quinta-feira, 28 de julho de 2011

Os Ricos estão cada Vez Mais Ricos...Os Pobres, esses, Pagam a Crise !



Em todos os processos de ajustamento económico e financeiro, é a massa dos trabalhadores - sobretudo os por conta de outrem - quem mais paga os seus custos. Não pode deixar de ser assim, devido à implacável lei dos grandes números. Se o que se pretende é travar o consumo das famílias, que representa 67% do produto interno bruto (PIB) do País, isso significa aperto do cinto em rendimento disponível ou em poder de compra real para a grande maioria dos portugueses, constituída pelos pobres e os remediados. E, mesmo quando estes não são tocados por medidas extraordinárias, como a sobretaxa do IRS, acabam por ver cerceado o seu nível de vida com subidas muito altas dos preços de bens essenciais, como os dos passes sociais dos transportes públicos, dos medicamentos, da electricidade ou da água.

O reforço da poupança é desejável e necessário, pelo que é aconselhável actuar com prudência quanto à taxação das poupanças que, aliás, envolvem, em menor ou maior grau, boa parte da população. Mas é difícil de perceber para muitos portugueses que os rendimentos correntes provenientes dos lucros distribuídos pelas empresas não participem equitativamente no esforço de ajustamento, que se proclama nacional.
A revista Exame actualiza hoje o valor das 25 maiores fortunas do País. Em conjunto, elas montam a 17 400 milhões de euros (equivalentes a 10,1% do PIB) e cresceram, entre 2010 e 2011, 17,8%, ou seja, 2630 milhões de euros - o equivalente ao rendimento médio de 210 mil portugueses. É certo que o grosso desta valorização provém das cotações dos seus patrimónios empresariais. Mas note-se que só o contributo de 3,5% deste acréscimo de 25 fortunas renderia 92 milhões de euros ao Estado. O Governo, porém, exige-lhes zero e não se ouve uma só voz entre os 25 portugueses mais afortunados a exortar os seus pares a contribuir patrioticamente para o esforçadíssimo programa nacional de estabilização.

Nos tempos da Administração liderada por George W. Bush, deu brado o célebre manifesto de um conjunto de bilionários americanos (incluindo Warren Buffett e Bill Gates, os dois mais ricos do país) recusando a prorrogação de isenções fiscais em seu próprio benefício, numa situação difícil das contas dos Estados Unidos, a braços com duas guerras em curso no estrangeiro. Entre os nossos muitíssimo ricos, a importância de um sinal dado ao País, de que a solidariedade nacional devia tocar, de facto, a todos, ainda está por acontecer.


quarta-feira, 27 de julho de 2011

A Pele que Habitamos


Olhemos-nos corajosamente, todos nós, homens e mulheres de Portugal, de frente, sem os risos e os olhares tolos – quase infantis – com que aprendemos a mirar o mundo para disfarçar a nossa abissal ignorância das coisas, porque tudo tornámos ligeiro em nós. Interroguemos-nos seriamente, como gente adulta: vivemos bem connosco, vivemos bem na nossa pele? O mal estar que nos assalta continuamente é natural? Este jeito infantil de vivermos, sem abraçarmos causas, movidos apenas por um primitivo e animal desejo de sobrevivência, é natural?

Desprezámos há muito o saber, e os homens e as mulheres que amam o saber. Temos o sol e um vasto oceano que nos cerca, e de luz baça e de espuma fizemos a nossa vida colectiva. Queremos todos viver para o sol e para o mar, esquecidos que há mais, muito mais que o saboroso sol e o revigorante mar. As morsas e as focas, deitadas sobre a banha acumulada, também vivem para saborear o sol e o mar… mas elas nada mais têm. Nós somos homens e mulheres, e aprendemos a olhar as coisas, para além do sol que nos aquece e do mar que nos alimenta. Pelo menos deveríamos ter aprendido…

Não nos amamos como povo, nem sabemos sequer o que isso é. Não amamos aquilo que realizámos e que realizamos todos os dias. Não construímos porque preferirmos mil vezes suar ao sol, frente ao mar, do que suar pelo nosso trabalho. Sabedoria, sim temo-la, e em excesso. Procuramo-la todos os dias, não nos livros, mas no fundo das canecas de cerveja. Nós, Portugueses, odiamos livros e mais odiamos quem os lê. E que ninguém diga que não é assim, porque mente. Ler é uma obrigação, a pior de todas, nunca um prazer.

Fomos assim forjados, há 500 anos, quando a Inquisição nos tornou a todos espiões dos homens que liam. Fugimos todos da cultura para fugirmos dos ferros e do fogo. E escondemos-nos todos dentro da nossa pele, a pele do nosso imenso medo. Cristãos-velhos denunciavam cristãos-novos e cristãos-velhos, por invejas ou por ódios. Cristãos-novos apressavam-se a denunciar outros cristãos-novos, antes que alguém os denunciasse. E os homens nunca mais foram livres, e todos nos tornámos polícias de todos, e os livros foram todos queimados, e as velas nunca mais se acenderam à sexta-feira, e as mãos e os corpos deixaram de se lavar. A brutalidade instalava-se na velha Luzidanya.

Somos nós, Portugueses, estranhíssimas criaturas. Dentro de nós habitam velhos-cristãos e velhos-judeus. Muitos, a esmagadora maioria, não conhece a origem do seu sangue, e é hoje cristã de corpo e alma, porque pensa que sempre assim foi. Outros, incomodados na sua pele, passam indiferentes diante das igrejas e das capelas, sem saber porquê. Ali foram baptizados, ali casaram, ali baptizaram os filhos. Mas dentro deles não se acende nenhuma Luz, porque aquela não é a sua casa. Eles não sabem, mas sentem. Ainda há medo na sua pele. Ainda não reencontraram o seu caminho. Mas começam a dar os seus primeiros passos. Logo estarão em movimento.

