quinta-feira, 21 de abril de 2011

A Resiliência da Vida


Gosto de sol e do Sol. Apaixonam-me todas as coisas que estão criadas na natureza bem como a sua cíclica renovação. A criação de Deus, passados tantos milénios, continua a espantar-nos pela sua beleza e utilidade. Tudo tem o seu tempo, tudo vem no seu tempo, nem antes nem depois. A natureza dá-nos todos os dias lições de recriação e reivenção da vida demonstrando  capacidade de adaptação às piores condições e ressurgindo no seu explendor mesmo após grandes agressões ambientais. Mas, espantosamente,  olhamos à nossa volta e tudo nos parece muito frágil.

Somos facilmente enganados se olhamos apenas para a aparência das coisas. Na verdade, a resiliência da natureza é a sua maior força. Tudo aquilo que foi criado por Deus transporta em si a marca da capacidade de resistir mesmo no meio da adversidade. É por isso que, apesar de eu não gostar da chuva e das nuvens negras que a trazem, compreendo a sua utilidade. Sei que depois disso o Sol romperá e a terra húmida cobrir-se-á de flores multicolores e arbustos verdes e resistentes. O Sol dá tempero a toda uma vida que brota após a invernia que nos parece sempre feia.

Não gosto de chuva, gosto de sol. Mas compreendo que, depois da chuva e das nuvens negras e feias, estou muito mais apto para receber o calor da vida e a olhar, com olhos de viver, o que Deus me serve a cada estação, numa plenitude de matizes diversos e cambiantes inesperados num caminhar ao compasso da regularidade e certeza divina.

Se olharmos a natureza com atenção talvez ela nos dê conselhos úteis transportados por cores e cheiros. Revelações do tempo e como vivê-lo sabendo extrair-lhe todo o potencial faça Sol ou chuva, sabendo que no final de uma estação, outra lhe toma o lugar carregando novas expectativas e oportunidades de vida.


Jacinto Lourenço

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Vem o FMI, o FIM vem...




( Fonte: Por Terras de Sefarad )




terça-feira, 19 de abril de 2011

1506, Largo de S. Domingos, Lisboa - Uma Jornada de Horror




19 de Abril de 1506. Neste dia aconteceu em Lisboa o maior massacre de cristãos-novos alguma vez ocorrido em Portugal.

Durou três longos dias, e mais de duas mil pessoas foram assassinadas nas ruas da cidade.





Fonte: Por Terras de Sefarad



domingo, 17 de abril de 2011

Bendito o que vem em Nome do Senhor




No dia seguinte, as grandes multidões que tinham vindo à festa, ouvindo dizer que Jesus vinha a Jerusalém,
tomaram ramos de palmeiras, e saíram-lhe ao encontro, e clamavam: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o rei de Israel !

( Lucas 12:12,13 ) 


Não era a primeira vez que Jesus estava em Jerusalém mas agora o Senhor sabia que iria ser diferente, alguns dias depois do domingo que passaria para a tradição cristã como o domingo de ramos, esta glorificação que lhe era prestada pelas multidões à entrada da cidade redundaria em sacrifício e morte para Cristo.

O trajecto terreno de Jesus teria terminado cinco dias depois de Ele ter acedido a Jerusalém e a história dos hebreus registaria apenas, se registasse,  que por aqueles dias,  um  jovem rabi, com um grande dom de oratória e que até operara  alguns  milagres,  fora  considerado culpado por blasfemar do nome de Deus e que o Sinédrio o teria enviado aos romanos para que estes validassem a sua condenação e o  crucificassem. 

O dia que o cristianismo celebra hoje não existiria no calendário cristão se aquilo que se passou entre o domingo de ramos e o  domingo de páscoa fosse apenas  um mero episódio na história de um povo do médio oriente como tantos outros povos que por lá existem. O ministério de Jesus, pese embora a vontade dos judeus de então, não se quedou engulido por um sepúlcro. Cristo ressurgiu no domingo de páscoa e apareceu ressurrecto a muitos discípulos. Jesus não era apenas um simples rabi que falava muito bem e operara alguns milagres; Ele era o próprio Deus que tomara a forma de um homem para se dar em sacrifício vivo por todos os homens. 

A partir desse momento,  da ressurreição de Jesus, a história da humanidade mudaria para sempre. O relacionamento de Deus com os homens não voltaria a ser o mesmo; a páscoa  não mais seria apenas uma festa de ritualização, uma passagem.

Este tempo pascal que vivemos  faz parte da vida dos cristãos e indica a permanência do sangue de Cristo  naqueles que o aceitam como Salvador . E isto muda tudo; desde logo porque o acesso de todos os homens a Deus se passou a fazer sem a necessidade de qualquer intermediário. Ou seja: passámos, todos, a ter acesso directo a Deus num relacionamento íntimo e pessoal falando com Ele acerca de tudo o que faz parte da nossa vida e das nossas preocupações.

Cristo vive, aleluia, e isso é motivo de júbilo para todo o povo de Deus. Não precisamos usar mais de "vãs repetições" para com Ele porque o Senhor compreende a nossa linguagem e entende tudo aquilo que nos está na alma, mesmo até o que não lhe falamos. Não precisamos ter medo d'Ele, temos um Pai amoroso que conhece a nossa natureza. Temos um Senhor que tudo fez para se aproximar de nós e  devemos entender isso como uma Graça particular de Alguém que nos ama profundamente. Afinal, foram as suas mãos que nos modelaram. O salmista disse: "As tuas mãos me fizeram e me formaram; dá-me entendimento para que aprenda os teus mandamentos". É isto que Deus requer de nós, o entendimento da sua obra, da Sua Palavra que se projecta em cada ser humano. Foi por isto que Cristo foi à cruz, morreu e ressuscitou. A páscoa cristã, não é apenas um episódio histórico, é a verdadeira história e operação de Deus em movimento e que ninguém poderá parar, mesmo que a queiram negar.


Jacinto Lourenço



sexta-feira, 15 de abril de 2011

"Se Portugal quer Ser um País livre, tem de Sair da zona Euro"



Markus Kerber é professor de Economia Política na Universidade Técnica de Berlim. Conhecido pelas suas opiniões controversas no que diz respeito à resolução da crise na zona euro, Kerber faz parte do grupo de 52 economistas e juristas alemães pertencentes ao grupo de pressão Europolis que apresentou uma providência cautelar no Tribunal Constitucional da Alemanha para travar a participação alemã no empréstimo a Portugal. O grupo já tentou o mesmo com a Grécia e a Irlanda.



