quarta-feira, 25 de julho de 2012

Cá nesta Babilónia

Cá nesta Babilónia, donde mana 
Matéria a quanto mal o mundo cria; 
Cá, onde o puro Amor não tem valia, 
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana; 


Cá, onde o mal se afina, o bem se dana, 
E pode mais que a honra a tirania; 
Cá, onde a errada e cega Monarquia 
Cuida que um nome vão a Deus engana; 

Cá, neste labirinto, onde a Nobreza, 
O Valor e o Saber pedindo vão 
Às portas da Cobiça e da Vileza; 

Cá, neste escuro caos de confusão, 
Cumprindo o curso estou da natureza. 
Vê se me esquecerei de ti, Sião! 
Luís Vaz de Camões( "Sonetos" via Citador )

Este Será o Último Verão da Zona Euro...



A natureza das instituições avalia-se pela sua resiliência às crises. O carácter dos amigos mede-se pela sua capacidade de ficarem ao nosso lado, contra tudo e contra todos, nas horas de perigo e desgraça. O que está a suceder a Espanha, a mergulhar numa espiral de destruição, revela que a União Económica e Monetária, como está, se tornou uma sala de tortura, condenada a perecer, e que os Estados membros da União Europeia são governados por uma gente pequenina que não percebe que é preciso ajudar os nossos aliados para nos ajudarmos a nós próprios. O índice IBEX, das maiores empresas espanholas, tem hoje menos valor bolsista do que dívida conjunta dessas empresas. A dívida pública espanhola (e italiana) está a subir em todos os prazos, apesar do incrível pacote de terror económico imposto por Berlim e Bruxelas a Madrid, para a aprovação do empréstimo de cem mil milhões de euros para o sector bancário. As autonomias, com Valência à cabeça, estão arruinadas. O cínico Weidmann, o torquemada monetarista à frente do Bundesbank, aconselhou Espanha a pedir um "resgate completo". Suprema crueldade! O FEEF está reduzido a trocos e o MEE está na mesa do Tribunal Constitucional Alemão, sob observação, pelo menos até 12 de setembro... O BCE nunca mais fez compras no mercado secundário. Prometer o que não se tem é o máximo insulto a quem precisa... Reina o silêncio dos cobardes na maioria das capitais europeias. O de Lisboa é inqualificável. Só Monti, que sabe ser a Itália o próximo alvo, expressa a sua inquietação em voz alta. Por este caminho, este será o último verão da Zona Euro. O último verão antes de uma nova, perigosa e incerta geografia política europeia, cujas dores de parto não pouparão ninguém.


Viriato Soromenho Marques in Diário de Notícias Online

segunda-feira, 23 de julho de 2012

A Destruição do Templo de Jerusalém

                                                                                 
 ( Destruição do Templo de Jerusalém, 1867, Francesco Hayez )

O Primeiro Templo, construído no reinado de Salomão, era o local mais importante do antigo judaísmo. Foi destruído em 586 a. e. c., quando os babilónios comandados pelo rei Nabucodonosor II saquearam e incendiaram Jerusalém. O Segundo Templo foi construído no mesmo sítio do Primeiro Templo e completado em 516 a. e. c. Infelizmente, o Segundo Templo também foi destruído, desta vez durante o cerco romano a Jerusalém, em 70 da e. c. A destruição de ambos os Templos teve lugar na mesma data – o nono dia do mês hebraico de Av – com 656 anos de intervalo. Estes dois acontecimentos tiveram um impacto de tal forma trágico na vida do povo judeu, que os antigos rabinos declararam a destruição dos Templos um Dia de Luto. Esta é a origem de Tisha B’Av – o Nono de Av -, que este ano coincide com o dia 29 de Julho do calendário comum.[...]