 
Via Por Terras de Sefarad

terça-feira, 26 de julho de 2011

Os Meus Avós


Se há dia que eu considero, até por razões pessoais, que deva ser celebrado, é o "Dia dos Avós", e por duas ou três questões fundamentais.
Vive-se hoje numa sociedade em que o papel da família tende a esbater-se. Em que pai e mãe trabalham, ( quando trabalham...) e em que os avós, ao invés de serem encarados como elementos enraízadores da família, são antes vistos como um peso que se despeja num qualquer lar ao virar da esquina, sendo que as razões economicistas da escolha desse lar se sobrepõem às razões de qualidade de vida e humanidade com que os idosos devem ser tratados. Todos os dias os meios de comunicação nos dão notícia do desprezo e ausência de sensibilidade humana mínima a que são votados muitos idosos, quer por quem os acolhe, quer pelas famílias que se "esquecem", literalmente, dos seus familiares, passando-se por vezes anos sem que os visitem nos lares de acolhimento, e havendo mesmo milhares de casos conhecidos em que familiares internam nos hospitais do estado os seus idosos com o claro objectivo de nunca mais de lá os quererem retirar. É dramático e chocante, e diria até, criminoso, assistir a isto.
Não quero nem devo iludir o facto de que em muitos casos os filhos não têm outra alternativa ao internamento dos pais em lares. Mas se  têm que o fazer, devem fazê-lo com a dignidade, humanidade e respeito que aqueles  merecem, quanto mais não seja, porque se sacrificaram, ao longo de uma vida, por proporcionar aos filhos a qualidade de vida e educação que eles próprios, na maioria dos casos, nunca tiveram. Felizmente, identifico muitos casos em que filhos e famílias cuidam e integram no seio familiar, de maneira extremosa, os seus pais e avós, bem como lares que são, independentemente dos preços cobrados, escolas de humanidade.
Há umas décadas atrás, os idosos eram encarados como um valor importante no seio familiar. Um esteio, um factor de transmissão de valores, padrões de vida  e conhecimentos; elementos cuidadores e ensinadores das gerações mais jovens. Nas sociedades mais primitivas sempre houve esse olhar sobre os mais velhos. Nas sociedades modernas parece que, afinal, nada disso é já importante e os idosos são olhados como desnecessários e completamente descartáveis.
A minha experiência pessoal é a de quem foi criado e educado pelos avós a partir dos seis anos de idade. Dou graças a Deus porque o amor que os meus avós e a minha família me dedicaram, não permitiu que eu sentisse grandemente a ausência dos pais. Foi-me consagrado pelos meus avós, o mesmo amor e cuidado que já tinham dedicado aos seus filhos. Numa determinada altura, eu senti-me mesmo como um pequeno "príncipe" no meio de tantos cuidados e afectos que me eram dispensados. Devo muito aos meus avós. Sei que a sua vida teria sido um pouco diferente se não tivessem que, depois de criados sete filhos, terem que criar e educar ainda  um neto. Não me consta que alguma vez se tenham queixado desse facto. E tenho a certeza de que muitas vezes tiveram razões para isso, em especial porque o seu relacionamento, em busca do melhor para mim, com os meus pais, não foi fácil, ou mesmo porque a minha entrada na adolescência e fase inicial da juventude também lhes não facilitou a vida.
Dos meus avós, não me lembro de alguma vez ter recebido um açoite ( e se recebesse teria sido provavelmente merecido, porque como também diz o adágio, "quem dá o pão, dá a educação" ), apenas cuidado e carinho. Lamento que tivessem partido cedo, que eu não tivesse usufruido, por mais tempo, da sua companhia.
Não me lembro de quantos brinquedos me compraram, provavelmente poucos - na minha geração as crianças eram, na generalidade, quem fabricava os seus próprios brinquedos -  mas lembro o amor que me dedicaram, os meus avós, enquanto viveram.
Hoje, na certeza de que os avós devem voltar a ser encarados como um valor seguro de enraizamento familiar e como cuidadores preferenciais dos netos, deixo aqui esta homenagem pública aos meus avós maternos, Gertrudes Serra e José Lourenço,  e a tudo aquilo que ao fim de muitos anos ainda representam para mim, mesmo estando ausentes fisicamente.


Jacinto Lourenço

A Verdade que Liberta


Tenho-me mantido um pouco refractário relativamente à escrita, que é para mim assim como algo do género "fada madrinha", isto é: quando escrevo, melhor dizendo, quando tenho inspiração para escrever, o que nem sempre acontece, a escrita só me faz bem, como qualquer "fada madrinha", enche-me de contentamento e felicidade.

Hoje queria escrever algo que não fosse um lugar-comum, ou que estivesse longe de qualquer trivialidade ou banalidade, o que desde logo afasta os temas que dominam estes últimos dias: "crise", níveis de endividamento dos U.S.A, agências de rating, Grécia, Portugal, etc. Não quero igualmente escrever sobre o odioso acto de terrorismo na Noruega, não porque não tenha posição sobre tão hedionda matéria, bem pelo contrário, mas porque prefiro manter o meu silêncio respeitoso em memória das vítimas inocentes.

Talvez porque o mundo e os homens me oferecem apenas temas batidos, repetidos e banais,  pavorosos outros,  prefiro lembrar hoje, aqui, algo de que os jornais não falam habitualmente, as televisões não passam, as rádios não soltam no éter e as pessoas não partilham normalmente nas conversas entre si. Falo do amor de Deus, e da verdade que só nEle existe. É por isso que deixo um versículo bíblico, algo escrito na Palavra de Deus, a bíblia Sagrada: "e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." ( João 8:32 ).


Jacinto Lourenço 

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Humor Judaico



Um casal de Judeus radicados desde 1948 em Israel resolveram efectuar uma viagem pela Europa para visitar os lugares de onde tinham partido e levaram seu neto.

Primeiro visitaram a Polónia e fizeram questão de mostrar ao seu neto os campos de concentração onde seus pais faleceram.
Andaram pela cidade e na passagem pelos monumentos e igrejas o menino ávido de querer saber tudo perguntava: Avô estas pessoas são Judeus?
Não respondia o avô, são cristãos.
Quando visitaram a França, ele perguntou de novo: Estes são Judeus? Não, são cristãos. Na Holanda perguntou de novo e a mesma resposta: Não, são cristãos! Na Suécia, na Dinamarca, em Espanha e Portugal, a mesma coisa.
De regresso a Israel o avô querendo saber qual a impressão do seu neto perante a viagem perguntou: Então o que achaste da Europa, dos lugares de memória Judaica, dos monumentos e das pessoas?
E o menino exclamou com uma simpatia autêntica: Gostei de ver tudo, mas deve ser terrível para os coitados dos cristãos estarem assim espalhados pelo mundo todo”.


Via Por Terras de Sefarad

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Passagem por Samaria



!Y nadie sospechaba com qué temblor de urgencia

buscaba ella en la gente un resto de ternura!...