Se esta acção tiver sucesso, não exercerá mais pressão sobre Portugal?

Não ser resgatado não criará mais pressão sobre Portugal. Esta acção não é contra Portugal. Se Lisboa não receber o resgate, será livre para abandonar a zona euro e conduzir a sua própria política. Se forem resgatados, receberão dinheiro da União Europeia e do FMI (Fundo Monetário Internacional), o que tornará Portugal um protectorado.



A única solução para Portugal é sair do euro?

É óbvio que Portugal não conseguirá restabelecer o seu crescimento económico e a sua competitividade no quadro da zona euro. As taxas de juro e a paridade do euro são simplesmente demasiado elevadas para Portugal. As medidas de austeridade com que diferentes governos corajosamente avançaram vão criar mais recessão e não vão trazer Portugal para um caminho de crescimento. Estão a conduzir uma política económica pró-ciclíca, o que é um absurdo. Como querem voltar a crescer sem um sector público que gaste ou que, pelo menos, não corte tão severamente como tem feito? Portugal precisa de uma desvalorização competitiva e, como não o consegue fazer na zona euro, deve abandoná-la.[...]




Ler Texto Integral AQUI no jornal   i online

No País das Auto-Estradas...


Assisti ontem à noite à entrevista de Fátima Campos Ferreira a Belmiro de Azevedo. Por razões que não vêm para o caso, Belmiro de Azevedo não colhe a minha particular simpatia, embora não deixe de reconhecer o seu potencial empresarial.

O patrão da Sonae, ninguém o pode negar, possui a visão,  razoavelmente correcta, sobre aquilo de que Portugal precisaria neste momento, e no futuro, para o seu desenvolvimento e nisso recebe o apoio de pessoas a quem basta o senso-comum para chegar às mesmas conclusões.

As adesões de Portugal e Espanha à então CEE deram-se ao mesmo tempo em 1986 e foi interessante ver como os dois países evoluiram genericamente, desde então, nos sectores primários da economia.

Portugal recebeu dinheiro para reformular a sua agricultura e este foi entregue aos grandes e médios agricultores que trataram de o aplicar em  belos  montes e propriedades rústicas, especialmente no centro e sul do país, a que juntaram  jeeps de última geração. Entretanto as terras ficaram ao abandono ou rodeadas de cercas para onde se soltaram umas manadas de gado que apresentavam uma rentabilidade económica muito mais rápida do que a agricultura, um risco muito menor do investimento,  e custos infinitamente mais reduzidos com mão de obra quando comparados com os aplicados à  produção agrícola.

A Espanha recebeu dinheiro para desenvover a agricultura e transformou-se num dos maiores produtores mundiais de fruto-hortícolas, desistindo das culturas cerealíferas de sequeiro em extensão muito mais viáveis estas noutros países da europa central.

Portugal recebeu dinheiro para aplicar na modernização da sua indústria e o que fez foi distribui-lo pelos grandes empresários para que estes fechassem fábricas umas atrás das outras em lugar de as reconverterem como era suposto. PEDIP's e Fundos Sociais Europeus foram autênticos sacos azuis para onde o dinheiro da CEE foi desviado. Pintavam-se umas paredes de fresco, compravam-se uns computadores,  faziam-se umas formações de fachada, e assim se  justificaram,  durante anos, os fundos entregues aos industriais. Na verdade  as fábricas fechavam pouco  e as formações profissionais dadas às pessoas em doses "para cavalo" para pouco ou nada serviam para a melhoria dos seus desempenhos uma vez que os meios de produção continuavam obsoletos e a gestão das empresas tinha sempre como obectivo último as contas bancárias dos administradores ou accionistas maioritários. Os industriais e os seus amigos próximos, bem como outros quadros dirigentes, salvo raras excepções, passeavam-se  em automóveis de gama alta e jogavam golfe uns com os outros, enquanto o dinheiro continuava a escorrer placidamente para os seus bolsos. O rasto das fraudes cometidas com os fundos comunitários são ainda hoje uma herança  chocante e vergonhosa de  anos relativamente recentes.

Espanha recebeu fundos comunitários para a reconversão da sua indústria e tornou-se numa das principais potências industriais na europa e no mundo.

Portugal recebeu dinheiro comunitário para reconverter a sua frota pesqueira e este foi entregue aos armadores para abaterem os barcos existentes não os fazendo substituir por outros mais adequados ao tipo de pesca que havia para praticar e as pescas são aquilo que são em Portugal, para prejuízo evidente do país e dos pescadores que mal conseguem sustentar-se e às suas famílias.

Espanha recebeu igualmente fundos comunitários para a reconversão das suas pescas e construiu, quiçá, uma das principais frotas pesqueiras mundiais. Muito do peixe que hoje consumimos em Portugal é pescado por espanhóis, eventualmente em águas portuguesas.

O que é que ficou afinal, o que é que Portugal fez com os biliões que recebeu de fundos estruturais para recuperar do seu histórico e endémico atraso face aos parceiros europeus mais desenvolvidos, sim, porque era para isso que o dinheiro era enviado de Bruxelas para Lisboa ?! Há sim, pois, construimos as auto-estradas que iremos andar eternamente a pagar com língua de palmo enquanto o mundo for mundo... Mas aqui ao lado, em Espanha, também os construiram, para além de terem feito tudo o resto que nós fomos incapazes de fazer. Talvez porque achávamos que a partir da adesão à CEE íamos andar o resto da vida a ser sustentados pelos mesmos que agora se fartaram de nós e vêm, qual cobrador do fraque dizer que chegou o momento de pagar a factura da incompetência, corrupção  e indolência nacional alimentadas por gerações de políticos falaciosos, amigos dos seus amigos,  e empresários corruptos ou, no mínimo, demasiado espertos em artes de prestidigitação no que concerne a fazer desaparecer os fundos comunitários de forma a deixarem poucas marcas da sua trajectória; mas claro que tudo isso só podia ter sido  feito com a cumplicidade camuflada dos dirigentes políticos. 
Perante isto, eu só posso concordar que os tecnocratas da União Europeia têm razão  para exigirem condições rígidas na hora de colocar mais uns biliões na mão dos políticos portugueses; eles não são confiáveis e, para além do mais, até para a paciência há limites.
Qual é a solução para Portugal ? Simples, no meu entender: reconstruir tudo aquilo que se destruiu em 37 anos de demência colectiva. Indústria, Agricultura, Pescas. Quantos anos é que isso vai demorar ? Provavelmente muitos, mas pelo menos teremos ousado reconhecer que os "almoços nunca são grátis" e que se quisermos atingir alguma coisa teremos que lutar por ela,  e quanto mais cedo pusermos mão à obra melhor, não esquecendo de varrer dos orgãos de poder todos aqueles, partidos e políticos ( muitos ainda circulam por aí ) que nos conduziram a esta situação.


