sexta-feira, 30 de julho de 2010

Veja Estrelas em Fronteira

Se estiver no Alto Alentejo, próximo de Fronteira ( Distrito de Portalegre ) aproveite e vá ver estrelas. O Observatório Astronómico de Fronteira promove, durante alguns dias da semana e aos fins de semana, observações astronómicas ou outros eventos relacionados com astronomia. Embora seja gratuito, as entradas podem carecer de prévia inscrição através do site da Câmara Municipal. Alguns eventos, nestes meses de verão, inserem-se no âmbito mais vasto do programa "Ciência Viva" e passam também pela Vila do Crato, na torre do Castelo. Para além das observações astronómicas, pode ainda programar visitas turísticas a esta zona do Nordeste Alentejano, uma das mais belas e com mais história do país, para já não falar da sua riqueza gastronómica. Sim, Alentejo é muito mais do que paisagem.
( Rua em Castelo de Vide )
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Jacinto Lourenço

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Ser Herói no Alentejo...

Acaba de ser lançado o livro que inspirou José Saramago a escrever a obra «Levantado do Chão». Trata-se de um livro escrito por um camponês, analfabeto, mas que aprendeu a escrever para contar a vida enquanto trabalhador rural e relatar o sofrimento no campo alentejano. O manuscrito de João Domingos Serra foi parar às mãos de José Saramago quando este foi para Lavre, Montemor-o-Novo com a intenção de escrever um romance. O então jornalista e escritor ainda pouco conhecido leu o manuscrito e reconheceu-lhe valor não literário mas de obra de uma época de dor - o Alentejo no tempo do Estado Novo. Rita Pais, durante vários anos revisora dos livros de Saramago, pegou nas páginas "Uma família no Alentejo", passou-o a limpo, corrigiu-o, pesquisou e apresenta agora o resultado numa conversa com o jornalista Mário Galego.
Fonte : Antena 1
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João Domingos Serra, era meu tio-avô. Com ele, e uma boa parte da sua família, convivi durante alguns anos mercê do facto de ser João Serra irmão da minha avó materna, Gertrudes Serra, que foi quem me criou a partir dos meus seis anos de idade. Não conheço, porque não os vivi, todos os factos narrados neste livro agora editado pela Fundação José Saramago. Conheço alguns, bem como conheço todas as pessoas envolvidas na narrativa pois perto delas vivi uma boa parte da minha infância e adolescência.
A vida sacrificada deste meu tio-avô foi a vida de todos os assalariados alentejanos e da generalidade das suas famílias no período a que se reporta a narrativa do livro agora publicado. Só quem não conheceu o Alentejo pode não sentir respeito pelos alentejanos e pela sua luta a favor de melhores condições de vida num tempo em que isso podia significar, e significou muitas vezes, ser preso, espancado e até levado à beira da morte, à qual muitos sucumbiram. Só quem não conheceu o Alentejo, até início da década de 70 do século XX, pode ter a ousadia de desconfiar de que, tudo aquilo que se conta e se sabe acerca dos alentejanos, possa não ser verdade. Talvez a maioria de nós ignore, ou queira ignorar propositadamente, que até finais da década de 60 do mesmo século XX, os trabalhadores alentejanos ainda tinham uma jornada diária normal de trabalho que se prolongava de sol a sol, paga como um dia normal de trabalho, facto que implicava, no período do verão, trabalhar consecutivamente 14 ou 15 horas com breve intervalo no período do pino do sol. A sua luta expontânea pela jornada de oito horas diárias de trabalho foi heróica, num tempo em que era proibido haver heróis no alentejo porque a GNR e a PIDE não deixavam. No ambiente político do estado novo em que os grandes latifundiários e proprietários de terras no Alentejo eram intocáveis e defendidos com unhas e dentes pelo regime, forçar o governo de então a aceitar o objectivo da jornada de oito horas de trabalho foi realmente heróico. Pelo meio, muitos foram os trabalhadores selvaticamente espancados, arrancados às suas famílias e levados para as prisões acusados de serem comunistas e torturados com a maior desumanidade quando a maior parte deles nem sabiam o que era isso, o comunismo.
Por tudo isto, as memórias de João Domingos Serra, deveriam fazer parte do estudo obrigatório do que foi o Alentejo nas décadas que antecederam o 25 de Abril de 1974 em Portugal. É por isso que faz também todo o sentido esta publicação do Livro em referência. Só peca por ter sido tardia. Sei também que esta publicação se fica a dever a uma grande esforço da parte da família directa do meu tio-avô, nomeadamente de alguns dos seus filhos e netos. Sem isso era bem possível que não se chegasse a saber que a história por detrás de "Levantado do Chão" de José Saramago, é a história de vida de João Domingos Serra e da sua família.
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Jacinto Lourenço
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*** Entrevista a Rita Pais na Antena 1 - Ouvir:

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Em 2182 um Asteróide pode Colidir com a Terra

( Foto D.N. )
Há uma possibilidade em mil de o 1999 RQ36 embater na Terra daqui a 172 anos.
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O asteróide 1999 RQ36 foi descoberto, como centenas de outros, no âmbito de um rastreio de asteróides e outros pequenos corpos do sistema solar com potencialidade para um dia virem direitos à Terra. O último cálculo, em relação ao RQ36, publicado na revista científica Icarus, aponta agora uma probabilidade e uma data: existe uma possibilidade em mil de ele atingir a Terra em 2182. Ou seja, daqui a 172 anos. Identificado em 1999, como o próprio nome diz, este RQ36 tem estado desde então debaixo de olho porque faz parte desses corpos que podem no futuro atravessar-se no caminho da Terra. Por isso é regularmente observado por telescópios terrestres e observatórios espaciais, para se caracterizar o melhor possível a sua órbita. Agora, com base em todas essas observações e num modelo matemático, um grupo de astrónomos de vários países calculou que a probabilidade de aquele corpo com meio quilómetro de comprimento vir despenhar-se por cá é de uma em mil, daqui a mais ou menos nove gerações. Este tipo de conhecimento, defendem os cientistas, pode ser importante para ajudar a conceber formas de desviar estes potenciais "inimigos", se tal se mostrar necessário. O potencial de impacto deste asteróide "pode ser estimado em 0,00092, o que é aproximadamente uma possibilidade em mil, mas o que foi mais surpreendente foi que mais de metade [do valor] desta possibilidade corresponde ao ano de 2182", explicou, citada pela Science Daily, a astrónoma Maria Eugenia Sansaturio, da universidade de Valladolid, em Espanha. Ela está entre os autores do estudo, que contou também com a participação de investigadores da universidade de Pisa, em Itália, e do Jet Propulsion Laboratory (JPL), da NASA, nos Estados Unidos. A órbita deste asteróide está hoje bem calculada, graças a todas as medições já feitas: 290 observações ópticas e 13 medições por radar. No entanto, estes corpos mais pequenos do sistema solar sofrem pequenos desvios no seu percurso em torno do Sol devido à forma como absorvem a energia que lhes chega da estrela e como devolve parte dela para o espaço sob a forma de calor. O estudo publicado agora inclui estes desvios nos cálculos e faz contas para várias datas. 2182 é o ano que ganha nas probabilidades.
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A Carruagem de Tutankamon

(Imagem D.N.)
Pela primeira vez, uma carruagem que pertenceu a Tutankamon vai viajar para fora do Egipto, para integrar uma exposição em Nova Iorque dedicada ao mais famoso de todos os faraós e ao Antigo Egipto. O coche, um dos cinco descobertos pelo arqueólogo britânico Howard Carter, em 1922, não tem decorações e as suas rodas estão danificadas, sugerindo que era muito usado pelo faraó. Tutankamon poderia mesmo ter tido um acidente com aquele veículo poucas horas antes de falecer. Os últimos scanners e testes de ADN da sua múmia permitiram descobrir que o jovem faraó teve um acidente poucas horas antes de morrer, no qual feriu a perna esquerda. A carruagem, que chega amanhã a Nova Iorque, será a grande atracção da mostra. "Ao avançarmos no estudo da morte de Tutankamon vamos talvez descobrir que essa carruagem é peça-chave de um puzzle que leva dezenas de anos de estudos", disse o ministro da cultura egípcio, Farouk Hosni.
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terça-feira, 27 de julho de 2010