Andrés Quintanilla Buey







Diziam que ia ao poço
escondida sob o cântaro
que perdera já o olhar
varrendo o chão
a mulher samaritana
via apenas sombras
na água que do poço recolhia
ninguém suspeitava
que enchia de lágrimas o cântaro


Há quem diga que pecava
por um gesto de ternura
quando a rosa do sol incandescia
e trespassada de silêncio
se escondia, diziam
da mulher samaritana tanta coisa
ia ao poço para beber
da água repetida, na quietude frágil
da água, a sua vida.
 
João Tomaz Parreira
 
In blogue Papéis na Gaveta 

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Julho 1099 - Sete Semanas de Cerco


Na primeira Cruzada, que foi a única vitoriosa para as hostes cristãs, cavaleiros de toda da Europa capturam Jerusalém após sete semanas de cerco. Sedentos de sangue e imbuídos de um feroz fanatismo religioso, após a tomada da cidade, eles iniciam o massacre de judeus e muçulmanos que habitavam a cidade sagrada. Até cristãos de rito oriental são chacinados.



Fonte: Por Terras de Sefarad

terça-feira, 19 de julho de 2011

O Mistério do Vazio



Perguntas martelam noite e dia: Infantis, por que ainda não deixamos de nadar no útero cósmico? O lago do mistério nunca tem margem? Não se conhece quem pode decifrar o enigma da angústia? A realidade dos sonhos, que expõe o universo do inconsciente, não seria ainda mais real que o mundo estreito da consciência?

Intuímos as respostas, sentados ou correndo. Sabemos que nunca nos acostumaremos com imensidões. A vida, imensurável, permanecerá complexa demais e nosso tempo por aqui, bem curtinho.

Temos medo do vazio. Entupimos os dias com barulhos. Divertimos a alma com lantejoulas falsas. Mas, talvez o imarcescível só caiba no vazio.

O Tao ensina:


Trinta raios unem um eixo,
A utilidade da roda vem do vazio.


Queima-se o barro para fazer o pote.
A utilidade do pote vem do vazio.


Rasgam-se janelas e portas para criar o quarto.
A utilidade do quarto vem do vazio.


Portanto,
Ter leva ao lucro,
Não ter leva ao uso.



Talvez a vida esteja na coragem de conviver com esse vazio, de nada ter senão a nós mesmos. A respostas que tanto procuramos podem não ser respostas, mas o desvencilhar-se de pesos. Viver talvez seja por-se no Caminho. Quem sabe, longe das demandas da competência, sem as vozes da cobrança, consigamos vencer os dragões que impedem de achar o verdadeiro self, essência de nós mesmos.

O Nazareno avisou: “quem quiser ganhar a vida vai perdê-la e quem ousar perder a sua vida vai ganhá-la”. O Espírito enche, mas precisa encontrar vasos vazios. Não seria esse, precisamente esse, o segredo de construir-se humano?



Soli Deo Gloria


Fonte: Ricardo Gondim

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Coisas para as Quais já não tenho Paciência


Tenho andado a pensar que começo a acumular um défice de paciência para muitas coisas, sendo que  outras já me passam completamente ao lado.
Não tenho paciência, por exemplo, para discussões inúteis no Facebook, especialmente as   que têm em vista, por parte de quem muitas vezes as alimenta, a  marcação de território, ostentação de opiniões absolutistas,  ou exibicão de narcisismos  pseudo-culturais com pouca saída em foruns de  mais avisada assistência. Recuso liminarmente os púlpitos virtuais que se erguem nesta rede social  onde pregadores ocasionais proclamam em "deriva profética" um evangelho de consumo imediato, pessoal ou utilitário. Tenho, como sempre tive, e só isso me levou a "aderir", uma visão puramente hedonista do FB, ou melhor: o FB é um dos meus lugares de "veraneio"  na rede e nada mais, onde convivo com os amigos descontraidamente. Que me perdoem os puristas da coisa ou os que possam ter outra visão mais "séria" do assunto que eu sinceramente nunca consegui, nem quero, atingir.

Também já não tenho paciência para um certo  "imperialismo militante", de muitos sectores ditos cristãos, fundamentalistas  religiosos, donos de toda a verdade e revelação. Jesus disse que Ele era a Verdade e é essa Verdade que eu defendo "com unhas e dentes" por ser a Única Verdade. Esse é o evangelho que leio e que guia a minha vida. De resto, o respeito que tenho por qualquer cristão que, como eu, leia apenas e siga  esse evangelho,  é infinitamente  maior do que o que tenho por  qualquer exegeta, doutor da lei, apóstolo ( destes modernos que circulam por aí agora ) ou pregador, mesmo que possa ser muito relevante o seu papel numa qualquer igreja.
Já não tinha nenhum respeito nem paciência  para cristãos, pastores, evangelistas, ministros, que acham que por o serem,  a sua fé não pode ser confrontada,  ou que  estão acima de qualquer questionamento. O Senhor Jesus nunca fugiu aos debates, aos diálogos com aqueles que o questionavam sobre a Salvação e até acerca da sua própria condição humana-divina. Paulo buscava os confrontos que esclarecessem as posições e o alcance da fé cristã. Mais modernamente Lutero ou todos os outros reformadores tiveram que se questionar igualmente sobre as "verdades" absolutas da fé que os tinha formatado tendo a sua vida sido um constante corrigir de percurso e erros, muito deles, infelizmente graves e irremediáveis. Há muito de farisaísmo numa fé que se refugia na fuga ao debate, ao diálogo, que acha que não se deve deixar questionar por quem dela duvida. Gente com uma fé assim anda sempre carregada de pedras nos bolsos, vive num círculo fechado, é habitada por um  "Trento" protestante.

Já se me esgotou a paciência, há muito, para igrejas que se escondem em lugar de se exporem mostrando que também são feitas da mesma "massa humana" que toda a gente que não é igreja. Igrejas que necessitam de redenção!  Já não tenho pachorra para tolerar  "superioridades" espirituais que mais parecem apontar para  regimes de castas sublinhadas por particularismos pontuais que marcaram a vida da igreja de todos os tempos. Sou cristão-pentecostal, sim, mas  não tenho isso como fundamental ou como matriz diferenciadora da minha fé ou do meu comportamento cristão. Não julgo que haja qualquer virtude cristã especial em ser pentecostal, em ser batista, presbiteriano, etc. Somos todos, se efectivamente somos, um em Cristo, nada mais. Não faço  leituras ou exegeses abusivas da Bíblia Sagrada que tenham em vista aprisionar onde o evangelho libertou.

