana e olhar, de sobre ela, em perspectiva para as restantes pontes que se erguem sobre o Gilão, assim se chama o rio que rasga Tavira em duas cidades desiguais, concluí ( não pela primeira vez claro) da importância que os romanos dedicavam a estas obras de engenharia e a convicção que colocavam na obtenção de certezas quanto ao objectivo final da obra. Duas coisas se realçam como fundamentais nas pontes romanas e que não noto noutras pontes, nomeadamente as que ligam Tavira: resistência e estética ! A Ponte Romana da cidade algarvia de Tavira tem estas duas coisas que as restantes não possuem e que se aliam à terceira vertente que uma ponte terá que possuir e que, será comum a todas : a utilidade ! A questão em Tavira é que as pontes de mais recente construção denotam apenas a preocupação pela utilidade; resistência e estética não lhas esboçou o projectista. Destas duas últimas qualidades, a primeira degrada-se a olhos vistos e a segunda não se faz notada. E lá está a outra, a Romana, a fazer inveja, quer pelos espaços projectados, que acabam por lhe emprestar a singularidade estética essencial para a fruição do rio pelos passantes, quer pela resistência dos seus pilares e tabuleiro em pedras que nos segredam histórias de séculos.
Pontes ligam margens e estabelecem união. Promovem encontros, desenvolvem e estreitam laços. Pontes unem origem e destino mesmo que não saibamos qual a margem de um e de outro. Pontes são monumentos à necessidade de comunicação. Pontes lembram-me o Amor de Deus por mim. A ligação entre nós, que Jesus estabeleceu na cruz. Pontes são monumentos ao Amor significado em duas margens, que podem até estar distantes, que podem até ser diferentes, que podem até ser magoadas por um rio que corra tormentoso entre elas. Nada, nunca mais, as poderá separar, quando uma pequena ponte é construida. Uma pequena ponte significa sempre uma oportunidade e uma possibilidade, assim nos deixemos unir por ela. Que nenhum de nós queime pontes quando acabar de as atravessar. Podem sempre ser-lhe úteis para um qualquer regresso. Não foi pequena a ponte que Jesus nos estendeu. A ponte do Amor, do perdão e da comunhão com Deus. Mais difíceis se tornam a construção de pontes consistentes e duradouras na comunhão entre os filhos de Deus. Aqui, muitas têm sido queimadas. Os incendiários continuam aí, a assistir, como se nada de relevante se passasse quando uma ponte é destruida. Quais pirómanos lançam fogo e observam à distância deliciando-se com a altura das lavaredas.
Sejamos construtores de Pontes, numa inspiração de Fé, Graça, resistência e utilidade. Pontes com estas características, foram as únicas que até hoje ultrapassaram séculos e milénios, e que continuam de pé. Pirómanos sempre existirão.
Jacinto Lourenço