É perceptível como mudamos ao longo dos anos. De crentes quebrantados, passamos rapidamente a herdeiros. De facto somos herdeiros de Deus (Rm 8:17), mas a nossa herança não parece ter o tom da esperança, mas da cobrança. De necessitados, socorridos em tempo oportuno (Hb 4:16), salvos da ira (Rm 5:9) e elevados à condição de filhos, passamos a seres ingratos com Aquele que fez tudo isso. Outros foram além e tornaram-se maldizentes. Aqui trazemos dois exemplos de pessoas que fizeram das dificuldades uma missão, agradecidos pelo que restou. Eles poderiam reclamar das circunstâncias, mas preferem ver nas adversidades a operação de um Deus cuja mente é insondável. Ao invés de investigar o “porquê”, mudaram o foco em “para quê”. De facto, não estamos aqui por acaso! Nick Vujicic tem 25 anos. Nasceu sem braços ou pernas sem nenhuma razão médica específica. Nos inúmeros desafios e obstáculos da vida, Deus deu a força para superar o que outros poderiam chamar impossível. Ele recebeu uma paixão de partilhar essa mesma esperança e amor verdadeiro com mais de dois milhões de pessoas em todo o globo, do qual já conheceu mais de 19 nações. Ele diz: A minha maior alegria nesta vida é a de anunciar Jesus para aqueles que eu encontro e informá-los de seu grande desejo de conhecê-los pessoalmente, permitindo que ele se torne seu Senhor e Salvador. Uma das passagens favoritas da Bíblia é o Salmo 139:17-18 que diz: E quão preciosos me são, ó Deus, os teus pensamentos! Quão grandes são as somas deles! Se as contasse, seriam em maior número do que a areia; quando acordo ainda estou contigo.
Clênio Ventura tem 40 anos e mora em Brasília/DF. Tornou-se tetraplégico após sofrer um acidente, quando mergulhava nas águas rasas na Barragem de Santo António do Descoberto. A partir daí aprendeu a pintar com a boca. Em 2006 realizou uma apresentação de pintura durante 11 horas sem parar e pretende com isto entrar para o Guinness Book. Em Deus, que encontrou aos 20 anos, já paraplégico, apoiou sua fé para recuperar a auto-estima que havia desaparecido junto com os movimentos. Passei os dois primeiros anos enfiado dentro de casa, desesperado e agressivo, principalmente com as pessoas que mais me amavam, como minha mãe, disse Clênio, porém, lendo a Bíblia e conhecendo a palavra de Jesus Cristo, percebi que tinha de recuperar o tempo perdido e, sobretudo, agradecer pela vida que eu ganhei novamente.
A maioria de nossos leitores não possuem as limitações de Clênio e Nick, mas alguns já reclamaram diante de coisas insignificantes, como não ter dinheiro para ir ao show de um cantor predilecto, ou porque não havia uma fatia maior de queijo no café da manhã. É próprio do ser humano reclamar das situações, o crítico é quando esta lamúria tem uma razão superficial e desnecessária. Quando não vemos a acção de Deus no que acontece connosco, até mesmo naquelas situações inusitadas, constrangedoras e, aparentemente, contraditórias, tornamo-nos pessoas amargas, reclamando de tudo e de todos. Busquemos ver as bênçãos que Deus nos tem dado. Se não temos uma casa própria, vejamos aqueles que não tem sequer onde morar. Se não temos um corpo estrelar, ao menos não temos defeito nele. Se não somos ricos, já comemos três vezes ao dia. Se não comemos três vezes, tem gente que ainda não comeu nem uma!
Não se trata de gostar de sofrer, de se conformar e não correr atrás de objectivos, mas de ter um coração agradecido (Cl 3:15). Quantas vezes torcemos o nariz para a história de Israel, repudiando a atitude que o povo santo adoptou logo que chegou à Terra Prometida. Repudiamos igualmente alguém, que tendo recebido algum favor da nossa parte se torna ingrato. Mas, é exactamente assim que procedemos no dia-a-dia. Gosto sempre de dizer: esta não é uma mensagem para crentes assembleianos, presbiterianos, batistas, tradicionais ou pentecostais. É uma mensagem para os salvos, sem cor denominacional!
Com a introdução do G12 e da Teologia da Prosperidade, Deus foi resumido a um empregado, um Pai Natal. Precisamos entender que se algo não acontece é porque isso estava no imenso plano de Deus, ou seria o Altíssimo surpreendido em algo? Uma das coisas que mais me assombra na biografia de José, é que ao receber seus irmãos, e tendo contra eles uma imensa carga de coisas negativas, não se deixou levar por tais sentimentos, mas disse: Eu sou José vosso irmão, a quem vendestes para o Egipto. Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá; porque para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós (Gn 45:5,6).
Se fosse um de nós talvez dissesse: Isso só pode ser o Diabo! É exactamente esta a tónica de IS Ts 5:18, quando Paulo diz: Em tudo dai graças. Dar graças pelo que é bom, e também pelo desgosto. Ouvi certa vez um pastor dizer que sempre nos lembramos, triunfantes, de Ef 4:13: “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece”, mas esquecemos que o versículo anterior diz: “Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade”.
O Diabo vive esperando o dia em que assistirá, de camarote, ao salvo murmurando diante da luta, ou procurando uma alternativa para resolver sua prova. Era isto que ele almejava quando agiu sobre a vida de Job. Ainda bem que o patriarca não duvidou da vontade de Deus, nem mesmo quando acossado pela terrível enfermidade que veio sobre o seu corpo. É claro que nem todos os dias Clênio e Nick estão felizes, mas se sofremos com Cristo já somos vitoriosos, porque não estamos sós. Que você se junte a eles, tendo um coração agradecido, mesmo na adversidade. E se você é uma pessoa abençoada, com uma vida mediana, como a maioria de nós, tem razões maiores ainda para agradecer.
In Reflexões Sobre Quase Tudo!
Via Confeitaria Cristã