Noutro domínio, já não tenho paciência para governos de esquerda, de direita e menos ainda de centro direita. Cansam-me as causas fracturantes da esquerda e os populismos da direita; a vacuidade das falsas  ideologias que nos faz andar em círculos subindo na escala da babel dos ódios de estimação. Prefiro causas sociais,  pessoas reais, trabalhadores, empresários e sindicalistas sérios, que não vêm o capital como o fim último dos seus interesses ou dos seus combates, mas as pessoas, o povo, a nação, como fim último do seu trabalho . 

Chateia-me Olivença e os seus amigos portugueses em romaria anual a lembrar aos espanhóis que lá vivem que aquilo já foi português. A guerra de fronteiras encerrou-se há muito na península ibérica e os "fantasmas", como é sabido, não gostam de Espanha; preferem os ares mais taciturnos deste lado da fronteira onde os touros nunca andam em pontas e a investida é sempre mais dócil porque nada se arrisca.

Perdi a paciência com um país de penacho onde as pessoas se tratam por doutores e engenheiros como se título académico fosse nome próprio ou apelido de pai ou mãe. Esgota-me a paciência  ver uma justiça onde muitos  juízes prendem  polícias e soltam  ladrões. É bem provavel que tenham cabulado no exame de acesso à profissão...

Não dá mais para suportar o eterno desprezo a que é votada a cultura em Portugal, que hostiliza Nobeis portugueses, raros, como sabemos, e os deixa morrer fora de portas apenas porque são polémicos ou incovenientes para as oligarquias do regime. Menos paciência tenho  ainda para tolerar uma cultura-de-faz-de-conta-que-é-mas-não-é  promovida por quem não sabe respeitar um povo que se soube afirmar contra ventos e tempestades e onde falta uma nova geração de Avis que recoloque Portugal no lugar que é seu no concerto das nações.


Jacinto Lourenço   

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Comunidades Judaicas Portuguesas na Idade Média


( Sinagoga de Belmonte - Portugal )


Desde o fim do Império romano que uma minoria judaica existia no território que depois veio a ser Portugal.

Aquando da fundação da nacionalidade, em 1143, esta minoria já se encontrava disseminada em algumas localidades importantes como Santarém que possuía a mais antiga sinagoga nacional.

A população judaica aumentava, favorecida com a necessidade que os primeiros reis (século XII) sentiam de povoar o território que ia sendo conquistado aos mouros.

Em todos os locais em que o número de judeus superava a dezena, era criada uma comuna ou aljama cujo centro organizacional era a sinagoga. O seu sino chamava os fiéis não só à oração como também para lhes fornecer qualquer informação vinda do rei ou qualquer decisão tomada pelo rabi-mor. A sinagoga era a sede do governo da comuna.

Já no século XIII, D. Afonso II legisla (Ordenações Afonsinas) as relações entre cristãos e judeus pois estas começavam a criar dificuldades à minoria. Quer isto dizer que: os judeus não podiam ter serviçais cristãos sob pena de perda de património; qualquer judeu converso ao cristianismo que retornasse à religião original podia ser condenado à morte; não podiam os judeus ocupar cargos oficiais de modo a que os cristãos não se sentissem prejudicados.

Na época do Rei D. Dinis cada comuna tinha uma ou mais judiarias. Neste tempo, o rabi-mor tinha delegado seus, chamados ouvidores, nos principais centros judaicos do pais: Porto (Região de Entre Douro e Minho); Torre de Moncorvo (Trás-os-Montes); Viseu (Beira); Covilhã (Beira/Serra da Estrela); Santarém (Estremadura); Évora (Alentejo) e Faro (Algarve). Estes ouvidores exerciam verdadeira jurisdição sobre todas as comunidades judaicas nacionais.

A sinagoga era um local tão importante do ponto de vista religioso (como era a igreja para os cristãos) quanto civil; era lugar de assembleia e reunião dos membros da comuna.



Fonte:  Rede de Judiarias de Portugal

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Esta Europa que nos Divide...


Quando vimos e ouvimos os actuais responsáveis da União Europeia falar na televisão, ou quando lemos o que dizem na imprensa, ficamos convencidos de que vivemos um momento histórico único na europa. E esse momento histórico é desde logo marcado por ninguém saber do que fala quando fala de União Europeia, duas palavras desunidas que não passam neste tempo presente de uma metáfora da União sonhada nos anos cinquenta e sessenta.

Vem um responsável e diz que Portugal não é a Grécia,  que são países muito diferentes e com realidades diversas. A novidade sobre isso é zero; já o sabemos  desde que nascemos. Depois outros responsáveis da dita União vão a Espanha ou à Irlanda ou a Itália ou até à Grécia e dizem-lhes exactamente o mesmo, que Itália não é Portugal, que Espanha não é Itália que Portugal não é Espanha, blá, blá, blá, blá, lá, lá...

Ora o povo simples e humilde que vive em cada um dos países desta europa,  que nos querem "vender" como União, pergunta-se todos os dias o que é que significa este discurso. Supostamente, os líderes europeus deviam andar a pregar a "unidade" da europa e não o contrário. Todos nós sabemos que cada país europeu, para o mal e para o bem, é uma realidade distinta, com fronteiras marcadas a nível cultural, social, económico, político, etc . Mas também pensávamos que o papel dos responsáveis da União Europeia seria pegar nesta manta de retalhos a que se chama europa e tentar que as diferenças políticas e sociais fossem amenizadas no sentido de que se conseguisse falar efectivamente de União Europeia e que isso tivesse algum impacto, em primeiro lugar dentro de portas, e depois nas outras regiões do mundo, permitindo que quando daí se olha para a europa pudessem fazê-lo com alguma consideração e respeito. O que se passa é precisamente o contrário: na China ou nos Estados Unidos, eu imagino que quando se fala nos corredores do poder, os políticos chineses ou americanos desatem a rir perdidamente e felizes da vida por haver uma europa que não se entende, facto que lhes é manifestamente favorável do ponto de vista económico e social.

