Roma poderia entrar no Guinness Book ( Livros dos Recordes ) como a cidade com o maior número de incapacitados físicos por metro quadrado a nível mundial. Basta dar um passeio pelas ruas do centro da cidade para observar a enorme e inexplicável densidade de deficientes que se regista na capital italiana, pelo menos no que aos automobilistas diz respeito… Dois em cada três automóveis exibem no seu pára-brisas um selo de cor laranja com um holograma e um desenho de uma cadeira de rodas. Este selo indica que o condutor do veículo é deficiente…
Numa cidade com a enorme quantidade de carros, como tem Roma, bem como o seu tráfego infernal, este pequeno pedaço de papel laranja permite ao seu possuidor um conjunto de importantes vantagens. A que mais se destaca é a possibilidade de estacionar em locais absolutamente proibidos aos restantes condutores. Este previlégio de alguns faz com que existam grandes invejas que depois cedem lugar aos piores instintos de uns e de outros…. até ao ponto de muitos cidadãos romanos se descontrolarem e tornearem despudoradamente a lei com vista a obter um dos selos laranja (…).
IRENE HDEZ. VELASCO
In Jornal El Mundo. Versão integral do texto ( em castelhano ) Ler Aqui
Tradução do excerto reproduzido por Ab-Integro
É caso para dizer: “em Roma sê Romano”. Pena é que, no mundo moderno, seja frequente que a competitividade desenfreada entre seres humanos acabe por dar lugar ao aparecimento dos piores instintos pela sobrevivência. As grandes cidades do nosso tempo são palco de um género de lei da selva, pelo menos no que ao tráfego automóvel diz respeito, sendo frequentes as lutas e disputas físicas que, não raro, levam condutores até às últimas consequências.
Curiosamente, foi talvez a inveja e a luta pelo privilégio que acelerou a queda do Império Romano…
Não sei se Roma vai cair ou não, mas sei que os seus cidadãos estão “caídos” por um papel laranja para colocar no pára-brisas da viatura, mesmo se, para tal, for necessário fazerem-se passar por deficientes, ou falsificarem os selos, colocando, vergonhosamente, os direitos dos cidadãos, verdadeiramente portadores de deficiência, em causa. Sem dúvida uma sociedade doente.
Jacinto Lourenço