quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Muda a Economia ou a Democracia ?



 
 "Se a Europa não muda, terá de haver uma revolução" - Mário Soares

"Ou muda a economia ou muda a democracia" - Freitas do Amaral



Curioso que a presente crise, que eu já não sei do que é pois começou como sub-prime e já vai no euro e mais além, tenha ,em declarações feitas no mesmo sentido, unido figuras políticas de esquerda e de direita. No caso,  Mário Soares e Freitas do Amaral. Bem sei que são figuras do passado algo distante e que já não têm quaisquer hipóteses de alterar, só com a sua opinião, o rumo das coisas na europa, mas também sei que quando pessoas de esquerda e de direita congregam opiniões relativamente a um tema  então será melhor estar atento às razões para tal. Os dois concordam que aquilo a que a europa está sujeita neste momento é a uma ditadura da Alemanha e complementarmente da França. Ambos acham que isto só já lá vai com uma ruptura, que não tem que ser necessariamente violenta, de paradigma. Os povos e dirigentes europeus que não se revêm já nesta europa  começam a agitar-se e a movimentar-se no mesmo sentido das declarações de Soares e Freitas. Ex-responsáveis do FMI vêm a terreiro dizer que o euro vai rebentar dentro de poucas semanas se não forem tomadas medidas sérias, urgentes  e concretas, e o leque das medidas que podem ser tomadas já está muito queimado pelo tempo que passou entretanto.

Há um novo imperialismo, não declarado nem assumido oficialmente, no ar. Alemanha e França são dois dos países com maior poder e dimensão em toda a europa, quer económico, quer geográfico. Ambos tiveram no passado recente sonhos imperiais que foram derrotados. Não sei se ainda aspiram a isso, mas aquilo que me parece é que, seja por inércia ou por existência de agendas não reveladas dos outros países europeus, Alemanha e França exercem actualmente um efectivo poder imperial que dita o que os outros países europeus têm e não têm que fazer. E isto não é aceitável nos tempos que vivemos. Não se pode permitir que países e nações soberanas sejam governados por ditames de um imperialismo económico que derruba governos e coloca outros, mais ao seu jeito, no seu lugar. Democracia rima com soberania.  

Eu estou até em posição de aceitar, em certa medida e grau, um federalismo europeu, mas quero ser eu a votar em quem comande essa federação europeia. Imposta anti-democraticamente não será aceite pela esmagadora maioria dos povos europeus, especialmente vindo de onde vem. 

Presumo que há já muito pouca gente que acredite nesta União Europeia, com esta configuração e naquilo em que se tem transformado, pelo menos eu não acredito. Mas é incontestável que a União Europeia foi a única "invenção" dos europeus que conseguiu manter este continente mais ou menos sem guerras ( descontada a da ex-jugoslávia )  nos últimos 50 anos. Basta olharmos para antes do tratado de Roma em 1957. Contudo Konrad Adenauer, Robert Schuman e Jean Monnet não validariam  certamente aquilo em que se transformou o seu sonho de  europa , que mais parece agora um pesadelo.

Não sei qual será o futuro, não sou adivinho nem acredito neles. Mas sei que esta europa não serve para os europeus, salvo se não se importarem de sustentar este neo-imperialismo que nos governa a partir de Berlim e que vai delegando pequenos poderes nos governos nacionais que cumprem sem questionar as suas ordens.

Lembrei-me de Mateus 24 e das palavras de Jesus: Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino.


Jacinto Lourenço




 

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Na Suiça não Há Reformas de Luxo.

Na Suíça, ao contrário de Portugal, não há reformas de luxo. Para evitar a ruína da Segurança Social, o governo helvético fixou que o máximo que um suíço pode receber de reforma são 1700 euros. E assim, sobra dinheiro para distribuir pelas pensões mais baixas.