A Morte de um Ditador

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Perfazem-se hoje 40 anos sobre a morte de António de Oliveira Salazar. A 27 de Julho de 1970 era anunciado ao país a morte do ditador, com a pompa e circunstância que o momento parecia requerer da parte dos responsáveis do regime, pese embora Salazar já não governasse há quase dois anos, devido à famosa queda da cadeira, quando se encontrava de férias no Forte de Sto. António do Estoril, e que o deixou incapacitado para as funções de primeiro-ministro, sendo então substituido por Marcelo Caetano, embora, claro, nunca nenhum dos seus mais próximos colaboradores tivesse a coragem ou ousadia para o informar desse facto.
Para as gerações mais jovens, o nome de Oliveira Salazar não diz provelmente muito. Pessoalmente, habituei-me a ver o seu retrato, pendurado ao lado do de Américo Tomaz, nas paredes das salas de aula da instrução primária, nos lugares públicos, ou estampado em alguns livros de leitura. A minha convivência com o ditador, até aos meus 16 anos, limitou-se a isso e a ouvir do pavor, do medo e do respeito ( pelas piores razões ) que o seu nome inspirava aos mais velhos, em especial aos que eram perseguidos pelo regime que o ditador instaurou num Portugal paupérrimo e cuja acção política e visão para o país eram baseadas na repressão das liberdades individuais dos cidadãos e na perseguição de todos os que ousassem questionar a organização do estado ou o nome de algum dos seus fiéis servidores. O Estado Novo foi imposto ditatorialmente aos portugueses, pelos militares, não o esqueçamos também, na sequência do falhanço rotundo da 1ª República e do autêntico regabofe político que esta trouxe consigo. Por outro lado, o regime instalado em Portugal aproveitou para se consolidar na sequência da onda de outros regimes ditatoriais já existentes, ou que viriam a despontar e implantar-se noutros países da Europa, nomeadamente aqui ao lado em Espanha com Franco, na Itália fascista de Mussolini e na Alemanha Nazi de Hitler.
Em Portugal, como não podia deixar de ser, os cristãos evangélicos sofreram igualmente às mãos da ditadura. Para além de outras acções, mais ou menos gravosas, levadas a cabo pelos representantes do regime de então, muitos dos cultos evangélicos eram acompanhados presencialmente por elementos da PIDE ou da Legião Portuguesa. Curiosamente, ou talvez não, alguns vieram a ter um encontro pessoal com Jesus ao longo da sua missão de "espionagem"das actividades dos protestantes. Neste domínio, o Estado Novo contou também com o apoio da Igreja Católica Romana na perseguição, instigação à perseguição e estigmatização dos evangélicos.Mas isto será matéria para um outro texto repositório da história desse período no que concerne às relações e exposição dos cristãos-evangélicos ao Estado Novo.
Jacinto Lourenço
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Em 1900, após completar os seus estudos na escola primária, com 11 anos de idade, Oliveira Salazar ingressou no Seminário de Viseu, onde permaneceu por oito anos. Em 1908, o seu último ano lectivo no seminário, tomou finalmente contacto com toda a agitação que reinava em Viseu e também em todo o país. Surgiam artigos que atacavam o Governo, o Rei e a Igreja Católica. Foi também nesse ano que se deu o assassínio do Rei D. Carlos e do seu filho, o Príncipe D. Luís Filipe. Não ficando indiferente a esses acontecimentos, Salazar, católico praticante, começou a insurgir-se contra os republicanos jacobinos em defesa da Igreja, escrevendo vários artigos nos jornais. Depois de completar os estudos, permaneceu em Viseu por mais dois anos. Porém, em 1910, mudou-se para Coimbra para estudar Direito. Em 1914, concluiu o curso de Direito com a alta classificação de 19 valores e torna-se, dois anos depois, assistente de Ciências Económicas. Assumiu a presidência da cadeira de Economia Política e Finanças em 1917 a convite do professor José Alberto dos Reis e do professor Aniceto Barbosa, antes de se doutorar em 1918.[...]Com a crise económica e a agitação política da 1ª República (que se prolongou inclusive após o Golpe militar de 28 de Maio de 1926), a Ditadura Militar chamou o Dr.Salazar em Junho de 1926 para a pasta das finanças; passados treze dias renuncia ao cargo e retorna a Coimbra por não lhe haverem satisfeitas as condições que achava indispensáveis ao seu exercício.
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Em 27 de Abril de 1928, após a eleição do Marechal Carmona e na sequência do fracasso do seu antecessor em conseguir um avultado empréstimo externo com vista ao equilíbrio das contas públicas, reassumiu a pasta, mas exigindo o controlo sobre as despesas e receitas de todos ministérios. Satisfeita a exigência, impôs forte austeridade e rigoroso controlo de contas, conseguindo um superavit, um "milagre" nas finanças públicas logo no exercício económico de 1928-29. [...]
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O princípio do fim de Salazar começou a 3 de Agosto de 1968, no Forte de Santo António, no Estoril. A queda de uma cadeira de lona, deixada em segredo primeiro, acabou por ditar o seu afastamento do Governo. António de Oliveira Salazar preparava-se para ser tratado pelo calista Hilário, quando se deixou cair para uma cadeira de lona. Com o peso, a cadeira cedeu e o chefe do Governo caiu com violência, sofrendo uma pancada na cabeça, nas lajes do terraço do forte onde anualmente passava as férias, acompanhado pela governanta D. Maria de Jesus. Levantou-se atordoado, queixou-se de dores no corpo, mas pediu segredo sobre a queda e não quis que fossem chamados médicos, segundo conta Franco Nogueira. Outra testemunha, o barbeiro Manuel Marques, contraria esta tese. Segundo ele, Salazar não caiu na cadeira, que estava fora do lugar, mas tombou no chão desamparado. Ainda outra testemunha diz que Salazar não caiu de uma cadeira, e sim de uma banheira, testemunha essa que acompanhou Salazar da casa de banho até ao quarto no dia do sucedido. A vida de António Oliveira Salazar prosseguiu normalmente e só três dias depois é que o médico do Presidente do Conselho, Eduardo Coelho, soube do sucedido. Só 16 dias depois, a 4 de Setembro, Salazar admite que se sente doente: «Não sei o que tenho». A 6 de Setembro, à noite, sai um carro de São Bento. Com o médico, Salazar e, no lugar da frente, o director da PIDE, Silva Pais. Salazar é internado no Hospital de São José e os médicos não se entendem quanto ao diagnóstico - hematoma intracraniano ou trombose cerebral -, mas concordam que é preciso operar, o que acontece a 7 de Setembro. Foi afastado do Governo em 1968 após ser vitimado por um hematoma craniano, que lhe causou danos cerebrais graves, após a queda, quando passava férias no forte de S. António do Estoril.
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Fonte: Wikipédia