Jacinto Lourenço 

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Os Homens e as Suas Circunstâncias...


Ouvi ontem Otelo Saraiva de Carvalho dizer na televisão que, se soubesse o que sabe hoje, não tinha feito o 25 de Abril.

Eu compreendo o estratega do 25 de Abril  na sua mágoa. No fundo, todos nós, uns mais que outros,  conseguimos que uma ideia bonita e uma lufada de esperança e liberdade se tornasse naquilo que é hoje Portugal e que, em muitos aspectos, não nos dignifica.

Otelo Saraiva de Carvalho não deve no entanto esquecer que ele próprio tem grandes responsabilidades, no pós 25 de Abril, por aquilo em que se transformou este Portugal amargo que hoje temos. O homem, é ele próprio mais as suas circunstâncias. Se houve gente que não soube estar à altura das suas circunstâncias, Otelo estará seguramente nesse grupo em períodos distintos nos primeiros anos a seguir à Revolução dos Cravos. Mas mesmo assim, não deixo de lhe louvar, e a tantos outros militares de Abril, a coragem e ousadia que tiveram que encontrar para derrubar um regime político indigno. Não partilho  da mesma visão que Otelo faz passar sobre a oportunidade e importância do 25 de Abril para Portugal. Valeu a pena sim ! Contudo será bom que não esqueçamos algo que está sintetizado na mensagem que um dos principais operacionais da revolução que implantou a república em Portugal, o oficial da armada  Carlos da Maia, enviou por carta a João Chagas por essa altura :  "Uma revolução pode mudar as instituições, mas em nada alterou o carácter dos homens. Eles continuarão a ser o que eram: perversos e imbecis."


Pois é, e isso é uma coisa que só Deus pode mudar, assim cada um de nós lhe faculte a oportunidade para tal. O problema é que há muita gente que insiste e persiste em não querer fazer como Zaqueu, um cobrador de impostos que roubava o povo e os romanos e que por isso tinha enriquecido ilicitamente.

Tendo Jesus entrado em Jericó, ia atravessando a cidade. Havia ali um homem chamado Zaqueu, o qual era chefe de publicanos e era rico. Este procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, porque era de pequena estatura. E Correndo adiante, subiu a um sicômoro a fim de vê-lo, porque havia de passar por ali. Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa; porque importa que eu fique hoje em tua casa. Desceu, pois, a toda a pressa, e o recebeu com alegria.
Ao verem isso, todos murmuravam, dizendo: Entrou para ser hóspede de um homem pecador. Zaqueu, porém, levantando-se, disse ao Senhor: Eis aqui, Senhor, dou aos pobres metade dos meus bens; e se em alguma coisa tenho defraudado alguém, eu lho restituo quadruplicado. Disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, porquanto também este é filho de Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.

( Evang. Lucas Cap. XIX )





Jacinto Lourenço



New York Times: "Portugal não precisava de ajuda"


Difícil é entendê-los...


Afinal, ao que parece Portugal não precisava assim tanto de ajuda. Pelo menos, no «mar da inevitabilidade» da ajuda externa, defendido por um sem número de especialistas, surge uma «ilha» vinda dos EUA. O artigo do New York Times recupera a tese de que Portugal foi vítima dos mercados, lembra que há quem esteja bem pior que nós e ainda tem o «desplante» de afirmar que nos anos 90, Portugal teve uma «performance económica forte».

Robert M. Fishman, professor de sociologia na Universidade de Notre Dame, nos EUA, escreveu aquilo que Mário Soares já tinha dito. A pressão dos mercados deve ser um aviso às democracias. O professor afirma que a crise que começou com os pedidos de ajudada da Grécia e da Irlanda e seguiu um «caminho feio».

O pedido de ajuda de Portugal nada tem a ver com o seu défice. «Portugal teve uma performance económica forte nos anos 90 e estava a gerir a recuperação da recessão global melhor do que muitos países da Europa», escreveu.

Como foi dito há alguns meses, e silenciado cada vez mais com o aperto crescente dos mercados, Portugal ficou «sob pressão injusta e arbitrária de negociantes de obrigações, especuladores e analistas de crédito que, por miopia ou razões ideológicas, já conseguiram expulsar um governo democraticamente eleito e, potencialmente, amarrar as mãos do próximo».

Mercados que são um perigo, uma vez que deixados sem regulamentação estas «forças» ameaçam eclipsar a capacidade democrática dos governos (quem sabe mesmo dos EUA) de tomar as suas próprias decisões sobre os impostos.

Para Fishman, a crise em Portugal é completamente diferente da instalada na Grécia e na Irlanda. «Não há uma crise subjacente», defende, salientando que as instituições económicas e políticas não falharam e conseguiram importantes vitórias, antes de sermos submetidos às ondas de ataques dos especuladores.

O resgate que aí vem não irá resgatar Portugal, mas sim empurrá-lo para uma política de austeridade impopular que atinge quem mais precisa. São as bolsas estudantis, as reformas, o combate à pobreza e os salários de funcionários públicos que vão sentir na pele o «resgate».

Para o professor, não é Portugal que está a fazer a crise, até porque a dívida portuguesa está bem abaixo de países como a Itália e o défice tem diminuído «rapidamente» com os esforços do Governo. Fishman aponta ainda que no primeiro trimestre de 2010, Portugal teve uma das melhores taxas de recuperação económica, acompanhando ou mesmo ultrapassando os vizinhos do Sul e até mesmo a Europa Ocidental.

Aliás, se há alguém que não deve ser culpado do estado do país é o primeiro-ministro e os políticos portugueses. A recente crise política nada tem a ver com incompetência portuguesa, mas decorre da normal actividade política democrática, já que a oposição considerou que podia fazer melhor levando o país a eleições.