Em lugar de trabalharem para o entendimento, solidariedade e unidade dos europeus, os actuais líderes da União Europeia, procuram sublinhar as diferenças de cada um, dividindo o que ainda resta. Ora isto contraria o espírito e objectivo com que a União Europeia foi criada e está a minar, todos os dias, os ténues laços que até há poucos anos ainda podiam fazer pensar numa europa, respeitadora sim das culturas e idiossincrassias próprias de cada povo mas  que pudesse apresentar-se ao mundo unida e com uma voz forte no concerto das nações. Assim, não vale a pena nenhuma união, pois a que temos só serve para afundar os países com mais dificuldades em se afirmarem neste mundo global em que vivemos. A solidariedade desta União Europeia é feita do mais reles "cimento" que a história conheceu: o dinheiro, que foi eleito o rei da turba no domínio dos ricos pelos pobres.

Portugal, Grécia, Espanha, Itália, Irlanda, e outros que se seguirão, estão na arena deste coliseu europeu a enfrentar feras capitalistas sem rosto nem alma. Cada um destes países quer mostrar que é melhor que o vizinho do lado e defender-se à sua maneira. Ninguém confia em ninguém e toda a gente se defende como pode. Enquanto as feras atacarem o parceiro, "está-se bem".  No meio da turba, que assiste ao combate feroz, sentam-se Alemanha, França, Inglaterra e outros que compraram os melhores camarotes com uma vista  soberba para a destruição a que vão assistir. O sangue dos povos já jorra na arena, mancha-a de vermelho. Nas bancadas goza-se o espectáculo, o dinheiro corre de mão em mão; fazem-se apostas sobre quem vencerá ou sobre quem resistirá mais tempo. O festim promete e é acicatado "solidariamente" por quem organizou as festas. No final as feras capitalistas irão reclamar novas vítimas na arena.


Jacinto Lourenço

terça-feira, 12 de julho de 2011

" A tentativa de reintegração do Brasil (1823-1824) "


( D. Pedro de Souza & Holstein, Duque de Palmella, (gravura de Richard James Lane, sl.: s.n., ca. 1850 )


Na sequência do golpe de estado Vila francada, levado a cabo pelo infante D. Miguel nos dias 27 de maio a 3 de junho de 1823, foi nomeado um novo governo, conhecido como o governo dos inauferíveis direitos, na medida em que restituía ao rei D. João VI os direitos reais abolidos pela Constituição de 1822. Nesse governo estava o conde de Palmela na pasta dos Negócios Estrangeiros, que nas suas memórias descreve como sendo um dos objectivos primordiais do governo o regresso do Brasil ao domínio da monarquia portuguesa, objectivo. Só pela via diplomática Portugal poderia obter alguma vantagem nesse negócio, devido à situação económica e política débil e ao nítido favorecimento inglês à independência brasileira, condicionalismos que dificultavam a via militar como solução.

Descreve-nos o Duque de Palmela nas memórias: «A primeira tentativa, que naturalmente lembrou, foi a de solicitar a intervenção do Imperador da Áustria. Este, na qualidade de sogro do príncipe D. Pedro, interessado por isso na sua fortuna e bom nome, assim como pela sua condição de Soberano Legítimo, também devia influir na sustentação dos direitos da Coroa Portuguesa e parecia mais que ninguém indigitado para intervir nesta questão de um modo eficaz. O Gabinete austríaco, porém, contra a expectação de Portugal, recusou-se à intervenção solicitada, e conhecendo eu que esta recusa provinha do receio de ciúmes no Gabinete inglês, resolvi alterar o primeiro pedido e solicitar a mediação da Áustria conjuntamente com a Inglaterra, na esperança de neutralizar por este meio a parcialidade do Ministério inglês. Aceita esta proposta, entabulou-se em Londres uma negociação entre plenipotenciários portugueses e brasileiros debaixo da mediação do ministro britânico e do ministro austríaco. [...].


Ler Texto integral AQUI no Blogue de História e Estórias

domingo, 10 de julho de 2011

A Actualidade dos Dez Mandamentos



"...Na nossa sociedade, tende-se a substituir a noção de 'estrutura' pela de 'rede'. É que, "ao contrário das 'estruturas' de outrora, cuja razão de ser era vincular com laços difíceis de desfazer, as redes servem tanto para ligar como para desligar". Por isso, Baumann contrapõe 'liquidez' e 'solidez' das instituições. Afinal, "instituições sólidas, no sentido de duráveis e previsíveis, constrangem, mas ao mesmo tempo tornam possível a acção dos agentes".

Pessoalmente, mais do que a imoralidade preocupa-me a amoralidade. Porque, quando tudo vale, nada vale, pois tudo é igual. Uma sociedade sem convicções e valores comuns partilhados não tem futuro, porque lhe falta horizonte e sentido. Por isso, fonte maior de mal-estar hoje está na falta de critérios de valor e de orientação.

Neste contexto, a revista alemã Stern publicou um dossier subordinado à pergunta: "Os Dez Mandamentos estão ultrapassados?" Significativamente, políticos como o actual ministro federal das Finanças, W. Schäuble, realizadores como Wim Wenders, filósofos como Peter Sloterdijk, declararam que eles continuam vivos e actuais. De facto, quem negará actualidade a preceitos como: "Não farás imagens de Deus, mas respeitarás a dignidade de todos os seres humanos, sua imagem", "Não matarás", "Não cometerás adultério", "Amarás os filhos e respeitarás os pais", "Não roubarás", "Não viverás à custa dos outros", "Serás justo com todos", "Protegerás a natureza", "Assumirás as tuas responsabilidades"?

Referindo-se-lhes como um compêndio da sabedoria humana, acumulada ao longo de séculos, o grande escritor Thomas Mann disse que eles são "manifestação fundamental e rocha da decência humana", "o ABC da conduta humana". [...]



Prof. Anselmo Borges


Ler texto integral no Diário de Notícias Online

sábado, 9 de julho de 2011

O que é que Hitler Precisaria ter Feito mais para que lhe fosse Retirado este título 70 anos antes ?! Dá que Pensar esta Mentalidade austríaca...



O conselho municipal de Braunau am Inn (noroeste da Áustria), a cidade natal de Adolf Hitler, decidiu por unanimidade retirar ao líder nazi o título de cidadão honorário, foi hoje anunciado num comunicado.

Em 1938, pouco depois da anexação da Áustria pela Alemanha nazi, Braunau homenageou Hitler atribuindo-lhe a condição de cidadão honorário.

Mais de sete décadas depois, 66 anos depois da morte de Hitler, o conselho municipal de Braunau revogou esse estatuto para "enviar um sinal claro" ao mundo de repúdio pelo regime nazi, declarou em comunicado o presidente da câmara local, Johanes Waidbacher, citado pela agência France Presse.

