sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O Meu pequeno Curso de Verão...

Hoje, estou assim, como que entre o alegre e o triste. Alegre, porque na próxima segunda-feira estarei de férias. Triste porque estarei de férias. Eu explico: pela primeira vez, nos últimos anos, vamos de férias acompanhados apenas com um dos nossos filhos, o Pedro - a Marta e o André já têm vidas próprias e autónomas. O Pedro é que é o benjamim cá de casa e a minha “universidade” doméstica, pela rapidez e pela riqueza académica com que me "ensina" a conhecer a plasticidade dos jovens de agora e a lidar com isso da melhor maneira possível. Acho que estou a “pagar” o preço da minha crítica a tantas gerações de pais que eu achava não estarem preparados para educar filhos. Descobri, afinal, uma coisa simples: quando eles entram na “idade do armário”, nenhum pai está preparado para se aguentar a tamanha experiência e, depois, quando saem, precisamos ter dose dupla de paciência, calma, perseverança , temperança, graça e amor para lidar com “as feras” . Confesso que tenho no meu cadastro de pai o registo de alguns momentos refractários a essas virtudes. Não há pais irrepreensíveis... Não há pais perfeitos e também não há filhos perfeitos. Provavelmente por isso é que não podem existir modelos educacionais perfeitos e, menos ainda, rígidos. Cada um de nós, deitando mão de toda a pedagogia e aprendizagem humilde que lhe for possível , deve munir-se de um conjunto de boas práticas educacionais que julgue poderem ser as melhores e mais eficazes , bem como as mais cabalmente adequadas à realidade que existe lá em casa, e ir fazendo, em contínuo, a avaliação das metodologias aplicadas. Nenhum filho é igual a outro filho, mesmo que todos sejam, a um tempo, bençãos e desafios. Filhos são a nossa “matéria-prima e, com ela, podemos procurar desenvolver um bom "trabalho", nunca esquecendo que somos pais e não instituições cuidadoras. Essa é a nossa responsabilidade. Filhos, são oportunidades que Deus nos dá, enquanto pais, para crescermos em todas as dimensões. Cada um deles é uma nova aventura e um novo e singular processo de aprendizagem para nós. Fornecer-lhes padrões, referências e experiências de variada ordem e transmitir-lhes valores, no nosso caso cristãos e em linha com a perspectiva cristã da vida e das coisas em que nos movemos, é o que se nos pede e é o que de nós se espera. No entanto, não podemos nunca perder de vista que os filhos que Deus nos deu não são matéria inerte. Quando nascem, já vêm com um carácter marcado indelevelmente e uma personalidade própria. Não são barro que moldamos ao nosso gosto, não é possível, e também não há uma matriz universal que formate filhos em automático, retirando-nos o saboroso mas doloroso caminho de os ver crescer, e ainda bem. Também não podemos fazer deles réplicas de nós próprios e muito menos objectos decorativos ou, no outro extremo, de adulação. Desde os primeiros dias, ainda bebés, que lhes começamos a identificar traços distintivos que encontraremos pela sua vida fora e que não dependem de qualquer influência genética familiar anterior. São inatos. E isso significa que, queiramos nós, ou não, há um espaço que eles vão conquistando na longa caminhada da vida e que nós vamos cedendo, mas há um “chão” que é deles mesmo, nunca o tivémos, nunca o herdámos nem deixámos em herança. Aí , nessa delimitação, poucos pais poderão intervir e, se forçarem a intervenção, correm o risco de deitar por terra qualquer bom trabalho que tenham feito, quer como progenitores ou educadores. Muitos dos melhores anos, e as melhores recordações da minha vida recente, prendem-se aos momentos passados com a família, no cuidado e na atenção dispensada ao seu crescimento e desenvolvimento. Dou Graças a Deus por isso. E todos os dias oro a Jesus para que, quando todos os meus filhos tiverem atingido o momento de “soltar amarras”, eu fique de largo a observar e a reflectir, "vaidoso" : obrigado Deus pela grande oportunidade e responsabilidade que me entregaste. Agora reentrego-te a tarefa de cuidares deles, coisa que só tu podes e sabes fazer, já que tão bem o tens feito até agora. É o tempo em que partilhamos mais os afectos e o amor do que o cuidado pelas suas vidas, que já saíram da nossa alçada. Ficam as preocupações e o cuidado remoto, nem sempre confessado, para nos fazermos fortes. Desta vez vez só o Pedro vai connosco. Isso é bom e deixa-me alegre, e isso é mau porque o tempo em que provavelmente ele deixará de ir comigo aproxima-se. Converter jovens de 19 anos, hoje, à “obrigação” de irem de férias com os pais, é uma tarefa que anda, quase sempre, no limiar da impossibilidade. Por mim, estou a preparar-me para mais um “curso intensivo” sobre como ser melhor pai, melhor cristão, sem poder perder de vista aspirar a ser um melhor educador . Este ano, estas férias, sei; vou ceder um pouco mais do espaço que era meu como pai, e procurar acercar-me do “chão” do meu filho Pedro, ficando no limite observando fronteiras. Serei bem sucedido ? Pelo menos irei tentar, sem que nenhum de nós, eu ou ele, se sinta violentado, mas antes elevado a novos patamares de intermutabilidade na relação pai/filho . Ganharemos os dois, em respeito e amor, estou certo disso. Lá vamos então “dourar” a pele para distantes areias.
Que se abra o chapéu de sol, que eu prefiro a sombra. Sou um cristão de sangue quente.
Jacinto Lourenço