sábado, 22 de agosto de 2009

Crónica de Férias - 5: Uma Pedrada na Vida

( foto Sic Notícias )
Aprendemos todos os dias que somos frágeis e expostos a coisas sobre as quais não temos qualquer controlo.
De repente, no areal, os telemóveis dão sinal, vários ao mesmo tempo, outros à vez, como se uma onda sonora tivesse varrido a praia. Percebi que eram de aflição, as chamadas. Todas indagavam de familiares e se estavam bem. As respostas eram invariáveis: "não, não foi aqui, estamos todos bem, estamos muito longe de Albufeira, aqui não há falésias, não aconteceu nada!".
Percebi então que ganhara, hoje, 21 de Agosto de 2009, mais uma razão para não padecer de amores pelo Barlavento algarvio e particularmente por Albufeira.
Conheço bem "Maria Luisa", a praia. Na base de uma falésia, no meio de empreendimentos turísticos de luxo. Deixou de ser aprazível, agora. Dificilmente se poderá associar, no futuro, a "Maria Luisa" a qualquer imagem de bom turismo ou lazer. Cinco pessoas perderam a vida debaixo dos pedregulhos que desabaram falésia abaixo.
Perante a morte, todos somos impotentes, todos somos iguais, todos somos realmente frágeis. A vida a esvair-se por um fio e nós sem podermos fazer nada para impedir desenlaces inesperados.
Nestas circunstâncias, é sempre bom lembrar os avisados conselhos da Palavra de Deus, nomeadamente sobre a preparação que cada um de nós deve efectuar para, a qualquer momento, o ciclo da vida ser interrompido. É que, a vida que temos não é um cheque em branco e a morte não tira férias.
"Está tudo bem", descansavam alguns os seus familiares ao telefone. "Não foi aqui".
"Foi em Albufeira!" como se isso fosse um motivo para tudo continuar como dantes, fingindo que somos donos do tempo e controlamos todas as pedradas que a vida ou a morte nos queiram atirar. Afinal são sempre outros e não nós a quem elas atingem, pensamos. E pensamos mal!
Que faremos se hoje, na nossa imensa fragilidade, formos convocados por inesperada interrupção da vida ? Temos a certeza de que aspiramos à vida com Deus na dimensão celestial ?
Será bom pensar nisso, neste breve tempo de lazer, quando nos parece que nada pode correr mal e que somos senhores de um tempo que contempla apenas vida abundantemente preenchida de momentos felizes.
Jacinto Lourenço