“Mas tenho contra ti o tolerares que Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensine e engane os meus servos, para que se prostituam e comam dos sacrifícios da idolatria”.
O que estava em causa na igreja de Tiatira, uma das sete igrejas de Apocalipse a que é dirigida uma das sete cartas contidas neste livro bíblico , era fundamentalmente o pecado consentido e a atenção dada à falsa profetiza,e isso justificou que Jesus, na carta à igreja, condensasse os elogios e dilatasse as críticas e os avisos em relação ao que nela não se encontrava bem.
A igreja em Tiatira estava a crescer em serviço e isto é o que qualquer pastor ou responsável deseja: que a sua igreja cresça
Talvez possamos pensar que afinal não havia grandes razões para que Cristo se insurgisse contra a igreja. E podemos dizer, numa perspectiva humana, que, em parte, isso é verdade, mas apenas em parte.
O verso transcrito acima destaca o único problema que se verificava na igreja de Tiatira: tolerância; indiferença para com os falsos ensinadores e para com os seus ensinos. Mas será que os responsáveis, aqueles que eram espirituais, não conseguiam discernir os problemas que estavam a surgir dentro da igreja face ao ensino que tinham recebido dos Apóstolos ?
A igreja tinha uma liderança instituida legitimamente ( Jesus escreve ao “anjo da Igreja” reconhecendo nele, implicitamente, autoridade espiritual e pastoral), era dinâmica, activa, sólida na fé e perseverante, esforçada, amorosa. Porém o Senhor Jesus diz que os mesmos que estavam a conduzir a igreja nestes princípios, transigiam em coisas em que uma igreja não pode transigir.
“Toleras que Jezabel ensine e engane os meus servos”
Que é que isto queria dizer ? Que o púlpito não tinha sido tomado ou ocupado pela força, por qualquer líder Nicolaíta ou seguidor de Balaão, mas estava condescendentemente e negligentemente a ser dada autorização a Jezabel para que esta ali subisse e ensinasse doutrinas que corrompiam a ética e a santidade da igreja.
Seguramente Jezabel era uma pessoa de relevo na igreja de Tiatira, era aceite por uma parte significativa dos cristãos. Este nome que lhe é atribuído, quase de certeza , não corresponde realmente ao nome da mulher
A Jezabel, de que fala a carta a Tiatira, não é uma figura sobrenatural ou metafórica. É real ! Só ao nome é atribuído simbolismo devido à sua acção ser compararável à de Jezabel, mulher de Acabe.
As relações de poder dentro do ministério da igreja de Tiatira pendiam a favor desta mulher, desta falsa profetisa. Ela subia e descia do púlpito quando queria e ninguém manifestava força espiritual suficiente, ou coragem cristã para a deter. O seu ensino era objectivamente marcado por uma mescla doutrinária de Nicolaitismo e Balaanismo. Mas agora, esta mescla, era apresentada à igreja, de uma forma camuflada, como um ensino de profundidade mas que Cristo desmascara e designa por “profundezas de Satanás”.
Em que é que consistia o ensino de Jezabel?
“Prostituição e comida sacrificada aos ídolos”. é o que diz o verso bíblico.
Comulativamente identificamos outros erros centrais dentro da igreja de Tiatira derivados do falso ensino de Jezabel:
-Prostituição -Uso de manjares sacrificados aos ídolos
-Indiferentismo espiritual e doutrinário dos líderes
-Incapacidade e falta de atitude espiritual
-Tolerância ao pecado
-Utilização inescrupulosa e abusiva do púlpito
Notamos, do ponto de vista dos ministros, ou do ministério existente em Tiatira, a persistência de um género de “pacto de silêncio”. Sim porque era disso que se tratava: um “pacto de silêncio” dos responsáveis da igreja entre eles, e perante o povo cristão, e que estava a levar à destruição espiritual.
Há algo que qualquer cristão tem que saber distinguir: crescimento numérico não é, por si só, prova de que uma igreja está de boa saúde espiritual ou de que os seus líderes merecem credibilidade. Jesus quer crescimento integrado por santificação, carácter impoluto e incorruptibilidade, e era aqui que residia o problema de Tiatira, tal como em tantas outras, nos dias que correm.
Amor, Fé, Perseverança, Paciência, eram colunas que suportavam e faziam crescer a igreja. Contudo, liderança espiritual com carácter vincado, sublinhado e sufragado pelos príncipios recebidos de Cristo, não eram um paradigma em Tiatira, como não são, aliás, hoje, num grande número de igrejas, governadas, literalmente, por ministérios que querem impor a disciplina e a incorruptibilidade, mas apenas aos crentes das suas igrejas, pondo-se, eles próprios, a salvo de qualquer surpresa que coloque em causa a sua posição hierárquica, descaracterizada, essa, biblicamente, à luz matricial do Evangelho.
A complacência, a indiferença, a cauterização espiritual, podem atingir o crente mais simples ou o dirigente mais elevado, indistintamente. Tiatira mostra-se, nesse âmbito, um exemplo a ser estudado, com atenção, por qualquer membro de qualquer igreja que derrame continuamente sobre ela as mesmas lágrimas que Jesus derramou sobre Jerusalém.
As lideranças, tem responsabilidade formal e espiritual acrescida naquilo que acontece na igreja, particularmente se recusarem discernir a visão de Cristo para a mesma. O povo tem responsabilidade pela indiferença que revela ao aceitar todas as mentiras e perversidades das lideranças, sem examinar, como os Bereanos, o que lhe é dito ou pregado. O pastor só será o “anjo” da igreja se porventura se mantiver na alçada da vontade de Deus e não na posição de municiador do fogo do inimigo, como tantas vezes vimos suceder, provocando baixas pesadas no povo de Deus e na Sua Obra.
Uma desta coisas, ou a conjugação de parte delas, ou do seu todo, levarão sempre à ruína de qualquer igreja , por melhores obras que esta apresente, como era o caso da de Tiatira.
Jacinto Lourenço