sexta-feira, 29 de junho de 2012

O Que os Retratos Dizem.


Olho para o retrato pendurado na parede, sobranceiro à lareira; na primeira fila da foto, sentado, o meu avô materno, na sua pose de homem ribatejano com chapéu de aba direita e postura firme, tendo ao seu lado a minha avó Gertrudes, a doçura e humanidade personificada, junto da qual estou eu  num jeito de menino citadino de seis anos de idade ainda não muito habituado à vivência da província. Na fila de trás os meus tios mais novos que ainda não haviam saído da casa paterna para participar  nessa diáspora que levou milhões de portugueses, para outras paragens no país e estrangeiro, e que também  muitos alentejanos encetaram, nos anos sessenta, para fugir à ruralidade de um país onde o interior latifundiário sufocava e semi-escravizava. Hoje, uma grande parte dos que  partiram já regressaram aos seu locais de origem onde usufruem agora  de uma justa reforma onde o tempo é contado o mais devagar possível.

Olho para o retrato e faço uma breve retrospectiva da minha vida. As coisas boas e menos boas. Momentos felizes e menos felizes. Enfim todo um trajecto  em que alguns objectivos foram por  vezes diluídos  no imenso mar das circunstâncias da vida e outros foram ganhos a pulso e com esforço e em que a recompensa foi a alegria de atingir metas que julgávamos tantas vezes inacessíveis a pessoas que, como eu, nunca receberam nada de mão beijada da vida e em que tudo teve que ser conquistado com esforço, denodo e  sacrifício.  O meu percurso de vida tem sido marcado por dois elementos fundamentais: Jesus Cristo, com quem tive um encontro pessoal por volta dos meus quase 17 anos de idade e a família que construí e que está ao meu lado. Sem estes dois esteios fundamentais, a minha vida não teria sido certamente a mesma e, estou certo, não poderia ter sido vivida com o mesmo grau de satisfação, certeza e felicidade.

Gosto de pensar que o meu país, o território onde nasci, me  forneceu  apenas e só uma identidade nacional, da qual me orgulho, mais pela sua história e pela sua cultura do que por qualquer razão geográfica ou paixão indefectível. Sim sou português e, apesar de tudo, não trocaria essa identidade por outra que eventualmente não fosse além de mera  necessidade circunstancial, que no meu caso nunca se colocou. Mas enquanto português sinto que nasci numa pátria que trata desigualmente os seus filhos e isso convoca a minha tristeza e revolta e também por isso sou tão crítico e exigente com ela. Uma pátria, uma nação, um país, têm muito mais deveres e obrigações para com os que lhes pertencem do que aqueles que cumpriu comigo e com a esmagadora maioria dos meus concidadãos, e não só os  da minha geração. Mas pior ainda: um país não pode eximir-se a tratar com igualdade todos aqueles a quem pede iguais responsabilidades, e isso é o que tem acontecido ao longo do tempo que medeia entre a actualidade e o tempo que o retrato que tenho à minha frente, sobranceiro à lareira da minha sala, exibe. Sim, os retratos falam, traduzem histórias, vivências e realidades que,  para um simples observador, não se encontram visíveis. 

Não quero que os meus filhos vivam um país assim, que trata com criminosa desigualdade os seus cidadãos. É por isso que sou tão crítico em relação a Portugal, esta pátria que foi sempre mais madrasta do que mãe para a generalidade dos seus filhos e que, quase sempre, só tratou com redobrado desvelo aqueles que, mercê da sua linhagem ou da sua conta bancária, mais do que do seu esforço pessoal ou capacidade de realização, conseguiram manter-se perto da corte e dos palácios onde se joga um monopólio de poder discricionário. Esta é uma luta que travarei sempre ao longo da minha vida. Ao fazê-lo, quero contribuir para  construir uma nação que se preocupe mais do que com simplesmente fornecer uma identidade tantas vezes ofensivamente desigual. Tenho um desiderato:  mostrar às gerações que me sucederem que Portugal pode ficar bem no retrato. Para isso é  preciso um fotógrafo que não se limite a pedir um sorriso circunstancial para a câmara para que depois pareça que estava toda a gente bem e feliz. Se o fotógrafo não for bom profissional, é necessário que se mude. No futuro, o que conta não é apenas o retrato, mas o que ele traduz por detrás dos sorrisos.

Jacinto Lourenço

quarta-feira, 27 de junho de 2012

"Nein" ! Só por Cima do meu Cadáver !!


Nein !  Só por cima do meu cadáver, terá dito a senhora Merkel, embora por outras palavras,  numa reunião com deputados de um dos partidos que apoiam o seu governo, quanto à hipótese de  mutualização da dívida pública europeia. Já o disse, e volto a afirmar: a chanceler alemã tem duas agendas políticas. Numa delas, a que é do domínio público, finge que está interessada na recuperação da europa e da zona euro, na outra agenda,  a que está escondida dos europeus, e em que  só a espaços se consegue perceber a sua real orientação,  Merkel inscreveu a morte da União Europeia a prazo. Julgo que  a senhora conclui que  esta europa já não lhe serve; a Alemanha já a espurgou  daquilo que pretendia, instrumentalmente,  para concretizar os seus intentos máximos: reunificação alemã - que toda a europa andou a pagar durante anos,  projecção internacional da sua economia  no que às volumosas  exportações para fora do espaço europeu diz respeito, impor-se aos mercados financeiros como porto seguro do dinheiro destes que assim não fica à disposição de outros estados a não ser a juros que têm mais a ver com agiotismo puro e duro, e tudo isto complementado com medidas que impedem o banco central europeu de intervir com eficácia nos problemas das dívidas dos países com problemas a esse nível. Ou seja: para o ideal alemão, a U.E. já é um peso e o euro está a tornar-se cada vez menos instrumental e cada vez mais insustentável para o desiderato alemão de sujeitar a europa à sua ditadura económica e social. O que não conseguiu pela via da guerra e das regras democráticas, está a conseguir pelo estrangulamento económico. 

Tenho a impressão, neste momento, por aquilo que observo, que a chanceler, se for muito "apertada" pelos seus parceiros europeus das economias mais fortes mas em francas dificuldades com a crise,  tenderá a efectuar uma fuga para a frente e ameaçará com a sua saída do euro. Os alemães têm as contas feitas e, para eles, uma saída controlada do euro, seja lá isso o que for, é uma tentação que se insinua  cada vez mais forte, veremos até onde resistem.

