quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Montemor-o-Novo: Epicentro de Viragem no Portugal Quatrocentista


Montemor-o-Novo representou no século XV não apenas um importante ponto de passagem obrigatório na estrada que ligava Lisboa e Santarém a Évora, povoações de primeira grandeza medieval no reino e particularmente na zona sul do país; a vila acabaria por se tornar, por inegável consequência disso, em relevante ponto de paragem e estadia mais ou menos prolongada para reis, fidalgos, senhores para além de outra gente que gravitava em torno da corte e da nobreza. Mesmo não revelando uma grandeza urbanística significativa nem uma dimensão comparável às da vizinha Évora, por exemplo, quer em termos populacionais ou das habitações construídas intra-muros, o posicionamento geográfico de Montemor-o-Novo acabaria por se mostrar determinante no papel que a história lhe reservou antes, e durante o século XV. Como é evidente, e apesar de uma notada tendência de desertificação populacional da Cerca da vila, cujos moradores eram aliciados por um Termo que prometia actividade económica muito mais pródiga e lucrativa, particularmente no capítulo da agricultura, Montemor-o-Novo continuou a fazer sempre parte integrante, ao longo de todo o século XV, da vida política nacional e de todos os jogos político-sociais que nesse âmbito iam marcando o pulsar do reino.

Durante todo o século XV a história de Montemor-o-Novo é marcada e pautada por cinco importantes reinados saídos da geração de Avis: D.João I, D. Duarte, D. Afonso V, D. João II bem como ainda os primeiros anos de reinado de D. Manuel I, sem esquecer, é claro, a regência do Infante D. Pedro, no período abrangido pela menoridade de D. Afonso V.
Teve Montemor-o-Novo, como outros municípios, momentos de maior relevância e/ou apagamento. De um ponto de vista lato pode dizer-se que Montemor-o-Novo não estando  no “olho do furacão” esteve porém extremamente envolvido no turbilhão da história Portuguesa no século que encerrou a época medieval portuguesa.

Se tivéssemos que isolar um facto marcante, em definitivo, para a vida do concelho de Montemor-o-Novo, e até de Portugal, no período em estudo, escolheríamos o acontecimento mais dramático representado no degredo e posterior fuga para Castela do donatário e Marquês de Montemor, D.João, irmão de D. Fernando Duque de Bragança, bem como a morte deste último, ambos os factos ordenados por D.João II que pretendia com isto “dizer ao que vinha” e inaugurar uma nova época de retoma política e administrativa do reino por parte da coroa e que estava a ser contestada pelos grandes senhores de Portugal. Este facto representa, uma viragem dramática na orientação do reino muito desejada por D. João II e que ao desferir rude golpe no Duque de Bragança, na sua família e no seu vastíssimo património económico, militar e territorial, dava assim um sinal importante para o reino e os seus mais importantes senhores sobre qual era o seu projecto político para Portugal. Montemor-o-Novo foi palco privilegiado dessa exibição da visão e esperteza política de D.João II e da sua aplicação prática  que levariam  Portugal  ao fausto dos descobrimentos e do grande incremento de  todas as ciências a estes ligadas bem como a alcandorar-se como grande potêncial mundial dos mares e do comércio ultramarino. Uma grande gesta para um pequeno povo. 

Mesmo que não se goste de homens providenciais, há-de reconhecer-se esse papel em D. João II na afirmação do reino de Portugal feita em parte com o combate feroz ao até então domínio senhorial do país pela grande nobreza senhorial e pelo poder esmagador da Casa de Bragança.  A Montemor-o-Novo há-de creditar-se o facto de ter sido palco de uma das maiores viragens positivas da história de um país.  


Jacinto Lourenço