Fonte: RTP

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Gostos ( dizem ) não se Discutem


Não sou confessadamente um adepto de fado, mesmo que tolere alguma coisa de Amália ou Ana Moura. Considero este tipo de canção demasiado triste, taciturno ou mesmo algo deprimente em muitos casos. Mas não contrario o facto admitido agora pela Unesco de que este tipo de canção faz parte de uma certa identidade portuguesa, que ganhou projecção internacional e mundial, especialmente desde Amália Rodrigues. Surpreende-me igualmente que a melodia do fado "toque" de forma peculiar muita gente estrangeira que a ouve mesmo não percebendo a língua que dá corpo às letras cantadas nas melopeias fadistas.  Chego a pensar que estarei errado e eles certos. Paciência, resta-me refugiar-me no velho lugar-comum de que "gostos não se discutem"... e continuar a deliciar-me com a sonoridade da guitarra portuguesa tangida por um pequeno conjunto de  guitarristas de excelência ou mesmo com muita da poesia de poetas portugueses adaptada ao fado. Esse é o "meu património" concessionado ao fado. 

Mas não gostar, genericamente, de fado, não significa que não me congratule por verificar que uma organização como a Unesco reconhece o fado como Património Imaterial da humanidade. Antes assim. É pelo menos um património português, mesmo que não se enquadre no mosaico dos meus gostos musicais. Parabéns aos muitos portugueses que gostam de fado e também à equipa que preparou a candidatura ganhadora. Quando querem, os portugueses sabem fazer bem as coisas.


Jacinto Lourenço    

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Porque fez Deus primeiro o Homem...



- Rabino - perguntava um judeu, interessado nos profundos problemas da filosofia bíblica - Porque fez Deus primeiro o homem e depois a mulher ?
- Porque Deus não queria ter ninguém que lhe desse conselhos sobre como devia fazer o homem.



Fonte: "Anedotas de judeus que o meu pai me contou", Abrasha Rotenberg, Esfera dos Livros, pag. 47

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Há Justiça nesta Greve ?


Quero desde já fazer aqui uma declaração de intenções ( parece que  agora  está na moda fazê-lo...): não me reconheço nem me interpreto especialmente em nenhuma linha político-partidária do actual espectro  português, mas isso não significa que seja apolítico ou mesmo  não seja capaz de analisar a situação que está criada em Portugal, em particular para a classe média e para as classes mais desfavorecidas da população.

Hoje dei uma volta pelo FB e,  ao fazê-lo,  encontrei  expostas algumas ideias "peregrinas" de  amigos virtuais que se pronunciaram contra a Greve Geral: uns porque é uma "greve política", outros porque é uma greve "anti-democrática", etc, etc. Talvez fosse bom lembrar que muita da legislação que está hoje inscrita no código de trabalho, traduzida em  direitos  inalienáveis dos trabalhadores,  só existe porque tais direitos foram conseguidos após muita luta e algumas greves dos trabalhadores em geral e, o mais interessante, é que aqueles que se pronunciam contra esta Greve Geral são usufrutários desses direitos conseguidos por trabalhadores que anteriormente se expuseram,  por vezes com risco até da própria vida ou mesmo perdendo-a sob as balas disparadas por regimes totalitários como o que vigorou em Portugal até ao 25 de Abril.. Só para lembrar os mais esquecidos que pouquíssimos  anos antes de Abril de 1974, ainda vigorava no país o regime horário de trabalho de sol a sol,  sendo   a luta dos trabalhadores, especialmente os rurais, que conseguiu impor a jornada de trabalho de oito horas diárias. Ouve repressão dura, ouve tortura, houve mortes até. Admito que   muitos dos que se afirmam hoje contra esta greve tenham a memória curta ou não conheçam nada da história recente do seu país ou então que tenham vivido à sombra do conforto de benesses vedadas à população em geral e às classes trabalhadoras em particular...