As razões do ataque a Portugal são então duas. Por um lado, um cepticismo no modelo de economia mista de Portugal. «Os fundamentalistas do mercado detestam as intervenções keynesianas, nas áreas da política de habitação em Portugal - o que evitou uma bolha imobiliária e preservou a disponibilidade de baixo custo de rendas urbanas - a assistência de renda para os pobres. Por outro lado, a falta de perspectiva histórica é outra explicação. O crescimento do país nos anos 90 levou a uma melhoria nos padrões de vida e a uma taxa de desemprego das mais baixas da Europa.

Para Fishman, os ataques dos mercados condicionam não só a recuperação económica de Portugal, mas também a sua liberdade política. Se o 25 de Abril foi um ponto de partida para uma «onda democratização que varreu o mundo», para o autor, a entrada do FMI em Portugal, em 2011, pode ser o início de uma onda de invasão da democracia, sendo que as próximas vítimas poderão ser a Espanha, a Itália, ou a Bélgica.








quarta-feira, 13 de abril de 2011

A Parousia e a Ficção Europeia

  (O Juízo Final - Jean Cousin )

Vivem-se tempos conturbados nesta europa a 27  a que alguns  continuam a   chamar União.

Era uma ideia engraçada, a de que a europa pudesse um dia vir a ser um território no qual conviveriam milhões de pessoas de nacionalidades que tinham até há poucos anos servido para dividir e afastar; com diferentes níveis de desenvolvimento, diferentes línguas, sensibilidades diversas e um caldo de  culturas sublinhadas por histórias bem marcadas, na maior parte das vezes antagónicas, e que raramente convergiram sem ser pela força do domínio baseado nas armas.

Lembro-me que, enquanto cristão, e na juventude, o tema Mercado Comum suscitava grandes discussões sobre como iria desenvolver-se esse novo "império romano" que estava supostamente a emergir, na opinião de alguns, formatado por esse conjunto de  países da europa, e de que maneira poderia isso quadrar-se com os temas escatológicos que  tantas atenções suscitavam  em debates e estudos bíblicos. Cada um tinha a sua ideia e procurava que a bíblia a validasse, facto que, está bem de ver, era tarefa dificilmente alcançável. A partir do momento em que o número de adesões ao Mercado Comum ultrapassou o número  de países que se ajustava, de acordo com muitos presumidos candidatos a  exegetas bíblicos,  ao tamanho de um novo e moderno  "império romano", o tema esmoreceu um pouco e perdeu balanço  ficando no entanto no ar a hipótese da saída de algumas nações do Mercado Comum por forma a restabelecer a pretendida contabilidade profética, mesmo se esta não indiciava especificamente um "império" baseado na união de países exclusivamente da região europeia. Bom, confesso que à medida que os anos foram passando também eu fui secundarizando este tipo de debates, o que de resto aconteceu com uma esmagadora percentagem de cristãos que, à semelhança dos primevos irmãos na fé,  desejavam que a 2ª vinda de Cristo ocorresse ainda na nossa geração. Aprendemos todos que os tempos de Deus raramente concordam com o calendário humano,  e  mesmo  sendo  a escatologia  matéria  bíblica relevante, não será ela que determinará a nossa salvação e redenção.

O porquê de me ter ocorrido este tema prende-se com declarações recentes, produzidas por um ministro italiano acerca do problema dos refugiados na ilha de Lampedusa. A Itália pediu o apoio e a solidariedade dos seus comparsas da União Europeia no sentido de que estes se dispusessem a ajudar na situação dos refugiados da Tunísia. E o que é que ouviu como resposta ? Que não, que se resolvesse sózinha que isso era um problema italiano. Perante esta resposta, o ministro do interior questionou se ainda faria sentido continuar na União Europeia, porque sendo assim, "mais vale só que mal acompanhado".

Já o disse aqui e reafirmo: não vislumbro qualquer futuro nesta dita União Europeia e não me admiraria que ela, qual castelo de cartas, se começasse a desmoronar com mais ou menos estrondo. Itália não é um país propriamente despiciendo no seio da União Europeia e, à semelhança de outros países, começa a dar mostras do desgaste que este bloco amorfo de nações, com objectivos e interesses cada vez mais notoriamente irreconciliáveis entre si, começa a provocar na paciência de quem está a ficar farto de viver em ditadura comandada por uma troika de países mais poderosos, com a Alemanha à cabeça, que se instituiram donos e senhores de um grupo heterogéneo de nações que, do meu ponto de vista, jamais poderão ser uma união e, menos ainda, uma federação. Mantenho também possuir  fundadas suspeitas de que esta ficção europeia não vai acabar bem; é que ninguém se sente confortável quando tem  uma bota cardada a esmagar-lhe o pescoço e a impedi-lo de respirar. Pois é justamente esta a forma como alguns países europeus se sentem na arena do circo europeu. Entretanto, os bobos vão animando a corte dos notáveis da europa...

Provavelmente vou ter que regressar mais amiúde ao estudo e análise da escatologia bíblica, porque afinal, a ideia da União Europeia emagrecer as suas fronteiras a curto/médio prazo não me parece nada delirante nem atrevida, bem pelo contrário.  Tenho uma certeza: esta europa será seguramente um ponto cardeal para a compreensão do rumo dos acontecimentos que estão balizados pela Parousia, aconteçam eles quando acontecerem e sejam quais forem os seus protagonistas.


Jacinto Lourenço  

terça-feira, 12 de abril de 2011

Evangelho e Contextualização




1. A Palavra é supracultural e a-temporal, portanto viável e comunicável para todos os homens, em todas as culturas, em todas as gerações. Cremos, assim, que a Palavra define o homem e não o contrário.

2. Contextualizar o Evangelho não é reescrevê-lo ou moldá-lo à luz da Antropologia, mas sim traduzi-lo linguística e culturalmente para um cenário distinto afim de que todo o homem compreenda o Cristo histórico e bíblico.

3. Apresentar Cristo é a finalidade maior da contextualização. A Igreja deve evitar que Jesus Cristo seja apresentado apenas como uma resposta para as perguntas que os missionários fazem – uma solução apenas para um segmento, ou uma mensagem alienígena para o povo alvo.


Ronaldo Lidório via  Frases Protestantes

Hipocrisia e Cristianismo...



A marca registada de um hipócrita é ser cristão em todo o lugar, menos em casa.




