A meia-noite do sábado passado marcou mais uma edição do programa semanal «O Eixo do Mal». O programa é emitido pela «Sic Notícias» e é moderado por Nuno Artur Silva, autor e empresário, principal proprietário das Produções Fictícias.
No sábado passado discutia-se a polémica opinião do Papa Bento XVI no que à SIDA e ao uso do preservativo diz respeito.
Clara Ferreira Alves, na qualidade de comentadora residente do programa deu, para quem não soubesse, uma lição de Ciências Religiosas: elencou o que ela diz serem os três ramos do cristianismo, a Igreja Católica, a Igreja Ortodoxa e a Igreja Anglicana, para dizer que a Igreja Católica está a perder o comboio da modernidade. Para ela, a Igreja Católica deveria mas é pôr os olhos no bom exemplo da Igreja Anglicana, que acaba de ordenar um sacerdote homossexual. Questões éticas e doutrinárias à parte, concentro-me no que, neste momento, me interessa.
Não vou dizer que tenha sido por ignorância, má-fé ou preconceito, mas Clara Ferreira Alves tem de ser mais cuidadosa, mais exacta, mais justa! Ao mencionar esses três grupos cristãos (católicos, ortodoxos e anglicanos), a comentadora fez aquilo que ainda se faz em Portugal: deixou de fora, desvalorizou, passou por cima daquele que é só o segundo maior grupo da grande casa cristã e aquele que mais cresce: os protestantes!!! Será que em Portugal ainda se esquece, se desconhece, não se reconhece, ou ainda se resiste à ideia da existência da Igreja Protestante? Será que a Igreja Protestante continua a ser socialmente proscrita, desprezivelmente ignorada e inquisitoriamente silenciada? Será que ainda continua a ser vista como uma seita perigosa, um vírus religioso e um corpo estranho a um sistema social que acabará por a expulsar?
Mas por outro lado, não será que a própria Igreja Protestante portuguesa também tem culpas nesse cartório???
Estatisticamente é assim: os quase 2.1 mil milhões de cristãos em todo o mundo estão distribuídos da seguinte forma: 1,13 mil milhões são católicos, 600 milhões são protestantes, 250 milhões são ortodoxos e 77 milhões são anglicanos.
Em meu entender, não cai bem passar por cima de um grupo de relevância tão significativa. Bem sei que o catolicismo granjeou, por direito próprio, uma posição hegemónica no quadro religioso português. Mas isso não significa que o protestantismo não seja mencionado, referido, levado em linha de conta, tomado em consideração.
Mas também não significa que o protestantismo português deva esperar tratamento diferente se teimar em ficar preguiçosamente acantonado num fundamentalismo estéril, culturalmente atrasado, socialmente retraído, deficiente na formação de elites e incapaz de fazer o percurso que o protestantismo europeu começou a fazer há 500 anos…
Fonte: Luís Melancia, Re-ligare.
Via A Ovelha Perdida