quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Na Encruzilhada...



 O regresso forçado a uma moeda própria é o que teremos 

de mais certo, se este Governo, dopado pela austeridade, 

continuar a confundir sonambulismo com determinação.


Viriato Soromenho Marques in Diário de Notícias

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A Religião, a Mulher, a Moral e a Sexualidade revisitadas no Século XII na Europa Ocidental.



...Sob a influência de S. Jerónimo e de uma tradição patrística hostil à mulher, esta é apresentada sobretudo como a filha de Eva , origem de todos os males e principal protagonista do pecado. Aos olhos dos autores eclesiásticos, ela só se torna digna de interesse e estima  se possuir qualidades viris. Daí os elogios proclamados a rainhas ou imperatrizes que souberam fazer esquecer, pela firmeza do seu comportamento, a fraqueza própria do seu sexo. Existem, certamente, formas de vida religiosa para uso das mulheres: a par de algumas reclusas, fechadas nas suas celas, numerosas monjas levavam uma vida comunitária  e piedosa, orientada pela regra de São Bento. Mas na maioria das vezes a entrada nos mosteiros era subordinada ao pagamento de um dote, o que efectivamente instituía um numerus clausus. Por outro lado, se as virgens consagradas e as viúvas beneficiavam de uma certa consideração, o mesmo não se passava com as casadas. As que pertenciam à alta aristocracia podiam desempenhar um certo papel na vida religiosa do seu tempo, concedendo favores à igreja e multiplicando as fundações monásticas. Mas tal privilégio encontrava-se reservado a um pequeno número de damas notáveis. A totalidade das mulheres casadas não tinha quaisquer perspectivas religiosas, e o casamento apresentava-se, sobretudo, como um obstáculo no plano da salvação. De facto, aos olhos do clero, a vida sexual é uma consequência do pecado e as relações conjugais,  toleráveis unicamente tendo em vista a reprodução, constituem sempre um pecado, pelo menos venial, na medida em que se fazem acompanhar de prazer. Para não ser fonte de pecado, o acto carnal só deverá ser realizado a contragosto e São Pedro Damião não faz mais do que dar um exemplo impressionante desse generalizado estado de espírito quando apresenta aos leigos o exemplo do elefante que, levado ao acto de propagação, volta a cabeça, mostrando assim que actua constrangido pela natureza, contra a sua vontade, e que tem vergonha e desgosto por aquilo que faz. Por isso, os esposos raramente deviam comungar e, em qualquer caso, deviam abster-se de toda a relação carnal antes de receberem o sacramento. Se pretendessem verdadeiramente obter a salvação, ser-lhes-ia necessário viver na continência.[...]


André Vauchez - A Espiritualidade da Idade Média Ocidental, Séc. VIII a XIII, páginas 113,114 - Editorial Estampa

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A Bíblia de Lisboa





A "Bíblia de Lisboa" é o mais completo códice datado, ou seja, (um manuscrito em forma de livro, em vez de um rolo) da famosa escola medieval portuguesa de iluminura hebraica. Esta Torah  terá sido concluída no ano de 1482, e é normalmente designada como a "Bíblia de Lisboa". Estamos perante um testemunho importante e único sobre a riqueza da vida cultural dos judeus portugueses antes da expulsão e das conversões forçadas pelo édito de D. Manuel, decretado em finais do século XV.




                                                                                              Lisboa Bíblia, Lisboa, Portugal, 1482 

Ou BL. MS 2626, vol. 1, f. 23V 

Copyright © O Conselho de Biblioteca Britânica 




Autor desta obra prima ?

Samuel ben Samuel Ibn Musa, conhecido como Samuel, o escrivão, copiou o texto bíblico num roteiro elegante e muito bem elaborado para o seu patrono Yosef ben Yehudah al-Hakim. As decorações são uma mistura de influências italiana, espanhola e flamenga, decorações, gentilmente elaboradas por mãos experientes e qualificadas para este tipo de trabalho.






Samuel escreveu o texto em duas colunas de 26 linhas com uma pena de junco no estilo característico sefardita, acrescentando as vogais sob as letras hebraicas. 
Um segundo escriba, anónimo, escreveu comentários e notas sobre o texto principal nas margens superior e inferior da página e entre as colunas. Em vez de copiar o texto em linhas rectas, o escriba anónimo criou desenhos circulares de linhas de texto, uma técnica conhecida como micrografia.