Enquanto não se entender que esta crise europeia, com uma forte e marcada tendência para se globalizar rapidamente, não tem exclusivamente  uma raíz técnico-económica pura, mas acima de tudo radica num sério problema  problema ético e moral no que diz respeito à forma como se lida com o dinheiro no mundo capitalista em que nos movemos, nada será resolvido e Merkel será a última a querer contribuir para  ajudar a resolver os problemas europeus. Aliás, a história  diz-nos que a Alemanha foi sempre mais uma fonte de problemas do que uma fonte de soluções para os outros povos europeus, mesmo que isso possa não ser suficientemente claro ou facilmente aceite por todos é transversalmente verdade para todos. 

Já  percebemos que em termos de  ética e moral, a chanceler só entende a dos cifrões e a dos interesses particulares e imediatos de um país que começa a estar  isolado no concerto das nações, dentro e fora da U.E., que temem os riscos do jogo perigoso que ela joga.                      


Ao que nos dizem, Merkel é oriunda da antiga Alemanha do leste e filha de um pastor protestante. Ora se há coisa que distinga os protestantes, e os evangélicos, em qualquer parte do mundo, em geral,  é um elevado padrão ético-moral  aplicado à  vida, aos negócios e à inter-ajuda mútua. Vejo com bons olhos o rigor que os  alemães colocam no trabalho e nas organizações. Só não percebo porque é que  acham sempre que são os únicos sérios e rigorosos naquilo que fazem, até porque, também aí, a história está contra eles.  Entendo por isso que a "ética protestante" da senhora Merkel se encontra penetrada por uma moral  farisaica de recorte  contemporâneo, que despreza os menos ricos só porque não são ricos e porque,  não sendo ricos,  insistem em partilhar  e reconciliar desigualdades ao estilo das primeiras comunidades de cristãos da judeia que mereciam, aliás, o desprezo e perseguição dos fariseus fanáticos e religiosamente cegos. 

Não sei se o pai de Merkel era ou não pastor protestante como dizem mas, se era, a filha não terá aprendido nada com ele; se considerarmos que também, ele próprio, terá ensinado valores cristãos à filha. No limite, e políticas à parte, aceito que a chanceler seja uma "ovelha" fora do redil  evangélico e que esteja mais concentrada no dinheiro do que no unguento. Provavelmente deve ter esquecido que toda a atitude ética tanto  pode encontrar-se no uso de um quanto do outro, dependendo da ocasião e da necessidade e do objectivo último a atingir.


Jacinto Lourenço

segunda-feira, 25 de junho de 2012

A Metáfora do Futebol...


Se a política fosse como o futebol  esta semana teríamos certamente, de uma maneira ou de outra, uma parte da crise europeia resolvida.

A Alemanha vai reunir-se com os "PIGS" e,  domingo próximo,  veremos quem sairá vencedor.
Se tudo fosse tão simples na economia e na política como no jogo jogado do futebol, era só convocar um europeu, meter os jogadores e treinadores em campo e esperar que tudo se resolvesse no fim. O problema é que na política raramente emerge um vencedor sózinho mesmo que os que perdem sejam mais do que os que ganham.

Só faltará à cimeira das meias-finais europeias a Grécia; foi despachada pela  Alemanha por ter demonstrado muito fraca capacidade para estar presente no momento em que tudo se resolva aos pontapés à bola. A vida dos gregos já se vinha habituando, nos últimos tempos, a ser tratada ao pontapé pelos alemães e seus  amigos tradicionais e mesmo que tenha marcado alguns golos de sopetão e inopinados isso não chegou para mudar a tendência do jogo...

A Espanha acha que tudo se resolve cansando os adversários com fintas e jogo  escondido e retirando-lhes aquilo que é fundamental para jogar claro e linear. Mas se eles próprios não controlarem o seu jogo, que até já não está a ser tão bonito, ser-lhes-á difícil terem sucesso, e aí estará o gozo dos adversários: não darem a Espanha a felicidade de continuar um joguinho "cínico"; se o conseguirem, Espanha não terá como se resgatar.  Portugal, como habitualmente, está sempre à espera de um homem providencial que resolva todos os problemas que fecham o caminho para a vitória. A verdade é que os homens providenciais raramente conseguem resolver o jogo sózinhos. O jogo ( o da política também ) é um trabalho colectivo e só assim conseguiremos ambicionar uma boa posição na final. Itália, la bela Itália, chegou ao leste arrostando a auréola recorrente da corrupção no cálcio. Deixa algum perfume em campo, não sei é se a Alemanha acredita no jogo italiano o suficiente para se render ao seu perfume, não porque não gostem dele, mas porque preferem o cheiro a suor...

Nesta cimeira da Alemanha contra os "PIGS", tudo se terá resolvido no fim do dia do próximo domingo, quando os dois finalistas entrarem em campo. Aí saberemos quem ganhou e quem perdeu. Claro que eu já sei muito bem por quem vou torcer, mas suspeito que os "PIGS" não tem eficácia suficiente para derrubar a Alemanha e a teimosia das suas convicções postas em campo. Veremos se Merkel vai continuar aos saltos na bancada rejubilando com a derrota do futebol perfumado dos "PIGS", agora que a França já não está do seu lado.

Há que reconhecer a eficácia dos alemães quando se trata de concretizar; raramente alguém os bate. Claro que isto é mais verdadeiro na economia que no futebol embora nos dois campos de jogo seja cada vez mais verdade a máxima de que no futebol são onze contra onze e no fim ganha a Alemanha.  Mas a Alemanha foi sempre assim, gosta de esmagar os adversários, e normalmente só uma parede sólida e coesa a pode parar. Na política e no futebol eu espero que isso aconteça rapidamente, que a Alemanha seja barrada antes de chegar a um final apoteótico com a europa debaixo dos seus pés. O perfume, às vezes, também pode ser eficaz...

Jacinto Lourenço

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Política - A Grande Porca...


