terça-feira, 16 de agosto de 2011

O Trabalho que Dignifica




Em  anos anteriores tinha sido diferente. Mas este ano aconteceu assim. Nas férias de verão estou com muito pouco tempo para escrever e actualizar o Ab Integro. Talvez porque nos anos anteriores as férias foram diferentes e o lazer tinha prioridade nas minhas actividades de veraneio. Este ano não. Havia trabalho para fazer e vontade de poupar uns euros para o realizar mesmo se nunca nos tinhamos desafiado a semelhante tarefa. As últimas três semanas foram passadas em "reclusão" no alentejo profundo a tentar não defraudar as melhores intenções que nos moviam. A coisa resultou bem mesmo se tivémos que suportar durante muitos dias temperaturas a roçar os quarenta graus. Foram litros e litros de água e outras bebidas frescas que tínhamos à mão. "Borregas" nas mãos, como se diz no alentejo, ou "bolhas", como se diz na cidade; corpo dorido porque mal habituado a estas andanças de trabalho duro de construção mas imenso gozo pessoal por ter atingido com sucesso o objectivo. Isto, claro, para além de uns quilinhos que de outra forma não seria possível serem perdidos.

O trabalho, quando os seus objectivos são claros, motivadores e recompensadores,  realiza-nos, anima-nos e fortalece-nos. Julgo que nada retira mais força anímica, psicológica e moral  a  qualquer pessoa do que não ter uma ocupação, um trabalho recompensador quer materialmente quer psicologicamente e  que lhe transmita a perene certeza de que é útil à sociedade em que se insere e a si próprio.

Fala-se hoje muito de formação profissional e académica, mas a questão mais candente é a de que a essa formação correspondam oportunidades reais de ocupação em linha com as capacidades das pessoas e o tempo, motivação e dinheiro investidos por elas. Aquilo a que assistimos actualmente no mundo, e particularmete nos países desenvolvidos,  é preocupante a vários níveis; formar gente, dar-lhe competências elevadas e depois não preparar a economia para dar respostas consequentes transforma-se num drama que terá consequências que nem sequer conseguimos ainda imaginar, e todos os cenários de conflitualidade político-social são de admitir. Não será possível a existência de sociedades sadias e que sustentem o bem-estar das populações onde uma larga fatia destas sobrevive sem trabalho, a cargo do estado, das famílias, das instituições. Lentamente, esses milhões de pessoas irão perder a sua auto-estima e a vontade de investirem em si próprios e no futuro das famílias e das sociedades. Os sinais dessa degradação social vão ocorrendo um pouco por todo o lado e não adianta dizer que eles resultam apenas de má educação, crime, ou de gente demasiado mimada e protegida pelos governos dos países. Quando as pessoas trabalham e o seu trabalho é reconhecido e recompensado justamente, a saúde social aumenta e os problemas diminuem. Marginalidade e criminalidade é uma outra história e que é opção de quem não quer ter outras opções mesmo se elas existirem à sua disposição. Sim, o trabalho e a ocupação serão sempre recompensadores, menos quando estes são vistos e encarados pelos governos como penalidades para os que não têm nem conseguem emcontrar um trabalho. As políticas neo-liberais, em praticamente todo o mundo, na aplicação ao mundo do trabalho só conseguiram produzir menos trabalho para menos gente, mais exploração, menos interesse pelo trabalho e mais conflitualidade social. Duvido que em Portugal vá ser diferente.

Jacinto Lourenço  

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Humor Judaico - Os Dez Mandamentos...




Deus perguntou aos Gregos:- Vocês querem um mandamento?
- Qual seria o mandamento, Senhor?
- Não matarás!
- Não, obrigado. Isso interromperia a nossa sequência de conquistas.

Então Deus perguntou aos Egípcios: - Vocês querem um mandamento?
- Qual seria o mandamento?
- Não cometerás adultério!
- Não obrigado, isso arruinaria os nossos fins de semana!

Deus perguntou então aos Assírios: - Vocês querem um mandamento?
- Qual seria o mandamento?
- Não roubarás!
- Não obrigado, isso arruinaria a nossa economia!

E assim, Deus foi perguntando a todos os povos, até chegar aos Judeus:
 - Vocês querem um mandamento?
- Quanto custa?
- É de graça.
- Então manda dez.