Sabe-se que produziu o livro do colofão (o "painel de créditos", no final do livro). Nela, Samuel Musa se identifica como o escrivão, e diz-nos que ele terminou o trabalho numa noite de sexta-feira no mês judaico de Kislev e no ano 5243, o que corresponde a Novembro / Dezembro do ano de 1482.






Porque é importante?

A designada "Bíblia de Lisboa", é uma das mais belas e precisas no que respeita aos manuscritos bíblicos hebraicos, e, como tal, tem sido utilizado em diversas e modernas edições críticas, considerado até como um texto modelo. É também o manuscrito mais bem realizado e datado da escola medieval portuguesa de iluminura hebraica.

O British Museum Library (agora na Biblioteca Britânica) comprou o manuscrito em 1882. A actual encadernação é de 1954.




sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Deus, o Universo, Kepler e Ptolomeu...



O contributo de Johannes Kepler, astrólogo - assim eram designados na antiguidade os actuais astrónomos ou astrofísicos - alemão nascido em 1571, protestante e estudante de teologia no início da sua vida académica, foi, segundo diz Carl Sagan em Cosmos, de grande audácia e de importância fundamental para a compreensão das leis físicas que regem  o universo, à semelhança da importância que teve também Galileu para essa mesma compreensão.  Diz ainda Sagan que Kepler, sendo o último astrólogo científico, foi o primeiro astrofísico da história.  Tal como aconteceu com Galileu, condenado pela igreja católica romana pela defesa e insistência na teoria heliocêntrica, não seria fácil para Kepler fazer aceitar a  tese de que, para além do sol se encontrar estático - como já era conhecido - os planetas circundavam-no  em rotas elípticas  não em círculos perfeitos, como  defendido pelos tradicionalistas convictos de que um Deus perfeito nunca iria colocar os planetas a realizar órbitas em círculos imperfeitos ( Carl Sagan - Cosmos) e que isso derivava precisamente da atracção que a nossa estrela exerce sobre os planetas  que a rodeiam quando efectuam os movimentos de translacção.
  
Para além de se ter dedicado ao estudo de diversas ciências que lhe permitiram  olhar os  planetas numa outra perspectiva, Kepler era um cristão convicto que achava que Deus exercia influência permanente no universo e que isso  era muito mais do que apenas «uma brincadeira  no  intervalo do recreio de todas as outras actividades  divinas». 

Quando em 1543, antes portanto de Kepler e Galileu, um clérigo católico polaco de nome Nicolau Copérnico entregou ao mundo as suas convicções acerca do movimento heliocêntrico dos planetas,  que punha desde logo em causa todo o conhecimento trazido à luz  por Cláudio Ptolomeu e   que durou cerca de mil anos, o mundo religioso e científico de então foi completamente abalado.  Não esqueçamos que Ptolomeu bebera muito em Aristóteles e na ideia dos quatro elementos, água, fogo, ar e terra, que dominavam, segundo a escola Aristotélica, os comportamentos dos seres , pelo que algumas bizarrias que Ptolomeu sustentava vinham na esteira desse posicionamento.                                                             

Ptolomeu acreditava que, não só os comportamentos eram influenciados pelos planetas e estrelas, mas também que as questões de estatura, tez, nacionalidade e até deformações físicas congénitas eram determinadas pelas estrelas - Carl Sagan - Cosmos


Jacinto Lourenço

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A Maravilhosa Substância dos Genes





Olhe para a sua mão. 

Cada uma das células da sua pele contem informação genética que herdou dos seus pais. Assim como uma ou outra ruga, escrita na sua pele pelo estilete vida, também essa informação genética foi de certa forma modelada pela sua interação com os lugares por onde o leitor passou, os ares que respirou, a comida que ingeriu, as emoções que viveu.

No núcleo de cada uma dessas células (assim como as de todo o corpo, mas excluindo as células reprodutivas) existem 46 cromossomas agrupados aos pares: cada um dos 23 que herdou da sua mãe emparelhou, desde a fecundação que lhe deu origem, com os homólogos 23 que recebeu do seu pai.


Cada cromossoma contem os genes onde estão inscritas as informações para a forma da sua mão, assim como para as proteínas fotoreceptoras que estão na sua retina e que permitem que esteja a ler este texto. De resto, os 46 cromossomas contem a grande maioria dos genes que instruem a maquinaria proteica a ser o que somos na nossa relação com o ambiente e com os outros seres que coabitam connosco nesta lágrima de tempo que é a nossa existência.[...]

