Segundo o sábio Sócrates, o caminho da sabedoria passa pelo auto-conhecimento. “Conhece-te a ti mesmo”, reza o axioma. Contudo, nenhuma outra tarefa pode ser mais difícil que esta. Quem sou eu?
Crê Marx que sou um conjunto de sensações e uma mente individual. Para Goethe sou uma criatura sombria que não sabe de onde vem, nem para onde vai. Em Vitor Hugo, sou um fantasma errante, que passa pelo mundo e não deixa sequer uma sombra no muro.
Mas quem sou eu? Sou a encarnação da imperfeição, cuja essência foi deturpada, começando uma metamorfose de lagrimas a dançar com a morte. Sou um ser caído a depender a cada dia da graça de Deus; alguém que ora e crê com toda a sua força na eficácia dessa graça, pois é ela a minha única esperança de salvação. Sou ainda infiel, mas Ele permanece fiel!
Definitivamente não sou bom. E para ser honesto, nem quero ser. Tenho medo dessa falsa bondade pseudo-religiosa que faz com que os homens vejam os outros como seus inferiores, ao ponto de desprezar aqueles com quem Cristo compartilhava suas refeições e os seus momentos alegres, debaixo da escusa de não se contaminarem. Não, senhores: Essa bondade eu desprezo! Cubram-se outros com esse manto de hipocrisia. Prefiro dar a conhecer a minha natureza humana, e em minha humanidade e imperfeição aguardar a suprema redenção que me trará Cristo.
Blaise Pascal disse que “o homem não é anjo nem animal”, e que “aqueles que pretendem ser anjos, acabam convertendo-se em animais”. Eu não sou anjo! No máximo um de asas desplumadas e auréolas tortas. E se você quer saber, o pseudo-protestantismo está assim decadente, porque os homens um dia quiseram ser anjos. Eles quiseram ser deuses, e converteram -se em animais. Deus me livre de ser tão santo, ou tão puro. Deus me livre de ser um anjo. Prefiro ser um homem que depende totalmente da justiça de Deus.
Disse Soren Kierkgaard: “O homem nasce e vive em pecado, nada podendo fazer a seu próprio favor, a não ser prejudicar-se”. Sim, esse sou eu! Tão sujo que posso reconhecer o valor do sangue de Cristo para me lavar; tão pecador que sei que nada posso fazer para salvar-me; tão morto que não tive forças para gritar e pedir por auxílio; e tão perdido que sou capaz de devolver gratidão ao Deus que me achou. E mesmo após ser conquistado e vencido pela graça, não posso arrogar perfeição: pois essa mesma graça me faz ver, com mais luz , o meu pecado e o intransponível abismo entre mim e o meu Salvador. Há apenas uma coisa que é capaz de ligar extremos como o céu e terra, o santo e o profano, o meu Senhor e eu: A cruz de Cristo. É ela a única esperança que me resta, a minha sorte e porção no mundo, e a única fonte capaz de regenerar a minha natureza humana.
Por Leonardo G. Silva