A greve de hoje colhe o apoio de duas centrais sindicais que reunem à sua volta muitos sindicatos controlados por diferentes tendências políticas e nomeadamente  das cores partidárias que estão no governo e que são maioria na Assembleia da República. Não colhe, por isso,  o argumento de que esta greve é política. 

Das muitas greves que já se fizeram em Portugal, talvez nenhuma como esta seja tão justa e óbvia, particularmente quando se constata que todas as medidas governamentais têm como único objectivo empobrecer mais aqueles que ou já eram pobres ou  já viviam com um orçamento demasiado apertado para fazer face à sua vida.  Declaradamente o programa do governo só tem um ponto: empobrecimento. Não se vislumbra nenhuma ideia que devolva aos portugueses, pelo menos, alguma esperança de que no final deste ciclo infernal o país possa encontrar uma linha de rumo que o leve para o crescimento e desenvolvimento mais sustentados.

Nunca  como até agora se ouviu um coro de vozes, provenientes de todas as áreas políticas e sociais, nomeadamente da área das cores do governo e mesmo da igreja católica, chamar a atenção  para o facto de que este não é o caminho, ou melhor, este é o caminho do abismo.

Os portugueses estão a ser esmagados por políticas altamente injustas que só apontam numa direcção: a classe média e os mais pobres. É por isso que esta greve se afigura aos olhos de quem tem um mínimo de capacidade de observação como justíssima.

Sou cristão e, como cristão, procuro observar a vida e o que a rodeia com olhos de quem sabe observar e destrinçar o que é e o que não é justo. Como cristão foi assim que aprendi e é assim que me tenho conduzido. E, por isso,  também não me posso limitar  a ser um observador apático das condições de vida dos meus irmãos e dos meus concidadãos que sofrem os desmandos deste capitalismo selvagem que nos devora e que escolhe os "seus" governantes ditando-lhes as ordens que estes cumprem  escrupulosamente ignorando o mais importante: o seu povo, a sua nação, o seu país.


Jacinto Lourenço

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

As Originalidades Políticas da Madeira


Ouvi, e pensei que a minha sonolência matinal me estivesse a enganar quanto ao que acabava de ser noticiado na Antena 1. Lavei a cara com água fria e voltei a ouvir mais detalhadamente. Não, não estava a dormir nem tinha percebido mal. Já me encontrava  suficientemente desperto para entender claramente que, por proposta do PSD da Madeira, entretanto  aprovada com toda a oposição a votar contra, um deputado presente no plenário da Assembleia Regional pode, a partir de agora,  votar sózinho em nome de todos os outros deputados do respectivo grupo parlamentar que são assim dispensados da maçada de ali se deslocarem para fazer funcionar a democracia madeirense...

Para além das originalidades verificadas no "reino da Madeira" de que ultimamente temos tomado conhecimento, promovidas pelo sujeito que o "governa", temos agora mais esta, de se tornar o parlamento regional da Madeira num género de assembleia uninominal em que os votos dos eleitores passam a estar concentradas nas mãos e na  decisão de uma só pessoa por partido. Pode até ser um primeiro passo para depois se constatar que os partidos não  serão assim tão necessários... Pensei então que esta ideia, em Portugal,  pecava por  não ser inteiramente original.  Afinal, durante quase 50 anos,  uma pessoa também concentrava sobre si a totalidade do poder e decidia sobre a vontade de todos os portugueses e isso prolongou-se até à madrugada de 25 de Abril de 1974. Chamaram a esse regime "Estado Novo". Muitos outros, a maioria das pessoas, chamou-lhe Fascismo !  Estávamos convencidos que teria acabado no território nacional. Parece que não. Agora cobre-se com o manto diáfono da democracia.