Ler texto integral AQUI

Fonte: De Rerum Natura

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A RELIGIÃO DO SÓCIO-ECONÓMICO





Por muito que procurem evidenciar o contrário na estrutura religiosa e popular do seu discurso, existem hoje «igrejas» que ao designarem-se como centros de ajuda espiritual, querem governar Deus. -«Vamos buscar esse Deus- proclamam-, preparem o copo de água».

Nos seus conceitos ditos cristãos, nem Deus, nem Jesus Cristo estão no centro da Revelação, a importância revelacional vai toda para o que é socioeconómico, para não falar de ícones periféricos ( isto é, copos de água, fogueiras santas, monte de Sinai, cruz de fogo, etc.), como transferências do profano para o sagrado ou a necessidade de uma presença «sagrada» visível e palpável, no dizer de Roger Caillois.



O que se tenta fazer, numa homilética manipuladora de massas normalmente carentes, umas, e outras ambiciosas, é a compatibilização do incompatível, teologia e ciência económica, cristianismo e mercado, espírito e matéria, Deus e Mamom.



Alguns desses líderes da ajuda espiritual contribuem, irreflectida e inconscientemente, para o pensamento do século XIX, de Ludwig Feuerbach, segundo o qual todos os conceitos de Deus são invenções humanas, sejam eles cristãos ou não, e se projectam das esperanças ou dos temores humanos.[...]



João Tomaz Parreira 

Ler texto integral AQUi no FB de J.T.P.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Humor de Sexta - O Assalto...




Fonte: Henrycartoon

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013




Português nascido em Lisboa.
Judeu por linhagem. Por coragem.
Estadista e Financeiro. Comentador Bíblico e Filósofo.



Na belíssima exposição organizada, em 2009, pelo Museu de Arte Antiga à volta do tema “Portugal e o Mundo no séc. XVI e XVII”, em lugar de destaque, “ Os Painéis do Infante”.  Nuno Gonçalves, seu presumível autor, pintor régio de D. Afonso V, deve ter falecido no fim do séc. XV, talvez em 1492. Pouco conhecemos da sua vida e os Painéis encerram muitos mistérios. De certo, sabemos que o Rei o nomeia para esse cargo, em 1450, e que em 1470 é distinguido com a honra de Cavaleiro da Casa Real.   Ainda por provar que seja ele o autor da referida obra. Ainda por identificar as pessoas nela representadas.Ajoelhado está o Rei D. Afonso V ou D. João II? O adolescente será o Príncipe D. João, futuro D. João II ou o seu filho bastardo, D. Jorge?

Na sexta tábua, no Painel da Relíquia quem retrata o vulto austero e majestoso de negro vestido? Um Judeu? Provavelmente, se tivermos em conta “o sinal vermelho de seis pernas, no peito acima do estômago”, sinal identificador desta minoria, cujo uso a Lei Joanina de 1429 [1] tornara uma vez mais obrigatório, bem como os caracteres que se assemelham à escrita hebraica “comentários que correm ao longo das margens parecendo sugerir a prática talmúdica da interpretação e comentário da Escritura”[2]. De acordo com o parecer de Nuno Guerreiro, a chave para decifrar o Judaísmo desta figura que nos Painéis representa a alegoria do Rigor, está na forma como o livro que tem nas mãos está a ser manuseado: aberto da esquerda para a direita. Com efeito os livros hebraicos são abertos desta forma e lidos em ordem inversa.                   
A conotação judaica desta figura de ar severo é também afirmada por Joaquim de Vasconcelos que no Comércio do Porto de 28 de Julho de 1892, a ela se refere: “aponta com gesto arrogante, todo ele vaidoso, enfatuado na sua sabedoria de Rabino para um livro de confusos caracteres fantasiados. É bem o tipo de Sinagoga militante”.[1] Se os Painéis atribuídos ao pintor régio, Nuno Gonçalves, realmente lhe pertencem, se o Rei retratado é D. Afonso V, se a figura majestosa e severa representando a alegoria do Rigor é um Judeu, esse Judeu pode efectivamente ser Isaac Abravanel. “Os historiadores brasileiros, Guilherme Faiguenboim, Paulo Valadares e Anna Rosa, (…) no Dicionário Sefaradi dos Sobrenomes (Frahia, São Paulo 2003) (…) afirmam que este judeu nos Painéis de Nuno Gonçalves pode muito bem ser D. Isaac Abravanel um dos mais ilustres judeus portugueses do séc. XV, estadista, líder da comunidade judaica ibérica, filósofo e rabino cabalista nascido em Lisboa, cujos escritos são ainda hoje estudados”[1]
Alguém que usufruía da completa confiança do Rei: “quanto me era deleitoso viver à sombra dele. (…) Enquanto viveu pude sempre entrar no palácio real e sair à vontade”.[2]