( Robert Murray M'Cheyne )
 
 
 

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Respeito Conquista-se


O respeito não se pede  nem se exige, conquista-se.
Portugal era até há pouco tempo um país relativamente respeitado no concerto das nações, mas isso acabou este fim de semana.

Longe de mim, substituir-me aos comentadores políticos, que os há de sobra neste nosso  rectângulo europeu, mas não posso deixar de observar e acompanhar de perto os acontecimentos e desenvolvimentos da actual situação do país, especialmente quando constato que o desvario dos seus ditos representantes não tem limites. As declarações dos ( i )responsáveis políticos portugueses, na sequência do pedido de ajuda financeira à união europeia, se podem servir para consumo interno, no sentido de manterem as suas  próprias hostes partidárias animadas, não servem para a generalidade dos portugueses nem  para os responsáveis da união europeia, e estes últimos  fizeram questão de frisar precisamente isso no decorrer do Conselho da Europa realizado este fim de semana.

 Foi ver à vez responsáveis suecos, finlandeses, franceses e até espanhóis a pronunciarem-se agastadamente sobre Portugal depois de se terem apercebido das declarações de alguns políticos portugueses sobre a vontade que tinham ou não tinham de participar na negociação do pacote de resgate da economia. Ora a união europeia já esclareceu, e muito bem esclarecido, que todos tem que se envolver sendo que o contrário equivale a não haver negociação nenhuma. O presidente Cavaco foi  repreendido, e com propriedade, diga-se em abono da verdade, pelo comissário Olli Rehn,  por ter pedido imaginação à UE nas negociações que agora se iniciam com Portugal. Para além de ser um pedido despudorado e descontextualizado, especialmente vindo de quem já disse que não queria ter qualquer intervenção nas negociações no pacote de ajuda, revela que o presidente Cavaco Silva pede aos outros o que não quiz aplicar a si próprio  quando era necessária criatividade e imaginação para chamar à razão os partidos políticos afim de resolverem os problemas nacionais  "in house" antes de deixarem cair o país no buraco negro onde se encontra neste momento.  Olli Rehn disse-lhe, e eu estou com o comissário nessa matéria, que não falava com os políticos portugueses na praça pública.  Ou seja, mandou dizer que não calça o "chinelo" da baixa política à portuguesa nem mesmo que ela venha da parte da presidência.

Nesta fase da vida de Portugal, esperava-se que, pelo menos, o presidente da república se mostrasse como um esteio de maturidade política e de unidade nacional. Mas se é   alarmante e muito preocupante que Cavaco Silva tenha tido um início de mandato desastroso, prenunciado, alás, pelo seu discurso de vitória nas eleições, torna-se dramático que, para além de não se mostrar como uma referência de bom senso político e institucional, esteja a contribuir para o seu oposto. Pelos vistos, o verdadeiro Cavaco só agora se está a revelar, embora nós sempre desconfiássemos que debaixo daquele manto diáfono havia mais para recear do que para tranquilizar a nação.  É notório  que ele faz parte do problema e não da solução para Portugal.

Por mim, enquanto português, sinto-me naturalmente enxovalhado pelas declarações dos dirigentes  europeus dirigidas  a Portugal e aos portugueses  através das duras repreensões públicas aos políticos nacionais, mas sinto-me muito mais enxovalhado pela actuação desses mesmos  políticos  que se mostram  pouco dignos de Portugal e da história secular de um país que sempre soube fazer-se respeitar no mundo mais pela sua criatividade, imaginação, engenho e arte do que por outros poderes que nunca teve.


Jacinto Lourenço

domingo, 10 de abril de 2011

Os Valores Essenciais da Dignidade


Embora o teólogo Hans Küng seja conhecido pelos media e pelo grande público, em primeiro lugar, por causa dos diferendos com o Vaticano, julgo que o seu nome ficará sobretudo ligado ao diálogo inter-religioso, ao Parlamento das Religiões Mundiais, à "Declaração para uma Ética Mundial", à Fundação Weltethos, a que preside.
Foi precisamente por iniciativa da Fundação Welthos e em ligação com a "Declaração para uma Ética Mundial", do Parlamento das Religiões Mundiais, em Chicago, em 1993, que, no quadro de uma economia ecológico-social de mercado, surgiu o Manifesto "Global Economic Ethic", assinado por figuras relevantes da Política, das Igrejas, das Universidades, da Banca, e tornado público em 2009, em Nova Iorque e em Basileia.
Há dois princípios que servem de base: o princípio de humanidade - "todo o ser humano, independentemente da idade, sexo, raça, cor da pele, capacidades físicas ou espirituais, língua, religião, concepção política, origem nacional ou social, tem dignidade inviolável e inalienável", de tal modo que "também na economia, na política, nos media, nas instituições de investigação e industriais, deve ser sempre sujeito de direitos e fim, sempre fim, nunca simples meio, nunca objecto de comercialização ou industrialização" - e o princípio da reciprocidade: "não faças aos outros o que não queres que te façam a ti"; esta regra de ouro "promove a responsabilidade mútua, a solidariedade, a justiça, a tolerância e o respeito por todas as pessoas envolvidas. Estas atitudes ou virtudes são os pilares fundamentais de um ethos global económico, uma visão fundamental comum do que é legítimo, justo e equitativo".
Os dois princípios expandem-se em valores fundamentais: 1. não violência e respeito pela vida; 2. justiça e solidariedade; 3. honestidade e tolerância; 4. respeito mútuo e companheirismo. Estes valores têm consequências para a economia e os negócios, segundo os 13 artigos do Manifesto, que pode ler-se na recente obra de Küng, Anstäntig wirtschaften. Warum Ökonomie Moral braucht (Economia com decência. Porque é que a economia precisa de moral) e de que se apresenta uma breve síntese.
1. Para respeitar os valores da não violência e do respeito pela vida, devem ser abolidos o trabalho escravo, o trabalho forçado, o trabalho infantil, os castigos corporais e outras violações de normas do direito laboral internacionalmente reconhecidas. Deve-se acabar com as condições laborais e os produtos que danificam a saúde. A relação sustentável com o ambiente é um valor-norma fundamental da actividade económica.
2. Respeitando os valores da justiça e  da solidariedade, devem ser abolidas todas as práticas corruptas e desonestas. Finalidade maior de todo o sistema social e económico, que pretende igualdade de oportunidades, justiça distributiva e solidariedade, é pôr termo à fome e ignorância, à pobreza e desigualdade de oportunidades em todo o mundo. A subsidiariedade e a solidariedade, o empenho privado e público são as duas faces da medalha e concretizam-se, antes de mais, em investimentos privados e públicos no sector económico, mas também em iniciativas para a criação de instituições que sirvam a formação de todos os segmentos da população e a edificação de um sistema de segurança social, para que todos possam desenvolver-se humanamente e ter uma vida digna.
3. A verdade, a sinceridade e a honestidade são valores essenciais para as relações económicas e a promoção do bem-estar humano geral e pressupostos para criar confiança nas relações humanas e na concorrência económica. A cooperação mutuamente vantajosa pressupõe a aceitação de valores e normas comuns e a capacidade de aprender uns com os outros, acolhendo os outros na sua alteridade. São inadmissíveis aquelas acções que não respeitam ou violam os direitos humanos.
4. A estima mútua e o companheirismo entre todos os envolvidos, particularmente entre homens e mulheres, são pressuposto e resultado da cooperação económica. Baseiam-se no respeito, justiça e sinceridade com todos os parceiros: empresários, trabalhadores, consumidores ou outros interessados.