Ler Texto integral AQUI no Blogue Eterna Sefarad

sábado, 21 de julho de 2012

A Música, a Transcendência e a Paz



Sobre o poder encantatório da música disse Homero na Odisseia. Era tanta a beleza, a doçura, o fascínio e o feitiço do canto das sereias que, para não correrem o perigo da atracção e da morte, Ulisses ordenou que tapassem com cera os ouvidos dos marinheiros e a ele o amarrassem sem possibilidade de fuga ao mastro do navio.
Não há nenhum povo sem música. Nada de tão material como a música: a voz, instrumentos de sopro, de percussão e de cordas e disso tudo resulta o que nos enleva, nos transporta para a transcendência, nos coloca lá no donde viemos e lá para onde verdadeiramente queremos ir e habitar. Feita de tempo, a música pára o tempo, transcende o tempo e tange o eterno. Ali, onde quereríamos estar sempre, e já não há morte.
Por isso, Ernst Bloch disse que a música é "a mais utópica das artes". Ela é o divino no mundo ou, pelo menos, o que nos abre à experiência do divino. Aí está a beleza, que, no dizer de Dostoiévski, "salvará o mundo". O belo abre a porta do que normalmente, no meio da banalidade rasante, se não vê nem ouve. Mas, quando se viu o invisível e se ouviu o inaudível e a sua beleza, tudo se transfigura e reconcilia. Este mundo torna-se outro, sem deixar de ser este. Daí, a exclamação de felicidade, que também os discípulos experimentaram, aquando da transfiguração de Jesus: "Como é bom estar aqui!"
No belo, tornamo-nos vizinhos imediatos do próprio transcendente. Como escreveu George Steiner, "a poesia, a arte, a música são os meios portadores desta vizinhança". A música, nomeadamente, é inseparável do sentimento religioso: "Ela foi durante muito tempo, continua a ser hoje, a teologia não escrita dos que não têm ou recusam qualquer crença formal."
Até pela negativa, através do dilacerante, o que ela procura é a harmonia. Como escreveu Fernando Savater, "na denúncia que falta vê-se contra a luz a possibilidade futura daquilo que poderia ser a plenitude".[...]

Anselmo Borges in Diário de Notícias Online

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Os Lutos Portugueses...



..."Apetece cantar e ninguém canta / Apetece gritar e ninguém grita..." Escreveu Miguel Torga. O desespero era semelhante ao de agora porque a mão do medo entravava a condição de todos. Os acasos da fortuna, os equívocos da época e as ambiguidades de carácter de muitos homens embrulharam-nos neste sudário. Repete-se a história dos lutos portugueses. Os espanhóis Unamuno e Ortega falaram do nosso infortúnio. O primeiro com terna simpatia; o segundo com displicente desprezo. Unamuno tentou compreender-nos. Ortega observou-nos com azeda desconsideração.
Olhamos em volta. Talvez mereçamos ambas as perspectivas. A qualidade da existência colectiva, acaso possa medir-se nessa dualidade. Elegemos quem nos faz mal por excesso de incoerência e vocação para o infausto. A História está repleta desse mal-entendido vital. Mas poucas vezes, como agora, estivemos no interior do círculo concêntrico da angústia sem saída.
O projecto de empobrecimento de Pedro Passos Coelho enfraqueceu, sobretudo, a nossa alma. Mas a diminuição projectada para os outros diminuiu quem a executou. Ou, melhor: quem a executou está desprovido da grandeza exigida aos que dirigem e decidem. Observemos os rostos desta gente: reflectem a génese dos que não possuem força natural, e mais não são do que expressões servis e inconsistentes. Gil Vicente narrou-os e ao espírito que os anima, antes de qualquer outro. Camilo e Eça remataram o retrato. São filhos, netos e bisnetos dos que se julgam sacramentados pelo direito divino, e não têm de dar satisfações pelos seus actos. Quando alguém se ergue, através do trabalho, do talento e da vontade, para tentar modificar as coisas, logo ressuscitam os velhos e malditos poderes. "O país é pequeno, e não maior a gente que o habita." A frase é atribuída a Herculano, que desistiu com um parágrafo terrível: "Isto dá vontade de morrer!"[...]

