Eu tinha um sonho: ser capaz de acompanhar os pobres, o excluído, o ignorado, sem ter necessidade de explicar-me ou justificar-me aos ricos, aos que estão seguros e confortáveis. Ser capaz de ir onde a aflição me chama sem ter necessidade de dar aviso prévio. Ser capaz de mostrar a minha indignação com o abandono, a injustiça, a violência, a venda de armas e a fome causada pelas guerras sem ser considerado um intrometido na política. Sonhei com ser capaz de viver a minha fé dentro da igreja, mas também na sociedade, no meu tempo e com os meus recursos. Sonhei com a liberdade de pensar e exprimir-me, discutir e criticar, sem medo da guilhotina. Sonhei com o ser diferente dentro da unidade da fé, e continuar sendo eu mesmo, solitário, mas ainda solidário com outros. Esperei, enfim, ser capaz de proclamar um Evangelho da liberdade sem ser marginalizado.
Jacques Gaillot, em seu livro Voz do Deserto
Via Pavablog