sábado, 22 de agosto de 2009

O País não Cheira a Rosas

“Não se pode esperar que um homem que vive num monte de esterco cheire a rosas.”
(Aravind Adiga, O Tigre Branco, Ed. Presença, p 34)

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A política portuguesa está mergulhada num lamentável lamaçal de incompetência, oportunismo e corrupção como talvez nunca antes. Multiplicaram-se nos últimos tempos os sinais de alerta, e os cidadãos bem formados têm cada vez mais dificuldade em rever-se na postura pessoal e nas más práticas da nossa classe política. Cada vez fica mais claro que, não estivéssemos nós na União Europeia e na NATO já tinha havido um golpe de estado, tal é o ponto a que as coisas chegaram, trinta e cinco anos depois do fim do regime autoritário que nos governou por quase meio século. Quando um sistema fundamental em democracia como o sistema judicial não funciona, quando o ensino está no caos que se vê, quando quase não existe verdadeira iniciativa privada no país, estando os empresários e empresas eternamente dependentes dos negócios do Estado, quando a promiscuidade entre política e negócios campeia, quando vários candidatos a deputados e autarcas foram condenados em tribunal e outros estão à espera de julgamento, quando os líderes políticos fecham os olhos a esta vergonha (com a honrosa excepção de Marques Mendes), quando os polícias desrespeitam a própria farda ao fazer manifestações para atirar os bonés ao chão, quando um representante dos interesses farmacêuticos trata o primeiro-ministro abaixo de cão, em público, de forma insultuosa e difamatória por alegada estratégia, quando os governantes não se sabem dar ao respeito nem evidenciam sentido de Estado, quando a oposição nada faz para se constituir como alternativa válida e credível ao governo da nação, quando o presidente da república protege os amigos para lá dos limites do eticamente aceitável, quando o governo acha possível implementar as tão necessárias reformas em oposição a grande parte da sociedade, quando as formações partidárias não sabem fazer política a não ser com golpes baixos e atroz demagogia, quando os sindicatos estão desfasados do tempo e se comportam como partidos políticos anti-governo, seja ele qual for, quando alguns banqueiros se comportam como criminosos de colarinho branco, quando os eleitos não se conseguem pôr de acordo no sentido de legislar dura e preventivamente contra a corrupção, mas apenas de legislar no sentido da defesa dos seus interesses particulares, quando o sentimento geral de insegurança e impunidade cresce de forma geométrica, quando o ensino superior está na confusão, na inadequação, na incompetência funcional, na inoperância e no divórcio do mercado de trabalho em que se encontra, quando uma unidade de saúde pública não assume as suas responsabilidades, e a culpa parece ir morrer solteira, mais uma vez, como está a acontecer com o episódio dos doentes que cegaram em Santa Maria, quando o futebol parece ser a coisa mais importante na vida deste nosso pobre país, quando a corrupção cresce como ervas daninhas por todo o lado, digam-me lá como é que o país pode cheirar a rosas?…