O respeito não se pede nem se exige, conquista-se.
Portugal era até há pouco tempo um país relativamente respeitado no concerto das nações, mas isso acabou este fim de semana.
Longe de mim, substituir-me aos comentadores políticos, que os há de sobra neste nosso rectângulo europeu, mas não posso deixar de observar e acompanhar de perto os acontecimentos e desenvolvimentos da actual situação do país, especialmente quando constato que o desvario dos seus ditos representantes não tem limites. As declarações dos ( i )responsáveis políticos portugueses, na sequência do pedido de ajuda financeira à união europeia, se podem servir para consumo interno, no sentido de manterem as suas próprias hostes partidárias animadas, não servem para a generalidade dos portugueses nem para os responsáveis da união europeia, e estes últimos fizeram questão de frisar precisamente isso no decorrer do Conselho da Europa realizado este fim de semana.
Foi ver à vez responsáveis suecos, finlandeses, franceses e até espanhóis a pronunciarem-se agastadamente sobre Portugal depois de se terem apercebido das declarações de alguns políticos portugueses sobre a vontade que tinham ou não tinham de participar na negociação do pacote de resgate da economia. Ora a união europeia já esclareceu, e muito bem esclarecido, que todos tem que se envolver sendo que o contrário equivale a não haver negociação nenhuma. O presidente Cavaco foi repreendido, e com propriedade, diga-se em abono da verdade, pelo comissário Olli Rehn, por ter pedido imaginação à UE nas negociações que agora se iniciam com Portugal. Para além de ser um pedido despudorado e descontextualizado, especialmente vindo de quem já disse que não queria ter qualquer intervenção nas negociações no pacote de ajuda, revela que o presidente Cavaco Silva pede aos outros o que não quiz aplicar a si próprio quando era necessária criatividade e imaginação para chamar à razão os partidos políticos afim de resolverem os problemas nacionais "in house" antes de deixarem cair o país no buraco negro onde se encontra neste momento. Olli Rehn disse-lhe, e eu estou com o comissário nessa matéria, que não falava com os políticos portugueses na praça pública. Ou seja, mandou dizer que não calça o "chinelo" da baixa política à portuguesa nem mesmo que ela venha da parte da presidência.
Nesta fase da vida de Portugal, esperava-se que, pelo menos, o presidente da república se mostrasse como um esteio de maturidade política e de unidade nacional. Mas se é alarmante e muito preocupante que Cavaco Silva tenha tido um início de mandato desastroso, prenunciado, alás, pelo seu discurso de vitória nas eleições, torna-se dramático que, para além de não se mostrar como uma referência de bom senso político e institucional, esteja a contribuir para o seu oposto. Pelos vistos, o verdadeiro Cavaco só agora se está a revelar, embora nós sempre desconfiássemos que debaixo daquele manto diáfono havia mais para recear do que para tranquilizar a nação. É notório que ele faz parte do problema e não da solução para Portugal.
Por mim, enquanto português, sinto-me naturalmente enxovalhado pelas declarações dos dirigentes europeus dirigidas a Portugal e aos portugueses através das duras repreensões públicas aos políticos nacionais, mas sinto-me muito mais enxovalhado pela actuação desses mesmos políticos que se mostram pouco dignos de Portugal e da história secular de um país que sempre soube fazer-se respeitar no mundo mais pela sua criatividade, imaginação, engenho e arte do que por outros poderes que nunca teve.
Jacinto Lourenço