quarta-feira, 13 de abril de 2011

A Parousia e a Ficção Europeia

  (O Juízo Final - Jean Cousin )

Vivem-se tempos conturbados nesta europa a 27  a que alguns  continuam a   chamar União.

Era uma ideia engraçada, a de que a europa pudesse um dia vir a ser um território no qual conviveriam milhões de pessoas de nacionalidades que tinham até há poucos anos servido para dividir e afastar; com diferentes níveis de desenvolvimento, diferentes línguas, sensibilidades diversas e um caldo de  culturas sublinhadas por histórias bem marcadas, na maior parte das vezes antagónicas, e que raramente convergiram sem ser pela força do domínio baseado nas armas.

Lembro-me que, enquanto cristão, e na juventude, o tema Mercado Comum suscitava grandes discussões sobre como iria desenvolver-se esse novo "império romano" que estava supostamente a emergir, na opinião de alguns, formatado por esse conjunto de  países da europa, e de que maneira poderia isso quadrar-se com os temas escatológicos que  tantas atenções suscitavam  em debates e estudos bíblicos. Cada um tinha a sua ideia e procurava que a bíblia a validasse, facto que, está bem de ver, era tarefa dificilmente alcançável. A partir do momento em que o número de adesões ao Mercado Comum ultrapassou o número  de países que se ajustava, de acordo com muitos presumidos candidatos a  exegetas bíblicos,  ao tamanho de um novo e moderno  "império romano", o tema esmoreceu um pouco e perdeu balanço  ficando no entanto no ar a hipótese da saída de algumas nações do Mercado Comum por forma a restabelecer a pretendida contabilidade profética, mesmo se esta não indiciava especificamente um "império" baseado na união de países exclusivamente da região europeia. Bom, confesso que à medida que os anos foram passando também eu fui secundarizando este tipo de debates, o que de resto aconteceu com uma esmagadora percentagem de cristãos que, à semelhança dos primevos irmãos na fé,  desejavam que a 2ª vinda de Cristo ocorresse ainda na nossa geração. Aprendemos todos que os tempos de Deus raramente concordam com o calendário humano,  e  mesmo  sendo  a escatologia  matéria  bíblica relevante, não será ela que determinará a nossa salvação e redenção.

O porquê de me ter ocorrido este tema prende-se com declarações recentes, produzidas por um ministro italiano acerca do problema dos refugiados na ilha de Lampedusa. A Itália pediu o apoio e a solidariedade dos seus comparsas da União Europeia no sentido de que estes se dispusessem a ajudar na situação dos refugiados da Tunísia. E o que é que ouviu como resposta ? Que não, que se resolvesse sózinha que isso era um problema italiano. Perante esta resposta, o ministro do interior questionou se ainda faria sentido continuar na União Europeia, porque sendo assim, "mais vale só que mal acompanhado".

Já o disse aqui e reafirmo: não vislumbro qualquer futuro nesta dita União Europeia e não me admiraria que ela, qual castelo de cartas, se começasse a desmoronar com mais ou menos estrondo. Itália não é um país propriamente despiciendo no seio da União Europeia e, à semelhança de outros países, começa a dar mostras do desgaste que este bloco amorfo de nações, com objectivos e interesses cada vez mais notoriamente irreconciliáveis entre si, começa a provocar na paciência de quem está a ficar farto de viver em ditadura comandada por uma troika de países mais poderosos, com a Alemanha à cabeça, que se instituiram donos e senhores de um grupo heterogéneo de nações que, do meu ponto de vista, jamais poderão ser uma união e, menos ainda, uma federação. Mantenho também possuir  fundadas suspeitas de que esta ficção europeia não vai acabar bem; é que ninguém se sente confortável quando tem  uma bota cardada a esmagar-lhe o pescoço e a impedi-lo de respirar. Pois é justamente esta a forma como alguns países europeus se sentem na arena do circo europeu. Entretanto, os bobos vão animando a corte dos notáveis da europa...

Provavelmente vou ter que regressar mais amiúde ao estudo e análise da escatologia bíblica, porque afinal, a ideia da União Europeia emagrecer as suas fronteiras a curto/médio prazo não me parece nada delirante nem atrevida, bem pelo contrário.  Tenho uma certeza: esta europa será seguramente um ponto cardeal para a compreensão do rumo dos acontecimentos que estão balizados pela Parousia, aconteçam eles quando acontecerem e sejam quais forem os seus protagonistas.


Jacinto Lourenço