quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Ética , Moral e Pudor

A fazer fé nas notícias dos jornais, que nos vão oferecendo estas “preciosas” pérolas informativas ( à falta da relevância do período do ano que atravessamos quanto à produção de acontecimentos verdadeiramente importantes ), a pistola que pertenceu ao polícia que matou o criminoso norte- americano John Dillinger em 1934, quando este saia de uma sessão de cinema, foi a leilão na passada terça-feira. A base de licitação era de uns largos milhares de dólares. De momento, não faço ideia absolutamente nenhuma se a dita pistola foi ou não arrematada por algum coleccionador deste tipo de acessórios de morte. Mas isto trouxe-me à ideia a fixação que os americanos continuam a ter por este tipo de histórias, que metem armas e morte à mistura. Acudiu-me também que se fosse hoje, John Dillinger não teria morrido à porta de um cinema, pois não precisaria de se deslocar a lado nenhum para ver um filme. Descarregava ( ilicitamente, claro – não esqueçamos que era um criminoso ) da Web, num qualquer site mais do que suspeito, a película que entendesse . Mas nos idos de 30, tinha mesmo que se deslocar a uma sala exterior ao aconchego do seu lar para poder ver um filme. A película que Dillinger foi ver, não mereceu a atenção dos media, mas a pistola sim, embora eu ache que, muito mais do que a marca e modelo da arma que lhe pôs termo à vida, seria interessantíssimo conhecer os gostos cinéfilos de Dillinger; era um boa ponta por onde puxar e começar a entender o perfil psicológico de um dos maiores criminosos dos Estados Unidos à época. Parece-me que mais do que a pistola do polícia, que vale agora milhares de dólares, ou o o gosto de Dillinger por ver cinema, foi a confiança cega nas suas capacidades de iludir a lei que que lhe traçaram o destino no filme de polícias e Ladrões que teve fraco argumentista e um final infeliz. Pessoalmente não gosto de filmes com final infeliz. e isso me leva-me até à conclusão seguinte, para poder confirmar depois que o excesso de confiança nas nossas supostas possibilidades nos cria expectativas que são muitas vezes, excessivas. Por vezes misturamos ficção com realidade e deixamos de ter a capacidade de discernir onde começa uma e acaba outra. Dillinger foi disso vítima: vivia uma vida de ficção no meio de uma sociedade bem real, que não lhe perdoou o descuido de uma ida ao cinema... Sem pretender que sirva de ilustração, pois no caso vertente seria sempre mal conseguida ou até, quiçá, descontextualizada, tem esta história uma leitura, quando transposta para a nossa vida prática matizada forçosamente pela práxis cristã diária: a confiança cega nas capacidades da igreja ou de quem nela se move com a liberdade de quem manda, retira-nos a possibilidade da interpretação dos acontecimentos à nossa volta. E este é um problema para os cristãos de hoje, nos quais eu me incluo, que de tão focados no horizonte da vida cristã descuidam proteger-se das balas que silvam à sua volta . Actores neste background ? São muitos, e alguns até representam muito bem . Normalmente preferem os papéis de Polícias, porque têm, em bom rigor, o dedo leve para o gatilho e a validação posterior de iníquos juízes. A multidão, as massas, gritarão sempre por Barrabás; mesmo que ele não seja um esterótipo social de bom comportamento, tal como não foi Dillinger. Nenhum deles merecia a particular simpatia ou antipatia do povo, apenas a sua insanidade pontual contra acontecimentos sociologicamente críticos que fez pender os pratos da balança para a aceitação "moral" dos criminosos. Talvez por isso, e antes que aumentasse a sua fama de pretenso Robin Hood, Dillinger foi cravejado de balas pela Polícia de Chicago.
Barrabás saiu ileso. Cristo foi crucificado. Leiloam-se as pistolas para aumentar o prémio da falta de ética e pudor, para além da ausência do Amor e Graça. Hoje, o risco do “assassinato” espiritual é elevado e Barrabás continua à solta…
** Jacinto Lourenço