Fonte: Por Terras de Sefarad

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Montemor-o-Novo: Epicentro de Viragem no Portugal Quatrocentista


Montemor-o-Novo representou no século XV não apenas um importante ponto de passagem obrigatório na estrada que ligava Lisboa e Santarém a Évora, povoações de primeira grandeza medieval no reino e particularmente na zona sul do país; a vila acabaria por se tornar, por inegável consequência disso, em relevante ponto de paragem e estadia mais ou menos prolongada para reis, fidalgos, senhores para além de outra gente que gravitava em torno da corte e da nobreza. Mesmo não revelando uma grandeza urbanística significativa nem uma dimensão comparável às da vizinha Évora, por exemplo, quer em termos populacionais ou das habitações construídas intra-muros, o posicionamento geográfico de Montemor-o-Novo acabaria por se mostrar determinante no papel que a história lhe reservou antes, e durante o século XV. Como é evidente, e apesar de uma notada tendência de desertificação populacional da Cerca da vila, cujos moradores eram aliciados por um Termo que prometia actividade económica muito mais pródiga e lucrativa, particularmente no capítulo da agricultura, Montemor-o-Novo continuou a fazer sempre parte integrante, ao longo de todo o século XV, da vida política nacional e de todos os jogos político-sociais que nesse âmbito iam marcando o pulsar do reino.

Durante todo o século XV a história de Montemor-o-Novo é marcada e pautada por cinco importantes reinados saídos da geração de Avis: D.João I, D. Duarte, D. Afonso V, D. João II bem como ainda os primeiros anos de reinado de D. Manuel I, sem esquecer, é claro, a regência do Infante D. Pedro, no período abrangido pela menoridade de D. Afonso V.
Teve Montemor-o-Novo, como outros municípios, momentos de maior relevância e/ou apagamento. De um ponto de vista lato pode dizer-se que Montemor-o-Novo não estando  no “olho do furacão” esteve porém extremamente envolvido no turbilhão da história Portuguesa no século que encerrou a época medieval portuguesa.

Se tivéssemos que isolar um facto marcante, em definitivo, para a vida do concelho de Montemor-o-Novo, e até de Portugal, no período em estudo, escolheríamos o acontecimento mais dramático representado no degredo e posterior fuga para Castela do donatário e Marquês de Montemor, D.João, irmão de D. Fernando Duque de Bragança, bem como a morte deste último, ambos os factos ordenados por D.João II que pretendia com isto “dizer ao que vinha” e inaugurar uma nova época de retoma política e administrativa do reino por parte da coroa e que estava a ser contestada pelos grandes senhores de Portugal. Este facto representa, uma viragem dramática na orientação do reino muito desejada por D. João II e que ao desferir rude golpe no Duque de Bragança, na sua família e no seu vastíssimo património económico, militar e territorial, dava assim um sinal importante para o reino e os seus mais importantes senhores sobre qual era o seu projecto político para Portugal. Montemor-o-Novo foi palco privilegiado dessa exibição da visão e esperteza política de D.João II e da sua aplicação prática  que levariam  Portugal  ao fausto dos descobrimentos e do grande incremento de  todas as ciências a estes ligadas bem como a alcandorar-se como grande potêncial mundial dos mares e do comércio ultramarino. Uma grande gesta para um pequeno povo. 

Mesmo que não se goste de homens providenciais, há-de reconhecer-se esse papel em D. João II na afirmação do reino de Portugal feita em parte com o combate feroz ao até então domínio senhorial do país pela grande nobreza senhorial e pelo poder esmagador da Casa de Bragança.  A Montemor-o-Novo há-de creditar-se o facto de ter sido palco de uma das maiores viragens positivas da história de um país.  


Jacinto Lourenço

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Crónica de uma Morte Anunciada


Diz-me a comunicação social que Amy Winehouse morreu devido a uma overdose e que esse desfecho seria mais ou menos previsível devido ao estilo de vida que escolhera para si própria.
Só comecei a ouvir falar de Winehouse à coisa de 3 para 4 anos. Não sou grande melómano, como é bom de ver, caso contrário já teria ouvido falar da cantora há mais tempo. O conhecimento com que fiquei dela é aliás mais focado no seu comportamento, no ambiente dentro e fora dos concertos, do que propriamente na sua música. Lamento profundamente que aos vinte e sete anos de idade  ela tenha partido da vida imaginando que o melhor que esta teria para lhe oferecer se resumia   apenas a drogas e alcool. O seu percurso parece-me saido de uma escolha pessoal, mais do que de influências externas, por muito peso que estas possam eventualmente ter tido nas suas opções.