Prof. Anselmo Borges in Diário de Notícias Online

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Abutres e Profetas da Desgraça...


Pairam nuvens ameaçadoras sobre os portugueses. Os arautos da desgraça, quais abutres que observam em ciculares voos, imaginam que a vítima irá sucumbir rapidamente e preparam a descida vertiginosa e picada; a condenação vai ser brevemente proclamada. Prenúncios de tragédias entram todos os dias no recato da nossa  privacidade, à hora do jantar, e fico sem saber se essa já é uma medida de austeridade obrigatória; é que,  se acedermos a ficar mal dispostos  é certo que vamos poupar uma refeição...

Profetas da desgraça sempre os teremos connosco. Dizem-nos sempre mais do que aquilo que sabem e é por isso que desenham cenários que, na maior parte dos casos, podem até  não se concretizar como eles os proclamam. Entretanto os jornais já foram vendidos e os shares conseguidos. Pois preparem-se porque é assim que vamos andar nos próximos tempos, pelo menos até que os holofotes se desloquem para a temática eleitoral. 

Pena é termos profetas da desgraça a mais e Josés do Egipto a menos, em Portugal.  O contrário, e as vacas famélicas não chegariam para entreter  os abutres de dentro e de fora.

Enquanto português e  cristão, tenho procurado filtrar a realidade da ficção. Focar-me nos factos positivos. Não penso que isso vá acontecer mas, se alguma vez  acontecesse não ter pão na minha mesa, não deixaria de agradecer a Deus por ter uma família maravilhosa, uma casa onde me recolher, amigos dedicados e, fundamentalmente, o Pão da Vida à minha disposição em cada momento. 

Gosto de pensar na resiliência espiritual e física de Job, nas certezas de fé  de um renovado Elias a fixar, olhos nos olhos, os profetas de baal enquanto mandava derramar mais e mais água sobre o altar do sacrifício; nos absolutos teológicos de Paulo baseados na sua vivência íntima com Jesus, na sua experiência apostólica e no seu caminhar constante no risco do fio da navalha para anunciar o Evangelho. Gosto dos olhares que David lançou em direcção ao seu Senhor,  quando as dúvidas assaltavam o seu coração, e das respostas certeiras que d'Ele recebia. Gosto de Samuel que não se deixou enganar no momento de ungir um novo rei para Israel.

E gosto do profeta Habacuque que, cheio da Graça de Deus, disse: Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto nas vides; ainda que falhe o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho seja exterminado da malhada e nos currais não haja gado.  todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é minha força, ele fará os meus pés como os da corça, e me fará andar sobre os meus lugares altos.

Que a Graça de Deus e a certeza de que Ele zela por nós não nos abandone em nenhum momento. Quando perdermos isto, teremos perdido tudo e só nos restará  rendermo-nos aos profetas da desgraça que nos darão como pasto aos abutres.




Jacinto Lourenço

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Venham Mais Cinco...


Por muitas voltas que dê à cabeça não me ocorrem outros rostos a quem possam ser assacadas responsabilidades pela crise político-económica e social  em que Portugal caiu. Os  senhores abaixo são os rostos de partidos políticos que estão instaladados nos centros decisores da  política portuguesa desde o 25 de Abril de 1974. Certo que uns são mais responsáveis do que outros, mas nem por isso deixam de ser menos responsáveis pelo buraco negro em que Portugal entrou.

No próximo dia 25 de Abril, terão decorrido 37 anos sobre 1974 e o fim da ditadura do estado novo que se prolongou durante quarenta e oito anos e que transformou Portugal num país muito atrasado no contexto europeu. É certo que a democracia trouxe imensas vantagens e um novo desenvolvimento nunca experimentado; não o reconhecer seria, no mínimo, estupidez ou ingratidão para com quem se ergueu na madrugada de 1974, arriscando tudo, no intuito de transformar  a tristeza nacional numa imensa alegria. No entanto, o que se seguiu após o poder ser entregue aos partidos políticos não foi muito edificante. Do ponto de vista económico e social Portugal só respirou melhor enquanto entraram milhões da União Europeia em catadupa. Isso enriqueceu muita gente ilicitamente com a utilização de estratagemas para para poderem deitar a mão aos milhões e, a maior parte dessa gente gravitava em torno dos aparelhos partidários. Foi um costume que se instalou até aos dias correntes. Se olharmos para os "barões" dos partidos políticos que durante estes anos partilharam o poder, verificamos facilmente que quase todos estão muito bem na vida e não necessariamente à custa do seu trabalho honesto, embora eles procurem fazer passar essa mensagem. É por tudo isto que hoje é tão difícil aos portugueses olharem para os partidos políticos e reconhecerem nestes algum censo de responsabilidade e decência, por uma razão ou por outra, estejam ou não no governo. É que dificilmente se pode esquecer que, no próximo dia 25 de Abril de 2011, quando terão passado 37 anos sobre a data da Revolução dos Cravos que tanta esperança trouxe a este povo sofrido e enxovalhado pela classe política, estaremos a braços com a 3ª intervenção do FMI em Portugal, e já não à pachorra para isto e para a incompetência, incapacidade e irresponsabilidade destes políticos que só pensam em "governar-se" a si próprios. Ou seja, feita uma conta simples, em média, esta classe política só precisa de 148 meses para afundar de novo o país após o início da última intervenção do FMI. Começou nova contagem.

