sexta-feira, 30 de março de 2012

Humor de Sexta - A ver Braga por um Canudo...



Fonte: HenriCartoon

quarta-feira, 28 de março de 2012

A Política e a Tourada...


Temos cada vez mais dificuldade em perceber para onde a actual classe política europeia pretende levar a europa. Aliás, julgo mesmo haver sérias razões para desconfiar da sua capacidade em levar a europa para algum lado, salvo para  aquele que desemboca no precipício. Hoje só  uma certeza  sobressái da nebulosa União Europeia: a Alemanha é a grande, senão única  beneficiária líquida  deste complexo mundo novo e desconhecido que emergiu em 2008 e se prolonga agonicamente sabe-se lá por quanto tempo mais.

Entretanto os povos europeus, em particular os do sul, vão sofrendo as consequências de um mundo controlado por contabilistas e economistas.

Resumir a europa e a vida de milhões de pessoas e famílias a uma simples folha de cálculo, com duas colunas, uma de "deve" e outra de "haver", era um risco demasiado perigoso no jogo dos casinos dos mercados. Resultou no que se vê. Longe vai o tempo em que a União Europeia era um projectado espaço onde se procurava a integração de povos e culturas e a solidariedade entre as nações. Tal desiderato não passa hoje de um projecto romântico alimentado por alguns saudosistas ou humanistas mais crédulos quanto à bondade das decisões que saem das diversas cabeças desta hidra maquiavélica que nos governa a partir de Bruxelas.

Esqueçam a União Europeia enquanto projecto de encontro  de raças e culturas caldeado pelo humanismo europeu e pelo desejo de paz, herança de séculos com que um dia sonhámos. Essa ideia já foi morta e enterrada por Merkel, Sarkozi e  sus Muchachos. Por muita subserviência que alguns governantes de países do sul queiram mostrar em relação à ditadura alemã na europa, a Alemanha não abdicará  do seu papel de bomba centrífuga sugando tudo à sua volta.

Dizem-nos que precisamos de empobrecer porque andámos a gastar de mais durante muitos anos. Não me reconheço individualmente nessa matriz tantas vezes apregoada nos últimos tempos, mas sou capaz de acreditar que sim, que os países do sul foram além do que podiam ou deviam. Não sou economista, nem contabilista e é por isso que posso às vezes fazer perguntas que serão tidas como ingénuas por economistas ou contabilistas. Uma dessas  perguntas, que me ocorre com frequência, é  o que levou  os países do sul a gastarem dinheiro que não tinham ? Se não o tinham, onde foram eles buscá-lo ? Quem estava interessado em que o endividamento acontecesse ?  Quem promoveu ou facilitou esse endividamento   externamente ?  

Claro que todos sabemos hoje que se não fosse a bolha do sub-prime ter estoirado nos Estados Unidos da América e ter rapidamente atingido a europa, a esta hora  ainda andariam os mercados financeiros ( que o mesmo é dizer bancos alemães, franceses, e outros que tais.) a injectar dinheiro  nas economias europeias na convicção de que o lucro era bom e o retorno garantido e seguro. A coisa correu-lhes mal e correu igualmente mal aos  governos que acreditavam ser a União Europeia uma entidade  capaz de agir solidariamente em defesa das economias  mais fragilizadas. Descobriram afinal que a União europeia, e o euro, só servem na perfeição a um ou dois países, com a Alemanha à cabeça, e que todas as políticas económicas traçadas têm como principal objectivo a defesa dos interesses alemães e franceses e mais um ou dois parceiros do seu grupo de interesses. 

E nós, como é que ficamos ? Já percebemos cá pelo burgo quem é que  vai arcar com os custos da loucura económica de governos e mercados e da desregulação que permitiu essa loucura. Já percebemos, em Portugal, que o destino da incipiente classe média que se vinha a afirmar no pós 25 de Abril, é o caixote de lixo da história. Poucas vezes Portugal saiu deste paradigma, de ser o país da União Europeia com a maior desigualdade de rendimentos entre ricos e pobres. E o pior é que nenhum governo fomentou até hoje políticas de justiça social que invertessem essa tendência, bem pelo contrário. 