Baptista Bastos in Diário de Notícias Online

terça-feira, 17 de julho de 2012

Expansão Portuguesa no Séc. XV - O Despertar da Violência

      © British Library


Impulsionados pelo estímulo do corso e do comércio  as navegações atlânticas do século XV deslocaram para Ocidente  os circuitos comerciais e inauguraram um espaço promissor para as actividades predatórias.
Inicialmente, a violência provocada por piratas e corsários expandiu-se ao longo das costas de Marrocos e na zona dos arquipélagos das Canárias, Madeira e  Açores.
À medida que as navegações progrediram para Sul e logo que a América  a Ásia e as ilhas do Pacífico passaram a figurar no atlas dos navegadores europeus  o cenário onde os assaltos marítimos e as surtidas terrestres podiam conciliar-se – como se viu - com o proveito dilatou-se extraordinariamente.
Certas zonas costeiras, alguns arquipélagos e, em especial, os estreitos que balizavam as rotas do comércio exótico, converteram-se em lugares privilegiados para o exercício de actos violentos e pilhagens.
A profunda mutação das coordenadas geopolíticas e comerciais segregou rivalidades entre os “estados”, depredações e conquistas. Para piratas e corsários, a instabilidade das relações internacionais, conjugada com os avultados fluxos de tráfico, proporcionava-lhes um mundo de oportunidades que não hesitaram em explorar. Investir em actividades de piratas e corsários, tornou-se, por conseguinte, um risco aliciante.
Contudo, devido ao aumento das distâncias nas viagens e à navegação no mar alto, a estrutura dos armamentos, quer no plano técnico, quer no financeiro, sofreu alterações. Exigiam-se, para o futuro, elevadas somas de capital, para organizar uma expedição de longo curso.
Adquirir barcos e equipá-los, dispor de instrumentos náuticos actualizados, obter mapas secretos ou raros, contratar pilotos competentes e outras técnicas de navegação, tudo isto implicava avultadas despesas e capacidade para mover influências.
Por fim, era indispensável reunir homens audaciosos, capazes de enfrentar os perigos do mar e a sua permanência, e ainda prontos para arriscarem a vida em combates incertos e inesperados. Uma empresa de corso, ao demandar os mares distantes, assemelhava-se, frequentemente, a uma viagem de exploração geográfica. Alguns piratas distinguiram-se como excelentes navegadores.
Nos confrontos que marcaram a disputa pela hegemonia do novo mundo, piratas e corsários ao serviço de grupos sociais poderosos, e até de alguns “estados” (Portugal, França, Espanha, Inglaterra e Países Baixos), protagonizaram várias acções de autêntica guerra marítima. Os mais experientes e afortunados venceram batalhas, fundaram colónias e criaram condições para a implantação de impérios marítimos da época moderna. Se a violência marítima e terrestre sofreu um rápido incremento com a extensão dos limites do mundo conhecido, o próprio corso esteve intimamente associado aos projectos exploratórios da fase de arranque das viagens de descoberta e expansionistas.[...]

João Silva de Sousa in O Portal da História

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Humor de Sexta - A Ventoinha do Governo...



Fonte: HenriCartoon

quinta-feira, 12 de julho de 2012

À Espera do Vulcão...


... Os principais dirigentes políticos da Zona Euro tornaram-se uma espécie de vulcanologistas sociais e económicos, que se limitam a aguardar a grande erupção europeia. Os sensores dão sinal de que o impacto será gigantesco, mas os políticos abdicaram do seu dever de liderar, com lucidez e coragem. Calam-se ou repetem rosários de impotência. Externalizam responsabilidades, trocam acusações mútuas, até ao dia em que, efectivamente, a margem de liberdade para construir o destino comum seja totalmente devorada pela força nua e crua das coisas.


