"...disse-lhes Pilatos: Qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus, chamado Cristo?" Mt 27:17
Nunca sabermos ao certo quem foi o sujeito. Mas é certo, segundo o que as Escrituras nos revelam, que Barrabás era um agitador, um dos cabeças de um determinado levante ou movimento social qualquer, que culminou na morte de alguém e, segundo João, um ladrão, roubador, um bandido "notório". Nem imagino se era feio como pintou-o Mel Gibson no seu recente "The Passion of The Christ", mas o que sempre chamou-me a impressão, foi o fato do povão, que seguia Jesus, que bebia dele, que ouvia o que ele falava, que fora servido por ele e que, dias antes o aclamara na sua entrada triunfal em Jerusalém, a babar-lhe: "Hosana, hosana ao que vem em nome do Senhor!" trocou-o pelo enfim bandoleiro. Parece certo, na minha perspectiva, que naquele momento de decisão, o povo teve uma antevisão do que estava em jogo: A cruz - ou Jesus - com os seus benefícios e perspectivas espirituais, subjectivos ou adiados para uma realidade incerta e improvável como o céu - e ao que Barrabás representava - uma ética questionável, mas algo mais terra-a-terra, mais próximo da turba, algo bem mais de encontro aos benefícios pessoais imediatos que povoam os sonhos dos simples mortais. Barrabás era, por certo, alguém com algum apelo popular - que agradava ao povo (imagino eu que o motim, de que era acusado de participar, como quase todo, partia de algum apelo reinvindicatório e de encontro às conveniências, senão da maioria, ao menos de um bom grupo). Ele era talvez, como desses, igual a centenas de políticos que, apesar de roubarem, trapacearem, tirarem proveito do que não lhes pertence, contrariamente ao que seria lógico imaginar, ainda fazem sucesso, viram até heróis, por terem conseguido chegar lá, como uma raposa à porta do galinheiro, ao pote de ouro ao fim do arco íris, aos benefícios, às mordomias, ao sonho, venha da maneira que vier, pondo a mão (que podia bem ser a nossa!) em muita coisa apetecível. Ao ouvir as pregações dos bandidos de paletó, gravata e Bíblia na mão, chego a ouvir o "Qual quereis? Jesus ou Barrabás?". A cruz, o céu, a paz com Deus (e as perseguições, o abrir mão das regalias, dos direitos, o amar por obrigação, não por prazer, o perdoar, o andar a segunda milha...), ou a conveniência, o chão, a paz dos "Vasliuns" e dos "Prozacs"*, ou o torpor trazido pela fantasia da glória humana realizada? O servir ao que prometia a cruz e o cálice de gosto intragável,... ou a ética condenável mas conveniente do bandido que está onde eu desejava estar (afinal, desde lá, bonzinho só se ferra. Bandido que é bandido, dá-se sempre bem). E a malta, como naquele dia, na sua maioria, preferiu o outro evangelho, a "outra boa notícia" - a que vale a pena saciarmos o ventre, realizar o gosto que, afinal, dá-se sempre um "jeitinho" e livra-se a cara, safa-se das possíveis consequências. A vida nos ensina isso. A história prova-o. Luta por luta, vamos mais saciar o nosso desejo, o nosso ventre (só temos uma vida, não?). E que ninguém se engane: Essa decisão se nos apresenta a todo instante. O preço da vida com Cristo e os benefícios de preço algum. Ah! E me perdoe, Edir Macedo. Mas, riqueza, poder e número de seguidores não são ainda, sinais da aprovação e bênção de Deus à vida de ninguém. Se assim fosse, Barrabás, certamente, não contaria com a aprovação da maioria. E não também escaparia naquele dia maldito.
Via Rubinho Pirola