Estamos certos de que a democracia seria capaz de resolver este problema. Só que em Portugal a democracia está há muitos anos refém das  oligarquias partidárias que se alaparam ao aparelho do estado e o utilizam para  perpetuarem a distribuição de mais valias  pelas suas clientelas. Só isso explica que a democracia seja, em Portugal, meramente formal, e que a política seja, em Portugal, assim como que um género de tourada à espanhola: o toureiro ( os políticos ) agita um trapo vermelho que serve de engano para o touro ( o povo - salvo seja... ); este deixa-se levar pelo engano pensando que ao investir vai conseguir atingir algum objectivo, mas o toureiro engana-o uma e outra vez levando-o ao culminar da lide, que é a sua morte na arena, não sem antes ter sido espicaçado e bandarilhado repetidamente por forma a perder força e dar assim uma lide mais tranquila e  lustrosa ao toureiro, com o risco da colhida minimizado. Ou seja: o touro só pensa em livrar-se dos obstáculos que tem pela frente, investindo com todas as suas forças, mas isso só serve os interesses  do  toureiro, que quer  brilhar, nada mais. No final, para gáudio de quem assiste, uma estocada acaba com a vida do principal actor da tourada sem que este alguma vez suspeitasse que o era.   


Jacinto Lourenço  

 

sexta-feira, 23 de março de 2012

A Pedagogia da Porrada...

 
( Foto D.N. )

Independentemente da justeza ou oportunidade da greve geral convocada pela CGTP no dia de ontem ( assunto que não vem neste curto texto à discussão ), há uma coisa que me parece resultar mais ou menos óbvia para qualquer observador que, como eu, assiste a todos os desenvolvimentos sociais desde  o pós 25 de Abril de 1974: quando a direita chega ao poder, a polícia fica com a mão mais leve para o cassetete e a brutalidade desnecessária das suas intervenções é uma imagem de marca da PSP e dos seus grupos de intervenção especializados em pancadaria. E isso é calculado e senão incentivado pelo menos tolerado pelas chefias, caso contrário não aconteceria, estou certo, até porque, tirando um ou outro arruaceiro de serviço, que se isolará facilmente, as manifestações em Portugal costumam ser razoavelmente pacíficas. Então porque é que a PSP bate sem razão aparente ? Dir-me-ão que é para controlar a ordem pública... Esta hipótese não colhe, até porque, não vi que ontem estivesse posta em causa. Então resta a hipótese de PSP estar a bater por ter instruções para isso e porque, pensarão os seus responsáveis, e sabe-se lá mais quem, há que fazer a pedagogia da porrada para desmotivar as pessoas de se manifestarem. Claro que se aceitarão outras hipóteses... Mas tal não invalida que eu deixe de pensar que estou certo, a avaliar pelo que vejo, e pelo que sei da nossa história, especialmente desde o Estado Novo até agora !




Jacinto Lourenço

quinta-feira, 22 de março de 2012

"A Mediocridade Não Suporta a Diferença"...



A "questão judaica" é hoje, na Europa, uma mera relíquia daquilo que foi durante séculos. Na verdade, poucos têm coragem de o dizer, mas embora a abominável "decisão final" (Endlösung), urdida pelo regime nazi para as minorias judaicas da Europa ocupada, tenha ficado por metade, tal foi suficiente para privar a Europa desse filão de resiliência, criatividade e inteligência que as minorias judaicas representaram na história das nações europeias. Os sobreviventes do extermínio, na sua maioria, estão hoje em Israel, ou são um dos motores da prosperidade dos EUA.
O ódio "popular" aos judeus é um dos fatores da decadência europeia. Não é preciso ser Antero de Quental para perceber que a decadência peninsular se inicia com a expulsão dos judeus, na altura em que a organização dos impérios marítimos de Portugal e Espanha mais precisaria do seu contributo. Basta olhar para a Alemanha de 2012. Com a mesma população que tinha ao tempo da República de Weimar, mas sem o impulso da sua vibrante comunidade judaica, exterminada ou exilada pelo Holocausto, a cultura alemã de hoje é, na comparação, pobre e sem brilho. Onde estão os filósofos, os escritores, os cientistas, os músicos, os cineastas, de ascendência judaica, que fizeram a grandeza universal da Alemanha até1933? Basta ler a biografia de George Steiner, Errata, para compreender os motivos que levaram Nietzsche a considerar os judeus como uma (malograda) vanguarda cosmopolita da unidade europeia, contra o perigo da autodestruição. As crianças judias assassinadas em França apenas nos recordam que, sob o verniz da tolerância europeia, jaz um virulento génio maligno pronto a despertar. A mediocridade não suporta a diferença e a singularidade de mérito que os judeus deixaram na nossa cultura comum. E que falta isso nos faz agora!