Viriato Soromenho Marques in Diário de Notícias Online

quarta-feira, 11 de julho de 2012

A Vilafrancada - 27 Maio de 1823






Os liberais por não estarem unidos e devido a algumas medidas tomadas contra a nobreza e o clero, bem como a independência do Brasil, precipitaram o pais num clima de instabilidade que provocou muito descontentamento. Por tudo isto foi fácil aos absolutistas pegar em armas e proclamar a restauração do Absolutismo, em Vila Franca de Xira. Foi a Vilafrancada em 27 de Maio de 1823. Na proclamação de D. Miguel, que a seguir se transcreve, podem encontrar-se todos os motivos que o levavam a assumir a liderança do movimento: o rei ultrajado, transformado num «fantasma» sem poder efectivo, os membros da nobreza e clero atacados nos seus direitos e regalias, etc.
"A força dos males nacionais, já sem limites, não me deixou escolher: a honra não me permitiu ver por mais tempo em vergonhosa inércia a majestade real, ultrajada e feita ludíbrio dos facciosos, todas as classes da nação com diabólico estudo deprimidas, e todos nós o desprezo da Europa e do mundo, por um sofrimento que passaria a cobardia; e em lugar dos primitivos direitos nacionais que vos prometeram recobrar em 24 de Agosto de 1820, deram-vos a sua ruína, o rei reduzido a um mero fantasma; a magistratura diáriamente despojada e ultrajada; a nobreza, à qual se agregaram sucessivamente os cidadãos beneméritos e à qual deveis vossa glória nas terras de África e nos mares da Ásia, reduzida ao abatimento, despojada do lustre que outrora obtivera do reconhecimento real; a religião e seus ministros objecto de mofa e escárnio.

Que é uma nação quando sofre ver-se assim aviltada? Eia, portugueses, uma mais longa prudência seria infâmia. Já os generosos transmontanos nos precederam na luta; vinde juntar-vos ao estandarte real que levo em minhas mãos; libertemos o rei e Sua Majestade livre dê uma Constituição a seus povos; fiemo-nos em seus paternais sentimentos; e ela será tão alheia do despotismo como da licença; assim reconciliará a nação consigo mesmo e com a Europa civilizada.

Acho-me no meio de valentes e briosos portugueses, decididos como eu a morrer ou a restituir Sua Majestade à sua liberdade e autoridade, e a todas as classes seus direitos. Não hesiteis, eclesiásticos e cidadãos de todas as classes, vinde auxiliar a causa da religião, da realeza e de vós todos: e juremos não tornar a beijar a real mão senão depois de Sua Majestade estar restituído à sua autoridade.

Não acrediteis que queremos restaurar o despotismo, operar reacções ou tomar vinganças; juremos pela religião e pela honra que só queremos a união de todos os portugueses e um total esquecimento das opiniões passadas."
Informado pelos seus conselheiros do que se estava a passar, D. João VI foi ter com seu filho e embora submetendo-o à sua autoridade, fá-lo comandante do exército, restitui os poderes retirados à rainha, manda libertar os presos políticos e nomeia outro governo. O entusiasmo provocado por estas medidas foi tão grande entre os absolutistas e a população descontente que ao chegar a Lisboa o coche real, foi abordado por cerca de 40 militares que desatrelaram os cavalos e puxaram eles mesmo o coche. Um jornal da época, a Gazeta de Lisboa, publicou até uma lista com os seus nomes. Dias mais tarde foi publicado no mesmo jornal, um anúncio anedótico em que se indicava que «... no dia 24 do corrente mês se há-de arrematar em hasta pública umas parelhas de bestas que puxaram o carrinho de el-rei quando mudou de bestas a Arroios.». Esse número do jornal foi retirado da circulação e o seu redactor demitido, mas a partir de então os ultra realistas foram denominados de burros, pelos liberais.


Fonte: História Aberta

terça-feira, 10 de julho de 2012

Judeus na Península - Isaac Abravanel, um Caso Paradigmático




Isaac Abravanel nasceu em Lisboa no ano de 1437  e morreu em Veneza, no dia 27 de Outubro de 1508. Era oriundo de uma das famílias sefarditas mais famosas – diz-se que descendia do próprio rei David – Isaac Abravanel foi um grande comentador da Bíblia e financiador do rei Afonso V nas suas conquistas africanas.