Jacinto Lourenço

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A Ignorância de Muitos Universitários


Não consigo ficar admirado face às respostas dos jovens universitários obtidas pelo repórter. As perguntas eram simples, de cultura geral, básicas até, em linha com um  nível culturalmente baixo. Segundo a reportagem que passou numa televisão e foi publicada por uma revista semanal, cinquenta por cento dos estudantes universitários entrevistados não sabem responder, entre outras  igualmente simples, às questões sobre quem terá pintado o tecto da Capela Sistina ou quem é o actual presidente da Comissão Europeia. No mínimo confrangedor , mas também  altamente revelador... vale a pena ver o vídeo.

Infelizmente, uma substancial  fatia dos  jovens de  hoje, para além de se focarem, exageradamente,  sobre a sua própria imagem e a promoção da mesma,  de saberem tudo sobre gadgets e sua utilização e colocarem à frente da sua preparação para a vida, o "curtir a vida", poucos mais interesses desenvolvem que sejam dignos de realce e úteis para si próprios e para a sociedade em que se inserem. Felizmente que ainda existe uma franja de outros jovens que estão num registo mais responsável e apostam no conhecimento e na cultura, não necessariamente a que só permite responder correctamente a "perguntas de algibeira"... É com esses que o futuro do país pode contar. Os outros, bem, os outros fazem parte daquela estatística que parece querer iludir-nos com a  falsa verdade de que temos actualmente em Portugal a geração de jovens mais qualificada de sempre. Pelos vistos pode não passar de  uma falácia. E é pena !


Jacinto Lourenço


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A Vertigem Portuguesa...


...As transições que ultimamente protagonizámos ( do Estado Novo para a democracia liberal, desta para a massificação globalizadora ) crispou em nós tipos de violência descontínua. Não conseguiremos fazer nada como povo se continuarmos , por um lado, a pregar a paz, a esperança, o bem-estar, a confraternização e, por outro, a inflamar a contradição das injustiças que provoca uma clivagem esfacelante entre o que as pessoas sonham e o que a realidade lhes impõe.

Muitas vezes aqueles que matam são apenas a engrenagem última de uma cadeia difusa, que a todos cumplicia. A violência desgraçada dos desgraçados é, com frequência, antecedida da violência branca e fria, e legal dos intocáveis.

Somos por temperamento, avessos à revolta, à agitação, sublinhava Fernando Pessoa. Quando fazemos uma revolução é para implantar uma coisa igual ao que já estava.  Não se conhece noutro povo tamanho apelo à desistência, à imolação.[...]


Fernando Dacosta em  Nascido no Estado Novo - Notícias Editorial, pág. 337

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Grosseira Simulação de Liberdade

A política doméstica de Portugal é hoje, inteiramente, política europeia, ou melhor, política alemã. O que se passa em Portugal, como ficou provado na discussão do Orçamento, é uma grosseira simulação de uma liberdade que o País já não tem. O Executivo de Passos Coelho, salvas as devidas distâncias, tem tanta margem de manobra sobre o guião das políticas públicas como os governos de Quisling, na Noruega, ou de Pétain, em França, nos anos da Ocupação. Para esta grotesca ficção de aparente normalidade, colaboram também os ardores retóricos da Oposição, em particular os antigos ministros de Sócrates, agora sem gravata, e indumentária mais leve. A nossa política entrou, definitivamente, para o registo das actividades circenses. Ficou definitivamente confirmado que o chefe do Governo padece do sindroma de Zelig, bem abordado no filme com o mesmo nome, rodado por Woody Allen, em 1983. Já se percebeu que Passos Coelho não consegue estabilizar uma ideia, pois o centro do seu discurso oscilatório não se encontra no âmbito de uma actividade mental endógena, a que chamamos pensamento, mas nas trocas emocionais com os seus interlocutores, sobretudo se forem vislumbrados como poderosos. Junto de Merkel, nega os eurobonds, que antes defendera. Junto de Juncker, recusa negociar com a troika qualquer correcção do memorando, quando antes o havia sugerido. Agora, que a Zona Euro está à beira do abismo, Passos Coelho pisa a única hipótese de salvação, que até o distraído Cavaco Silva considera fundamental: a declaração por parte do BCE da disponibilidade para intervir "ilimitadamente" no mercado secundário da dívida pública. Portugal, nesta hora crítica, continua órfão de liderança. Mas a senhora Merkel está de parabéns. Mesmo neste "indisciplinado" país, encontrou um feitor à sua altura.