Viriato Soromenho Marques  in  Diário de Notícias Online 

quarta-feira, 21 de março de 2012

No dia Internacional da Poesia vem a propósito Florbela Espanca e uma Homenagem a todos os Poetas, particularmente aos que me dão a Felicidade de Serem meus Amigos.


Ser Poeta
Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior 
Do que os homens! Morder como quem beija! 
É ser mendigo e dar como quem seja 
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! 

É ter de mil desejos o esplendor 
E não saber sequer que se deseja! 
É ter cá dentro um astro que flameja, 
É ter garras e asas de condor! 

É ter fome, é ter sede de Infinito! 
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... 
É condensar o mundo num só grito! 

E é amar-te, assim, perdidamente... 
É seres alma e sangue e vida em mim 
E dizê-lo cantando a toda gente! 


Florbela Espanca, in  Charneca em Flor

terça-feira, 20 de março de 2012

A União Europeia e o Abismo...




...Em 2008 deu-se a segunda grande crise global, a maior crise do capitalismo, incluindo a grande crise de 1929-30. Começou nos Estados Unidos da América, em consequência da globalização e do neoliberalismo, que criou o chamado capitalismo de casino, a economia virtual, a superioridade dos mercados sobre os Estados, os paraísos fiscais, as agências de rating e considerou o dinheiro como o valor supremo.
A crise global, iniciada na América, comunicou-se à União Europeia, onde a ideologia neoliberal tinha criado já algumas raízes, impulsionadas pela "terceira via", do famigerado Senhor Blair. As duas grandes famílias políticas europeias, a democracia cristã e o socialismo democrático, começaram a perder força, substituídas, respetivamente, pelos partidos populares, ultraconservadores, e pelos socialistas blairistas, mais ou menos adeptos do neoliberalismo.
Assim se explica a perda de prestígio da União Europeia, desde a crise de 2008, e a incapacidade dos seus líderes para lutar contra uma crise, que eles próprios, ajudaram a criar.
É neste contexto que o atual Presidente de França, Nicolas Sarkozy, reacionário de raiz, volátil e oportunista, vai disputar em França um novo mandato, tendo como principal rival François Hollande, socialista convicto, inimigo do economicismo financeiro e partidário do Estado social, que - diga-se - deu à Europa quatro décadas de paz, de justiça social, de pleno emprego e de bem-estar.
Curiosamente, Nicolas Sarkozy, tornou-se, com o avolumar da crise e talvez das dificuldades de França, numa espécie de assessor da Senhora Merkel, que, vinda da Alemanha comunista e depois aliada do partido neoliberal de extrema direita, tem vindo a travar a necessária evolução europeia, procurando "germanizá-la", ao seu gosto, como se isso fosse possível. Não creio que seja. A União Europeia, governada esmagadoramente por partidos populares ultraconservadores, está em descrédito profundo e, como disseram Helmut Schmidt e Jacques Delors, "à beira do abismo".[...]

Mário Soares in Diário de Notícias Online

segunda-feira, 19 de março de 2012

O Evangelho que Vivemos...







...Passados 50 anos, é tempo para celebrar e sobretudo para reflectir. Há dias, o novo bispo de Lamego, António Couto, foi dizendo, com razão, que, infelizmente, a Igreja comunica a sua mensagem de forma "chata". Julgo que é preciso ir mais longe e perguntar se a Igreja anuncia e pratica verdadeiramente o Evangelho enquanto notícia felicitante ou, pelo contrário, tantas vezes, o Disangelho (má notícia), como denunciou Nietzsche.[...]