"O conselho assumiu a sua responsabilidade política e histórica", acrescentou Waidbacher.

Várias cidades austríacas conferiram a Hitler distinções semelhantes. Nos últimos meses, gerou-se uma polémica na Áustria porque o partido FPO (extrema-direita, liderado nos anos 90 por Jorg Haider) se recusou a apoiar decisões municipais de revogar as homenagens a Hitler.

Os membros do FPO de Braunau, contudo, votaram a favor da moção para retirar a Hitler o título de cidadão honorário.



Uma Comunidade Científica Judaica no Alto Alentejo



No Alto Alentejo, pelo menos desde fins do séc. XIV, estavam em crescimento alguns núcleos populacionais de origem judaica, das quais as chamadas Ruas Novas contribuíam para um novo traçado, como são exemplos, a então Vila de Elvas ou as vilas próximas desta, como eram os casos particulares das vilas de Estremoz e Vila Viçosa. Na centúria seguinte, Castelo de Vide, Campo Maior, Sousel e Fronteira tornavam-se outros núcleos de população judaica em função das constantes fugas de inúmeras famílias que face à violência da inquisição Espanhola, mais cruel que a Portuguesa, determinava a procura dos espaços da raia de portuguesa como locais de refúgio por excelência. Nesse contexto, Campo Maior e Elvas tornaram-se importantes “centros de recepção” dessas populações em fuga: em Elvas o número de fugitivos aproximou-se dos 10.000, que apesar de tudo estava longe do número de fugitivos do número atingido em locais mais a Norte do País, como Miranda que atingiu o triplo do número de refugiados daquela ainda vila raiana da região do Caia. [...]


Por Arlindo Sena


Ler texto integral no blogue Por Terras de Sefarad

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Como a TVE mostra Portugal em Espanha

Não será tempo perdido ver este documentário sobre Portugal produzido e realizado pela TVE e apresentado aos tele-espectadores espanhóis. Talvez ajude a sublimar muitos preconceitos na mentalidade lusa. Não vi até hoje a RTP fazer algo semelhante em relação a Espanha. Nos tempos que correm nesta europa confusa, não seria má ideia procurarmos identificar nos nossos vizinhos ibéricos aquilo que nos aproxima e depois analisar o que nos afasta. Uma maior, mais ampla, franca e  concertada aproximação dos dois países ibéricos seria uma boa forma de resistir ao eixo franco-alemão e seus associados da europa central que, com o seu potente vórtice, quer engulir e liquidar as economias mais frágeis da periferia europeia. Afinal, ao longo da história da Ibéria, quem mais nos prejudicou nem sequer foi Castela; com os castelhanos, as lutas e batalhas foram, à semelhança do que se passava um pouco por toda a europa, territoriais e de afirmação da nacionalidade e das fronteiras. Mas o   nosso principal  "inimigo", o que nos sugou o que de melhor tivémos em termos de recursos económicos, esteve sempre para lá da Mancha, embora nos queiram fazer digerir o contrário com a estória da "mais velha aliança do mundo", que é , como dizia um conhecido meu, "conversa para boi dormir". Quando vinham até cá  os  exércitos ingleses não era para nos defenderem a nós; o que  os ingleses defendiam era o seu lucrativo negócio e o muito ouro brasileiro que rumou a Inglaterra e só por isso lhes convinha Portugal longe de Espanha e de França, mesmo sendo certo que isso contribuiu para a nossa independência, o preço foi demasiado alto e ainda hoje o estamos a pagar.


Jacinto Lourenço



Portugal na TVE from Nuno Costa on Vimeo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O Pobre os Abutres e a Alemanha...



Quando anda de metro, ouve os músicos que andam por lá a tocar? A resposta é não, não ouve - ou raramente ouve - e eu sei que é assim por experiência própria, mas também porque o maior diário de Washington (o Post) levou o virtuoso violinista Joshua Bell a uma das linhas de metro mais concorridas da capital americana e pediu-lhe que tocasse as peças que tocara na semana anterior no Teatro de Boston, onde cobrara cem dólares por bilhete. Como seria às 07.45 no metropolitano de Washington ?
Joshua Bell não só tocou o repertório que tanto sucesso arrebatara em Boston - o melhor Bach - como se exibiu empenhadamente durante uma hora. No entanto, nem o violino, avaliado em 3,5 milhões de dólares, nem a qualidade das notas musicais despertaram o interesse das duas mil pessoas que passaram: apenas seis pararam e só 20 depositaram uma contribuição no estojo do violino. Conclusão: o conteúdo é importante, mas o contexto é essencial.[...]


Por André Macedo



Ler texto integral AQUI no Diário de Notícias Online

Uma Babel Económica



Já o disse anteriormente, tenho paixão pelo mediterrâneo, pela história do mediterrâneo  e pelas culturas mediterrânicas. Gosto da comida mediterrânica, das pessoas do mediterrâneo e da forma descontraida como os mediterrânicos, em geral, encaram a vida. O mediterrâneo, quando não esteve no centro,  ficou próximo dos lugares que viram nascer a  civilização ocidental, tal como a conhecíamos, pelo menos,  até há pouco tempo.


Não gosto de assistir ao que está a acontecer aqui, nesta região berço de civilizações. Por tudo  isto , é com grande apreensão que vejo  alguns países desta região do mundo, nomeadamente Portugal e Grécia (e os mais que se lhe seguirão), países de seculares culturas e desbravadores de mundos, serem achincalhados e enxovalhados por uma "nova civilização" que se ergue hoje em nome de um capitalismo completamente selvagem, desregulado e terrorista e que ataca ferozmente esta zona do mundo munido de argumentos obscuros e indecifráveis ao serviço de interesses igualmente obscuros que já não se contentam apenas com empresas ou organizações; o seu alvo são países e  regiões, as pessoas não contam neste jogo de cifrões, o seu objectivo é  proceder à liquidação para dominar por completo as  economias. Quem está por detrás disto ? Há quem lhe chame "mercados", que no fundo nada mais são do que especuladores particulares da alta finança, grandes bancos, fundos de pensões de várias origens, fundos de investimento, etc que perderam todo o pudor  e atacam inescrupulosamente a coberto de alegadamente estarem apenas a fazerem negócios. Gente que não está interessada em gente, culturas ou história dos povos que vivem nos países que têm na mira para  liquidar afim de  poderem depois comprar a preço de saldo. Não, nada disso lhes interessa, o seu interesse resume-se a poucas  palavras: "lucro", dinheiro, mais valias desonestas e especulativas a troco de vidas e nações hipotecadas. Esta "nova civilização" que se ergue em cima dos destroços de milenares países ataca ferozmente usando modernos aríetes, a que  dá o nome de "agências de rating", para derrubar as frouxas defesas de nações  pouco preparadas para sobreviver neste contexto de economia globalizada e mais ainda se os respectivos governos não conduzem políticas que possam obviar ou minimizar os impactos desse mundo global da economia .