Falando de si próprio dizia Isaac Abravanel: 

“Contente vivia eu em Lisboa, minha pátria e capital formosa do Reino de Portugal na posse de bens da rica herança paterna, em casa cheia de bênçãos de Deus. 
Tinha-me o Senhor concedido felicidade, riqueza e amigos. 
Mandei construir casas para a minha habitação e sumptuosas galerias. A elas concorriam os sábios e de lá se espalhava a ciência e o temor a Deus. 
Então era eu querido no palácio do Rei D. Afonso, aquele poderoso soberano cujos domínios se estendiam por dois mares, feliz em todas as suas empresas, justo, benigno, temente a Deus que evitava o mal e promovia o bem do seu povo e dispensava em seu governo liberdade e protecção aos Judeus”.[3]

Neste excerto, creio podermos destacar quatro pontos essenciais: 
- A importância da sua própria casa como núcleo de cultura e de fé (“de lá se espalhava a ciência e o temor a Deus”). 
- O reconhecimento da fé de D. Afonso V (“temente a Deus”). 
- O seu sentimento de pertença a uma cidade, Lisboa, (“minha pátria”). 
- A benignidade com que o Rei tratava o seu Povo (“dispensava em seu governo liberdade e protecção aos Judeus”). Segundo afirmava descendia do Rei David. Não é possível recuar tanto na sua genealogia mas encontrámos referências a Joseph Abravanel, colector de impostos de D. Afonso X de Castela e Leão, (1252-1284), Rei que em Toledo, reuniu à sua volta tradutores cristãos, judeus e muçulmanos incumbidos de verter para o Latim e para o Romance, obras da Antiguidade guardadas pelos sábios do Islão. Textos desta Escola de Tradutores vieram a ser objecto de estudo em universidades medievais como Bolonha, Oxford, Paris, Salamanca, Coimbra. “Este monarcha pelo seu dedicado amor às ciências e às letras, que cultivou com singular aptidão, mereceu que a posteridade o cognominasse de “Sábio”. Dadas as suas tendências não é de extranhar vê-lo estender a mão protectora aos judeus, que tanto se haviam assignalado em mais de um ramo do saber humano. A nação proscripta encontrou nele um verdadeiro Mecenas. Chamando para junto de si os mais notáveis, o Rei artista veiu a ter nelles poderosos auxiliares para os seus trabalhos (…) Toledo tornou-se o foco dos estudos; abriram-se de novo as synagogas, onde os rabbinos explicavam tranquillamente ao povo a lettra da lei: erigiram-se cadeiras de hebreu; construíram-se judiarias; Platão e Aristóteles, Avicena e Euclides foram vulgarizados graças a esta effervescencia de estudos, que D. Afonso X animava corajosamente. Philosofhos e astrónomos, gramáticos e historiadores assignaláram distincta e notavelmente este período da sua história”.[1] [...]


Fonte: Por Terras de Sefarad

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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013



A democracia é feita de duas componentes fundamentais: o primado da soberania popular, expressa essencialmente por uma escolha pelo voto, e o primado da lei num Estado de direito. Não é apenas a escolha pelo voto que caracteriza a democracia, porque senão viveríamos numa tirania, associada a uma demagogia populista. Foi assim que Hitler chegou ao poder, com eleições, mas violando o primado da lei e do direito, e este é o modelo latino-americano de ditaduras populistas como as de Péron a Chávez.
Na prática, as coisas são mais complicadas, mas por muito complicadas que sejam, convém não esquecer o simples, que é também o essencial: é o voto mais a lei e não é só o voto, nem só a lei. Ora, poucas vezes se tem assistido a uma tão grande ascensão de posições antidemocráticas como nos últimos tempos, o que mostra como a "crise" - uma palavra muito ambígua, mas que serve como descrição de um tempo e um modo - tem uma forte componente antidemocrática, que provoca uma séria corrupção dos fundamentos da democracia.[...]