Anselmo Borges in Diário de Notícias Online 

sábado, 17 de março de 2012

Os Livros de Jobe

Um Conto do Poeta  João Tomaz Parreira



Jobe - porque os pais reconheciam no nome bíblico a história da paciência -, Jobe com «e» no final, como o pronunciavam, assim se chamava o único filho do casal Paes.
A criança fora gerada e desenvolvida no ventre materno com muitos sacrifícios por parte da mãe e com resignação tranquila, em que a Fé e a ciência médica andaram juntas, nascera sob cuidados extremos e criada num lar que, a partir dessa altura, começou a ser alegre, gargalhadas à mais pequena alusão a uma coisa ou a uma palavra divertidas. A casa da família pretendia ser também um lugar de cultura, jornais, livros, conhecimento. Na sua infância, o tempo foi passando como na maior parte dos casos de filhos únicos, entre as paredes da solidão. A monotonia dos dias era suprida pela escola e pela nova conversa que o pai trazia para casa, um patamar vencido no mundo do comércio-era comercial de uma empresa de equipamentos de escritório-, uma benção que custou a sair do universo da fé, mas que acabara por acontecer. Deus era mais um dos membros da família.
Jobe vivia a formular a vida que iria ter no futuro. Iria viver da espiritualidade,
que a educação familiar lhe transmitiu, dosearia esta porém com algum razoável pragmatismo? - costumava perguntar a si mesmo, já adolescente. De uma coisa estava certo, jamais iria pôr de parte o cordão umbelical.
Na esfera sombria do seu pensamento racional tinha, porém, algumas dúvidas. Não se sentia atraído pelo que vulgarmente se chama mundo, mundivivência.
Como jovem vivia, aos olhos dos outros, uma austeridade pouco normal, sem desvios ao ensino bíblico. A sua atracção era outra, o pessimismo ao qual misturava espiritualidade.
- Tudo me acontece- afirmava- cada tribulação reforça a minha paciência.
Achava-se, por causa do nome que carregava, alguém cheio de resignação.
Jobe, na cama, costumava olhar os riscos da luz sombreada que se instalavam no tecto, mal ligava o candeeiro. Recostado a uma almofada, pegava na Bíblia e reli-a a história do patriarca. Jó era a sua referência que se temia ser obsessiva.
O menor problema ou revés, via-o sempre na óptica de uma necessidade suprida, não por se solucionar, mas porque tinha o ensejo de o acrescentar ao rol das atribulações. Jobe via nestas os seus particulares cilícios.
- Ainda me falta suportar muito, depois disto- disse, certa noite, pretendendo assim minimizar a última dificuldade contraída e testemunhar, com a frase, aos seus interpeladores.
Um dia fez uma coisa estranhíssima. Preferiu mesmo inopidamente desempregar-se, para suportar esse estigma social e financeiro.
-Uma qualidade destas de desapego às coisas materiais não se obtém facilmente hoje em dia - dissera-lhe um colega, que desejava no fundo compreender.
-Um espinho na carne- afirmara nessa conversa ocorrida no ano passado. - Às vezes é necessário mantê-lo activo- concluiu de modo veemente.
Esta solidariedade para com o relato agónico do apóstolo Paulo, cuja leitura da vida de igual modo o entusiasmava, era, de certa maneira, inconsciente. Recusava-se a admitir que pode haver uma idolatria da tribulação e que ele próprio a cultivasse.
-Não, nem tão-pouco por sentimento de vaidade- contestou, certo dia, a uma jovem amiga, com quem conversava frequentemente no fim das reuniões da igreja.
Recusava-se a encaixar, pelo menos no seu caso, que haveria o orgulho ou a vaidade espiritual.
Na religião tradicional que não seguia, a que chamava «a da grande Babilónia», frase que lera de Lutero, havia os exemplos dos religiosos que se infligiam sacrifícios voluntários, se chicoteavam ou se cingiam sobre a pele com cordões ou cintos ásperos com puas para mortificar a carne e penitenciar de todos os pecados.
