quarta-feira, 8 de abril de 2009

Páscoa Judaica

Judeus celebram Páscoa hoje à noite

Alimentos simbólicos alusivos à fuga dos judeus do Egipto marcam a ceia desta noite, à mesa dos cerca de mil judeus que vivem em Portugal. Mas a celebração é também política, pelo nascimento do Estado de Israel.

Ana Filipe vai repetir, hoje à noite, o ritual de celebração da Páscoa judaica que partilha com a família há 16 anos, desde que a sua mãe se converteu ao judaísmo. À sua mesa, na primeira noite da Páscoa judaica, estarão alimentos "simbólicos", ligados à epopeia do povo judeu. O pão ázimo (feito como a mistura de água e farinha sem levedar) é o alimento imprescindível. Isto porque ao longo da Semana Santa, os judeus não podem comer alimentos levedados. Deste modo, os judeus recordam a fuga do Egipto dos seus antepassados, onde comeram o pão não fermentado por falta de tempo para o deixar levedar. "Nesta época as casas são limpas, tudo que é fermentado deita-se para o lixo", numa analogia com a purificação espiritual. Do menu obrigatório para este período constam ainda ervas amargas (para lembrar a amargura da escravidão), o cordeiro para simbolizar o sacrifício ou uma massa feita de mel e nozes moídas, que pretende simbolizar a mistura para fazer tijolos, a principal ocupação dos israelitas no tempo da escravidão. Com 36 anos, Ana está ainda a meio do processo de conversão junto da Sinagoga de Lisboa, onde estão registadas cerca de 500 pessoas, embora o número real de judeus em Portugal seja estimado pelos responsáveis desta comunidade em cerca de mil, localizados nos agrupamentos de Lisboa, Portimão, Porto e Belmonte. Apesar de o seu processo de formalização da conversão estar ainda no início (menos de dois anos), Ana não hesita em afirmar que, para si, "este ritual faz todo o sentido, faz-me sentir mais próxima das minhas origens". Tal como assevera o rabino da comunidade judaica de Lisboa, os judeus comemoram a Páscoa com um duplo sentido, religioso e político, celebrando por um lado a libertação da escravidão do Egipto e, ao mesmo tempo, o nascimento da nação israelita enquanto entidade soberana. Também pela vertente política "é muito raro que os judeus, mesmo os menos devotos, não comemorem a Páscoa", conclui o rabino Eliezer di Martino. Para as celebrações, em que devem estar presentes várias gerações da mesma família, a leitura da Bíblia é um ponto alto. Assim como, em alguns casos, a representação teatral e musical da fuga do Egipto. A Páscoa celebra-se no calendário judaico de Nissan, que normalmente corresponde ao início da Primavera, festividade que se inicia na primeira lua cheia após o equinócio da Primavera e se prolonga por sete dias em Israel e por oito dias nas comunidades judaicas fora de Israel (diáspora). Raramente coincide com a Páscoa católica, que se comemora no primeiro domingo de lua cheia depois do equinócio da Primavera.

Por Carla Aguiar In Diário de Notícias Online Foto Diário de Notícias