Viriato Soromenho Marques in Diário de Notícias Online

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A Noite de Cristal - Efeméride


A Noite de Cristal, no alemão Kristallnacht, é a designação mais conhecida para os terríveis e violentos actos anti-semitas levados a cabo no Reich hitleriano, ocorridos na noite de 9 de Novembro de 1938, e já em menor escala na noite de 10.



Elie Wiesel chamou à Kristallnacht: “Uma bofetada no rosto da Humanidade”. E o mundo voltou a face uma vez mais !!!


Já Vimos este Filme...


Se não me falha a memória, passaram já 22 anos sobre a queda do muro de Berlim. Na altura, pensávamos nós, iria abrir-se um novo tempo para a europa, um tempo de liberdade, de novas dinâmicas sociais e económicas, de um novo paradigma para este velho continente. A esta distância temporal, era impossível adivinhar onde chegaríamos passadas pouco mais de duas décadas.

A UE está em frangalhos. A Comissão Europeia não manda nada. Os orgãos que a deviam dirigir, entregaram de bandeja o poder legitimado por milhões de europeus de diferentes nações a um dito directório franco-alemão que não tem legitimidade democrática nenhuma e  que ainda por cima só tem olhos para o seu próprio umbigo sendo em função disso que nos vai impondo decisões a esmo. Os tratados que deviam regular a vida e as decisões da UE são actualmente um anátema para este novo eixo que nos dirige. E o mais interessante é ver que todos os restantes países que compõem a UE e a Zona Euro sucumbiram por esmagamento às ordem franco-alemãs como se a europa fosse apenas a França e a Alemanha. Confesso que, para além de França, Alemanha, Itália, Grécia, Portugal e Irlanda é já difícil perceber se esta União Europeia é composta por mais alguns países já que,  quando se fala de UE,  é destes países que se fala.  Se imaginarmos a visita de um extra-terrestre ( se é que eles existem...) a este planeta, a imagem que reteria é  que há dois países de média dimensão, que são medianamente ricos, que mandam na europa e que esta europa em que eles mandam é composta por outros três ou quatro países, medianamente pobres, que não contam para nada para além de existirem para obedecerem  às estratégias de quem manda.

Os países que integram a União Europeia limitam-se hoje a pairar numa zona de influência e determinação de dois países que não têm legitimação para impor seja o que for a alguém, a não ser, claro, aos seus próprios governados. A isto, chama-se ditadura, seja qual for a aparência que tenha.

A europa e os europeus, são povos com uma história alargada de sobrevivência e determinados em defenderem a sua cultura, a sua história e a sua independência. Uma União Europeia que se submete a um eixo franco-alemão debaixo de um poder que subverte os próprios tratados comunitários, está condenada a desaparecer com mais ou menos dor para as nações europeias. Já vimos este filme quando Hitler e a Alemanha foram  invadindo e anexando territórios e nações à sua volta, debaixo do mesmo manto de cumplicidade e  silêncio inglês. Os ingleses, antes de 1939, imaginavam, como agora, que conseguiriam passar pelos "intervalos da chuva". Não conseguiram... A europa calou-se, como se cala agora, enquanto Hitler ia subvertendo o direito das nações existirem. A França claudicou e submeteu-se, como agora, aos interesses alemães, tornou-se, como agora, colaboracionista. Sarkozi não deslustra Pétain, passe o exagero.