Por razões evangélicas abominava tais atitudes, porque se orientavam para supostamente se adquirir a salvação. A sua teologia era outra, conhecia o valor do Sacrifício de Jesus Cristo, que Este era o único mediador entre Deus e os homens.
O seu desejo de tribulações não ia por esse caminho, as mesmas serviriam para enriquecimento da sua paciência. Mas não sabia por vezes onde estava, nem a que distância disto ficava a sua fé. Nesses dias, uma dor moral assenhoreava-se do seu rosto com uma fácies piedosa.
Depois de fechar um livro, Quando a corda se rompe, no capítulo sobre as más notícias acerca de um mundo decaído, mas que a seguir viriam notícias ainda piores, pôs-se a olhar para a atmosfera onde visualizava uma corda. O síndroma da corda partida, o enfrentar todo o tipo de problemas, bateram-lhe na couraça de paciência.
-Gosto das cordas que se rompem, e de enfrentar as coisas mais difíceis do mundo- ripostou Jobe com a cabeça erguida e um gesto de punhos a expressar valentia, numa aula do instituto.
-O homem, depois de Adão, é originado de um conflito. É o nosso destino e significado como seres humanos, estarmos sempre preparados para uma corda que se parte e nos lança no chão da dificuldade- reflectiu, certa noite, num retiro juvenil religioso.
Parecia estar descoberta uma nova ontologia.
Falar com Jobe dava-nos sempre a impressão de estarmos perante um rochedo sobre o mar, indefeso face às intempéries, quando o mar se levanta, conseguia manter o veludo verde, brilhante, da sua vegetação. Parecia sentir prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias.
Houve outro livro que ocupou, durante algum tempo, as interpretações sobre o que se poderia abater em forma de tentação sobre o crente.
A Tentação do téologo Bonhoeffer alimentava as preocupações e interrogações de Jobe. Particularmente a passagem «há duas grandes interrogações na vida do homem: uma indaga a respeito de Deus e a outra trata de pão; e as duas perguntas têm ciúmes uma da outra».
-Uma verdade, em todo o caso, na qual se consubstancia toda a vida do homem.- disse para si próprio, audivelmente.
«A luta pelo pão» - e acrescentou esta frase aos apontamentos que tomava sobre o assunto- «é que traz toda a espécie de mortificações e de angústias».
Ninguém, do seu círculo de amizades, via a coisa tão tragicamente como Jobe. Amigos e condiscípulos, com o pensamento menos labiríntico, conseguiam aplicar às suas vidas uma observação do salmista «nunca vi desamparado o justo, nem a sua semente a mendigar o pão», e não punham nisso nenhum dramatismo.
-Mas para mim é um problema- dizia Jobe constrangido.
Embora poucos concordassem com a sua opinião sobre, por exemplo, uma das atitudes frequentes de Jobe, que consistia em orar por tribulações a fim de provar a sua fé, a verdade é que ele insistia em fazê-lo. – O irmão não quer provar a sua fé, quer antes enaltecer a sua paciência, e tal coisa é incorrecta- disse-lhe, no final de uma manhã de domingo, um dos pastores da igreja, enquanto caminhavam– Nem sequer pedir paciência, porquanto o Jobe está a pedir implicitamente tribulação.
- Não devemos nem podemos declarar a fé em Deus, rogando atribulações, dificuldades ou angústias para a nossa vida.- acabou por dizer-lhe, já na porta da sua residência, o irmão Luís Couto.
Em casa, no quarto de Jobe havia uma mesa redonda, sobre ela encontravam-se sempre alguns livros, e, aguentando a passagem de um dia para o outro, rosas como uma extensão vegetal da pequena jarra de vidro.
Jobe dizia que a mistura da suavidade das pétalas com a rudeza dos espinhos, personificava a sua vida.


