Somos seres bondosos e agradáveis, o nosso olhar é sempre manso para com todos, não levamos ninguém a mal, quando nos ofendem desejamos imediatamente perdoar o ofensor, e oramos diariamente pelos nossos inimigos, certo? Provavelmente errado.
Não precisamos muito esforço para perceber que há em nós uma espécie de “tendência natural” que nos predispõe a todos numa mesma direcção de comportamento. E justificamos: somos seres humanos normais que simplesmente seguem as suas inclinações interiores.
Some-se a isso o factor “circunstância”. Certa vez o rei Saul desobedeceu às ordens do profeta Samuel, e fez o que não devia ter feito. Samuel chega e reprova-o, mas ele sai-se com esta: “fui forçado pelas circunstâncias” (1Sm 13.12). Já reparou que em todas as suas quedas, as circunstâncias colaboraram para que elas ocorressem?
A natureza humana é decaída, com propensão ao desvio, à dissimulação, ao pretexto, e à auto-justificação. Os nossos ouvidos estão mais abertos para o engano e sofismas que para a Verdade. Até os que professam a fé são mais inclinados a desviarem-se do que a aproximarem-se do Divino.
É difícil dizer “não” às tendências, mesmo quando estas ferem os valores da nossa fé. Somos propensos a ir sempre com a multidão, e de repente apanhamo-nosa falar e agir como as massas, e quem vai na contramão é visto como um estranho. É engraçado que até hoje as pessoas se espantam quando digo que não assisti ao filme “Titanic”, que recebeu a maior campanha publicitária da história, e todos naquela altura se viram “empurrados” em direcção ao cinema.
Somos por natureza idólatras, e qualquer coisa serve como ídolo para ocupar o lugar do Eterno. Bastaram alguns dias de ausência de Moisés para que Israel fundisse um bezerro de ouro e exaltasse seu poder (...). Fica fácil entender então porque é que as multidões fabricam ídolos: há os [...], do rock, dos desportos, e para seguir a “tendência”, os evangélicos também possuem os seus que falam, cantam (e gemem).
Confundimos com facilidade as coisas criadas – como árvores, animais ou rios – com o Criador. Somos por natureza mesquinhos, e a generosidade não faz parte dos relacionamentos diários. A nossa propensão é para o orgulho e não para a humildade. Para dominar, e não para servir. Para o bem individual, e não o colectivo. Somos servos dos impulsos e paixões, tomamos decisões consultando o fígado, e escorregamos facilmente para o destempero.
Jesus nunca se deixou levar pelos que tinham aparência “religiosa”, pois “ele mesmo sabia o que era a natureza humana” (Jo 2.25).
Não sei quais são as suas “tendências” naturais. Mas posso dizer-lhe: cuidado! Muito provavelmente elas não expressam aquilo que o Deus deseja ver em si. Permitir-se ser dirigido pelos impulsos e tendências mantém-nos presos às reações mais primitivas do nosso ser. Não é bom para nós, e não é bom para ninguém.
É preciso reconhecimento, humildade, e um mínimo de disciplina para dizer “não”. Mas, acima de tudo é preciso permitir que o Eterno conduza as nossas vidas. O Pai deseja ver cada vez mais em nós a imagem de Seu Filho. O caminho de um ser pacificado interiormente haverá de passar por Cristo até ao ponto de dizermos que “já não sou mais eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus” (Gl 2.20).[...]
pr. Daniel Rocha