Depois da morte de Afonso V, Abravanel teve de fugir para Castela porque D. João II pensava que este havia conspirado com o duque de Bragança. A sua grande fortuna foi toda ela confiscada por decreto real. Instalado em Toledo, rapidamente Abravanel penetrou no círculo da família real  tornando-se  financiador dos reis católicos.

Apesar dos favores aos reis, teve de sair de Espanha por causa do Decreto de Alhambra, que expulsava os judeus que não se convertessem [ ao cristianismo ], tendo ainda oferecido 30.000 ducados pela revogação do decreto. Em vão. O decreto não foi revogado e Abravanel fugiu para Nápoles. Depois de passar por mais algumas cidades italianas, instalou-se em Veneza, onde colaborou na negociação de um tratado comercial entre Portugal e a Sereníssima República.
Morreu em Veneza, sendo enterrado em Pádua.

Fonte: Por Terras de Sefarad

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Ateus pela Religião...



...Tenho aqui sublinhado a necessidade que os crentes têm de ouvir os ateus, pois, pelo facto de se encontrarem fora, estão mais capacitados para se aperceberem da desumanidade, intolerância e superstição que se apoderam tantas vezes das religiões. Mas, agora, é um ateu que reconhece as vantagens e benefícios das religiões, a ponto de, ao contrário do que faz R. Dawkins, não pretender converter as pessoas religiosas ao ateísmo. Parece-lhe cruel e uma loucura "convencer alguém a deixar de acreditar em Deus", confessou também ao Público.[...]


Anselmo Borges in Diário de Notícias Online


Ler texto completo AQUI

quinta-feira, 5 de julho de 2012

O que Falta ao Governo em Portugal...



Fonte: HenryCartoon

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Expansão Portuguesa no Séc. XV - O Conhecimento Técnico



Os Portugueses não podiam desenvolver a economia marítima sem resolver os problemas técnicos que implicavam as longas viagens pelo oceano. 
As dificuldades podiam verificar-se não apenas na navegação atlântica, mas mesmo na mediterrânica.

Quanto ao tipo de embarcações, sabemos que os Genoveses utilizavam, de ordinário, galés a remos, mas que não estavam adaptadas à grande ondulação no alto mar. Estes barcos, porém, já tinham sobre os navios mediterrânicos, a vantagem de possuírem leme e não apenas remos laterais para orientarem o rumo. Este melhoramento aparece no Atlântico, provavelmente, em barcos normandos, desde o século XII, e só depois é introduzido no Mediterrâneo. Simultaneamente instalam-se francos melhoramentos nos barcos à vela que, até ao fim do mesmo século, possuíam geralmente apenas um mastro com uma vela quadrada. Todavia, já existiam outros com vela mais pequena, inclinada para trás e situada perto da proa.

Foi provavelmente  no Mediterrâneo que se lhes acrescentou um terceiro mastro à popa permitindo, deste modo, aumentar a velocidade da embarcação. Contudo, neste domínio, a invenção resultou do facto de conseguir aproveitar-se o vento para navegar em qualquer direcção, mesmo aproximadamente, contra ele, e sem recurso aos remos. Esta técnica deveu-se à introdução de uma vela triangular para navegar “à bolina”. As origens da mesma são quase desconhecidas e pouco se sabe igualmente acerca da sua difusão, admitindo-se que se generalizou ao longo do século XV, tendo-se conjugado, depois dessa altura, com o  recurso ao uso da “toleta de marteloio”, isto é, com a utilização de uma tabela de quatro colunas para a resolução de triângulos rectângulos planos por métodos trigonométricos, ou por um processo gráfico que permitia não perder a direcção num rumo em ziguezague, ou seja navegar à bolina. A "toleta" seria, possivelmente, já conhecida pelo Maiorquino Raimundo Lull (1232-1316), – o Arabicus Christianus ou Doctor Inspiratus – que, no final do século XIII, descreve o seu uso em termos pouco claros e directos.