quarta-feira, 14 de março de 2012

Os Porcos Gostam de Lama...





“Nunca respondo a provocações idiotas. O meu pai sempre me disse: nunca te atires à lama a lutar com um porco – primeiro, porque te sujas; segundo, porque é disso que o porco gosta.”
Walter Winchell




Via Por Terras de Sefarad

A Fase do Incêndio...


As catástrofes causadas pelos homens imitam, quase sempre, as de origem natural. O que transformou a tragédia de Lisboa, em 1 de novembro de 1755, num símbolo universal da fragilidade da condição humana reside no facto de todas as grandes crises serem complexas. Em 1755, Lisboa foi vítima de três vagas de calamidade. Primeiro o sismo, que destruiu os edifícios. Depois, o tsunami, que afogo u milhares de lisboetas atordoados. Por fim, um incêndio bíblico que dizimou o que faltava. Todas essas vagas tiveram breves intervalos. E neles, muitos julgaram que o pior já havia passado. O mesmo ocorre hoje, a outra escala, com a crise económica global, em particular no seu epicentro europeu. Em 2008, na primeira vaga sísmica, os Estados salvaram o sistema financeiro de colapso sistémico com um aumento colossal de dívida pública, e políticas keynesianas contracíclicas. Depois, no final de 2009, os Estados, em aliança com o segmento bancário do sistema financeiro, para se salvarem do fardo das dívidas, começaram a cobrar à sociedade através de um tsunami de austeridade e aumento da carga fiscal. Agora, começámos a entrar na terceira vaga. Que se propaga na perda da coesão social, na afirmação de excepções, onde deveria reinar a universalidade. No primado de interesses particulares sobre o bem comum. Falências em cascata. Falta de confiança gerando secura de crédito. Aumento descontrolado dos indicadores de angústia social, no desemprego, na saúde, na entropia do próprio sistema imunitário do Estado, com o mal-estar crescente nas forças de segurança. É a fase do incêndio, como em 1755. Na Grécia, já vai avançado. Em Portugal os sinais são claros. Mas, no coração da Europa, tardam em soar as sirenes de alarme.


Viriato Soromenho Marques in Diário de Notícias Online 

terça-feira, 13 de março de 2012

Origem de Porto Judeu - Ilha Terceira

Porto Judeu situa-se a sul da Ilha Terceira, abrangendo uma área de 30,86 Km2, dos quais 28,5 Km2 na ilha, propriamente dita, e os restantes 2,36 km2 constituídos pelos Ilhéus das Cabras. Estende-se do litoral, onde confronta com as freguesias de S. Sebastião e Feteira, ao interior, confrontando aí com as freguesias da Ribeirinha, S. Bento, Posto Santo, Quatro Ribeiras e Agualva.


Desconhece-se a data da criação da freguesia pois, segundo a tradição, foi no Porto Judeu (actual porto de pesca) que terão desembarcado os primeiros povoadores da Ilha. Provavelmente, Jácome de Bruges, primeiro capitãodonatário, aqui terá desembarcado, em 1 de Janeiro, devido ao facto de o tempo estar mau e por isso querer aproveitar a pequena enseada do porto. Como este não tinha grandes condições de abrigo sendo, portanto, mau e como naquele tempo chamavam "judeu" a tudo que fosse mau, assim o porto foi chamado de Porto Judeu. Outra 
tradição, reza que conjuntamente com Jácome de Bruges vinha um Judeu, os quais terão travado o seguinte diálogo no momento do desembarque:

- Jácome Bruges: Salta, judeu, senão salto eu.
- Judeu: Salto e o porto será meu.

Desta conversa terá o porto ficado conhecido como Porto do Judeu. Contudo, na falta de documento autênticos, fica-se apenas pela tradição. Sabe-se, contudo, ser freguesia do início do povoamento da ilha Terceira, sendo a igreja paroquial anterior a 1470.



Fonte: Eterna Sefarad

segunda-feira, 12 de março de 2012

Igreja e Vida



...O nível intelectual está em baixa na Igreja? Algo que é fundamental: "Para poder exercer como intelectual, é necessário ter muita liberdade de espírito e muita maturidade. Com arrogância ou com medo, não se pode exercer de intelectual. E correm maus tempos para a liberdade."
Muitos dos seus contactos são pessoas que consideram a Igreja uma instituição longínqua. "Mas creio que da parte da Igreja há um excesso de preocupação com este assunto. A vida é muito mais ampla do que as capelinhas." Como ter afeição por instituições religiosas fechadas em problemas que nada têm a ver com a vida? "A vida humana plena e libertadora é muitas vezes maior e primaveril do que a que se oferece a partir das instituições." Como declarou António Gala, "desejo que, quando morrer, na minha lápide escrevam: 'morreu vivo'".[...]

Anselmo Borges in Diário de Notícias Online

sexta-feira, 9 de março de 2012

Humor de Sexta - "Sabe bem Pagar tão Pouco"...



Fonte: Henricartoon

quinta-feira, 8 de março de 2012

Fósforos e Gasolina...


Disseram-nos tarde, tarde de mais, quando pouco ou nada já havia a fazer, que tínhamos que mudar de paradigma.