Seguem os rostos e de certeza que faz aqui sentido a canção de José Afonso, noutro contexto é certo: "venham mais cinco" pois com os actuais não vamos lá.

Jacinto Lourenço



O Triunfo dos Cães Bravos...



O que São Basílio Magno (séc. IV) escreveu sobre a usura é temível: "Os cães, quando recebem algo, ficam mansos; mas o usurário, quando embolsa o seu dinheiro, irrita-se tremendamente. Não cessa de ladrar, pedindo sempre mais... Mal recebeu o dinheiro e já está a pedir o dinheiro do mês em curso. E este dinheiro emprestado gera mal atrás de mal, e assim até ao infinito." Por isso, o Concílio de Latrão, em 1179, proibiu aceitar esmolas dos usurários, admiti-los à comunhão e dar--lhes sepultura cristã.

Hoje a isto chama-se os mercados financeiros, com a sua lógica devoradoramente insaciável. Portugal sabe-o por experiência. Quem não viu veja e quem viu reveja Inside Job.

De qualquer modo, estamos na União Europeia e temos de honrar compromissos quanto ao défice e à dívida. O que aí vem é arrasador. Como foi possível ter-se chegado à beira deste abismo? Como escreveu Daniel Bessa, "o Estado português está há muito em processo de falência. A culpa é de todos nós, a começar por mim, que nunca o disse de forma audível, com esta clareza".

Em Portugal, deu-se o triunfo da irrazão. Ele foi a sementeira acéfala de instituições de ensino superior, com consequências desastrosas por décadas. Ele foi, sem respeito pela famosa "navalha de Ockam", a multiplicação dos entes sem necessidade: na Administração central, nas câmaras, nas juntas de freguesia, nos institutos públicos. Ele foi o encosto geral aos dinheiros públicos, que todos se habituaram a reclamar em todas as circunstâncias. Não se fez a transformação do aparelho produtivo para a competitividade. Destruiu-se a agricultura e as pescas. Numa euforia tola, foi o consumo esbanjador, que os bancos estimularam. Parte dos portugueses pensou que já não era preciso trabalhar. A corrupção banalizou-se. A Justiça quase faliu. Não há confiança nem horizonte de futuro.

Vêm aí eleições. Mais uma vez, o País encontra-se numa crise mortal. Esperar-se-ia, pois, o fim do reino da irrazão. Esperar-se-ia que as forças políticas pensassem, finalmente, mais no bem nacional do que nos interesses partidários e nas clientelas. Depois de tanta aldrabice, que dissessem a verdade, dura, crua, aos portugueses, para eles poderem saber onde realmente se encontram. Que às arruadas da campanha antepusessem a argumentação racional, serenamente e sem insultos. Que, no quadro da razão comunicativa, se entendessem para um consenso mínimo em temas fundamentais: Justiça, Educação, relançamento da Economia, Estado Social mínimo, reformas político-administrativas.

Há anos que se pede sacrifícios aos portugueses. Que se esclareça por uma vez a situação e que sacrifícios mais são necessários e até quando e para quê. Os portugueses ainda encontrarão forças para avançar, se houver argumentação racional e os sacrifícios forem equitativamente distribuídos. De contrário, se cairmos na bancarrota, se houver tumultos sociais em cadeia, se se começar a gritar que a democracia é pura demagogia, quem assume a responsabilidade histórica pela catástrofe?

Entretanto, em tempos de enormes dificuldades, será preciso continuar a contar com a justiça social e a generosidade solidária. Como escreveu o famoso dramaturgo Berthold Brecht, marxista e profundo conhecedor da Bíblia: "Contaram-me que em Nova Iorque,/na esquina da rua vinte e seis com a Broadway,/nos meses de inverno, há um homem todas as noites/que, suplicando aos transeuntes,/ procura um refúgio para os desamparados que ali se reúnem.// Não é assim que se muda o mundo,/as relações entre os seres humanos não se tornam melhores./Não é este o modo de encurtar a era da exploração./No entanto, alguns seres humanos têm cama por uma noite./ Durante toda uma noite estão resguardados do vento/e a neve que lhes estava destinada cai na rua.//Não abandones o livro que to diz, homem./Alguns seres humanos têm cama por uma noite,/durante toda uma noite estão resguardados do vento/e a neve que lhes estava destinada cai na rua./Mas não é assim que se muda o mundo,/as relações entre os seres humanos não se tornam melhores./Não é este o modo de encurtar a era da exploração."



Prof. Anselmo Borges***in Diário de Notícias Online

terça-feira, 5 de abril de 2011

O Hiato Negro de Portugal...



Há um país com as mais antigas fronteiras da europa sobre o qual hoje todos os olhares se colocam. Este país nunca foi rico, nunca foi grande, do ponto de vista geográfico, militar ou populacional. Este país é Portugal. Ainda hoje, quem olha, do ponto de vista histórico  para Portugal se interroga como é que lhe foi possível erguer a gesta dos descobrimentos em contra-corrente com o que eram as realidades  europeias no tráfego marítimo e comercial de então e, num outro plano mais crítico ainda, como é que este país periférico, apagado e afastado das principais linhas de força que marcavam o pensamento e as políticas europeias  teve arte e engenho para  construir o seu próprio renascimento científico e cultural num tempo em que na europa central se desenterrava o classicismo  para, nas letras e nas artes  se encetar uma reorientação europeia que rompesse com a idade das trevas. Teve êxito relativo, a europa, nesse domínio; porém, e pese embora o renascimento clássico, as fogueiras da inquisição não deixaram de ser alimentadas pelos corpos daqueles que lhe eram destinados pelos inquisidores católicos,  tal como as perseguições e mortes provocadas pelo  fundamentalismo protestante, no centro europeu,  que fizeram o possível por concorrer com elas, senão nos métodos, pelo menos nos objectivos de aniquilarem os opositores.

