terça-feira, 18 de agosto de 2009

Manutenção da Vida

O facto de termos sido criados não encerra a questão que Cristo aborda. Não apenas fomos criados, mas uma providência misteriosa nos sustenta. A questão muda de tom. Não apenas vim à existência, mas estou vivo agora. Como explicar a minha vida nesse exato momento? Não falo da cor dos olhos, pele e cabelo. Falo sobre o fato de que o coração está batendo nesse instante. Sinta a sua respiração. Essa é a vida sobre a qual Cristo fala. Pois bem, responda-me: a que você atribui a manutenção dessa mesma vida? Com espanto percebemos que estamos vivos devido a todo um histórico de sobrevivência às ameaças mais sérias pelas quais nossa vida passou. Pense em tudo. Tragédias naturais, enfermidades incuráveis, violência urbana, entre tantos outros sustos mais que experimentamos no chamado “vale da sombra da morte”. Ora, você e eu somos resultado não apenas de algo que aconteceu antes do tempo, quando na eternidade uma possibilidade na mente divina, transformou-se em decreto, que por sua vez virou certeza de vir-a-ser-o-ser, para por fim transformar-se em algo que bebe, come e vive. Você e eu somos produto de algo que aconteceu também no tempo e no espaço. Aquele que decretou a nossa existência decretou também a preservação da nossa vida em tais e tais circunstâncias. A pergunta é: qual o nosso papel em tudo isso? O que descobriremos? Descobriremos que estamos vivos devido a um cuidado providencial de um ser que fez por nós o que não poderíamos fazer em favor da nossa própria vida. Por que o seu coração não parou de bater um minuto atrás?A vida é mais do que o que é necessário para a sua manutenção. Não é só comer, beber e se vestir. Para viver é necessário um estômago que receba o alimento, um rim que seja purificado pela ingestão de água e um corpo que sinta frio e calor. Se um cuidado providencial é manifestado no fato da nossa existência concreta, porque haveríamos de duvidar dessa mesma providência quanto ao que é secundário – o sustento dessa mesma vida? Deus nos deu a vida, e, por não estar brincado com a sua criação, nos dará também o que é necessário para a sua manutenção.
António Carlos Costa Via Genizah