Estamos habituados a que, para concorrer a uma boa parte dos  empregos  públicos em Portugal seja norma, entre outros procedimentos,  a obrigatoriedade da entrega de um certificado de registo criminal. Não se discute o rigor, o que se estranha é que isso seja exigido ao comum cidadão que concorre a um lugar, por exemplo,  de administrativo e não seja exigido, com mais cabimento até, aos titulares de cargos políticos ou àqueles que são nomeados por estes para exercerem funções não políticas.

Parece que, afinal, a regra só se aplica aos cidadãos que trabalham para o estado e que tiverem de  se sujeitar a um concurso público para o fazerem. Para os titulares de cargos políticos ou para as pessoas por eles recrutadas e nomeadas, a norma é diferente. Isto é: ao comum cidadão, exige-se que nunca tenha tido problemas com a justiça e menos ainda que tenha sido condenado pela mesma, já os nomeados por titulares de cargos políticos são sempre considerados fulanos, ou fulanas, de boa estirpe e com pedigree certificado...

Ora, a fazer fé nos meios de comunicação, o que se constata pelo que aconteceu com a senhora Ana Moura ( não a  fadista ), que é vogal da comissão política do PSD de Setúbal e vice-presidente do PSD da secção de Almada, é que esta senhora foi nomeada pela secretária de estado do tesouro, Maria Luis Albuquerque, como sua secretária. Até aqui tudo normal, se passarmos de lado os habituais esquemas de clientelismo partidário que funcionam  nos partidos políticos especialmente quando estes ocupam o poder. O problema é que a dita senhora, Ana Moura, quando foi nomeada secretária pessoal da secretária de estado do tesouro,  já estava referenciada como uma grande devedora ao fisco ( o que por si só a impediria do exercício de funções públicas ) e, para além disso, corria contra o PSD de Almada  uma acção judicial  por falta de pagamento das rendas devidas pelo prédio ocupado pela sede da referida secção partidária. Mas então o que é que a falta de pagamento das rendas  tem a ver com a dita Ana Moura ? Rigorosamente nada, não fora o caso de ela ser a responsável por esse pagamento  à senhoria e de, durante muito tempo,  não o ter feito, agravado pelo facto de falsificar os recibos, supostamente passados pela proprietária do local da sede do PSD de Almada, e de depositar na sua conta pessoal o dinheiro que era destinado para o efeito.

Nada disto é extraordinário, numa primeira abordagem  passaria até por um simples caso de polícia que tivesse chegado à justiça. A questão fundamental que este caso levanta, e que serve apenas de exemplo para o que queremos dizer, prende-se essencialmente com o escrutínio  que o estado faz a  à vida de qualquer  pessoa que se candidata a um lugar de motorista ou contínuo e de como prescinde desse mesmo escrutínio para quem é nomeado pelos titulares de cargos políticos e escapa  ao olhar perscrutador sobre as suas competências e condições para o efeito. Pelos vistos, o estado entende que um vulgar cidadão,  que concorre ao  exercício de funções públicas, nem que sejam as mais humildes ( e eu não contesto o processo ),  tem que provar que não é criminoso, mas  um outro cidadão, que está  filiado no partido político , seja ele qual for, que ocupa o poder, nomeado por um titular de cargo político, é sempre considerado "boa gente" e está dispensado de fazer prova do seu passado, ainda que possa  ter um currículo pouco recomendável; claro que isso não interessa nada para o caso, desde que o colega do partido "o conheça desde pequenino"... Pelos vistos, é prova suficiente da sua aptidão para o exercício de funções públicas ter  a  carteira de contactos  partidários em dia, o resto arranja-se...

Mais difícil é acreditar num país dirigido por gente desta. Qualquer dia as tetas já não chegam...


Jacinto Lourenço

 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Como a "Santa Inquisição" "Purificava" as Almas dos homens...

Cordões de tropa impediam que o povo invadisse, na praça, o recinto reservado ao auto.
Havia ali, para um lado, afastadas, as pilhas de madeira, rectangulares, com o poste erguido ao centro e um banco e no meio da praça um espaço reservado com o estrado e as tribunas.
Na da esquerda estava o rei, D. João III, piedosamente satisfeito na sua fé, com o espírito duro, mas sincero e forte; estavam a rainha e a corte  e, ao lado do monarca, o condestável com o estoque desembainhado.
Na outra, da direita, levantavam-se o trono e dossel do cardeal D. Henrique, depois rei, e agora infante inquisidor-mor, ladeado pelos membros do tribunal sagrado, nos seus bancos.
A meio do tablado ficava o altar, com frontal preto, banqueta de seda amarela, e um crucifixo ao centro. Em frente, num plinto, erguia-se o estandarte da Inquisição. (...)
E os padecentes, em linhas, ficavam de pé, voltados para o altar, para o púlpito, para o tribunal.

Disse-se missa. O inquisidor-mor, de capa e mitra, apresentou ao rei os Evangelhos, para sobre eles jurar e defender a fé. D. João III e todos, de pé e descobertos, juraram com solenidade sincera. Depois houve sermão e finalmente a leitura das sentenças, começando pelos crimes menores.
A adoração das imagens, questão debatida nos concílios, dava lugar a muitas faltas.
Outros iam ali por terem recusado beijar os santos dos mealheiros, com que os irmãos andavam pelas ruas pedindo esmola.
Outros por irreverências, outros por falta de cumprimento dos preceitos canónicos; muitos por coisa nenhuma; a máxima parte, vítimas de delações pérfidas ou interessadas.
Os relatores iam lendo as sentenças, os condenados gemendo, uns, e outros chorando; outros exultando por se verem soltos do cárcere, livres da tortura, prometendo de si para consigo serem de futuro meticulosamente hipócritas. [...]

Oliveira Martins

terça-feira, 19 de junho de 2012

A Velha e a Nêspera



...Uma nêspera estava na cama, deitada, muito calada, a ver o que acontecia. Chegou a Velha e disse: olha uma nêspera e zás comeu-a! É o que acontece às nêsperas que ficam deitadas, caladas, a esperar o que acontece![...] 