As nações europeias estão a cair, uma a uma, aos interesses franco-alemães. Franceses e alemães acham que têm que ir mais longe, que o melhor é erguer um novo muro à volta de Paris, Berlim e mais algumas capitais europeias a norte. E nós os do Sul e outros periféricos que vamos à nossa vida. Por mim tudo bem, até porque se me é difícil confiar nos políticos e nas políticas do meu país, mais difícil me é confiar em quem já lançou a europa para duas guerras sangrentas. E que não se considere esta minha opinião como xenófoba ou primária. Xenofobia existe nas posições de alemães e franceses. Eu, por mim, gostava de continuar a partilhar, com todos os povos, incluidos alemães e franceses,  este espaço comum a  que chamam europa e que tem, ou  teve,  na sua génese, uma matriz cristã, mesmo que isso não pareça significar nada na actualidade. Não me pareçe que seja uma tarefa fácil, pelo menos enquanto os europeus se deixarem vergar às ordens franco-alemãs e mantiverem esta posição de tentar "passar pelos intervalos da chuva" 


Jacinto Lourenço

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

E vão Dois...




"A Grécia Não é Portugal"...


Um texto de alguém que sabe do que fala. Uma portuguesa, professora universitária, casada com um grego, que vive na Grécia há vinte anos e está perfeitamente entrosada na sociedade grega. Mais do que atender aos jornais, rádios ou  televisões, que nos empanturram todos os dias com notícias bombásticas colectadas nos corredores da UE e de Atenas, no diz que disse das diplomacias paralelas e subversivas,  importa perceber como é que as pessoas reais, as que sentem e vivem os problemas de todos os dias, problemas que lhes são criados e colocados por políticos e politicas desastrosos, olham para o presente e o futuro de um país milenar, berço da democracia e da civilização fundacional de todas as culturas ocidentais.

Ler Aqui no Diário de Notícias Online  

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A nossa Situação, segundo Eça de Queiroz


Nós Estamos num Estado Comparável à Grécia. Nós estamos num estado comparável, correlativo à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma ladroagem pública, mesma agiotagem, mesma decadência de espírito, mesma administração grotesca de desleixo e de confusão. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se quer falar de um país católico e que pela sua decadência progressiva poderá vir a ser riscado do mapa – citam-se ao par a Grécia e Portugal. Somente nós não temos como a Grécia uma história gloriosa, a honra de ter criado uma religião, uma literatura de modelo universal e o museu humano da beleza da arte.




Eça de Queirós, in Farpas, 1872

Via Citador 

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Repetem-se os erros Económicos que Levaram Hitler ao Poder



Dois académicos da universidade espanhola Pompeu Fabra concluíram pela História, pela matemática e pela economia o que muitos políticos aprendem na pele - que a austeridade provoca contestação social, e que mais vale subir impostos do que cortar benefícios.
"Quanto mais corto nos benefícios sociais, mais agitação social tenho. O nível expectável de agitação aumenta maciçamente à medida que cai a despesa do Estado", disse à agência Lusa Hans-Joachim Voth, um dos autores do estudo, resumindo a investigação que fez com Jacopo Ponticelli, com o título ‘Austeridade e Anarquia: Cortes Orçamentais e Agitação Social na Europa, 1919-2009’. 
No estudo, os dois investigadores olharam para os movimentos de contestação social, incluindo motins, manifestações, greves gerais, assassinatos políticos, crises governamentais e tentativas de revolução, ao longo de 90 anos, em 26 países, incluindo Portugal.   
Um período que envolveu uma guerra mundial, assassinatos de presidentes e líderes políticos, nascimentos e mortes de nações, o fim da colonização e inúmeras revoltas e revoluções.  
Ponticelli e Voth, investigador de História Económica, concluíram que os países que escolheram aumentar os impostos em vez de reduzir as prestações e serviços sociais enfrentaram menos contestação nas ruas.  
"Subir impostos quase não teve efeitos, em comparação com os cortes na despesa. Quem paga impostos tem emprego e portanto, tem muito a perder, enquanto quem recebe transferências sociais - grande parte da despesa pública nos países observados -- tem pouco a perder e sente que não é parte interessada na sociedade", explica o investigador.  
"Ao ver o Estado cortar a despesa, ao dizer aos mais pobres que ele não têm prioridade, um número significativo vai decidir que este não é o género de sociedade em que querem viver", acrescenta Voth, que compara o fenómeno a um fogo - o fósforo pode ser uma causa exterior, mas o combustível são as razões que levam "tantas pessoas dispostas a assumir o pior e a decidir invadir as ruas" e partir para as formas mais extremas de contestação.