A União Europeia, dominada por países da europa central que compõem o  eixo franco-germânico e anglo-saxónico, e agregando países satélites que se regem pela mesma cartilha, porque lhes interessa dizer o que o eixo diz, numa atitude de bajulação política e económica, está confortável com a situação; joga em dois tabuleiros e faz a economia correr a seu favor, ofende os mais fracos, chamas-lhes calaceiros, desorganizados,  para além de  outros epítetos menos favoráveis. Integra a "nova civilização" global que lucra com a situação,  e  usufrui do melhor que o mundo mediterrânico lhe oferece: sol, boas praias, boa comida mediterrânica, cultura, gente simpática, relaxe e bons hotéis, enfim, boa vida que o dinheiro pode comprar aqui à beira deste velho mediterrâneo, e o dinheiro, como é bom de ver, não tem rosto nem alma ou coração, gasta-o quem o tem e ninguém perguntará como o obteve, mesmo que venha sujo. Mas construir uma "nova civilização" baseada no poder do dinheiro comporta riscos elevados, desde logo porque o dinheiro é como "um cão que não conhece o dono"; deixa-se afagar facilmente por qualquer mão  sem se afeiçoar a ninguém. 

Esta "nova babel" económica vai cair com estrondo, porque,  parafraseando  o adágio, o sol não é propriedade particular de ninguém e a europa corre um sério risco de, a breve prazo, se a situação não se inverter,  dividir-se em dois perigosos blocos: o norte rico e o sul pobre. A miséria ou a opulência nunca serão boas conselheiras quando o que se pretende atingir é um maior nivelamento económico.   As políticas económicas e sociais na União Europeia têm que ter obrigatoriamente em conta a realidade de todos os países e não apenas do grupo restrito dos mais ricos. Se o objectivo não for esse, então é melhor voltar à primeira forma europeia de cada país com a sua realidade e as suas fronteiras procurando cada um o seu próprio caminho  para o desenvolvimento e bem estar das populações numa via pacífica e harmoniosa em respeito por todas as outras nações. No fundo, foi o que faltou neste mundo globalizado, nesta  "nova civilização": respeito pelos diferentes povos e pelas suas realidades, o respeito que não pode ser medido pelo maior ou menor grau de riqueza ostentado. Portugal e Grécia, Espanha, Itália e mesmo Irlanda, merecem no mínimo o respeito pela sua história e por tudo aquilo que já deram, e podem ainda vir a dar ao mundo e à Europa, mesmo se cometeram erros que os ajudaram a cair na situação económica e social em que se encontram .  


Jacinto Lourenço    

quarta-feira, 6 de julho de 2011

100 Segredos do Vaticano


Cem valiosos documentos guardados no Vaticano e datados de entre os séculos VIII até ao século XX, serão expostos ao público pela primeira vez numa exposição designada "Lux in arcana". Parte dos arquivos secretos do Vaticano estarão à vista do público em geral nos Museus Capitolinos de Roma em Fevereiro de 2012.


"Lux in arcana" ( Luz sobre o mistério ) foi apresentada pelo cardeal secretário de estado, Tarcísio Bertone, pelo presidente da Câmara de Roma, Gianni Alemanno,  e pelo  prefeito do arquivo secreto, o bispo Sergio Pagano, por ocasião do 400º aniversário da fundação deste arquivo pelo papa Paulo V em 1612.


Entre os documentos que vão ser expostos destacam-se as actas do processo de Galileu Galilei (1612-1633 ) que contêm toda a documentação anexada pelo tribunal do Santo Ofício [...]



Ler texto integral, em castelhano, AQUI no jornal El Mundo  

terça-feira, 5 de julho de 2011

A Chegada dos Meninos Judeus



 ...De repente, en el andén de la estación, sobre la nieve y entre los árboles cubiertos de nieve, apareció un grupo de niños judíos, unos quince más o menos, mirando a su alrededor, con cara asombrada, mirando los cadáveres apilados como troncos de árboles ya podados y apilados al borde de las carreteras, esperando ser transportados a otro lugar, miranod los árboles y la nieve sobre los árboles, mirando como solo miran los niños. Y los S.S. al principio parecían molestos, como si no supieran qué hacer con aquellos niños de ocho a doce años, poco más o menos, aunque algunos, por su extrema delgadez y la expresión de sus rostros parecieran ancianos.[...]


Ler texto integral, em castelhano, AQUI no blogue Yad be Yad 

segunda-feira, 4 de julho de 2011

As Águas não Fervem Abaixo do Equador...


Às vezes queremos iludir-nos e obliterar a triste realidade de que o    mundo em que vivemos dificilmente alguma vez irá ser      diferente.                                


Passada a infância, em que as preocupações são coisas que competem aos adultos e as nossas maiores realizações não vão além de sonhar um mundo à medida das nossas brincadeiras, entramos na adolescência brutalizados pela descoberta de que nada é como imaginámos na infância e os adultos, principalmente os nossos familiares mais próximos, são pessoas que "só querem o nosso mal" para além de insitirem em  adiar ad eternum o cumprimento dos nossos sonhos que passam, em primeiro lugar, por proclamar a liberdade do corpo que nos aprisiona a mente e o coração. Chegados à juventude, a tendência é normalmente a agregação a quem queira connosco partilhar a rebeldia e a revolta contra esse mundo adulto, feio e cinzento; a única coisa que desejamos dele é a liberdade de actuação que nos pemitirá, supostamente, seguir o nosso caminho conjuntamente com todos aqueles que o quiserem fazer connosco.


Atingida a idade adulta e,  confrontados com a realidade da vida, percebemos que o mundo é uma coisa muito pior do que alguma vez  imaginámos. Mas já não temos disponibilidade para o "fazer de conta" das bricadeiras de infância,  e a adolescência, percebemos agora, é uma época a que não queremos voltar por demasiado repetitiva e monótona face à prisão em que um corpo que estranhámos nos obrigou a viver. Também já não temos vontade nem dinâmicas que suportem a rebeldia juvenil embora desta tenham  sobrado algumas  quimeras que ainda levamos para a idade adulta afim de podermos afirmar que estamos vivos e que temos esperança no futuro.


