Na noite do dia 24 de Abril de 1974, quase sobre as 23h-00, em Portugal, foi esta canção que, transmitida pelos já extintos Emissores Associados de Lisboa, serviria de senha para despoletar as movimentações das forças armadas, com vista a derrubar o regime político ditatorial que, durante quarenta e oito anos dominou, com mão feroz, o país. Um país triste e acabrunhado, uma nação envergonhada de si própria, a que o designado movimento dos capitães veio trazer alguma esperança. 35 anos depois, os portugueses interrogam-se sobre o que resta desse movimento de esperança, que a todos inebriou, nomeadamente aos cristãos protestantes, até então perseguidos e quantas vezes apelidados de "comunistas", entre outras razões, por serem opositores ao obscurantismo religioso católico, dominante ( "religião oficial do estado " ) que, em estreita ligação com as autoridades do regime político vigente, perseguia e espezinhava, literalmente, todas as correntes religiosas não católicas. O regime mantinha inclusive, regularmente, a assistir às reuniões destas, agentes infiltrados com o objectivo de controlo e registo de tudo o que aí se passava, por forma a que nada escapasse à sua alçada .
A segunda canção, que serviu para confirmar a saída definitiva dos militares, dos quartéis para as ruas, para assumir posições e efectuar o controlo estratégico e tomada do poder, foi Grândola Vila Morena, interpretada por Zeca Afonso e transmitida às 00H-20, através da Rádio Renascensa.Jacinto Lourenço