  
CONTESTAÇÃO AMEAÇA EUROPA

O investigador admite que, extrapolando para o futuro as conclusões do passado, é possível recear que o espectro da contestação aumentada ameace a Europa nos próximos anos, até porque, diz Voth, a revolta "tem a ver com as expectativas" e a classe média, que se habituou a esperar do Estado muito mais, deverá engrossar a massa contestatária.  
"Se tudo desabar na agitação social, haverá um segundo ciclo em que nos vamos deparar com menos crescimento e receitas fiscais ainda mais baixas. Depois tem que se cortar outra vez e vamos acabar numa espiral, vamos acabar por destruir grande parte do tecido social e político que mantém a estabilidade na Europa", prevê Voth.  
O investigador, nascido na Alemanha há 43 anos, diz mesmo que, no caso da crise na Grécia, a Europa vai "olhar para trás e ver que perdeu uma oportunidade gigante" para reforçar o continente e corrigir uma política económica e financeira que Voth compara mesmo àquela que levou à ascensão de Adolf Hitler.


In Correio da Manhã via Enciclopédia de Notícias

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A moderna Batalha de Termópilas...


Conta-nos Heródoto de Halicarnasso a história da batalha de Termópilas na qual 300 guerreiros hoplitas terão resistido a Xerxes e aos muitos milhares de guerreiros persas que invadiam  o território grego. Na verdade nem a Grécia existia como estado unificado, tal qual o conhecemos hoje,  nem os guerreiros que ofereceram resistência ao imenso exército de Xerxes eram apenas 300. Leónidas, rei de Esparta conseguiu reunir um pequeno exército de alguns poucos milhares de homens, contando para isso com o apoio dum número considerável de cidades-estado gregas, na maioria dos casos pouco treinados e menos preparados ainda  para a guerra que tinham que travar. Os 300 hoplitas espartanos, seriam mais do que isso, mas mesmo assim nem por sombras se aproximavam da força esmagadora dos persas.

A técnica militar grega e a estratégia guerreira de Leónidas conseguiram inflingir pesadas baixas a Xerxes levando-o a recuar diversas vezes na frente de batalha perante os entrincheirados espartanos que se acoitavam num praticamente inexpugnável desfiladeiro. Leónidas e os bravos gregos acabariam por sucumbir após a penetração dos exércitos de Xerxes depois de  este ter recebido informação de traidores gregos sobre como penetrar na fortaleza natural do pequeno exército grego.

Parece uma história simples, mas traduz muito sobre a capacidade de resistância dos povos gregos à adversidade. Já o império romano do ocidente tinha sido desmantelado há muito e ainda os gregos faziam parte do império romano do oriente. Durante séculos resistiram também à força do islão mantendo-se fiéis à sua fé cristã.

Hoje, para os gregos, o perigo não vem do oriente mas do ocidente; já não são ameaçados por exércitos armados e numerosos. O perigo para os gregos, tal como para todos os europeus, em especial para as nações mais fragilizadas economicamente, reside num capitalismo selvagem e obsessivo que domina o mundo actual através do garrote financeiro e que não tem rosto nem alma e que não quer saber de democracia para nada nem de voto dos cidadãos para coisa nenhuma.  Mesmo assim parece que os gregos se mantém fiéis à sua velha história de resistir contra as adversidades especialmente as que ameaçam destrui-los. 