Contudo, apesar de a técnica de navegar à bolina ser bem conhecida dos Portugueses durante o século XV, não ficou provado que fosse praticada por estes antes de 1400. Repare-se que era uma técnica de grande importância na costa africana, onde a orientação do vento provocava frequentes perdas de rumo.

A bússula, de origem chinesa, trazida para Portugal pelos muçulmanos, foi difundida no nosso País. Permitia encontrar o rumo Norte (mais tarde corrigido pelo cálculo exacto da declinação magnética), mesmo com um céu nublado e, por conseguinte, sem recorrer à orientação pelos astros.
Além do Sol, outros astros tinham utilidade para os navegantes, principalmente de noite. Estes que serviam os homens do mar, em céu limpo, [...] seriam: a Estrela Polar dentro da constelação da Ursa Menor – a Buzina, como então se dizia - que indica o Norte, o Cruzeiro do Sul, estrela que aponta a direcção Sul, embora só descoberta entre 1450 e 1455.


“Já descoberto tínhamos diante,
Lá no novo Hemisperio, nova estrela,
Não vista de outra gente, que, ignorante,
Alguns tempos esteve incerta dela.
Vimos a parte menos rutilante
E, por falta de estrelas, menos bela,    
Do Pólo fixo, onde inda se não sabe
Que outra terra comece ou mar acabe”.

Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto V, estr. 14
No que diz respeito às cartas de marear, também chamadas de Portulanos como já acima referimos, as primeiras desenhadas que se conhecem  datam da segunda metade do século XIII. Podemos ainda afirmar que, no século XIV, o seu uso pelos marinheiros do Mediterrâneo, tornou-se frequente.

As descrições dos portos e das condições de navegação também melhoraram, como se verifica, por exemplo, nas indicações precisas acerca das horas das marés de certos portos, que aparecem, por exemplo, na carta catalã de 1375.

Em relação a outros instrumentos de navegação, refira-se o chamado astrolábio, aparelho destinado a determinar, com algum rigor, a passagem das horas durante a noite, com a ajuda da observação das estrelas. Estes já conhecidos pelos gregos foram desenvolvidos pelos Árabes e Persas. O recurso ao astrolábio, porém, com vista à determinação da latitude, provavelmente desenvolvida pelos Portugueses, só está provado depois dos inícios de Quatrocentos.

O interesse demonstrado pelo conhecimento científico e técnicas náuticas mais evoluídas pode documentar-se por ter existido em certos sectores da nossa sociedade.
Um dos cientistas portugueses que se notabilizaram na área das Ciências, durante o século XIII, é o bem conhecido Pedro Hispano (Pedro Julião, o Papa João XXI (1276-1277), estudando em Paris ou em Montpellier, medicina e teologia, dedicando especial atenção a palestras de dialéctica, lógica e sobretudo a física e metafísica de Aristóteles, legando-nos obras célebres, como o Tratado Summulae Logicales que foi o manual de referência sobre lógica aristotélica, durante mais de trezentos anos, nas universidades europeias, com 260 edições em toda a Europa, traduzido para grego e hebraico. Outro terá sido o dominicano Frei Gil de Santarém [1184 ou 1190-1265], a quem ficou a dever-se uma tradução do tratado de Natura de Rasis (Crónica do Mouro Rasi). Frade dominicano, arabista, fora físico, taumaturgo, teólogo e pregador português dos séculos XII e XIII, tendo vindo a ser canonizado pelo papa Bento XIV a 9 de Maio de 1748.