J.Pacheco Pereira in jornal Público

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A Fome não é um Dever Constitucional


Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar,  diz a letra de uma canção muito entoada nos anos posteriores ao pronunciamento  militar que deu origem ao 25 de Abril de 1974  que restituiu a liberdade em Portugal após 48 anos de ditadura de um regime que se esgotara por dentro de si próprio. 
Já lá vão 39 anos de restauração das liberdades cívicas, e hoje, não perdemos ainda a faculdade de ver, ouvir e ler acerca de uma certa ideia de democracia que se fundou entretanto no país, baseada na apropriação do poder político por dois ou três partidos que sempre usaram o Estado em benefício próprio, em benefício dos seus dirigentes, dos amigos dos dirigentes, dos parentes e amigos dos amigos dos dirigentes ou das suas clientelas partidárias que se habituaram a viver de favores partidários repartindo  entre si um  bolo que detinha qualidades inebriantes ou alucinogéneas que durante anos e anos causaram uma euforia incontida em tudo e todos os que giraram à volta da esfera do aparelho do Estado e que  os levava a pensar  que podiam ou  podem fazer tudo aquilo que queriam ou querem, porque depois, sim, depois há sempre o povo para pagar os efeitos da ressaca enquanto, de passagem, se procura convencer essa "gentalha" do povo  que, afinal,  andaram a viver acima das suas possibilidades  e, por isso, agora, têm que aguentar...

Estava a ouvir na rádio, no passado sábado de manhã, embalado pela  plácida pacatez de um fim de semana no alentejo, as notícias de que o tal  "Estado", que é propriedade de alguns amigos que funcionam em círculo fechado, injectara mais de mil milhões de euros num banco privado que era pertença de um comendador qualquer, que entretanto morreu e deixou à sua viúva e filhas o dito banco. Estas não se entenderam  e depois andaram todas à chapada para decidirem quem é que ficava com a maior fatia do bolo deixado pelo senhor comendador. Ora foi neste pequeno banco que o actual (des)governo meteu mais uns milhões para nós pagarmos. Entretanto, o mesmo (des)governo, prepara-se para fazer mais um brutal confisco de 4.000 milhões de euros aos portugueses, mas não a todos os portugueses, apenas aos pensionistas, reformados, doentes, estudantes, desempregados e trabalhadores em geral... Enfim, aos do costume, que fazem sempre o papel do mexilhão agarrado à rocha...  É que não sei se já repararam, mas há um confisco que ainda nem sequer entrou em vigor, isso acontecerá apenas a partir do fim do mês que está a correr, e já se anuncia outro, porventura muito maior e mais agressivo do que os anteriores. Claro que este que se anuncia vem debaixo da capa de um estudo do FMI, feito por uns senhores que passam a maior parte da vida enfiada nuns gabinetes lá para Washington a lidar com números e estatísticas e que devem achar que um ser humano será assim como que  uma coisa  muito próxima de um alienígena, que eles nunca viram a não ser nos filmes de ficção feitos em Hollywood. O problema, sabe-se desde há muito, embora ao (des)governo desse algum jeito fingir pensar que não se sabia , é que as premissas para o tão "elaborado" estudo do FMI, foram fornecidas pela equipa do mago Gaspar ( sim, mago, porque um mago é alguém que se guia pela sorte que as estrelas eventualmente lhe possam trazer...). Ou seja, os tais tecnocratas só nos estão a comunicar aquilo que o (des)governo queria que eles comunicassem e, assim, sempre havia de parecer  que não , que os tipos do FMI é que se puseram a pensar na coisa e tal, e que isto afinal não partiu do (des)governo mas sim desses malandros   do Fundo que, quando não têm mais nada para fazer, jogam à sueca uns com os outros ou vão debitando uns números para nos entalarem.