A posição dos portugueses e do seu governo é coincidente: a da nêspera. Passos espera que, perante a sua obediência, os outros reconheçam a nossa insignificância e, na hora do naufrágio, nos arranjem um lugar no barco salva-vidas. Os portugueses esperam que, não fazendo ondas e garantindo esta paz podre, alguém nos venha salvar desta agonia. Só que a estabilidade política que vive da apatia dos cidadãos e da bovina obediência das Nações nada pode trazer de bom a um povo. As nêsperas nascem e vivem para ser comidas. Se insistirmos em ficar quietos, à espera de Merkel ou de Hollande, dependendo da convicção ideológica de cada um, é esse o destino que nos espera. Chega a velha e zás!


Daniel Oliveira in jornal Expresso

Ler texto integral AQUI  

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Radicalismo Islâmico Continua a Matar


A Nigéria divide-se, grosso modo, em duas grandes facções religiosas: Islâmicos a norte, cristãos a sul. Porém, tanto a norte como a sul existem  comunidades de uma e outra fé que estão incrustadas em território  "hostil". Não sei se alguns ditos "cristãos" já atacaram  grupos islâmicos minoritários mas,  se atacaram,  isso não teve eco nos meios de comunicação social ocidentais. O que sei, leio e ouço é que na Nigéria, quase todos os meses, senão mesmo  quase todas as semanas, islâmicos atacam os cristãos e as suas igrejas e lugares de culto provocando dezenas ou centenas de mortos entre estes últimos, como aconteceu, por estes dias, em que morreram cerca de trinta cristãos em ataques de grupos de radicais islâmicos.

Sou cristão, mas isso não quer dizer que seja anti-muçulmano. Julgo que a fé é alguma coisa que tem que ser vivida intimamente e, se alguma contestação deve merecer, deverá sê-lo apenas ao nível dos questionamentos espirituais, eclesiais, teológicos e doutrinários  intrínsecos. Não discutos religiões no plano dos dogmatismos fanáticos irrevogáveis. De resto, estou disposto a questionar e discutir qualquer religião que se tenha construido à volta de uma fé questionável. É por isso que acho que qualquer religião que se afaste do paradigma da religião que se ergue dos relacionamentos biunívocos entre o homem e Deus, deve ser seriamente questionada e posta em causa, mais do que qualquer outra. Uma "religião", como a que os radicais islâmicos advogam e praticam, escapa a todos os silogismos de qualquer fé, porque parte de uma premissa menor em que a morte violenta e criminosa é assumida como se fosse fundamental requisito de Alá para o desenvolvimento ou imposição do islamismo nas sociedades. Deus, que criou a vida, e  "viu que isso era bom", criou o homem e "viu que isso era muito bom". Nenhuma fé, nenhuma religião que cresça do tronco Divino, pode invocar o nome  de Deus para validar as matanças que esteja a realizar. Deus, não só não o deseja como o reprova e condena.

Ao que tudo indica, as últimas dezenas de mortes de cristãos  na Nigéria foram cometidas por um grupo de radicais islâmicos intitulados "Boko Haram" que, em tradução livre, quer dizer mais ou menos: "educação islâmica não é pecado". Mas matar seres humanos, seja em nome de que religião for, isso sim, é pecado grave porque atenta contra os homens e Deus e fere de indignidade qualquer ser humano que o faça ou governo que o permita ou não tente, pelo menos,  impedir.

Jacinto Lourenço

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Humor de Sexta - Almas Gémeas...



Fonte: HenryCartoon

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A Fénix Europeia...


... O verão de 2012, na sequência dos estios de 1914 e de 1939,

 poderá ficar na história como o terceiro suicídio da Europa 

em menos de cem anos. Só a Alemanha poderá evitar o pior. 

Se nada fizer, arcará com as consequências na altura em que 

a Fénix europeia se reerguer das cinzas.


Viriato Soromenho Marques 


Ler texto integral AQUI no Diário de Notícias online

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Enquanto Portugal perde...



A jornalista Fernanda Câncio "queixava-se" ontem, na sua habitual crónica num matutino de Lisboa, de ter recebido indicações para que as suas crónicas andassem à volta da bola que rola no euro, enquanto esta rolar.

Não sou de trazer debates futebolísticos para o Ab Integro, não quero agora fazê-lo, não o faria nem que a selecção de Paulo Bento fosse campeã europeia. Estranho, aliás, que um jornal em que se reconhece alguma respeitabilidade imponha este tipo de regras aos seus cronistas. Também não falei com a jornalista para perceber se ela estava na "mangação" mas,  se não estava, fico a saber que mesmo as direcções dos jornais ditos de referência têm o seu lado populista bacoco não conseguindo escapar ao "Maria vai com as outras". Esse mesmo jornal, no suporte em papel, ocupa hoje mesmo, no mínimo, sessenta a setenta por cento das suas páginas com o futebol... É obra.

Não tenho nada contra o futebol, bem pelo contrário, gosto de ver e gosto de ver a selecção do Bento ganhar, mesmo que não lhe  reconheça, à selecção de futebol, o brilhantismo suficiente para fazer boa figura desta vez. Mas não ter nada contra o futebol, não significa que apoie esta quase semi-alienação da imprensa portuguesa e restantes meios de comunicação,  face a um desporto que depende, no fundamental, grosso modo, de uma bola que entra na baliza ou que bate na trave.

Quem deve estar muito contente sãos os políticos portugueses. Os do governo porque toda a gente esquece, momentaneamente, os seus desmandos no país, o que lhes dá alguma folga. Os da oposição porque têm oportunidade de rever e estudar melhor os seus guiões, pois até agora o que têm levado a cena passa completamente ao lado dos portugueses. Uns e outros representam papéis diferentes mas neste momento o que querem, uns e outros, é beber uns canecos à frente de um prato de caracóis, ou de um pires de tremoços na esplanda mais próxima.  A nação que espere, pendurada ao pescoço, enquanto Portugal perde...

Jacinto Lourenço 

terça-feira, 12 de junho de 2012

A Reconstrução Económica em Portugal, após a Revolta de 1640




A importância dos cristãos-novos neste processo



Ao terminar a primeira metade do século XVII, o panorama da economia portuguesa era bastante desolador.
Na agricultura, o contínuo mau aproveitamento dos solos e a má distribuição das culturas agrícolas, o latifúndio, a sul do Tejo, mal explorado.
A nossa indústria mantinha os velhos hábitos dos regulamentos de trabalho, organizações rígidas e  por isso estagnadas, as "corporações" não permitiam a livre expansão de produtos e mercados, (a iniciativa e o empreendedorismo  há muito tinha desaparecido com a expulsão dos judeus em 1497).
Já o comércio sofria com a instabilidade do tráfego marítimo, devido aos assaltos e respectivas pilhagens em alto mar dos navios mercantes pelos corsários e piratas.
A Europa está também ela envolvida em guerra, (Guerras dos Trinta Anos).