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Avós: Um Valor Seguro

Celebra-se hoje, a fazer fé no que dizem os meios de comunicação, o "Dia dos Avós". Numa breve e diagonal investigação, parece-me que este dia se inspira numa tradição católica romana. Chega a sua celebração a Portugal como tem chegado a de tantos outros dias em que, mais inspiração menos inspiração, o que lhes está verdadeiramente subjacente é o objectivo comercial. Porém, se há dia que eu considero, até por razões pessoais, que deva ser celebrado, é o Dia dos Avós, e por duas ou três questões fundamentais.
Vive-se hoje numa sociedade em que o papel da família tende a esbater-se. Em que pai e mãe trabalham, e em que os avós, ao invés de serem encarados como elementos enraízadores da família, são antes vistos como um peso que se despeja num qualquer lar ao virar da esquina, e em que as razões economicistas da escolha desse lar se sobrepõem às razões de qualidade de vida e humanidade com que os idosos devem ser tratados. Todos os dias os meios de comunicação nos dão notícia do desprezo e ausência de sensibilidade humana mínima a que são votados muitos idosos, quer por quem os acolhe, quer pelas famílias que se "esquecem", literalmente, dos seus familiares, passando-se por vezes anos sem que os visitem nos lares de acolhimento. É dramático e chocante assistir a isto.
Não quero nem devo iludir o facto de que em muitos casos os filhos não têm outra alternativa ao internamento dos pais em lares. Mas se o têm que fazer, devem fazê-lo com a dignidade, humanidade e respeito que estes merecem, quanto mais não seja, porque se sacrificaram, ao longo de uma vida, por proporcionar aos filhos a qualidade de vida e educação que eles próprios, na maioria dos casos, nunca tiveram. Felizmente, identifico muitos casos em que filhos e famílias cuidam e integram no seio familiar, de maneira extremosa, os seus pais e avós.
Há umas décadas atrás, os idosos eram encarados como um valor importante no seio familiar. Um esteio, um factor de transmissão de valores e conhecimentos, elementos cuidadores e ensinadores das gerações mais jovens. Nas sociedades mais primitivas sempre houve esse olhar sobre os mais velhos. Nas sociedades modernas parece que, afinal, nada disso é já importante e os idosos são olhados como desnecessários e completamente descartáveis.
A minha experiência pessoal é a de quem foi criado e educado pelos avós a partir dos seis anos de idade. Dou graças a Deus porque o amor que os meus avós e a minha família me dedicaram, não permitiu que eu sentisse grandemente a ausência dos pais. Foi-me consagrado pelos meus avós, o mesmo amor e cuidado que já tinham dedicado aos seus filhos. Numa determinada altura, eu senti-me mesmo como um pequeno "príncipe" no meio de tantos cuidados e afectos que me eram dispensados. Devo muito aos meus avós. Sei que a sua vida teria sido um pouco diferente se não tivessem que, depois de criados sete filhos, terem que criar e educar mais um neto. Não me consta que alguma vez se tenham queixado desse facto. E tenho a certeza de que muitas vezes tiveram razões para isso, em especial porque o seu relacionamento, em busca do melhor para mim, com os meus pais, não foi fácil, ou mesmo porque a minha entrada na adolescência e fase inicial da juventude também lhes não facilitou a vida.
Dos meus avós, não me lembro de alguma vez ter recebido um açoite ( e se recebesse teria sido provavelmente merecido, porque como também diz o adágio, "quem dá o pão, dá a educação" ), apenas cuidado e carinho. Lamento que tivessem partido cedo, que eu não tivesse usufruido, por mais tempo, da sua companhia.
Não me lembro de quantos brinquedos me compraram, mas lembro o amor que me dedicaram, os meus avós, enquanto viveram.
Hoje, na certeza de que os avós devem voltar a ser encarados como um valor seguro de enraizamento familiar e como cuidadores preferenciais dos netos, deixo aqui esta homenagem pública aos meus avós maternos e a tudo aquilo que ao fim de muitos anos ainda representam para mim, mesmo estando ausentes fisicamente.
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Jacinto Lourenço

domingo, 25 de julho de 2010

O Nome de Jesus

Muitos evangélicos usam o nome de Jesus como uma espécie de amuleto ou palavra mágica. Mas o nome de Jesus pronunciado ou lido em si não é nada, não passa de um nome comum e sem nenhum poder! Eu mesmo tinha um tio chamado Jesus. E quantos não usam esse nome como um sobrenome? Repetir as sílabas “Jesus” não passa muitas vezes de superstição ou irracionalidade na cabeça de certos evangélicos.
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Alguns compositores de músicas evangélicas chegam a repetir o nome de Jesus como se fosse um mantra. Só a palavra “Jesus” pode ser vazia de significado ou de significado distorcido, e isto é muito comum. Alguns pseudocristãos chegam a afirmar que o nome correto e único que deve ser pronunciado é “ierrochua” (Yehoshua) ou algo parecido, caso contrário não tem poder nem se pode invocá-lo para a salvação. Não há nada de santo ou místico na palavra Jesus ou Yehoshua, isso é mais uma invenção dos novos “gesuítas evangelicóides”!
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O que tem que ficar bem claro para o verdadeiro cristão é que o nome REPRESENTA o Deus Salvador e todos os seus majestosos atributos, mas que o nome em si não deve ser adorado, servido e glorificado. Jesus era um nome tão comum para os judeus como “Zé” é para nós brasileiros. O nome do feiticeiro em Atos 13.6 era “Barjesus”, “filho de Jesus”. Jesus é a forma grega de Josué, nome muito comum em hebraico. Obviamente o nome de Jesus é de suma importância para os cristãos, mas não um nome vazio de significado ou de significado extra-bíblico.
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Exemplo de uso irracional ou místico, o popular: “Jesus: este nome tem poder” ou “em nome de Jesus eu ordeno isso ou aquilo”. Também usar o nome de Jesus escrito em adesivos e estampas de camisas, tais coisas são inúteis para transmitir a ideia que Cristo tem toda autoridade e majestade sobre a criação. Não saber usar reverentemente o nome de Jesus, reconhecendo o significado da Pessoa de Cristo, é usar o nome em vão. Não que seja errado afirmar que Jesus tem todo poder, mas o uso do nome por si é vazio, por mais mantrificado que seja.
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A Bíblia diz que “ao nome de Jesus todo joelho se dobre” (Fp 2.10). Será que diante da invocação do nome de Jesus todos se dobram? Será que diante de um nome estampado ou impresso as pessoas se ajoelham? Antes de tudo, deve haver o RECONHECIMENTO, o ENTENDIMENTO do poder, do Reino, da Glória, da autoridade e majestade de Jesus. Biblicamente sabemos que todos os seus escolhidos se dobram em submissão, servidão e obediência, e também que todos os ímpios clamarão no juízo e se dobrarão diante da Ira do Cordeiro, estes estarão debaixo do cetro de ferro do Rei Jesus, esmagados, julgados e condenados. Será que estes reconhecem o nome “Jesus” desse modo como está em Efésios?:
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Esse poder ele [Deus Pai] exerceu em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o assentar-se à sua direita, nas regiões celestiais, muito acima de todo governo e autoridade, poder e domínio, e de todo nome que se possa mencionar, não apenas nesta era, mas também na que há de vir. Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou cabeça de todas as coisas para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer circunstância (Efésios 1.18-23).
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O som da palavra Jesus não tem sentido se não houver entendimento da autoridade de Jesus. A palavra Jesus não é uma palavra mágica. O nome sozinho não gera respeito, pois quantos zombam do nome Jesus? Os zombadores não entendem quem seja a segunda pessoa da trindade, mas chegará o dia que reconhecerão com lágrimas, espanto e terror. Na sua segunda vinda Jesus Cristo julgará os vivos e os mortos {2Tm 4.1}.
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Muitos não sabem que o nome “Jesus” significa “Jeová é salvação ou Salvador”. "E lhe porás o nome JESUS, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles" (Mateus 1:21). O propósito do nome é ensinar sobre a missão de Cristo como o Redentor dos eleitos de Deus. Através dEle o universo foi criado e é mantido em existência {Jo 1.3; Cl 1.16-17}. Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos (Atos 4.12). Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus (1 Timóteo 2.5). Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida (1 João 5.12). Será que a multidão evangélica tem isso em mente quando lê ou pronuncia a palavra Jesus ou é só um “Zé” profeta, iluminado, anjo, semideus, bom homem, mestre, curandeiro ou operador de milagres?
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Sem as escrituras ninguém pode conhecer Jesus. Como escreveu um teólogo do nosso tempo, Vincent Cheung: “Quando Jesus apareceu num resplendor de luz, na estrada de Damasco, o que teria acontecido se Ele se recusasse a responder quando Saulo de Tarso lhe perguntou: “Quem és, Senhor?”A única razão pela qual Saulo percebeu quem estava falando com ele, foi porque Jesus respondeu com as palavras: “Eu sou Jesus, a quem persegues” (Atos 9:3-6). – Ou seja, não qualquer Jesus, mas o Senhor dos cristãos.
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Fonte: Raniere Menezes*** Frases Protestantes

sábado, 24 de julho de 2010

Bancos sem Stress...