Ou seja: de uma maneira ou de outra o (des)governo em Portugal o que gosta  mesmo é de dar dinheiro aos amigos, de salvaguardar o dinheiro e os interesses  dos amigos e depois, bem, depois essa "gentalha" do povo há-de pagar com língua de palmo... Se em lugar de servirem para "salvar" um banco, que tem uma posição pouco menos que residual no casino  financeiro em que todos os bancos jogam e que não representa, segundo dizem os entendidos nestas coisas, nenhum risco sistémico, os mil e tal milhões de euros fossem injectados na economia real, quantos empregos seriam criados ? Quantas bocas seriam alimentadas? Quantos portugueses continuariam a viver nas suas casas em lugar de terem que as entregar à banca ? Quantos doentes, que hoje estão a morrer por lhes estarem a ser negados os medicamentos  no Serviço Nacional de Saúde, poderiam continuar a seguir com a sua vida ? Quanto estudantes poderiam continuar a pagar as suas propinas  não tendo assim que abandonar os seus estudos ? Quantos trabalhadores ou desempregados deixariam de ter que emigrar para poderem pôr pão em cima da mesa ?  Quantas crianças  deixariam de depender das refeições dadas generosamente pelas escolas, mesmo quando não estão em aulas ?

Este (des)governo de amigos do alheio que tomou posse abusiva do aparelho do Estado, está literalmente a aplicar a eutanásia à economia portuguesa, aos portugueses, a Portugal. É preciso deitá-lo da cadeira abaixo e não voltar a levar ao poder os que nos conduziram à actual situação, nem que para isso apareçam novos movimentos políticos fundados por cidadãos bem preparados e objectivamente focados em governar a bem de Portugal e dos portugueses, que saibam colocar a política ao serviço da economia e das pessoas. Mais vale uma crise política do que um (des)governo destes que só governa para o seu círculo de amigos. Os portugueses sabem que têm que fazer sacrifícios num momento particular da vida nacional para pagar os desmandos cometidos pelos partidos e pelas hostes partidárias que se locupletaram à sombra desta ideia de uma certa democracia que já corre há praticamente 39 anos, mas nada os obriga a tolerar esta gente por mais tempo. Chega de saque !!

O professor Adriano Moreira que, como sabemos, é "um perigoso esquerdista", afirmou hoje, em entrevista à Antena 1, depois de  perguntado se «devíamos preservar esta "estabilidade política" a qualquer custo» que "a fome não é um dever constitucional". 

Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar !


Jacinto Lourenço

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013



Dizia um dia o grande filósofo Citófilo a uma mulher desesperada e com grandes motivos para o estar: «Minha senhora, a rainha de Inglaterra, filha do grande Henrique IV, foi tão infeliz como vós: expulsaram-na dos seus reinos; por pouco não parecia numa tempestade em pleno oceano; viu morrer o seu real esposo no cadafalso – tenho muito pena dela, disse a dama», e continuou a chorar os seus próprios infortúnios.
«Mas, disse Citófilo, lembrai-vos de Maria Stuart: amava muito honestamente um jovem músico que possuía uma belíssima voz de barítono. O marido matou o músico na presença dela; e mais tarde a sua boa amiga e parente; a rainha Isabel, que se dizia virgem, ordenou que lhe cortassem a cabeça num cadafalso coberto de panos negros, depois de a ter enclausurado numa masmorra durante dezoito anos. – Isso é tudo muito triste, respondeu a dama», e voltou a cair na sua profunda melancolia.
«Tenho de vos contar, continuou o outro, a aventura de uma soberana que no meu tempo foi destronada depois da ceia, e que morreu numa ilha deserta. – Conheço toda essa história», disse a dama.
«Então vou contar-vos o que aconteceu a uma outra grande princesa a quem revelei a filosofia. Ela tinha um amante, como todas as grandes e belas princesas. O pai entrou no quarto e surpreendeu o amante com o rosto em fogo e os olhos brilhantes como carbúnculos; a dama também parecia muito animada. A expressão do jovem caiu de tal maneira no desagrado do pai que este lhe deu a maior bofetada de que há memória na região. O amante agarrou numas tenazes e partiu a cabeça ao sogro, que a custo se corou e que ainda hoje tem a cicatriz dessa ferida. A amante, desorientada, saltou pela janela e torceu um pé; agora coxeia um pouco, embora tenha uma figura admirável. O amante foi condenado à morte por ter partido a cabeça a um tão ilustre príncipe. Podeis imaginar o estado em que se encontrava a princesa quando enforcaram o amante. Vi-a durante muito tempo quando ela estava na prisão; só me falava das suas desgraças. – por que não quereis então que eu pense nas minhas? Perguntou-lhe a dama. – É porque não se deve pensar nisso, disse o filósofo, e porque vos fica mal desesperar quando tantas damas ilustres foram tão infelizes. Pensai em Hécuba, pensai em Niobe. – Ah, disse a dama, se eu tivesse vivido no tempo delas, ou no das belas princesas, e se lhe tivésseis contado os meus infortúnios, pensais que elas vos teriam escutado?»
No dia seguinte o filósofo perdeu o seu único filho e quase morreu de dor. A dama mandou fazer uma lista de todos os reis que tinham perdido os seus filhos e levou-a ao filósofo; este leu-a, achou-a muito certa mas não chorou menos por causa disso. Passados três meses voltaram a ver-se e ficaram espantados por se encontrarem com tão boa disposição. Mandaram erigir uma estátua ao Tempo com a seguinte inscrição: «àquele que consola.»