A este estado  de decadência, juntam-se ainda outras circunstâncias: em 1640, nobres portugueses organizam uma revolta contra o ocupante espanhol, e declaram a independência do país. Este conflito prolongar-se-à até ao ano de 1668.
Com a "Guerra da Restauração", a mão-de-obra tão necessária para os diversos sectores da economia nacional, torna-se escassa, devido ao alistamento de homens nas fileiras do renascido exército português.
Em territórios ultramarinos, a defesa dos mesmos é uma constante contra os ataques traiçoeiros levados a cabo por holandeses, ingleses e franceses, que aumentam de intensidade nesta altura, exigindo ao estado um suporte de despesas permanentes em homens e dinheiro, o que consequentemente implicou um agravamento tremendo nas contas da fazenda nacional.
Portugal precisava urgentemente de reconstruir, e de imediato, a sua economia. O padre António Vieira, homem "esclarecido da época", foca isso mesmo ao defender a necessidade de recorrer aos cristãos-novos como auxílio. Vejamos uma carta do mesmo:


"Enfim, Senhor, Portugal não se pode conservar sem muito dinheiro, e para o haver, não há meio mais eficaz que o comércio, e para o comércio não há outros homens de igual cabedal e indústria que os da nação [...]  Por falta de comércio se reduziu a grandeza e opulência de Portugal ao miserável estado e ao que Vossa Majestade o achou, e a Restauração do comércio é o caminho mais pronto de a restituir ao antigo e ainda feliz estado."


Efectivamente, para erguer a economia, Portugal  tenta inicialmente renovar o seu comércio marítimo, e com esse objectivo primordial, organiza-se o tráfego com o Brasil, na altura  o maior produtor de açúcar.
Na sequência deste renovar de objectivos, em 1649, cria-se a "Companhia do Brasil", cuja exploração em regime de monopólio é então entregue a comerciantes portugueses, (sobretudo cristãos-novos).
O principal objectivo destes comerciantes foi incrementar a recuperação açucareira e assegurar o transporte do açúcar em condições de segurança para a Europa.


Via Por Terras de Sefarad

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Afinal o Tamanho Conta, Conta de Mais, na União Europeia


Podem os espanhóis querer convencer o mundo  que o seu resgate se destina apenas à banca. Pode a UE querer fazer-nos acreditar que,  não senhor, não é o que se diz e que a Espanha irá ser sujeita, tal como os outros países resgatados, a medidas de alguma austeridade e vigilância sobre as contas públicas. Pode o governo português, na sua já habitual obediência canina e querendo mitigar o sentimento de amarga injustiça que impõe ao povo português, vir tapar o sol com uma peneira e dizer que o problema dos espanhóis não é igual ao português. Podem fazer e dizer tudo que nada disso vai mudar o sentimento de que nesta desigual europa, que pretendem fazer passar por união, o tamanho conta, e conta muito, conta muito mais do que aquilo que devia contar. Gostava que me dissessem se a cor, o modelo, ou o formato das notas de euro que viajaram para Espanha é diferente das que viajaram para Grécia, Irlanda e Portugal ?! Não me perece que seja ! Então, porque raio é que espanhóis tem uma carga de juros, a pagar pelo dinheiro que pediram, inferior à de gregos, portugueses e irlandeses ? Porque razão o tratamento que nos é imposto, e aos outros países resgatados, é substancialmente mais severo que o imposto aos espanhóis ? No final o que conta é o que todos temos que sofrer, pagar e, pelos vistos os espanhóis vão sofrer e pagar imensamente menos que os outros povos. É sempre mais fácil bater nos mais pequenos, mas isso também é revelador da hipocrisia e covardia política dos líderes europeus.

Inaceitável,  para/numa europa que diz ser União. Sim o tamanho conta, e conta muito. Conta  demais. Esta europa não nos convém, não nos interessa, e talvez esteja a chegar o momento em que os países mais pequenos queiram aprender à sua custa e decidam somar esforços para aparecerem unidos, em defesa dos seus interesses, dentro de uma União Europeia cujas estruturas só têm olhos para os grandes países e onde só os interesses destes contam. A União Europeia, tal como foi sonhada na sua génese, morreu há muito, e se as relações dentro dela se pautam apenas por relações de força entre grandes e grandes então não estamos lá a fazer nada e isto já nada faz sentido nenhum. Mais vale acabar de uma vez por todas e voltarmos todos a uma europa de nacionalidades com os riscos inerentes a isso. 
É isso que querem, pelos vistos, alguns grandes países que acham que são patrões e donos de todos os europeus. 

Agora estou em condições de compreender muito melhor a razão pela qual os ingleses desconfiaram sempre desta europa  fabricada.

Jacinto Lourenço

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Gregos e Judeus - Uma Herança Universal de Génio, Sabedoria e Fé


Ontem, os telejornais da noite mostraram uma cena de pancadaria ocorrida no interior de um estúdio de uma televisão grega a meio de um debate político em directo e entre  representantes de alguns partidos de esquerda e direita. Ocorreu-me então este texto das Memórias da Segunda Guerra Mundial, de  Winston Churchill, que acabei de ler. Já passaram umas décadas desde que o antigo primeiro-ministro britânico o escreveu, mas parece ter sido redigido  agora:

Os gregos rivalizam com os judeus como a raça mais política que existe no mundo. Por mais desesperadas que sejam as circunstâncias ou por mais grave que seja o perigo que o país corre, isso não os impede de se manterem divididos numa pletora de partidos, com muitos líderes a lutarem entre si com vigor desesperado.

Diz-se, e muito bem, que onde quer que haja três judeus, encontrar-se-á sempre dois primeiro-ministros e um líder da oposição. O mesmo é verdade para aqueloutra famosa e antiga raça, cuja tempestuosa e interminável luta pela vida já vem desde os princípios do pensamento humano. Não há outras duas raças que tenham deixado marca mais profunda no mundo. Ambas mostraram uma capacidade de sobrevivência, apesar dos incontáveis perigos e sofrimentos causados por opressores externos, só igualada pelos seus próprios  intermináveis feudos, querelas e convulsões internas.