A solidez dos quatro instituições financeiras portuguesas (BCP, BPI, CGD e Espírito Santo Financial Group) analisadas pelo Comité de Supervisores Bancários Europeu (CEBS) foi avaliada com nota positiva, revelou hoje o Banco de Portugal.
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É caso para perguntar: E porque é que os bancos portugueses haviam de andar stressados quando são as empresas mais protegidas pelo estado português, as que menos IRC pagam, e das poucas que estão a lucrar, todos os dias, com a crise ?
Razões para andar stressados têm os pobres, a classe média, os 600.000 de nós que estão desempregados, os trabalhadores, os estudantes, os jovens, as mulheres, os homens, o povo, todo um povo a quem todos os anos é renovado o pedido de mais sacrifícios em prol do país. E assim se perdeu o tempo de uma geração desde a madrugada de 25 de Abril de 1974. Stress é isto, e ver também que Portugal se torna, todos os dias, mais desigual. Um País de equívocos. Um país com bancos sem stress.
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Jacinto Lourenço

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Crucifixos nas Escolas no País dos Equívocos

A questão dos crucifixos nas escolas não se pode resumir a uma luta entre católicos e ateus, ou entre religiosidade e laicismo. Há mais vida para lá dessas opções. A sociedade portuguesa é tendencialmente heterogénea, em termos religiosos. Temos o peso histórico do catolicismo-romano, algum ateísmo militante, um agnosticismo que dá sempre jeito, em especial a políticos de centro-esquerda, mas também temos protestantes, judeus, evangélicos, islâmicos, ortodoxos, grupos religiosos brasileiros mais recentes, de tipo neopentecostal, cultos afro, mórmons, hindus, budistas e outros. Cada vez mais se verá uma dispersão e pulverização na sociedade portuguesa, em matéria de fé, a qual decorre, em grande parte, da globalização e dos fluxos migratórios, em particular africanos, brasileiros e do leste da Europa. Apesar de tudo, as igrejas protestantes começaram a implantar-se por cá ainda no século dezanove, impossibilitadas de o fazer, durante os três séculos anteriores, devido à prática da Inquisição. Recentemente os jornais deram conta duma petição que estará a ser preparada «A favor da presença de crucifixos nas salas de aula das escolas públicas», com vista à sua discussão no Parlamento. O Estado recusa-se a cumprir a lei e a Constituição, pois muitas escolas ainda exibem crucifixos nas paredes das salas de aulas, ignorando a lei que diz que não o podem fazer. Segundo parece, a política do Ministério da Educação é só mandar retirar se houver um pedido dos professores, alunos ou pais. Ou seja, cumpra-se a lei… mas só quando alguém se queixar, o que é indigno e ridículo, além de antidemocrático. A ideia dos subscritores é que Portugal se aproxime do conjunto de dez países tradicionalmente católicos como Malta e São Marino, ou ortodoxos como a Grécia e a Rússia, que se uniram ao governo de Berlusconi para protestar contra a lei que proíbe os crucifixos nas salas de aula das escolas públicas italianas, anteriormente aprovada. Mas isto não é inocente, porque a decisão definitiva na Itália, sendo favorável, poderá influenciar nesse sentido a revisão da jurisprudência de países membros do Conselho da Europa sobre o uso de símbolos religiosos nas escolas. Apesar de se dizer que a ideia é permitir que os símbolos religiosos de outras confissões possam também estar lado a lado com o crucifixo (que confusão!), sabemos bem que resultado daria tal coisa. Em especial num país onde nem sequer há a tradição de manter capelas mortuárias interconfessionais, espaços públicos onde pessoas de todas as confissões religiosas se sintam em casa para proceder às exéquias dos seus fiéis. As escolas públicas não podem (segundo a Constituição) nem devem (de acordo com a tolerância e o respeito pelo Outro) exibir quaisquer símbolos religiosos nas salas de aula nem nos espaços comuns. Mas o mesmo se poderia dizer dos hospitais públicos, muito embora aqui faça todo o sentido a existência de uma capela interconfessional, onde ministros de culto de qualquer religião reconhecida possam realizar serviços religiosos para os doentes internados, sempre que isso se justificar. É preciso esclarecer quem não sabe que só os católicos se identificam com o crucifixo. Nem os ortodoxos, os protestantes ou os evangélicos (constituindo estes últimos o número mais significativo em Portugal, depois dos católicos), para não falar de religiões não cristãs, se identificam com tal símbolo. Estamos, portanto, muito longe da prática de uma efectiva liberdade religiosa em Portugal, continuando a assistir a uma luta surda entre católicos e ateus, como se nada mais existisse. É mais um sinal do nosso subdesenvolvimento.
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Fonte: Brissos Lino, Setúbal na Rede, 20/7/10***Via A Ovelha Perdida

quinta-feira, 22 de julho de 2010

"Uma Estrela que é 300 Vezes Maior que o Sol"

( Foto D.N. )

*** A partir de agora, os astrónomos têm de rever todos os seus livros sobre estrelas. É que, ao contrário do que pensavam, o tamanho máximo que uma delas pode alcançar não é 150 vezes a massa do Sol. A R136a1, agora descoberta a 165 mil anos-luz da Terra, é 265 vezes maior que a nossa estrela. E quando nasceu pode ter sido 320 vezes maior que ela. "Ao contrário dos humanos, estas estrelas nascem pesadas e perdem peso à medida que envelhecem", disse Paul Crowther, professor de Astrofísica da Universidade de Sheffield, responsável pela descoberta. "Tendo um pouco mais que um milhão de anos, a maior estrela, R136a1, é já de meia-idade e ultrapassou um grande programa de emagrecimento, perdendo um quinto da massa inicial ao longo do tempo, mais de 50 vezes a massa do Sol", acrescentou. A partir de novas observações do Very Large Telescope, no Chile, e de antigas leituras do telescópio espacial Hubble, a equipa liderada pelo britânico estudou duas regiões conhecidas por serem berços de novas estrelas - a NGC 3603 e a RMC 136a. Foi nesta última que detectaram a estrela gigante, que não é a única com massa superior ao que os astrónomos pensavam ser possível. A equipa encontrou estrelas com temperaturas superficiais sete vezes mais quentes que o Sol, dezenas de vezes maiores e milhões de vezes mais brilhantes. "A existência destes monstros, milhões de vezes mais luminosos que o Sol, que perdem peso através de ventos muito poderosos, poderiam proporcionar a resposta à incógnita de quão massivas podem ser as estrelas", explicou o Observatório Espacial Europeu.

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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Graça