Todos o afirmamos, mas todos sabemos também que os paradigmas, quase sempre, não mudam apenas porque nós temos vontade que eles mudem.

Há não muitos meses atrás, um jovem vendedor ambulante de 26 anos, tunisino, de seu nome Mohamed Bouazizi, suicidou-se imolando-se pelo fogo em plena via pública. Uma tragédia pessoal mas que tinha por detrás muitos outros  milhões de outras tragédias pessoais. Será que o jovem Bouazizi pretendia, com o seu acto de desespero e loucura, dar início a alguma revolução ? Claro que não. Ele estava a protestar, de forma extrema  e utilizando um valor   sagrado e inviolável que é a vida humana, contra uma situação instalada na Tunísia que colocava em causa a sua própria sobrevivência. Cansado de fugir da polícia por vender ilegalmente na rua. Cansado de dar gorgetas aos polícias para não ter que fugir sempre deles. Cansado de não possuir o suficiente para se sustentar e levar a sua vida com um mínimo de dignidade. Cansado de bater a todas as portas para obter uma licença de venda ambulante, que não lhe era passada vá lá saber-se porque razão, cansado de estar cansado e depois de lhe terem confiscado  as parcas mercadorias que tinha para vender e  a balança onde as pesava, tomou a atitude limite de por termo à vida tornando-se numa pira de vergonha para a humanidade.

Não quero aqui dissecar as razões porque entendo que o suicídio não pode ser uma opção para o ser humano, pese embora  seja recomendado em algumas culturas como saída para muitas situações que se prendem com a dignidade humana. Não é isso que me traz aqui hoje. Poderá ser assunto para um dia destes. Mas quero lembrar que, na sequência do suicídio do jovem Bouazizi, começaram de imediato manifestações que, qual rastilho de pólvora, se estenderam também de imediato a toda a Tunísia  abrindo lugar ao acontecimento que ficou conhecido pela Revolução do Jasmim e que foi depoletada pelo facto da generalidade dos tunisinos se identificarem, nos seus problemas e nos problemas do seu país, com Mohamed Bouazizi e na razão dos seus protestos.

Eis como  um simples fósforo e alguma gasolina podem ceifar a vida a um humilde vendedor ambulante, um ser humano cuja única reivindicação era poder viver no patamar inferior da dignidade. Eis como esse simples fósforo pode dar também início a uma mudança de paradigma num país e um pouco por todo o norte de África. Nunca passou pela cabeça de Bouazizi tal coisa, mas a verdade é que aconteceu, mesmo que seja também verdade que, neste preciso momento, nenhum de nós consiga ainda opinar sobre o que se vai passar  nos países atingidos por aquilo a que se chamou posteriormente Primavera Árabe. Mas bastou uma pequena chama para que o mundo Árabe se incendiasse e tudo fosse posto em causa: a vida das pessoas, as famílias, os governos, os exércitos, as políticas a seguir, os direitos e deveres dos cidadãos. 

Lamento profundamente ter sido necessário que uma pessoa tivesse sido levada, pela sociedade, a limites de momentânea ausência da razão e  fazer o que fez Bouazizi, um jovem de 26 anos com muita vida ainda pela frente. Quantos Bouazizi 's mais  irão morrer, de uma ou outra forma, em qualquer lugar do mundo,   para que as sociedades se mexam e se centrem mais nos seres humanos e na vida, e no respeito que esta tem que merecer, e menos naquilo que são os interesses monetaristas de meia dúzia de indivíduos sem rosto ou alma. Este sim o verdadeiro paradigma que interessa sobrepor a todos os outros. 

Mas como vimos, infelizmente, a mudança de paradigma raramente irrompe, ainda que isso seja desejável, apenas  porque nós achamos que sim, que deve irromper. É mais fruto de circunstâncias nem sempre imaginadas, ou até de um pequeno fósforo, riscado por anónima mão, que ateia um rastilho que  há muito secretamente se estende.