A passagem de vários milhares de anos não alterou de modo algum as características de cada um destes povos nem diminuiu as suas provações ou vitalidade.
Sobreviveram, apesar de tudo o que o mundo fez contra eles, e o que eles fizeram contra si próprios.  Cada um à sua maneira tão diferente deixou-nos a herança do seu génio e sabedoria. Nenhuma outra cidade foi tão importante para a humanidade como o foram Atenas e Jerusalém. As mensagens que nos transmitiram em termos de religião, filosofia e arte têm sido as principais luzes que guiam a fé e a cultura modernas. Séculos de domínio estrangeiro e indescritível e interminável opressão não os aniquilaram nem os transformaram; no mundo moderno, continuam a ser forças vivas, comunidades activas, onde as querelas internas perduram com vivacidade insaciável. Pessoalmente, sempre estive do lado de ambos e sempre acreditei na indestrutibilidade daquelas duas raças que,  penso,  sobreviverão sempre às lutas internas que as caracterizam e às forças do mundo que ameaçam a sua extinção. [...]

Winston Churchill

in Memórias da Segunda Guerra Mundial, pág. 931. Ed. Texto 

Humor de Sexta - De Exame em Exame até à Liquidação Final...



Fonte: HenryCartoon

quarta-feira, 6 de junho de 2012

06 de Junho de 1944 - dia D - Normandia, França. 2ª Guerra Mundial - Operação Overlord. Início do Fim do Pesadelo Alemão na Europa


...Às 4 da madrugada de 5 de Junho, os dados foram irrevogavelmente lançados: a invasão seria desencadeada a 6 de Junho.[...]
Durante todo o dia 5 de Junho, os comboios de navios que transportavam as tropas pontas de lança da invasão convergiram no rendez-vous a sul da ilha de Wight. Dali, numa corrente infindável encabeçada por uma vasta frente de draga-minas e protegida em todos os lados pelas marinhas e forças  aérea aliadas, partiu a maior armada da história de Inglaterra para a costa de França. A bravura do mar encapelado provou ser um duro teste para as tropas na véspera da batalha, particularmente para aquelas que seguiam no desconforto das embarcações mais pequenas. No entanto, apesar de tudo isso, aquele vasto movimento decorreu quase com a precisão de uma parada e, embora sofrêssemos algumas perdas na travessia, a maior parte nas pequenas embarcações a reboque, não tiveram um efeito apreciável nos acontecimentos.[...]

Winston Churchill in Memórias da Segunda Guerra Mundial, pág. 838 -  Ed. Texto


   

terça-feira, 5 de junho de 2012

Portugal, o Ambiente e o Abismo



Há dias assim, em que não nos apetece escrever nem dizer nada. Hoje estou num desses dias.

Ouvi na Antena 1, às sete da manhã, que hoje é o "Dia Mundial do Ambiente", e o pensamento fugiu-me logo para o facto de neste velho país europeu plantado à beira do atlântico, o ambiente andar de cortar à faca. Claro que não falo do ambiente, da fauna, da flora, do ar, da água, dos animais, da natureza, dos recursos naturais cada vez mais ameaçados, etc; falo do ambiente social, político, económico, do ambiente nas famílias, como dizia o meu avô, cada vez mais "encalacradas" com a vida. Falo dos desempregados, dos jovens sem expectativas nem esperança, dos trabalhadores sem futuro, dos doentes a definharem por não terem dinheiro para pagar as taxas moderadoras, da austeridade criminosa que se impõe a um país sem soluções que não seja a de tirar aos pobres para dar aos ricos. 

Os bancos portugueses ( depois de receberem mais uns largos milhões ), dizia o ministro gaspar (escrevo o seu nome com letra pequena propositadamente), "são dos mais capitalizados da europa". Sim, claro, pensei eu: e de que é que isso serve aos portugueses se  os bancos vão pegar no dinheirinho  e depois emprestar a juros altos, como convém a qualquer bom agiota, impedindo assim as pequenas e médias empresas de lhe acederem para se desenvolverem ?! Enquanto isso, todos os dias ficam desempregados largas centenas de portugueses, porque todos os dias fecham as empresas onde tinham o seu emprego e de onde sustentavam a sua família, pagavam a casa, a luz, a água, etc. Claro que a  "boa notícia" é que vão deixar de pagar essas despesas caseiras por terem que entregar a casa ao banco; a má notícia, é que mesmo entregando a casa ao banco continuam a não ter dinheiro para sustentar os filhos e acabam por cair na situação de dependência económica de familiares que ainda podem acudir-lhes. É por isso que que se torna intolerável ouvir Passos Coelho dizer que já não estamos à beira do abismo, já que todos vimos que caímos mesmo nele, demos um Passos em frente...

As sondagens hoje publicadas em alguns meios de comunicação dizem que a esquerda  é neste momento maioritária. Mas o que é que isso interessa quando não ouvimos nenhuma ideia capaz vinda dos partidos de esquerda ?!  "Martelar" na direita até eu sou capaz de fazer, o problema são as ideias e as políticas que abram os horizontes a um país cansado de si mesmo, e aí a esquerda não ata nem desata. Ao pé desta esquerda até  algumas vozes mais esclarecidas  da área política dos partidos do governo nos parecem mais radicais.

Confesso que estou cansado. Tinha 20 anos, acabados de fazer, quando se deu o golpe militar do 25 de Abril de 1974. Pensei que, acalmada a fúria revolucionária do PREC, o país fosse assentar e encontrar um caminho de paz e a prosperidade possível no seio da europa. Fiquei contente de ver que aquela meia-dúzia de famílias que tinham dominado Portugal, como se de sanguesugas se tratassem, estavam afastadas, mas nunca pensei que ao cabo de trinta e sete anos os seus filhos netos e bisnetos continuassem a "obra" dos seus ancestrais no país. Ou seja: Portugal continua a ser  devassado pelos mesmos de sempre e alguns novos ricos, clientes dos partidos políticos do zona do poder, que se afirmaram neste país de brandíssimos costumes. Provavelmente temos o que merecemos como povo ao permitirmos que assim seja.