Ainda há pouco, ao reler o admirável Sermão do Monte, percebi como a graça esteve presente nos princípios expostos por Jesus. Mesmo reconhecendo que a graça foi exaustivamente estudada e definida pela teologia, é preciso redescobri-la nos lábios do Nazareno. Os favores imerecidos de Deus não podem ficar circunscritos às codificações teológicas. Naquele relvado, na encosta de um morro qualquer, Cristo falou de assuntos diversos, mas não se esqueceu de explicitar que Deus se relaciona com seus filhos diferente de todas as divindades conhecidas. Após séculos de argumentação sobre os significados da graça, os cristãos precisam despertar para ao fato de que ela é o chão da espiritualidade cristã. Um neopaganismo levedou a fé de tal forma que muitos transformaram a oração em uma simples fórmula para canalizar e receber os favores divinos. Para obter resposta às petições, implora-se, pena-se, insiste-se, no aguardo de que Deus escute. Quando não se recebe, justifica-se assumindo culpas irreais, como falta de disciplina. Acha-se que é necessário continuar implorando para Deus se sensibilizar. Mede-se a espiritualidade pelo número de respostas aos seus pedidos e, quando malsucedidos, castiga-se por não merecer. A própria linguagem denuncia romeiros católicos evangélicos, que lotam os espaços religiosos: é preciso “alcançar uma graça”. Graça liberta do imperativo de dar certo. O Sermão da Montanha começa felicitando pobres em espírito, chorosos, mansos e perseguidos. Os triunfantes não podem se gloriar de serem mais privilegiados do que os malogrados. Graça revela um Deus teimosamente insistindo em permanecer do lado de quem não conseguiu triunfar; até porque a companhia de Deus não significa automática reversão das adversidades. Graça permite o auto-exame, a análise das motivações mais secretas da alma, sem medo. Na série de afirmações sobre ódio, adultério, divórcio e vingança, Cristo deixou claro que ninguém pode se vangloriar quando desce às profundezas do coração. No nível das intenções, todos são carentes. O olhar sutil indica adultério. O ódio despistado revela homicidas em potencial. A vingança disfarçada contamina as ações superficiais. Lá onde brotam as fontes das decisões, tudo é confuso; vícios e virtudes se confundem. Somente com a certeza de que não haverá rejeição é possível confrontar os intentos do coração para ser íntegro. Graça convida a amar. Jesus afirmou que Deus “faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos”. Para revelar sua bondade, Deus não precisou ser convencido a querer bem. Deus não faz acepção de pessoas; o seu amor não está condicionado a méritos. Quando as pessoas são inspiradas por gratidão, reconhecimento e admiração por tão grande amor, se sentem impulsionadas a imitá-lo. Deus surpreende por dispensar bondade sem contrapartida de virtude. Assim, na improbabilidade de os seres humanos se mostrarem graciosos, os discípulos devem almejar a única virtude que pode torná-los perfeitos como Deus -- o amor. Graça é convicção de que o acesso a Deus não depende de competência. Quem acredita que será aceito pelo tom de voz piedoso ou pela insistência em repetir preces nega a paternidade divina. Antes de pedirmos qualquer coisa, Deus já estava voltado para nós. Os exercícios espirituais não precisam ser dominados como uma técnica, mas desenvolvidos como uma intimidade. O secreto do quarto fechado representa um convite à solitude, à tranquilidade que não acontece com sofreguidão. Graça libera energia espiritual que pode ser dirigida ao próximo. Buscar o reino de Deus e sua justiça só é possível porque não é preciso preocupar-se com o que comer e vestir e por jamais ter de bater na porta do sagrado para conquistar benefícios particulares. Basta atentar para os lírios do campo e pardais para perceber que as ambições devem escapar à mesquinhez de passar a vida administrando o dia-a-dia. Graça devolve leveza para que os filhos de Deus sintam-se à vontade em sua presença, como meninos na casa dos avós. Graça libera as pessoas para se tornarem amigas de Deus, em vez de vê-lo como um adestrador inclemente. Graça não permite delírios narcisistas. Nenhuma soberba se sustenta diante da percepção de que Deus aposta na humanidade e ainda se convida a cear entre amigos. Graça distensiona o culto porque avisa: tudo o que precisava acontecer para reconciliar a humanidade com Deus foi concluído: “Consumatum est”. Portanto, enquanto a graça não for redescoberta de fato como a mais preciosa verdade da fé, as pessoas podem até afirmar que foram livres, mas continuarão presas à lógica religiosa das compensações. Devedores, jamais entenderão que o reino de Deus é alegria. A graça liquida com pendências legais. Não restam alegações a serem lançadas em rosto -- “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus?”. A religiosidade legalista insiste que é perigoso falar excessivamente sobre a graça. Anteparos seriam então necessários para proteger as pessoas da liberdade que a graça gera. Mas o amor que tudo crê, tudo espera e tudo suporta não aceita outro tipo de relacionamento senão abrindo espaço para que haja amadurecimento. Deus ama assim, e o Sermão da Montanha não deixa dúvidas de que todo discurso sobre o reino de Deus deve começar com graça.
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“Soli Deo Gloria”.
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terça-feira, 20 de julho de 2010

Procuram-se Amigos...

...Quero ser amigo de quem eu não deva me proteger, mas que também não se sinta acuado e com medo de mim. Não creio em companheirismo lotado de suspeita. Grandes amigos são vulneráveis; conversam sem cautela; sentem-se livres para rasgar a alma e sabem que confidências e segredos nunca serão jogados no ventilador da indiscrição. Amigos preferem proteger os amigos a defender normas, estatutos e leis.[...]
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E Quem é que nos Defende desta Justiça...?

( Foto D.N. )
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Apanharam gangue e juiz libertou-o
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Trio detido após perigosa perseguição policial. Só termo de identidade e residência. Estavam dentro de uma Ford Transit parada, com as luzes apagadas, próximo de uma loja de bicicletas no centro de Faro. Eram três e chamaram a atenção de uma patrulha da PSP: a loja tinha sido assaltada há pouco tempo. Abordados, os suspeitos fugiram, e assim começou uma perseguição policial a alta velocidade, entre Faro e Olhão, na Via do Infante. A corrida louca acabou com uma barreira da GNR e o despiste da carrinha na rotunda de Olhão. [...]
Ao tentar escapar, os três fugitivos despistaram-se, só parando no meio da vegetação seca da rotunda que aí existe. Um deles ainda tentou fugir a pé, por um esgoto de águas pluviais, com cerca de duzentos metros, mas sem sucesso. As autoridades encontraram duas armas no local do acidente. Os homens, dois cidadãos espanhóis, com 22 e 26 anos e um português, de 25, são suspeitos de vários assaltos a lojas de bicicletas registados em todo o Algarve. Depois de presentes ao Tribunal de Faro, acabaram por sair em liberdade com termo de identidade e residência.
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domingo, 18 de julho de 2010

O Meu Cavalo de Pau

Veio até junto de mim, meio receoso, meio inquieto, meio comprometido, meio esperançado de que tudo afinal acabasse bem para ele depois de eu o ter apanhado com fósforos na mão a tentar incendiar meia dúzia de papéis velhos, trazidos pelo vento e amontoados junto do relvado que circunda a igreja por detrás da minha casa. Chamei-o, disse-lhe que nada receasse (afinal só queria retirar-lhe os fósforos e passar-lhe um raspanete). Teria 9 ou 10 anos de idade, tal como os seus outros dois companheiros de brincadeira. Foi o que fiz, pelo meio de algumas perguntas sobre o seu nome e onde morava. Percebeu rapidamente que o iria "entregar" e preferiu não me dizer onde era a sua casa, embora me tivesse afiançado que era da província e que estava de férias em casa dos avós. Com o meu ar de adulto, sabedor e experiente, que acha que pode ensinar tudo a um miúdo de 10 anos, expliquei-lhe das muitas razões pelas quais não se deve brincar com fósforos, especialmente num tempo em que, diferentemente do meu tempo de menino de 10 anos, em que tinha, na maior parte das vezes, que construir os meus próprios brinquedos, ele dispunha, na actualidade, de mil e um objectos para poder ocupar o seu tempo de criança ladina sem recorrer a "aventuras" com fósforos que podem tornar-se um grande problema para muita gente sem tempo para resolver problemas.
O seu olhar quase fulminou a minha argumentação. Disparou as suas certezas aproveitando ter na mira um dos alvos da sua incontida revolta, um dos adultos "responsáveis" pela triste sina que lhe destinaram, esta de ser criança de 10 anos num tempo em que nem sequer lhe deixavam espaço para exercitar a sua infância. Que sim, que eu é que tinha tido sorte por ter tido a oportunidade de fabricar os meus próprios brinquedos. Que ele nem desse privilégio se podia abeirar e que estava cansado de uma infância formatada e pensada por quem não era criança, como ele; uma infância cheia de adultos que em longínquas paragens lhe fabricavam sonhos que não tinha sonhado. Sim, era por isso que tinha que brincar com coisas proibidas, coisas que chateassem os adultos, que fizessem dele o "herói" do momento, tal como eu que, nas minhas brincadeiras de infância, qual xerife cavalgando o meu cavalo de pau, feito com as minha mãos de menino de 10 anos, perseguia, entre canaviais e trigais verdes acima da cabeça, todos os "bandidos" de turno foragidos à justiça.
Tanta coisa que afinal eu aprendi, em escassos minutos, com um miúdo de 10 anos a quem nem sequer é dado espaço para poder fabricar os seus próprios brinquedos.
Fica muito por dizer do que resulta das entrelinhas desta conversa de alguns minutos com uma criança de dez anos; mas o mais importante ficou entendido, pelo meio da sua arguentação explícita e viva: a sociedade e o modus-vivendi que estamos a construir, não convém a crianças que precisam crescer e desenvolver-se harmoniosa e equilibradamente. O mundo que lhes estamos a deixar é, de vários pontos de vista, muito mais pobre que o que nos coube em herança. E mesmo que os pais e família tenham agora maior poder aquisitivo, isso não faz deles melhores adultos nem dos seus filhos crianças mais felizes; bem pelo contrário, como facilmente se comprova.
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Jacinto Lourenço

sábado, 17 de julho de 2010

"Sobre Deus"