Mudar de paradigma na europa? Pois sim, eu acredito que as circunstâncias  actuais tornam isso desejável e um desiderato que todos gostaríamos de alcançar. Ao longo da sua história já foi feito várias vezes e em  muitas dessas vezes o preço pago em vidas e sacrifício humano foi pesado. Mudanças de paradigma não se fazem por decreto, embora sejamos desafiados a tomar as decisões e medidas que concorram para promover essas mudanças. Acontecem simplesmente ditadas pelas circunstâncias que vão sendo criadas, na maior parte dos casos ditadas pelas nossas escolhas ao longo do caminho. É por isso que, mais do que nunca se impõe que as escolhas sejam responsáveis, adequadas e respeitadoras da dignidade humana.

Em algum momento, no futuro próximo, acredito que, se a insanidade dos actuais líderes europeus se mantiver, e eles não pararem para pensar, ou não forem rapidamente substituídos por gente capaz e responsável,  um fósforo irá ser riscado, e isso terá sérias consequências para a europa e para o mundo.


Jacinto Lourenço

terça-feira, 6 de março de 2012

Gabriel Garcia Marquez - 85 Anos para Contar




O mundo literário celebra hoje os 85 anos de Gabriel García Marquez, nascido a 6 de março de 1927 em Aracataca, Colômbia. O escritor, distinguido com o Nobel da Literatura em 1982, comemora também os 60 anos do seu primeiro conto, "A Terceira Resignação", os 45 anos do aclamado romance "Cem Anos de Solidão" e os dez anos de haver começado a publicar as suas memórias autobiográficas, "Viver Para Contar".
Um dos melhores presentes que García Marquez vai receber será a edição digital em espanhol de "Cem Anos de Solidão". O livro chegará também às livrarias virtuais. [...]
"Cem Anos de Solidão", uma das mais lidas e traduzidas obras em todo o mundo, foi considerada a segunda mais importante de toda a literatura hispânica, ficando apenas atrás de "Dom Quixote de la Mancha".  
Esta será a quarta obra de García Marquez em edição electrónica. "Relato de um náufrago", "Todos os Contos" e "Viver Para Contar" já têm edições digitais, dentro da coleção "Palabras Mayores".
Jornalista, escritor e argumentista colombiano, Gabriel García Marquez tinha 20 anos quando viu publicado o seu primeiro conto, "A Terceira Resignação", no diário colombiano "El Espectador", a 13 de setembro de 1947. A sua primeira reação foi "ter a certeza arrasadora de que não tinha os cinco centavos necessários para comprar o jornal".


Fonte: Expresso Online

segunda-feira, 5 de março de 2012

O Código de Hammurabi e o Ano do Jubileu



O Livro V da Política, de Aristóteles, descreve a eterna transição de oligarquias que se transformam a si próprias em aristocracias hereditárias – as quais acabam por ser derrubadas por tiranos ou desenvolvem rivalidades internas quando algumas famílias decidem "trazer a multidão para o seu campo" e introduzir solenemente a democracia, dentro da qual,  mais uma vez, emerge uma oligarquia, seguida por aristocracia, democracia e assim por diante ao longo da história.  

Como esta prática foi privatizada pelos cobradores reais de licenças de uso e de rendas, a "divina majestade" protegia devedores agrários. As leis de Hammurabi (1750 AC) cancelavam as suas dívidas em tempos de enchentes ou de seca. Todos os governantes da sua dinastia na Babilónia principiavam o seu primeiro ano  com o cancelamento de dívidas agrárias de modo a remover pagamentos atrasados através da proclamação de uma tábua rasa (clean slate). Direitos sobre escravos, terra ou colheitas e outros compromissos eram devolvidos aos devedores para "restaurar a ordem" numa idealizada condição "original" de equilíbrio. Esta prática sobreviveu no Ano Jubileu da Lei Mosaica em Levitico 25.[...]


Via blogue Renascer

sexta-feira, 2 de março de 2012

Humor de Sexta - Grande Seca



Fonte: Henricartoon

quinta-feira, 1 de março de 2012

Fariseus de Hoje


O Novo Testamento mostra que os fariseus eram monotemáticos, tarados, obcecados em relação a um único tema: a possibilidade da transgressão do shabat. Acho que é por aí que identificamos os fariseus modernos. Eles só tem um tema e a partir dele julgam o mundo, os outros e a si mesmo. Adoram brigar e provar que estão certos. São extremamente zelosos, mas não possuem compaixão. No entanto, a maior tragédia do fariseu moderno é que ele tenta nos convencer que é um seguidor de Jesus.

Via Soli Deo Glória