Para os mais jovens, que agora estão confrontados com este "resgate" que nos devora, uma mensagem e um aviso: percam as ilusões, este não há-de ser o último "resgate" da vossa vida. Eu pensava que o primeiro, no final da década de 70 do século passado, pela mão do PS/CDS, seria o único a que assistiria na minha vida, afinal não, e em 1983 viria outro pela mão do PS/PSD, e agora este pela mão do PS/PSD/CDS. Ou seja: os políticos portugueses, do centro e da direita, são viciados em resgates e quem paga as favas somos sempre nós, aqueles que trabalham ou se dão ao luxo de ter algum rendimento, nem que seja o ordenado mínimo nacional.

Eis aqui, pois, a razão do meu enfartamento, da minha azia com Portugal, este país governado por políticos que os portugueses elegem. Era por isso que hoje não me apetecia escrever. O ambiente em Portugal é a causa da minha falta de vontade de ainda me pronunciar sobre o que quer que seja. Se ao menos os políticos tivessem algum decoro nas palavras que utilizam quando se dirigem aos portugueses... Mas nem isso. Para Passos Coelho e o gasparzinho, somos um sucesso, e os bancos os mais ricos da europa... Só é pena  que os portugueses estejam em queda abismo abaixo, mas isso, como já percebemos, é uma questão de somenos para o governo, para a troika e para os bancos, até porque para estes últimos há sempre dinheiro, o dinheiro que é sacado aos portugueses que pagam mais de metade dos seus salários  em impostos.

Jacinto Lourenço 

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A Música da Bíblia



 As canções da Bíblia, bem como outros textos bíblicos, foram escritos visando uma interpretação lírica da voz humana. Mas durante séculos não foi possível cantá-los na forma original, pensando-se que a sua música se tinha perdido.
  Em 1976 a musicóloga francesa Suzanne Haïk-Vantoura (1912-2000) publicou um livro e um LP – La Musique de la Bible révelée -, demonstrando a sua tese de decifração do significado das várias componentes do texto massorético1.

Haïk-Vantoura, profunda conhecedora da língua hebraica, do texto bíblico e, naturalmente, com uma formação musical exigentíssima, determinou, após um trabalho de investigação que durou quase cinco anos, que os acentos (te’amim) do texto massorético são, simultaneamente, musicais e exegéticos.


 Os acentos (te’amim) definem a melodia da Escritura a ser cantada na leitura pública; definem, igualmente, a acentuação silábica da leitura (estes dois aspetos, melodia e rimo, são musicais). Mas também mostram a forma como as palavras se devem ligar entre si, conforme se encontrem no final dos versos ou das frases, ou no interior das mesmas (este aspecto é exegético). Com efeito, a acentuação mais não é do que uma inflexão natural da voz, seguindo regras de pontuação e fraseamento - «E falou Moisés, na presença de toda a congregação de Israel, as palavras deste cântico (canção-falada, cantilena ou cantilação) até se acabarem» (Deut. 31:30); David escreveu: «Teus estatutos têm sido a inspiração de meus cânticos (zemirot, canções acompanhadas por harpa ou lira) por onde quer que eu peregrine» (Salmo 119:54).

Ler texto integral AQUI  no Blogue Eterna Sefarad

domingo, 3 de junho de 2012

É Certo: Via Láctea vai Chocar de Frente com Andrómeda.



A colisão e consequente fusão de Andrómeda com a nossa Via Láctea acontecerá dentro de 4 mil milhões de anos, segundo cálculos efetuados por cientistas que utilizaram o telescópio Hubble para fazer as medições mais precisas até hoje realizadas.


A Via Láctea vai chocar frontalmente com a sua vizinha Andrómeda, que se encontra a uma distância de cerca de 2,5 milhões de anos luz. Como resultado da colisão, as duas galáxias acabarão por se fundir numa só. A esta conclusão chegou um grupo de cientistas que mediram com grande precisão a velocidade e distância de Andrómeda com a ajuda do telescópio espacial Hubble. Segundo os cálculos dos cientistas, o Sol não será destruído pela colisão, mas acabará por ocupar uma posição diferente da atual, seguramente mais afastado do centro da galáxia.
segundo avança o jornal "El País", as duas galáxias estão a aproximar-se devido a uma mútua atração gravitacional e a sua colisão já está prevista há muito tempo, mas para calcular, com precisão, como e quando a mesma acontecerá, é preciso uma medição muito rigorosa da distância de Andrómeda da Via Láctea. Foi o que fez agora o cientista Roeland van der Marel e os seus colegas do Instituto do Telescópio Espacial, em Baltimore, que publicaram os resultados dos seus estudos na revista Astrophysical Journal. Até agora, não se sabia se a colisão entre as duas galáxias seria frontal ou se apenas roçariam uma na outra.
Andrómeda está a aproximar-se da Via Láctea a uma velocidade de 400 mil quilómetros por hora, explica a NASA em comunicado. "Houve sempre grande especulação acerca do futuro de Andrómeda e da nossa Via Láctea, mas finalmente temos um panorama claro de como se irão desenrolar os acontecimentos nos próximos milhões de milhões de anos", afirmou Sangmo Tony Sohn, também cientista no Instituto do Telescópio Espacial.
Segundo os cálculos dos investigadores, após a colisão, passarão mais dois milhões de anos até que as duas galáxias se fundam completamente, formando uma só, de forma elíptica e com um núcleo. É possivel que um terceiro conjunto estelar, uma pequena companheira de Andrómeda, a chamada galáxia do Triângulo, acabe também por colidir e fundir-se com as outras duas.
Este tipo de colisões e fusões são raras no universo, sendo mais correntes no cosmos primitivo, mais pequeno que o atual.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O Confisco da Democracia na Europa


Dia 17 de Junho, quando se realizarem de novo as eleições gregas, muito mais estará em causa do que aquilo que qualquer um de nós possa supor. As diversas sondagens que semanalmente se vão realizando naquele país não têm sido esclarecedoras quanto aos resultados que se podem esperar sobre quem irá sair vencedor na Grécia. Nova Democracia, da direita, e Syriza, da esquerda, revezam-se, a fazer fé nas sondagens, como candidatos ao podium enquanto possíveis vencedores.
                                                               