Não sei explicar as razões de minha fé. Não sei dizer os porquês de minha devoção. Sinto-me inadequado para convencer os indiferentes. Como fazer que desejem o mesmo sal que tempera o meu viver? Limitado, reconheço que tudo o que sei sobre o Divino é provisório. Não tenho como negar, minhas convicções vacilam. As certezas que me comovem são, decididamente, vagas. Sei tão somente que Ele se tornou a minha meta, o meu norte, a minha nostalgia, o meu horizonte, o meu atracadouro. Empenhei o futuro para seguir os seus passos invisíveis. No dia em que o chamei de Senhor, a extensão do meu meridiano se alongou e os fragmentos de meu mapa existencial se encaixaram. Ao seu lado, caíram os tapumes da minha estrada e o ponteiro da minha bússola se imantou. Sei tão somente que Ele se fez residente no campus dos meus pensamentos. Presente nos vôos da minha imaginação, transformou-se no mais doce ponto de minhas interrogações. Causa de toda inquietação, tornou-se a fonte de minha clarividência. Sei tão somente que Ele se desfraldou como flâmula sobre meus ombros. Por amar tanto e tão formidavelmente, cilício, purgações, sacrifícios, tudo foi substituído por desassombro. No porão da tortura, nos suplícios culposos, achei um ambulatório, o seu regaço. Livros contábeis, que registravam meus erros, foram rasgados. Encaro a eternidade com a sensação de que as sentenças estão suspensas. Já não fujo dEle como de um Átila. Eu o chamo de Clemente. Sei tão somente que Ele ardeu o delicado filamento que acendeu a luz dos meus olhos. Ele foi o mourão que marcou o outeiro de minha alma; sou um jardim fechado. Ele é o badalo que dobra o sino do meu coração e o alforje onde guardo acertos e desacertos do meu destino. Sei tão somente que Ele me fascina com a sua luz refratada em muitos matizes. Dele vem o encarnado que tinge a minha face com o rubor do sol. Seu amarelo me brinda com o açafrão do mistério transcendental. Vejo um roxo que me colore de púrpura real. Seu branco é lunar e me prateia. Seu preto me imprime de um nanquim celeste. Por sua causa, a minha alma espelha o azul dos oceanos virgens. O que dizer de Deus? Tão pouco! Calado, só espero que o meu espanto celebre o tamanho da minha reverência.

*** Soli Deo Gloria

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Fonte: Pr. Ricardo Gondim

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O Nascimento de Estrelas na Galáxia "Remoinho"

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Ler artigo AQUI, em castelhano, no jornal El Mundo

quinta-feira, 15 de julho de 2010

" O Sucesso segundo Deus"

Basta entrar numa livraria, secular ou cristã, procurar as prateleiras de livros de auto-ajuda, para lá encontrar inúmeros títulos sobre sucesso. "Como alcançar sucesso", "Sucesso não é acidente", "Sucesso é ser feliz", "Sucesso não acontece por acaso", "7 passos para o Sucesso", são alguns dos títulos que você poderá encontrar. A maioria oferece um tipo de receita de bolo, com passos e ingredientes necessários para se obter sucesso. Até aí, tudo bem. Vamos relevar... O problema não está na receita em si, mas na definição de sucesso. O que é "sucesso", afinal? Na óptica do mundo, sucesso pode ser considerado êxito profissional, aquisição de bens de consumo, realização conjugal, etc. Que definição as Escrituras nos dariam? O que seria "sucesso" na óptica divina? E mais: Qual seria o aferidor usado por Deus para medir nosso sucesso? Será que Ele se impressionaria com as nossas realizações? Poderíamos mensurar o sucesso de alguém pelo carro que guia? Ora, o carro novo de hoje, será a lata-velha de amanhã. Não é em vão que se diz que o sucesso é efémero, fugaz. Se a nossa definição de sucesso se ativer à aquisição de bens, ou mesmo à fama, então tal ditado deve ser confirmado. A celebridade de hoje, poderá cair no esquecimento amanhã[...]. Gente que foi sucesso um dia, hoje está abandonada até pela família. [...] Há, então, um sucesso que não seja passageiro? A resposta é sim! E se estivermos interessados nesse sucesso, temos que recorrer às Escrituras em busca da sua definição. Antes de definir "sucesso" na óptica divina, destaquemos dois exemplos bíblicos de sucesso, um segundo Deus, e outro segundo o mundo. Comecemos pelo exemplo de sucesso segundo Deus: Moisés. O escritor de Hebreus diz que "pela fé Moisés, sendo já homem, recusou ser chamado filho da filha de Faraó. Escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus do que, por algum tempo, ter o gozo do pecado. Teve por maiores riquezas o opróbrio de Cristo do que os tesouros do Egipto, porque tinha em vista a recompensa" (Hb.11:24-26). Quem, em sua sã consciência, recusaria participar da linha sucessória de Faraó? Em termos populares, Moisés estava com a faca e o queijo na mão. Como filho da filha de Faraó, ele era forte candidato ao trono da maior potência do mundo de então. Entretanto, ele abriu mão de tudo isso. Passou quarenta anos peregrinando com os hebreus pelo deserto do Sinai. Ao morrer, não teve sequer teve uma sepultura digna, como as dos faraós. É sabido pelos arqueólogos que as famosas pirâmides egípcias foram construídas como gigantescos sarcófagos para os monarcas do Egipto. Nelas eram depositados, não apenas o corpo do rei, mas também todos os seus tesouros. Quanto maior a pirâmide em que fosse sepultado, maior o sucesso que aquele Faraó havia alcançado durante sua gestão como soberano do Egipto. Porém, Moisés não teve sequer uma sepultura. O texto bíblico apenas indica que o próprio Deus o sepultou, mas seu corpo jamais foi localizado.Moisés trocou o ceptro egípcio por um cajado rústico de pastor. Trocou a vida cómoda dos palácios por uma vida nómada. Alguém se atreveria a dizer que Moisés não obteve sucesso aos olhos de Deus? A propósito, qual era o nome do Faraó contemporâneo de Moisés? Alguns milénios se passaram, e pouquíssimas pessoas sabem o nome daquele monarca. Porém, tantos judeus, quanto muçulmanos e cristãos honram o grande libertador e legislador que foi Moisés. Seu nome e sua obra jamais serão esquecidos. Até os ateus reconhecem em Moisés uma das mais importantes e emblemáticas figuras da História. Portanto, podemos afirmar que Moisés foi um homem de sucesso. Como poderíamos definir "sucesso"? Ou ainda, como Deus mediria o nosso sucesso? Qual o critério pelo qual alguém é considerado bem-sucedido para Deus? É notório que o apóstolo mais bem-sucedido foi Paulo. Ninguém fez tanto em tão pouco tempo. Foi o seu empenho que proporcionou que o cristianismo avançasse para além das fronteiras judaicas. É o mesmo apóstolo que nos revela que o sucesso de alguém é medido pelo número de acções de graça que são dirigidas acerca a Deus. Ao conclamar a igreja de Corinto a participar na oferta que estava sendo levantada para ajudar os cristãos em Jerusalém, Paulo os estimula, dizendo: "Em tudo sereis enriquecidos para toda a generosidade, a qual faz que por nós se dêem graças a Deus. A ministração deste serviço, não só supre as necessidades dos santos, mas também transborda em muitas graças, que se dão a Deus. Visto que esta ministração prova que sois obedientes, e seguis o evangelho de Cristo, eles louvarão a Deus. E também louvarão a Deus pela liberalidade das vossas dádivas para com eles, e para com todos. E orarão com grande afecto por vós, por causa da execelente graça que Deus vos deu" (2 Cor. 9:11-14). Para o mundo, o sucesso é medido por aquilo que conseguimos amealhar, pelas riquezas que concentramos em nossas mãos. Para Deus, o sucesso é medido por aquilo que conseguimos distribuir, fazendo com que acções de graça pela nossa vida cheguem constantemente a Ele. Pouco importa para Deus a marca do carro que dirigimos. O que importa são as pessoas a quem oferecemos boleia, ou a quem socorremoscom o nosso veículo. O que importa não é quantas divisões tem a nossa casa, mas sim quantas pessoas temos hospedado nela. Não importa a marca das nossas roupas, mas aqueles a quem agasalhamos. Não há oração mais eficaz do que aquela regada de acções de graça. Quantas pessoas se têm dirigido a Deus em acções de graça pela sua vida? Para quantos sua vida representa o dom dos céus? A tradição protestante não admite que se faça oração por aqueles que já morreram. Mas nada nos impede de continuar agradecendo a Deus por alguém que já partiu deste mundo. Quando leio um bom livro de um autor que viveu séculos atrás, eu louvo a Deus pela sua vida, e pelo legado que ele deixou. Agradeço aos céus pelo pai exemplar que tive, mesmo tendo deixado o mundo há quase oito anos. Embora ele não tenha deixado um grande património para a família, seu maior legado foi seu exemplo de vida, e assim como Abel, mesmo depois de morto, seu testemunho não perdeu a eloquência. Escrevendo para os cristãos de Tessalónica, Paulo diz: "Sempre damos graças a Deus por vós todos, fazendo menção de vós em nossas orações, lembrando-nos sem cessar da obra da vossa fé, do vosso trabalho de amor e da vossa firmeza de esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus e Pai (...) De maneira que fostes exemplo para todos os fiéis..." (1 Ts. 1:2-3,7a). Um pouco mais adiante, nesta mesma epístola, Paulo exclama: "Que ação de graças poderemos dar a Deus por vós, por todo o gozo com que nos regozijamos por vossa causa diante do nosso Deus...?" (3:9). Paulo não poupou elogios aos irmãos daquela cidade. Aquela poderia ser considerada uma igreja padrão, exemplo para as demais, digna de que por ela se oferecessem acções de graça a Deus. Conhecendo este princípio, Paulo não se inibe em pedir: "Ajudando-nos também vós com orações por nós, para que por muitas pessoas sejam dadas graças a nosso respeito..." (2 Cor.1:11a). E mais adiante ele arremata: "Tudo isto é por amor de vós, para que a graça, multiplicada por meio de muitos, torne abundantes as ações de graça para a glória de Deus" (4:15). Em vez de ficarmos por aí, rogando que os irmãos sempre orem por nós, que tal se nos tornarmos motivos de gratidão da parte deles para com Deus? Não será preciso pedir. Eles mesmos, expontaneamente, se lembrarão de nós quando estiverem ante o trono da graça, e agradecerão por nossas vidas. Isso é sucesso! Que se multiplique o número de acções de graça pela sua vida! E quanto mais formos bênção na vida de outros, mais o Senhor terá prazer em manifestar em e através de nós as Suas bênçãos. Antes de esperar que outros agradeçam a Deus por sua vida, pare um pouco para pensar, e lembre-se daqueles que têm sido bênçãos em sua vida. Agradeça a Deus por eles.
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quarta-feira, 14 de julho de 2010

