O português Nuno Santos, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, faz parte da equipa europeia que descobriu o Gliese 581e. Com quase duas vezes a massa da Terra, encontra-se a apenas 20,5 anos-luz na direcção da constelação de Balança. Contudo, está muito próximo da sua estrela para poder ter água líquida, condição necessária para albergar vida.
É o planeta extra-solar mais parecido com a Terra e foi descoberto por uma equipa de cientistas liderada pelo suíço Michel Mayor, à qual pertence o português Nuno Santos, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto. O Gliese 581e podia ser o "Santo Graal" dos astrónomos não fosse estar demasiado próximo da sua estrela, ou seja, fora da Zona de Habitabilidade.
"O Santo Graal é a detecção de um planeta rochoso, semelhante à Terra e dentro da Zona de Habitabilidade - a região em torno da estrela com as condições necessárias para existir água líquida na superfície", disse Michel Mayor, do Observatório de Grenoble. O suíço foi o primeiro a descobrir um planeta fora do Sistema Solar, o Pegasi 51b, em 1995.
O planeta "e", no sistema Gliese 581 que está a apenas 20,5 anos-luz na direcção da constelação de Balança, tem quase o dobro da massa da Terra. Mas mesmo assim é o mais pequeno alguma vez descoberto. O Pegasi 51b tinha uma massa 80 vezes superior.
"A descoberta deste novo planeta vem demonstrar que o sonho de encontrar novas Terras está cada vez mais próximo. Com a experiência adquirida e os excelentes resultados obtidos até agora, estamos convictos que a nova geração de detectores nos permitirá ir mais longe", disse Nuno Santos, segundo o comunicado divulgado pelo Centro de Astrofísica da Universidade do Porto.
O Gliese 581e necessita apenas de 3,15 dias para completar uma órbita em torno da estrela, o que significa que este planeta rochoso está demasiado próximo para permitir que haja água em estado líquido - factor essencial para ter vida.
Contudo, na Zona de Habitabilidade da mesma estrela está um segundo planeta, o Gliese 581d, que "será o primeiro e o mais sério candidato a planeta oceânico", afirmou outro membro da equipa, Stephane Udry. Com uma massa sete vezes superior à da Terra dá a volta à estrela em 66,8 dias e é provavelmente muito grande "para ser exclusivamente rochoso". Contudo, os cientistas pensam que se trata de "um planeta gelado que migrou para mais perto da estrela", o que significa que poderá estar coberto por um vasto oceano.
Segundo o comunicado, estes planetas foram descobertos medindo as ínfimas deslocações da estrela causadas pela força de gravidade dos planetas à medida que se deslocam em seu redor. Essas deslocações podem ser de apenas sete quilómetros por hora, o equivalente a uma pessoa a andar apressadamente. A descoberta só foi por isso possível graças à precisão e estabilidade do espectrógrafo HARPS, que está instalado no telescópio de 3,6 metros do Observatório Europeu do Sul, em La Silla, no Chile
"Com condições de observação semelhantes, é possível encontrar um planeta parecido com a Terra dentro da zona habitável de uma estrela vermelha anã", disse Xavier Bonfils, do Observatório de Grenoble. Mayor foi mais longe ao dizer à BBC que tal descoberta será feita dentro de um a dois anos.
Susana Salvador
In Diário de Notícias de 22 de Abril de 2009