É verdade que o melhor do renascimento europeu pouco se sentiu na periferia, nomeadamente neste recanto português, e por isso mais intrigante nos surge o sucesso do país nos séculos XV e XVI,  mas também é verdade que, do seu isolamento  e marginalidade geográficos  souberam os portugueses tirar partido e criar o seu próprio renascimento, não apenas no capítulo do  desenvolvimento da ciência náutica, completamente inovadora, mas também no vasto conhecimento geográfico do mundo desconhecido até então e trazido por uma cartografia exemplar e rigorosa desse mundo novo para os europeus   cujas fronteiras mentais  estavam ainda cercadas pelo conhecimento disforme de um mundo aristotélico e ptolomaico. Os portugueses souberam elevar o comércio, a cartografia, as letras e a ciência natural  a um patamar a que provavelmente os restantes europeus não chegariam nem em três séculos de trabalho consecutivo. E podemos afirmar que o fizeram sózinhos, sem a ajuda de nenhum outro estado, mesmo sendo vigiados e espiados  de perto pelos vizinhos castelhanos. É verdade que se socorreram inicialmente de conhecimentos árabes, genoveses e outros. Mas não pode ser posto em causa que souberam incrementar e descobrir novos  caminhos e outras fórmulas a que esses não chegaram antes.

Quando, em qualquer parte do mundo, se  falar de gesta marítima, ciência  náutica, cartografia, ciência natural ou letras relacionadas com estas matérias, para se ser rigoroso,  é preciso que se diga que os portugueses,  durante dois séculos,  não tiveram concorrentes à altura. O mundo só é o que é,  hoje, porque os portugueses o estudaram exaustivamente e o deram a conhecer tal qual ele era. Claro que, e embora sem menosprezar o contributo de outros povos, é preciso que se diga que todos esses povos vieram a reboque de Portugal para o conhecimento científico e natural do mundo dos séculos XV e XVI. Colon, como lhe chamam os espanhóis, ou Colombo para os portugueses, está hoje comprovado, era português, marrano, talvez, mas português. Os relatos de Américo Vespúcio sobre o mundo então descoberto só foram possíveis porque este viajou em naus e caravelas portuguesas que lhe deram a possibilidade de observar, in loco, a "matéria prima" para as suas publicações. Fernão de Magalhães, o da viagem de circum-navegação ao serviço de Castela, era português, serviu na armada da Índia.

Portugal foi na verdade o único país europeu que manteve e desenvolveu originalmente um projecto náutico, descobridor e científico mas também comercial. Castela e mais tarde ingleses e holandeses  correram sempre atrás de nós. É certo que tiveram êxito os castelhanos na descoberta da América, com o Português Colombo, mas quando este procurava chegar às índias, desiderato de todos os navegadores de então, e ali aportou por engano... O que faltou a Castela foi ciência e conhecimento. Só Portugal os tinha tão desenvolvidos e guardou-os ciosamente pois essa era a sua maior fortuna: a inteligência e a ciência. Ingleses e Holandeses acabariam por nos alcançar e ultrapassar no comércio internacional somente ao fim de cerca de 200 anos. Tinham mais força, mais canhões. Ao mesmo tempo, Portugal ia sendo minado pela corrupção e ganância de donatários, capitães, funcionários coloniais e outros que, em posições de relevo e acesso às riquezas não queriam deixar passar a sua oportunidade de enriquecimento súbito, sendo que esse é um "tumor" que não conseguimos estirpar até hoje da nossa idiossincrasia colectiva: a corrupção e a ganância pessoal e despudorada de quem ocupa cargos ou lugares na esfera do poder.

D. João II e D. Manuel I passaram à história. D. João III, que teve acção bastante meritória no início do seu reinado, nomeadamente no domínio do desenvolvimento das colónias e na área das letras no território continental bem como no seu desenvolvimento em linha com a europa do renascimento clássico e com os novos ares que por lá sopravam, acabaria por se deixar subjugar  nesse campo  pelos Jesuítas,  em submissão aos ventos dominantes de Trento e da contra-reforma. Foi ele que em 1536 permitiu a entrada da inquisição em Portugal, facto que deu origem à fuga massiva de mercadores judeus e cristãos-novos do país; com eles ia uma parte significativa e relevante da massa crítica e da riqueza de Portugal. Este acontecimento, aliado a outros de abrangência nacional e de alcance ultramarino, tiveram como resultado a obrigação de Portugal ter que recorrer a empréstimos estrangeiros para sobreviver.

Devido à morte dos  dez filhos de D. João III, suceder-lhe-ia o neto D.Sebastião. Portugal passaria ainda por um período de regência que abriu caminho à  consolidação do domínio da igreja e ao incremento da inquisição que estenderia  os seus tentáculos até às Índias. Era o princípio do fim para Portugal, que se iria afundar em Alcácer-Quibir o  que  nos  conduziria à crise dinástica que escancarou portas ao domínio Castelhano durante sessenta anos.

Pessoalmente, vejo neste período dramático da nossa história um hiato negro que dura até hoje. Em qualquer dos casos, a perda de independência e autonomia nacional, nunca nos trouxe nada de bom e também não será agora que o vai trazer, com a Alemanha a mandar nos nossos destinos.  Talvez seja importante olharmos para a história para percebermos melhor quais são os caminhos que temos que percorrer enquanto povo, mesmo que o façamos sózinhos, até porque aqueles que hoje se dizem nossos amigos provam todos os dias o contrário disso. O melhor mesmo é limparmos a nossa casa do que não presta, organizá-la e olharmos para o caminho que existe para fazer percorrendo-o com a mesma determinação, coragem e ambição dos portugueses de quatrocentos e quinhentos. Só isso nos fará ganhar o respeito de quem nos olha hoje como os pobres desgraçados da Europa que só poderão obedecer aos seus ditames para sobreviver.

Não tenho praticamente nenhuma dúvida de que esta europa de hoje, e o projecto europeu iniciado com o tratado de Roma, não tem qualquer possibilidade política, social ou económica de sobrevivência comum. Não sendo economista, acredito que no dia em que o primeiro país tiver que sair da zona euro ( e acho que esse dia não virá longe ), a moeda única cairá com estrondo, agarrada a ela irá esta europa que neste momento se limita a servir os interesses de alemães e franceses. Ou seja: um projecto de União Europeia a vinte e sete que só serve os interesses de dois,  não interessa a ninguém, nem aos europeus nem a Portugal. É por isso que  está na hora de começarmos a olhar para o futuro com uma visão diferente esclarecida e inovadora, mesmo que o façamos em contra-corrente ou até sózinhos. Já estamos há muito habituados a contar só connosco. É preciso voltar a encontrar dentro da alma portuguesa os valores que nunca a  abandonaram.   


Jacinto Lourenço