Voltaire


Fonte: Pó dos Livros

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A Luz no Fundo do Túnel...




Fonte: HenriCartoon

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

E no fim, Quando o governo concluir a sua missão de destruição do País e dos portugueses, Sobrarão os bancos...




Acreditar que a intervenção do Estado no Banif terá sucesso corresponde à mesma coisa que supor serem os êxitos iniciais da ofensiva alemã das Ardenas, em dezembro de 1944, uma sólida garantia da capacidade de Hitler inverter a sorte da guerra... Não há leitura técnica de mais este caso revoltante. Apenas uma leitura política e ideológica. Este é um governo que promove a luta de classes. Quis colocar os portugueses uns contra os outros, conseguindo unir sindicatos e patrões na mesma recusa ética da redução da TSU. Incita os jovens a hostilizarem os pensionistas. Desmoraliza os trabalhadores no ativo, alimentando o ressentimento de desempregados contra modestos salários, apresentados como privilégios. Movido pela sua ideologia da luta de classes, este governo não respeita a palavra dada, como se viu na abrupta redução para 12 dias da indemnização por despedimento. A transferência, num plano kamikaze, de 1,1 mil milhões de euros das dívidas do BANIF para o erário público, numa nacionalização de prejuízos, sem qualquer discussão parlamentar, exorbitando as competências do executivo, violando o princípio republicano do consentimento fiscal, constitui uma verdadeira confissão da natureza classista da política que o ministro das Finanças conduz em Portugal, em articulação com a fação predatória de ministros-banqueiros e banqueiros-ministros que visa submeter os povos da Europa ao jugo da indigência. Este ministro desembarcou em Lisboa como uma espécie de Lenine monetarista na Gare da Finlândia. Ele constitui a principal ameaça à coesão social e à tranquilidade pública. Veio com a missão de subverter o país e obrigar Portugal a uma nova revolução. Só que, na revolução tal como na guerra, sabe-se como as coisas começam, mas nunca como e quando acabam.


Viriato Soromenho Marques in Diário de Notícias Online

sábado, 5 de janeiro de 2013

2013, um Ano de Cometas.

( Grande Cometa de 1680 sobre Roterdão - Lieve Verschuier )


Oxalá pudesse prever-se, com segurança, o aparecimento de um cometa no céu e assim converter-se  isso num verdadeiro espectáculo. Por muitos anos que passem sem que apareça um Grande Cometa, os apaixonados da Astronomia não desvanecem as suas expectativas [...]. Preparem então a vossa agenda de 2013 e tomem nota das datas, sobretudo mais para os finais do ano, quando se poderá avistar o cometa ISON, ou na primavera com o avistamento do cometa PanSTARRS. Quem sabe...

Javier Armentia in jornal El Mundo - Ler texto integral AQUI

( Tradução livre do Castelhano por Ab-Integro )

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

"La Piovra" à Portuguesa - Ou de como perceber melhor a Promulgação dos Orçamentos do Estado em 2012 e 2013...



Excelente trabalho jornalístico da SIC e dos seus profissionais. Aqui fica esclarecido, em boa medida, o que se esconde por detrás dos eufemismos retóricos a que o governo nos habituou ( "refundação", "ajustamento", etc ) visando camuflar o grande esbulho que está a ser feito aos portugueses ( não todos, claro... ), afim de poder acorrer a saldar as dívidas multimilionárias de um grupo alargado dos seus companheiros de recreio Cavaquista. É impossível ver isto sem sentir uma elevada dose de náusea, nojo, mesmo, mas ao mesmo tempo perguntar como é que ainda continuamos a assistir passivamente, ou quase a tudo...?