Não sei bem, e saberão muito poucos por agora, quais as verdadeiras intenções de Papandreou para, de repente,  remeter todas as decisões para um referendo popular ao novo plano de austeridade para a Grécia. Mas sei que o capitalismo e os seus arautos não gostaram nada de ouvir que as decisões na Grécia deixariam de ser tomadas pelo circulo restrito do conselho de ministros para passarem para a esfera de decisão do voto popular. É claro que os obscuros capitalistas que dominam o mundo não gostam nada de votos populares. Preferem este fingimento de "democracia" em que o "voto" é planeado e direccionado na defesa dos seus particulares  interesses mesmo que isso represente a falência e miséria dos povos.

Os gregos e os europeus em geral estão hoje confrontados por uma nova e moderna batalha de "Termópilas". Os hoplitas são poucos e muita gente, a esmagadora maioria  dos europeus,  nem consegue perceber o que se passa à sua volta. Mas sabemos que se os "traidores" não forem denunciados, a Grécia e a europa, país a país, irão desmantelar-se e retroceder civilizacionalmente uma boas décadas.


Jacinto Lourenço

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O Mundo em que Vivemos


Não passaram muitos anos ainda, mas já lá irão quase 40. Nessa altura lembro-me das discussões que nós, jovens cristãos, tínhamos sobre a forma como o mundo evoluia e quais os desfechos que o mesmo poderia ter à luz das ideias escatológicas e interpretações que então se faziam sobre o Livro de Apocalipse e as suas projecções futuristas. Lembro também que, nesses anos, a União Europeia ainda se chamava Mercado Comum e, à luz da Bíblia, imaginávamos então, este  erguer-se-ia como o novo império romano que iria dominar o mundo. As nossas certezas iam sendo desmontadas dia após dia, ano após ano, com a evolução mais ou menos célere dos acontecimentos à volta desta nova europa que surgia e só os nossos verdes anos e grande voluntarismo bíblico desculpavam a bondade das convicções muito avant-garde para a época. 

Os anos sucederam-se, as projecções político-escatológicas das nossas discussões juvenis esboroaram-se ao mesmo ritmo que se esborova a realidade de uma igreja que se negou sempre a acompanhar os tempos e adaptar-se a novas contingências sociais. O Mercado Comum cresceu, em termos de membros, mais do que alguma vez a nossa imaginação poderia supor. Transformou-se na União Europeia que conhecemos hoje. Não sabemos como vai continuar a evoluir, seja lá isso da evolução  o que for. Aquilo que nos parece é que esta ideia de Europa, acabou, e nada a poderá já redimir. O que virá a seguir ? Não sei. O que sei é que se o governo grego concretizar o anunciado referendo esta dita União Europeia vai desmantelar-se como se de um castelo de cartas se tratasse. E porquê ? Porque esta UE já não assenta na soberania dos povos; já não radica o seu poder na democracia mas antes em poderes ocultos que não querem nem podem ser escrutinados. E os governos europeus têm pavor do voto popular, especialmente se este não servir os seus interesses. É por isso que o anúncio do primeiro-ministro grego teve o efeito de uma tempestade espalhando o terror no mundo e particularmente na europa.  O que se seguirá ? Também não sei. Mas sei o que diz a Bíblia quando ao fim dos tempos e acredito que, cada vez mais, o mundo se reaproxima da matriz bíblica e do cumprimento do plano de Deus, mesmo que esse caminho esteja a ser feito  inconscientemente.

Apocalipse 5:1 Vi na destra do que estava assentado sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, bem selado com sete selos.
2 Vi também um anjo forte, clamando com grande voz: Quem é digno de abrir o livro e de romper os seus selos?
3 E ninguém no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, podia abrir o livro, nem olhar para ele.
4 E eu chorava muito, porque não fora achado ninguém digno de abrir o livro nem de olhar para ele.
5 E disse-me um dentre os anciãos: Não chores; eis que o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, venceu para abrir o livro e romper os sete selos.



Jacinto Lourenço