sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

"La Piovra" à Portuguesa - Ou de como perceber melhor a Promulgação dos Orçamentos do Estado em 2012 e 2013...



Excelente trabalho jornalístico da SIC e dos seus profissionais. Aqui fica esclarecido, em boa medida, o que se esconde por detrás dos eufemismos retóricos a que o governo nos habituou ( "refundação", "ajustamento", etc ) visando camuflar o grande esbulho que está a ser feito aos portugueses ( não todos, claro... ), afim de poder acorrer a saldar as dívidas multimilionárias de um grupo alargado dos seus companheiros de recreio Cavaquista. É impossível ver isto sem sentir uma elevada dose de náusea, nojo, mesmo, mas ao mesmo tempo perguntar como é que ainda continuamos a assistir passivamente, ou quase a tudo...?

Afinal, é o nosso trabalho, o nosso esforço, os rendimentos de trabalhadores e reformados, gente que labutou por uma vida menos pobre e mais digna e para poder também promover a melhoria das suas condições de vida e das suas famílias. Mas não é só uma questão de dinheiro, são vidas. Vidas de jovens e  de estudantes que se vêm impossibilitados de trabalhar ou estudar porque não há empregos ou porque as suas famílias estão no desemprego e não os podem continuar a manter nas faculdades, nas escolas, ou que são forçados a ir trabalhar para países estrangeiros, longe de tudo e de todos, dos seus amigos, da sua casa, dos seus pais, irmãos. Como é que, no futuro, vamos conseguir explicar aos nossos filhos e netos, às gerações seguintes, que isto aconteceu na nossa geração e que nós deixámos que acontecesse e que, ainda por cima, continuámos a eleger,  para nos governar, partidos políticos, autênticos feudos, onde ainda hoje se acoitam muitos dos que nos imputaram esta desgraça económica que temos que suportar ? Como é que lhes explicamos que aceitámos ir, como bodes expiatórios, enviados a um deserto de morte como se esse fosse o nosso destino inapelável ? Como é que explicamos às nossas crianças a geografia humana deste país da europa do século XXI onde houve uma geração de gente incapaz de dar um murro na mesa e dizer BASTA ?! Como é que poderemos justificar perante os nossos filhos e netos e os filhos e netos deles, que deixámos que uma geração de ladrões e corruptos, mais os seus mentores que jogavam por fora, tomassem e mantivessem o poder durante décadas para dele usufruirem e se beneficiarem, como se o país fosse a sua quinta privada ? Como é que poderemos conviver, no futuro, com este estigma de termos consentido, sem sequer um  sacudir de  pescoço, este malvado jugo de impiedade, injustiça, confisco, espoliação, fome, incerteza, desemprego nunca visto, ausência de esperança, ofensa, indignidade ?                        

 Sim, como explicaremos que nos deixámos espezinhar violentamente sem soltar um grito colectivo ? Podemos sempre dizer, em jeito de desculpa esfarrapada, que "fizémos" tudo o que estava ao nosso alcance para ultrapassar as dificuldades num período fulcral e particularmente importante no contexto europeu, e é isso, afinal,  que quem nos (des)governa quer que digamos, mas aquilo que  a história  há-de registar e julgar, e apurar,  é que somos, no fundamental,  um povo, ou melhor, uma geração, com grande debilidade cervical, que se curvou à primeira chicotada e que não soube estar à altura dos acontecimentos e das suas responsabilidades, que viu a sua vida, a vida dos seus pais e filhos e o futuro do seu país serem roubados, destruídos,  enquanto , quiçá, plácida e comodamente instalada no seu sofá, de pantufas calçadas, dormente, se empanturrava de debates e mais debates daqueles que explicam tudo e mais o inexplicável e nos pretendem convencer que somos nós, no fim de contas, os únicos culpados de tudo e mais um par de botas, de telenovelas a pegar umas nas outras ou de reality shows  de última geração capazes de fazerem com que o tamanho do nosso cérebro diminua alguns milímetros  por cada minuto de visionamento.

Sim, como vamos explicar este Portugal que somos aos nossos filhos e netos ?!


Jacinto Lourenço