Mais coisa, menos coisa, a vida e o mundo foram sempre percepcionados assim. Embora seja verdade que há sempre um grupo de gente mais ou menos alargado que nunca desistiu de o pensar de forma diferente, especialmente os inconformados com o padrão que condiciona a vida a alguns automatismos universais herdados de antanho. É por isso que se batem por fazer diferente, por experimentar, por analisar, por ensaiar novas fórmulas, por aplicar novas hipóteses à realidade correndo naturalmente o risco de errarem algumas vezes antes de atingir o sucesso. É aqui, neste grupo, que eu desejo estar. E é por isso que rejeito formatações impostas quando pergunto porquê e me respondem  apenas, porque sim, mesmo que por muito experimentadas, tais formatações   não prescindo de pensar por  mim próprio ainda que isso me leve a não estar do lado de alguma maioria pensante, padronizada sabe-se lá com que intenções. Mas  errar, pedir desculpa, e voltar ao início para fazer de novo é igualmente hipótese que não desprezo. Nunca pretendi o domínio da verdade ou a exclusividade da opinião.


O princípio a que obedece a observada triste realidade em que o mundo assenta é o da aceitação de que nada pode acontecer de melhor porque "a vida é mesmo assim". E Isso mata-nos lentamente, retira-nos capacidade de pensar, de fazer diferente, de corrigir, de rejeitar de ideias feitas que não têm sentido nenhum, mesmo que tenham servido muito bem para um tempo determinado, para pessoas que viveram num  contexto  passado.


Eu acredito que o mundo, encarado aqui como uma realidade astrofísica, um "ponto" no universo enquadrado numa regência universal, não irá sofrer grandes alterações a não ser as que lhe forem ditadas pela "gestão divina". Mas na superfície desse pequeno "ponto" integrado no vasto ambiente do universo  o homem, a mulher, o ser humano têm em si não só a capacidade de mudança do mundo como a necessidade de a fazer. Fomos criados com a natureza de Deus e aquilo que sabemos é que o Senhor que nos criou ensaiou diversos começos connosco e deu-nos total liberdade para ensaiarmos e experimentarmos a mudança para melhor. O mundo, visto como uma  realidade, geográfica, povoada por biliões de seres humanos e todo um conjunto de outros seres,  só mudará quando nós o mudarmos. Somos nós, cada homem, cada mulher, o factor fundamental da mudança e de correcção do que não fazemos bem. Mas haverá sempre gente que nunca quererá mudar, ne ousar mudar a realidade à sua volta; por egoísmo, por medo, por burrice, por incapacidade, ou apenas porque não quer porque isso irá "abalar" a sua pequena "zona de conforto". "O mundo pula e avança", como no poema de António Gedeão, quando acontece a mudança.


Na antiguidade acreditava-se que abaixo da linha do equador as águas do oceano ferviam e que isso seria mortal para quem ousasse passar daí; era o que se pensava face à realidade do aumento da verificada temperatura da água sempre que se navegava mais para sul. Os navegadores portugueses, que analisaram, estudaram, cartografaram e ousaram, provaram que isso era impossível e que não passava de mais uma ideia feita como tantas outras. Derrubaram o mito ! Eram homens com os mesmos receios que os outros, mas com uma diferença: queriam contrariar a virtual aparência do que os seus olhos viam ao perto ou das imagens de ilusão que outros carrearam através de fábulas antigas assentes em medos ou vantagens que alguns, noutro tempo, retiravam desses medos e por isso as faziam perpetuar. Os navegadores portugueses apostaram na mudança, no rompimento de "verdades absolutas"  fabricadas pelo stato-quo da época. No desafio de si próprios. Num virgem começo nunca tocado pela mão de homem algum. Feriram em definitivo o absurdo e a imbecilidade.


Cada época, cada tempo tem os seus mitos e alimenta monstros que querem contariar todos os que desejam a mudança e não pretendem  ver-se formatados ou conformados com um mundo feito muitas vezes pelo domínio da estupidez  de tantos que usam o medo e o mito como armas que lhes garantam domínio e preponderância nem que seja no seu "pequeno quintal". São os exibicionistas do situacionismo. Os fariseus do tempo que corre. "Os sepúlcros caiados", muito branquinhos e imaculados por fora mas  plenos de morte por dentro. Vida é mudança e novos começos, novas visões, novas possibilidades para pessoas que não querem uma sorte mesquinha ditada por  artimanhas, truques, situacionismo, hipocrisia e cinismo, maldade,  morte fingindo que é vida. Jesus traduziu isso na frase "Eu Sou a Ressurreição e a Vida".


Jacinto Lourenço

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O Amigo em Quem Confiamos



Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.

 Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.

 Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos dei a conhecer.


Palavras de Jesus no evangelho de João, cap. 15

* * *

Todos os anos, quando folheamos a agenda dos nomes, somos, de repente, confrontados com a falta deste e daquele, desta e daquela. Afinal, no ano passado, ainda cá estavam e agora já cá não estão. E alguns - os amigos - a falta que nos fazem! É como se - quem o disse de forma inultrapassável foi Santo Agostinho, ao escrever, nas Confissões, sobre o amigo que partira - uma parte de nós estivesse morta. Também morremos com eles. Sem eles, como a vida se empobreceu!

Claro, refiro-me aos amigos mesmo. Porque, se temos saudades dos conhecidos, sem os amigos a vida já não tem o sabor que tinha. Ah! Sim, os amigos e não os simplesmente conhecidos. A amizade supõe três condições essenciais: a benevolência, a beneficência e a confidência. Querer bem - quem é que não quer bem ao amigo? Fazer bem - quem é que não faz bem à amiga? Mas a benevolência e a beneficência pertencem, de modo mais ou menos intenso, a toda a Humanidade: devemos querer bem e fazer bem a todos os seres humanos, na medida do possível. Mas o que caracteriza a amizade mesmo é a confidência: há aqueles e aquelas - muito poucos - em quem confiamos, com quem nos abrimos e que confiam em nós e se abrem a nós, com a certeza de que encontramos compreensão e de que não seremos traídos no nosso segredo mais íntimo nem eles serão atraiçoados no seu. Como seria possível a vida humana enquanto humana sem os amigos?




Prof. Anselmo Borges in Diário de Notícias de 31 de Dezembro de 2006