Afinal, é o nosso trabalho, o nosso esforço, os rendimentos de trabalhadores e reformados, gente que labutou por uma vida menos pobre e mais digna e para poder também promover a melhoria das suas condições de vida e das suas famílias. Mas não é só uma questão de dinheiro, são vidas. Vidas de jovens e  de estudantes que se vêm impossibilitados de trabalhar ou estudar porque não há empregos ou porque as suas famílias estão no desemprego e não os podem continuar a manter nas faculdades, nas escolas, ou que são forçados a ir trabalhar para países estrangeiros, longe de tudo e de todos, dos seus amigos, da sua casa, dos seus pais, irmãos. Como é que, no futuro, vamos conseguir explicar aos nossos filhos e netos, às gerações seguintes, que isto aconteceu na nossa geração e que nós deixámos que acontecesse e que, ainda por cima, continuámos a eleger,  para nos governar, partidos políticos, autênticos feudos, onde ainda hoje se acoitam muitos dos que nos imputaram esta desgraça económica que temos que suportar ? Como é que lhes explicamos que aceitámos ir, como bodes expiatórios, enviados a um deserto de morte como se esse fosse o nosso destino inapelável ? Como é que explicamos às nossas crianças a geografia humana deste país da europa do século XXI onde houve uma geração de gente incapaz de dar um murro na mesa e dizer BASTA ?! Como é que poderemos justificar perante os nossos filhos e netos e os filhos e netos deles, que deixámos que uma geração de ladrões e corruptos, mais os seus mentores que jogavam por fora, tomassem e mantivessem o poder durante décadas para dele usufruirem e se beneficiarem, como se o país fosse a sua quinta privada ? Como é que poderemos conviver, no futuro, com este estigma de termos consentido, sem sequer um  sacudir de  pescoço, este malvado jugo de impiedade, injustiça, confisco, espoliação, fome, incerteza, desemprego nunca visto, ausência de esperança, ofensa, indignidade ?                        

 Sim, como explicaremos que nos deixámos espezinhar violentamente sem soltar um grito colectivo ? Podemos sempre dizer, em jeito de desculpa esfarrapada, que "fizémos" tudo o que estava ao nosso alcance para ultrapassar as dificuldades num período fulcral e particularmente importante no contexto europeu, e é isso, afinal,  que quem nos (des)governa quer que digamos, mas aquilo que  a história  há-de registar e julgar, e apurar,  é que somos, no fundamental,  um povo, ou melhor, uma geração, com grande debilidade cervical, que se curvou à primeira chicotada e que não soube estar à altura dos acontecimentos e das suas responsabilidades, que viu a sua vida, a vida dos seus pais e filhos e o futuro do seu país serem roubados, destruídos,  enquanto , quiçá, plácida e comodamente instalada no seu sofá, de pantufas calçadas, dormente, se empanturrava de debates e mais debates daqueles que explicam tudo e mais o inexplicável e nos pretendem convencer que somos nós, no fim de contas, os únicos culpados de tudo e mais um par de botas, de telenovelas a pegar umas nas outras ou de reality shows  de última geração capazes de fazerem com que o tamanho do nosso cérebro diminua alguns milímetros  por cada minuto de visionamento.

Sim, como vamos explicar este Portugal que somos aos nossos filhos e netos ?!


Jacinto Lourenço

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O Relvas é uma Erva Daninha...



MANIFESTO ANTI-RELVAS



Basta! PUM!
Basta de Relvas! PIN!
Um povo que consente deixar-se governar por um Relvas
não é um povo!
É um povinho!
Um povinho ignorante e cego!
Abaixo a ignorância e a cegueira! PAM!
Abaixo o Relvas! PUM!

Um povo com um Relvas no governo é um povo condenado!
Um governo com um Relvas no pacote não é um governo,
é um laboratório de vírus!
Um povo com um governo infestado de vírus não sobrevive!
Desinfeste-se o governo!
Mate-se o vírus! PUM!
Demita-se o Relvas! PIN!

O Relvas não presta!
O Relvas é um manhoso!
O Relvas é um ambicioso sem escrúpulos!
O Relvas é um peso morto!
O Relvas é uma erva daninha!
Pise-se o Relvas!
Cuidado com o que se pisa ao pisar o Relvas!
AGHRRR!

[...]

Fonte: De Rerum Natura


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