"No Começo, Simplesmente Pessoas"

Jesus não fundou uma organização, ele inspirou um movimento. Era inevitável que o movimento logo se tornasse organização, mas no começo havia simplesmente pessoas, indivíduos e grupos espalhados, que tinham sido inspirados por Jesus.” “Cada qual se lembrava de Jesus de seu jeito, ou tinha ficado impressionado por um determinado aspecto daquilo que tinha ouvido a respeito dele. No começo não havia doutrinas nem dogmas, e nem um modo universalmente aceito de seguir Jesus, ou de acreditar nele.” “Os primeiros cristãos foram aqueles que continuaram a vivenciar, ou começaram a vivenciar, de um modo ou de outro, o poder da presença de Jesus entre eles após a sua morte. Todos sentiam que, apesar de sua morte, Jesus ainda os estava dirigindo, guiando e inspirando.” “Acreditar em Jesus, hoje, é concordar com essa apreciação sobre ele. Não precisamos usar as mesmas palavras, os mesmos conceitos, ou os mesmos títulos. Na verdade, não precisamos usar nenhum título.”
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Albert Nolan *** In Jesus antes do Cristianismo
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terça-feira, 13 de julho de 2010

"Os Nossos Planos e os de Deus"

Acredito que os ateus - o que quer que isso seja -, na sua ânsia desenfreada de atacar Deus, melhor O defendem.
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Woody Allen tem uma frase genial que resume, não só a soberania divina, como a mesquinhice humana: "Quer fazer Deus rir? Conte-lhe os seus planos para o futuro." Os crentes têm muito a aprender com os descrentes. Não que Deus despreze todos os desejos e intentos do coração humano, mas que os nossos planos são vãos a maior parte das vezes, isso é indesmentível. O Salmista assevera-nos que “O SENHOR conhece os pensamentos do homem, que são vaidade” (Salmo 94:11).Deus não existe para satisfazer e saciar os nossos desejos e pensamentos tal qual grande génio da lâmpada mágica. A avaliar pelos “sonhos”, projectos e planos que tantos crentes para si ambicionam, já se fazem ouvir no céu - tal qual foguetório em noite de santo popular -, sonoras gargalhadas divinas.
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Foi preciso Jó sofrer muito para descobrir que Deus tudo pode e que nenhum dos seus planos pode ser frustrado (Jó 42:2). Os planos de Deus são perfeitos e imutáveis. Esses sim, devemos crer, desejar e cumprir.
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Entrevista com Charles Swindoll

Quero pregar até que não tenha mais fôlego. Nada me incomoda mais do que a idéia de me ‘aposentar’.
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Charles Swindoll, 75 anos, está se aproximando de um momento no qual as pessoas costumam desfrutar suas vidas como aposentadas. Ele, todavia, não abre mão de continuar a pregar a palavra, e as gerações mais jovens ainda o têm como modelo. No passado, a Universidade Baylor e o jornal Leadership o consideraram um dos melhores pregadores da América. O Chanceler do Seminário Teológico de Dallas tem trabalhando no ministério pastoral há mais de quarenta anos, e já contribuiu, de diversas formas, com a publicação de mais de 70 livros. Suas pregações têm sido transmitidas por mais de 2000 rádios em todo o mundo. Swindoll, que também é o pastor sênior da Stonebriar Community Church, em Frisco, Texas, começou a trabalhar recentemente em uma série de 27 comentários bíblicos, dos quais o primeiro foi Insights em Romanos (Zondervan). J R Kerr, um dos pastores da Park Community Church, em Chicago, falou com Swindoll e pediu que ele desse alguns conselhos a pastores mais jovens. Tem havido uma renovação na pregação centrada no evangelho, na qual o foco está na expiação, e em se fazer de Jesus um herói. Como você responde aos críticos que dizem que uma pregação muito focada em questões históricas tira a atenção do cerne do evangelho? Ao apresentar o evangelho às pessoas, você as está apresentando algo no qual possam acreditar. Para isso, é necessária toda uma preparação. Você não chega, entrega a mensagem de maneira fria e se despede. É necessário despertar um desejo no povo. Por exemplo, quando Jesus falou sobre o semeador, ele não apresentou nenhuma fórmula. Ao invés disso, ele se utilizou de uma realidade conhecida das pessoas – o semeador saindo a semear – e talvez tenha até apontado para um semeador que fazia seu trabalho, enquanto contava a estória. Ao expor uma mensagem às pessoas, preciso fazer de tal forma que revele a elas as necessidades dos seu dia a dia; sua história. Algumas das coisas mais importantes a se pregar podem ser vestidas com roupagens históricas. É evidente que o objetivo é o de sempre pregar a Cristo, sua graça, amor, misericórdia, compaixão, discernimento e sabedoria. Acho que soa um pouco estranho criar uma estória só para encaixá-la na mensagem do evangelho. Nem todo texto carrega a mensagem do evangelho. Quais conselhos o senhor tem para jovens pregadores? Gostaria que eles dissessem, ‘quero levar a sério minha tarefa de pregar a Bíblia. Não vou ficar enrolando o povo, fazendo da entrega da mensagem uma mera oportunidade de entretenimento. Quero apresentar a elas a Palavra, fazer com que tenham interesse por sua mensagem. Quero caminhar pelos livros da Bíblia, apresentando o que é importante, e fazendo disso minha grande tarefa. Quero ser conhecido, em vinte anos, como um expositor. Quero ser capaz de pegar as Escrituras e mostrar às pessoas como elas são relevantes. Quero começar a expor Romanos 1.1, e quando chegar ao final do capítulo 16, quero que as pessoas pensem, ‘como eu pude passar metade da minha vida sem conhecer essa mensagem? Se eu, em algum momento, tivesse escrito um livro sobre pregação, ele conteria três palavras: pregue a Palavra. Livre-se de todas as coisas que lhe prendem e impedem de expor o evangelho com pureza; pregue a Palavra. 2 Timóteo 4.2 diz ‘pregue a Palavra a tempo e fora de tempo’. Um de meus mentores, Ray Stedmen, costumava dizer, ‘nunca tire o dedo do texto, a despeito de você estar expondo-o ou aplicando-o. Faça com que os olhos das pessoas estejam fixos nele, e fale acerca de Jesus’. É simples assim. Como o senhor pretende viver seus próximos anos? Quero pregar até que não tenha mais fôlego. Nada me incomoda mais do que a idéia de me ‘aposentar’. Coisas estranhas acontecem quando você se descompromete. Primeiro você fica muito mais negativo; depois você começa a contar para as pessoas sobre suas últimas cirurgias. Enfim você acaba perdendo os contatos com os outros. E eu não quero perder contatos.
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Por J. R. Kerr *** in revista Cristianismo Hoje

sábado, 10 de julho de 2010

"Que Queremos ? Ser Felizes."

