sexta-feira, 8 de abril de 2011

Abutres e Profetas da Desgraça...


Pairam nuvens ameaçadoras sobre os portugueses. Os arautos da desgraça, quais abutres que observam em ciculares voos, imaginam que a vítima irá sucumbir rapidamente e preparam a descida vertiginosa e picada; a condenação vai ser brevemente proclamada. Prenúncios de tragédias entram todos os dias no recato da nossa  privacidade, à hora do jantar, e fico sem saber se essa já é uma medida de austeridade obrigatória; é que,  se acedermos a ficar mal dispostos  é certo que vamos poupar uma refeição...

Profetas da desgraça sempre os teremos connosco. Dizem-nos sempre mais do que aquilo que sabem e é por isso que desenham cenários que, na maior parte dos casos, podem até  não se concretizar como eles os proclamam. Entretanto os jornais já foram vendidos e os shares conseguidos. Pois preparem-se porque é assim que vamos andar nos próximos tempos, pelo menos até que os holofotes se desloquem para a temática eleitoral. 

Pena é termos profetas da desgraça a mais e Josés do Egipto a menos, em Portugal.  O contrário, e as vacas famélicas não chegariam para entreter  os abutres de dentro e de fora.

Enquanto português e  cristão, tenho procurado filtrar a realidade da ficção. Focar-me nos factos positivos. Não penso que isso vá acontecer mas, se alguma vez  acontecesse não ter pão na minha mesa, não deixaria de agradecer a Deus por ter uma família maravilhosa, uma casa onde me recolher, amigos dedicados e, fundamentalmente, o Pão da Vida à minha disposição em cada momento. 

Gosto de pensar na resiliência espiritual e física de Job, nas certezas de fé  de um renovado Elias a fixar, olhos nos olhos, os profetas de baal enquanto mandava derramar mais e mais água sobre o altar do sacrifício; nos absolutos teológicos de Paulo baseados na sua vivência íntima com Jesus, na sua experiência apostólica e no seu caminhar constante no risco do fio da navalha para anunciar o Evangelho. Gosto dos olhares que David lançou em direcção ao seu Senhor,  quando as dúvidas assaltavam o seu coração, e das respostas certeiras que d'Ele recebia. Gosto de Samuel que não se deixou enganar no momento de ungir um novo rei para Israel.

E gosto do profeta Habacuque que, cheio da Graça de Deus, disse: Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto nas vides; ainda que falhe o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho seja exterminado da malhada e nos currais não haja gado.  todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é minha força, ele fará os meus pés como os da corça, e me fará andar sobre os meus lugares altos.

Que a Graça de Deus e a certeza de que Ele zela por nós não nos abandone em nenhum momento. Quando perdermos isto, teremos perdido tudo e só nos restará  rendermo-nos aos profetas da desgraça que nos darão como pasto aos abutres.




Jacinto Lourenço