Há diversas verdades que saltam à vista em toda esta tragédia grega que nos tem entrado diariamente casa dentro. Em primeiro lugar o que está evidente há muito tempo é que a democracia está confiscada na Grécia e um pouco em toda a União Europeia. É sintomático que as instâncias europeias e o próprio FMI estejam permanentemente a "ameaçar" os gregos com a saída do Euro se estes não votarem nos partidos políticos que defendem a continuação da miserável austeridade que lhes está imposta e que conduz, a continuar assim, a Grécia para um abismo de que não terá retorno nas próximas décadas. A curiosidade deste facto está em que a União Europeia  quer que os gregos votem maioritariamente   nos partidos que levaram a Grécia, nos últimos trinta anos, à situação em que se encontra e que, por arrasto, trouxe olímpicos problemas à zona euro. É por isso tanto mais incompreensível que  os poderes europeus queiram manter os corruptos de sempre à frente do governo da Grécia. A quem é que isso pode interessar ? De certeza que não é ao povo grego. Por outro lado, os senhores da Europa  pressionam os gregos para que não votem nos partidos à esquerda do Partido Socialista ( Pasok) pois aqueles são manifestamente contra as condições miseráveis e humilhantes em que o povo se encontra no estado helénico e, ao que dizem, pretendem reformular as condições do resgate para que seja possível recuperar a sanidade social e económica do país. Esta esquerda que emerge, não me parece saber também muito bem o que pretende fazer em caso de vitória. Para mim, observador à distância, mas não desinteressado, a única verdade disto tudo é que a democracia se expressa pela vontade do voto popular vá ele em que direcção for. Como europeu preferia que os governos europeus tivessem à sua frente gente séria e que zelasse, seria e honestamente, em primeiro lugar, pelos interesses dos povos. O povo grego, e a Europa, estão assim encurralados. E quando se está encurralado e as opções de fuga  são  uma parede, os resultados são imprevisíveis.

Posto isto, a União Europeia, e o FMI, e igualmente a Alemanha, o que pretendem é que se mantenham no poder os bandidos que sempre lá estiveram desde que a Grécia saiu da ditadura militar e que, pelos vistos, são os únicos em quem a Europa de Merkel confia para que o saque aos gregos tenha êxito, e para isso  utilizam  uma linguagem agressiva, e até ofensiva para com a Grécia,  afim de levar a água ao seu moinho. Todos percebemos que quem pactua com bandidos só pode ser bandido e esse é o papel que União Europeia, Alemanha e FMI têm assumido no problema grego e europeu.

Derrubam-se  governos e substituem-se por outros não sufragados pelo voto popular, proibem-se referendos, ameaçam-se e constrangem-se nações quanto ao resultado das consultas populares, que terão que ser de feição aos interesses dos senhores da Europa, tudo com um objectivo: permitir que o saque financeiro dos povos europeus continue a realizar-se pontualmente sem interferência nem expressão da vontade das populações. A democracia está aprisionada e refém de Berlim guardada pelos esbirros da UE e FMI, e Merkel a certificar-se de que os fluxos financeiros entram nos seus cofres, cada vez mais robustecidos. E venha alguém  que ouse contrariar esta gente que confiscou, impune e literalmente, a democracia na Europa. Os resultados de referendos e eleições têm que ser os que eles querem e, se não forem, realizam-se novos referendos ou eleições até que o voto do povo vá no sentido da canina obediência à vontade suprema da UE ( leia-se Alemanha ), isto, claro, depois de muita chantagem política e económica pelo meio. 

Feitas as contas, desde que estalou a crise em 2008, já se efectuaram 24 cimeiras para a resolver. O resultado dessas 24 cimeiras, uma após outra, tem sido sempre a piorar  para os países, e mais valia, a observar pelos resultados, que elas não se tivessem realizado...


Espanha e Itália estão agora mais perto do resgate do que nunca estiveram, com todas as consequências que se adivinham.  Mariano Rajoy não tem já soluções internas para poder dar a volta ao monstro económico que devora Espanha. Bate a todas as portas e, de cada vez que bate, bate também contra a vontade da Alemanha em permitir encontrar soluções credíveis e aceitáveis. É que as soluções credíveis para os restantes países europeus não interessam à Alemanha que se sente perfeitamente confortável com os bolsos cheios. A mim, que não sou político nem economista, parece-me que a Alemanha tem duas agendas políticas e económicas distintas. Uma em que como membro da UE beneficia desse facto e surge forte numa economia global onde pode exportar à vontade sem que os países europeus lhe façam sombra,  a outra  agenda complementa  esta e assenta na necessidade de contar com um  euro credível e  expurgado das economias débeis, ou, no mínimo, controladas economicamente, como faz, aliás, para poder aparecer aos olhos dos mercados internacionais como o único país credível, seguro e forte em que vale a pena apostar dentro da UE. Toda a gente vê isto, este papel de prestidigitador da sra. Merkel, mas ninguém ousa denunciá-lo de viva e alta voz com medo das consequências.

Há quem chame a este estado de coisas, democracia. Aquilo que aprendemos na escola sobre democracia é que os povos escolhem o seu próprio destino e caminho. Admitimos que, dentro da UE pode haver "democracia", mas não esta que nos querem vender por boa. A "democracia" vigente não passa de um sucedâneo de democracia. Esta União Europeia em que vivemos actualmente é uma vergonha e ficará na história como o sistema político que conseguiu impor uma ditadura "validada" pelo voto popular.

É por isso que a 17 de Junho, na Grécia, as eleições podem representar um importante ponto de viragem. Ou os gregos, chantageados e amedrontados, votam nos criminosos que os levaram ao estado em que estão ou atiram uma pedra contra o charco de lodo em que esta Europa se transformou e veremos o que daí pode advir. Mas o que quer que seja, só pode ser, ou não, quanto a mim, mais clarificador do que as 24 cimeiras já realizadas para supostamente resolver a crise económica europeia. É que, nas eleições gregas, não é só a Grécia, o berço da democracia, que está em causa, é a europa, são todos os povos que vivem num regime dito democrático mas em que a democracia, enquanto expressão efectiva da vontade dos povos,  está sob confisco aferrolhada em Berlim. Estes são os factos. O Tempo está a esgotar-se para este projecto chamado União Europeia.

Jacinto Lourenço