Não há dúvida de que é realmente isso que queremos: ser felizes. Mas, quando se trata de dizer em que consiste a felicidade, encontramos tremendas dificuldades.
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A felicidade é o sumo bem. Mas já Aristóteles escreveu: "Todos os homens estão praticamente de acordo quanto ao bem supremo: é a felicidade. Mas, quanto à natureza da felicidade, já não nos entendemos." Também Kant se referiu a essa coisa indefinível, que é o objecto dos nossos sonhos, trabalhos e anseios, nestes termos: "O conceito de felicidade é tão vago que, embora toda a gente deseje alcançar a felicidade, nunca ninguém consegue dizer de forma definitiva e constante o que realmente espera e deseja."
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Uma das razões da dificuldade reside no facto de a felicidade ter tanto de subjectivo. A prova está em que encontramos pessoas felizes, apesar de, na nossa percepção, a sua situação as dever levar à infelicidade.
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Não deixa de surpreender, por exemplo, que segundo o Happy Planet Index publicado em 2006 pela New Economics Foundation é no Vanuatu, um arquipélago da Melanésia, que as pessoas são mais felizes, no sentido de terem um grau mais elevado de satisfação com a vida. A surpresa é tanto maior quanto, comparando estas ilhas vulcânicas com os países do mundo industrializado, esperaríamos que fossem estes os mais felizes, atendendo ao seu progresso, à alta esperança de vida, oferta de bens materiais e consumo. Ora, a Alemanha, que é o quarto país mais feliz da Europa, depois da Itália, da Áustria e do Luxemburgo, ocupa o 81.º lugar na escala. Os países escandinavos estão ainda mais para trás: 112.º lugar para a Dinamarca, 115.º para a Noruega, 119.º para a Suécia e 123.º para a Finlândia, ocupando a França o lugar imediatamente a seguir: 124.º. Na China, na Mongólia ou na Jamaica, é-se mais feliz do que nos Estados Unidos, que ocupam o 150.º lugar.
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Isto significa, conclui o filósofo Richard D. Precht, num bestseller inteligente e estimulante, com o título Wer bin ich und wenn ja, wie viele? (Quem sou eu e, se sou, quantos?), que devemos tirar algumas lições da experiência desta gente do Pacífico Sul: afinal, não é no dinheiro, no consumo, no poder e numa elevada esperança de vida que reside a felicidade. Se nos fixarmos na escala de valores da "economia da felicidade" (happiness economics), constatamos que a maior parte das pessoas dos países ricos se engana ao dar tanta importância ao dinheiro. De facto, no nosso sistema de valores, o dinheiro e o prestígio ocupam o lugar cimeiro, exactamente ao contrário da avaliação dos economistas da felicidade, que diz que nada causa tanta felicidade como as relações interpessoais, isto é, a vida em família, a vida de relação boa com o parceiro ou a parceira, os filhos, os amigos. A seguir, vem o sentimento de ser útil e, depois, segundo as circunstâncias, a saúde e a liberdade.
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Quem coloca a base da felicidade na procura incessante de bem-estar material e de estatuto social para impressionar os outros revela um comportamento de carência e, assim, não pode ser feliz. Aliás, o capitalismo leva consigo a lógica da insatisfação: quanto mais se tem mais é preciso ter.
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Quem chama a atenção para isso é Richard Layard, professor na London School of Economics and Political Science. Na sua opinião, seria necessário rever toda a lógica dos países industrializados, pois o pleno emprego e a paz social são mais importantes que o aumento do PIB. O novo slogan deveria ser felicidade para todos e não o crescimento para a economia, resume Richard D. Precht, que, referindo a World Values Survey, insiste que são as relações sociais que ocupam o primeiro lugar, de tal modo que um divórcio é tão negativo para o bem--estar como a perda de dois terços do rendimento.
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Um estudo recente do ISCTE também revela que metade da população portuguesa tem dificuldades em sobreviver. No entanto, 73% dizem que são felizes e a razão principal é a família e os amigos.
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O que seria a felicidade? Uma mistura de tudo isto: "uma vida agradável", com prazer, "uma vida boa", "uma vida preenchida", realizada, conclui Precht.
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Prof. Anselmo Borges***In Diàrio de Notícias Online

quinta-feira, 8 de julho de 2010

AS PAISAGENS DRAMÁTICAS DE WILLIAM TURNER

Uma breve écfrase à poética da sua pintura
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Diz-se que Turner interpretou na tela todos os temas de uma forma épica. Diz-se que começou como pintor topográfico e pouco a pouco foi se inclinando para as paisagens, principalmente as marinhas. Escreveu-se dom de transfiguração poética, liberdade de composição, violência tonal (nos tons) para a fase final da sua obra, talvez a mais impressionante e universalmente conhecida. A verdade é que ao transportar para as suas obras toda uma visão épica, uma minúcia dos topoi, e todo o seu ponto de vista sobre as cenas marítimas, Turner usou sobretudo a dramaticidade dos confrontos, da luz / sombras; calmaria / tempestades; céus prontos para acolher anjos ou demónios, consoante o dramatismo ou o lirismo das suas cores. Não há estados melancólicos nos seus quadros, nem mesmo nos mais figurativos e livres do clima da aspereza e da tormenta. Paisagens carregadas de dramatismo, colorismo dramático, paisagens com um drama romântico que o próprio romantismo literário utilizou na poesia, embora estivesse a surgir o Realismo, a Revolução Industrial e o Romantismo prestes a ser sepultado. Um realista? Sim, quando nos conduz ao cerne das tempestades marítimas, por exemplo, mas a sua paleta e a textura arrebatadora da conjugação das suas cores, sob a luz e as sombras, já prenunciava o Impressionismo; a fealdade bela de alguns dos seus quadros, porventura leva-nos um pouco mais longe, até ao expressionismo. E a aplicação da luz sobre as coisas, sejam os elementos da natureza, do céu e do mar, dos barcos ao trem a vapor, do Grand Canale calmo às tormentas, e o amálgama que disso tudo fez com a fulguração das suas cores misturadas e já sem formas definidas o colocaram sob a perspectivação do abstraccionismo avant la lettre, que, disseram críticos de arte, veio a surgir nas formas e nas cores fundidas, como nas obras de Kandinsky e de Paul Klee. Nas telas de Turner, que nos colocam diante da rudeza dos elementos naturais, os seus redemoinhos não são de água, nem de ventos, são de luz, assim toda a teoria anterior da paisagem convencional estava subvertida. Não haveria já lugar para a mimésis aristotélica, mas para a criação pura e simples de algo novo, a que o vocábulo hebraico “bara” serviria, não fosse o exagero do seu uso neste caso. William Turner foi um intérprete das atitudes agónicas, não se pode afirmar que as suas interpretações pictóricas não sofram de passionalidade. Turner pintou a exaltação da natureza, no que ela tem de mais agreste e de mais anti-paixão. Foi essencialmente um poeta da cor, dos confrontos entre luz e sombras (não trevas), um poeta das tempestades. Não pintava formas, mas estados de cor, atmosferas exteriores da natureza, névoas com conteúdos.
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Por: João Tomaz Parreira
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- Colaborador no Ab-Integro