Não pretendo aqui trazer lições de duvidoso moralismo, até porque a ideia que me ficou após a sua morte, pela postura dos seus amigos e familiares  foi precisamente a de que esta seria uma morte esperada e anunciada. Mas não posso deixar de registar que  um ser humano, no auge de uma vida jovem, plena de fama e  sucesso profissional não encontre nada melhor para escolher do que as drogas e o alcool. Que estranha forma de vida, diz a letra de um fado. Que estranha forma de viver uma vida.

Não sei se no caso de Amy Winehouse se pode aplicar aquela velha máxima de que "uma pessoa é ela e as suas circunstâncias" ; quero acreditar que não. Não há nenhuma circunstância  que nos possa obrigar ao estilo de vida da cantora em causa, especialmente quando se sabe onde ele nos pode levar. É por isso que me parece que Amy Winehouse fez uma escolha voluntária e isso pode ser ainda mais intrigante; porquê essa escolha ?!

Independentemente das escolhas dos famosos ( boas ou más ), não podemos iludir o facto de que elas terão influência nas gerações suas contemporâneas. Mas não podemos deixar de procurar também, enquanto cristãos, de mostrar que há escolhas que nos levarão sempre por caminhos potencialmente perigosos, mesmo se vivemos num mundo em que tudo é relativizavel, até a morte.

Amy faz parte de um grupo mais ou menos restrito de cantores e músicos famosos que trilhou o mesmo caminho minado, um caminho largo onde tudo é consentido, até a morte calculada, e isso só significa que o culto da fama e do sucesso não pode substituir-se ao culto da vida. A vida é uma oportunidade única que nos foi oferecida e que deve ser vivida usufruindo em pleno da felicidade e responsabilidade existente em cada minuto da mesma.


Jacinto Lourenço

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A Nostalgia do meu Agosto



Hoje é segunda-feira de um novo mês de Agosto. Já passaram pela minha vida mais Agostos do que eu gostaria que tivessem passado, mas apesar disso, não enjeito nenhum dos que por mim passaram.
Há alguns anos atrás, Agosto surgia no calendário como mês de férias por excelência, sempre um mês de férias seguidas. As empresas fechavam portas, o parque escolar idem dando oportunidade a trabalhadores, famílias e portugueses em geral a usufruir de um mês inteirinho longe das actividades de um ano de trabalho. Praia, campo, aldeia, destinos mais próximos ou mais distantes, tudo era uma surpresa e uma vertigem constante de novas aventuras e descobertas de verão mesmo se não havia dinheiro para restaurantes e menos ainda para viagens ao estrangeiro, isso já era para gente de outro estatuto num tempo em que à classe média se dava o nome de pobres e os outros, os que podiam ir para o estrangeiro, eram os ricos.

Confrontado com o meu Agosto de 2011, constato como perdi entretanto qualidade de vida. Em lugar da praia no Algarve e alojamento num parque de campismo ou em apartamento, estou confinado à necessidade de aplicar a maior parte do mês numas obras de reconfiguração do espaço livre da casa da aldeia. Poupa-se na mão de obra mas gasta-se o físico que deveria estar a recompor-se algures numa praia algarvia. Sei que lá mais para a frente surgirão outras compensações alternativas à praia que não tive em Agosto. Por estranho que pareça, sinto a nostalgia do cheiro das águas cálidas do sul onde não rumarei este ano mesmo se nos últimos anos os ares do sul algarvio não eram muito consensuais para mim. Talvez porque sempre me habituei a ir de carro cheio ( somos uma família de cinco lá em casa ) e isso já deixou de acontecer de há dois ou três anos para cá; Ou talvez porque as férias a dois precisem ser repensadas e ajustadas a uma realidade familiar diferente e a um Agosto que já não tem a mesma graça do Agosto de 30 dias seguidos de há uns anos atrás, ou porventura porque as férias em Agosto já não têm o mesmo sabor de quando éramos todos mais felizes nas águas quentes do pós-levante algarvio.

Jacinto Lourenço