Apesar da pouca informação consagrada ao estudo das Ciências naquela centúria, presume-se a sua existência no domínio da Astronomia, de obras de Afonso X (1221-1284), o Sábio ou o Astrólogo. Colaborou no El Libro del Saber de Astronomia, obra baseada no sistema ptolemaicoEsta teve a participação de vários cientistas que o rei congregara e aos quais proporcionava meios de estudo e investigação, tendo mesmo mandado instalar um Observatório Astronómico em Toledo. Compôs as chamadas Tabelas Afonsinas sobre as posições astronómicas dos planetas, baseadas nos cálculos de cientistas árabes. Como tributo à sua influência para o conhecimento da Astronomia, o seu nome foi atribuído à cratera lunar Alfonsus. Outras obras com o seu contributo são o "Lapidário", um tratado sobre as propriedades das pedras em relação com a Astronomia e o "Libro de los juegos", sobre temas lúdicos (xadrez, dados, e tabelas - uma família de jogos a que pertence o gamão), praticados pela nobreza da época.

Por esta altura, a astrologia era considerada uma verdadeira ciência que se baseava em observações objectivas e num verdadeiro conhecimento da natureza, embora a partir de esquemas mentais que foram sendo progressivamente abandonados.  A partir de meados do séc. XIII, os relatos acerca de viagens de europeus ao Oriente suscitados pela expansão do império Mongol, trazendo ao Ocidente relatos fantásticos, alimentaram a ideia de um Oriente fabuloso, o qual era concebido como um lugar onde se encontravam abundantes tesouros e riquezas, mas albergando monstros e prodígios.[...]


Fonte: João Silva de Sousa in O Portal da História

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Os Judeus Sefarditas






Sefarditas (em hebraico ספרדים, sefardi; no plural, sefardim) é o termo usado para referir aos descendentes de Judeus originários de Portugal e Espanha. A palavra tem origem na denominação hebraica para designar a Península Ibérica (Sefarad ספרד ). Utilizam a língua sefardi, também chamada "judeu-espanhol" e "ladino", como língua litúrgica.

Os sefarditas provavelmente estabeleceram-se na Península Ibérica durante a era das navegações fenícias, embora a sua presenças só possa ser atestada a partir do Império Romano. Sobreviveram à cristianização, invasão visigótica e moura, mas começaram a sucumbir na fase final da Reconquista.
Os judeus fugiram das perseguições que lhes foram movidas na Península Ibérica sob a inquisição [...], onde eram perseguidos pela Igreja Católica, dirigindo-se a vários outros territórios. Uma grande parte fugiu para o norte de África, onde viveram durante séculos. Milhares  refugiaram-se  no Novo Mundo, principalmente Brasil e México, onde nos dias actuais  se concentram milhares de descendentes dos fugitivos. Os sefarditas são divididos hoje em Ocidentais e Orientais. Os Ocidentais são os chamados judeus da nação portuguesa, enquanto os orientais são os sefardim que viveram no Império Otomano.
Com o advento do sionismo e particularmente após a crise israelo-árabe de 1967, quando as minorias judaicas dos países árabes foram alvo de ataques, muitos dos judeus que viviam em países árabes foram para  Israel, onde formam hoje um importante segmento da população, com uma tradição cultural diferente dos outros judeus asquenazi.

Por isso, o termo sefardita é frequentemente usado em Israel hoje para referir os Judeus
oriundos do norte de África. No entanto é um erro referir-se genericamente  os judeus norte-africanos e dos países árabes como sefardim. Os judeus mais antigos destes países são chamados Mizrachim (de Mizrach, o Oriente), ou seja, orientais.
Houve importantes comunidades sefarditas nos países árabes, quase sempre em conflito com as comunidades autóctones, sobretudo no Egipto, Tunísia e Síria. Os  judeus hispânicos  opõem-se sistematicamente à Qabbala sefardita e mantêm um serviço religioso bastante  disciplinado e de melodias suaves. O rito ocidental é conhecido como Espanhol-Português.
Os Sefarditas foram responsáveis por boa parte do desenvolvimento da Cabala medieval e muitos rabinos sefarditas escreveram importantes tratados judaicos que são usados até hoje em tratados e em estudos importantes.

Via Eterna Sefarad