segunda-feira, 11 de abril de 2011

O Respeito Conquista-se


O respeito não se pede  nem se exige, conquista-se.
Portugal era até há pouco tempo um país relativamente respeitado no concerto das nações, mas isso acabou este fim de semana.

Longe de mim, substituir-me aos comentadores políticos, que os há de sobra neste nosso  rectângulo europeu, mas não posso deixar de observar e acompanhar de perto os acontecimentos e desenvolvimentos da actual situação do país, especialmente quando constato que o desvario dos seus ditos representantes não tem limites. As declarações dos ( i )responsáveis políticos portugueses, na sequência do pedido de ajuda financeira à união europeia, se podem servir para consumo interno, no sentido de manterem as suas  próprias hostes partidárias animadas, não servem para a generalidade dos portugueses nem  para os responsáveis da união europeia, e estes últimos  fizeram questão de frisar precisamente isso no decorrer do Conselho da Europa realizado este fim de semana.

 Foi ver à vez responsáveis suecos, finlandeses, franceses e até espanhóis a pronunciarem-se agastadamente sobre Portugal depois de se terem apercebido das declarações de alguns políticos portugueses sobre a vontade que tinham ou não tinham de participar na negociação do pacote de resgate da economia. Ora a união europeia já esclareceu, e muito bem esclarecido, que todos tem que se envolver sendo que o contrário equivale a não haver negociação nenhuma. O presidente Cavaco foi  repreendido, e com propriedade, diga-se em abono da verdade, pelo comissário Olli Rehn,  por ter pedido imaginação à UE nas negociações que agora se iniciam com Portugal. Para além de ser um pedido despudorado e descontextualizado, especialmente vindo de quem já disse que não queria ter qualquer intervenção nas negociações no pacote de ajuda, revela que o presidente Cavaco Silva pede aos outros o que não quiz aplicar a si próprio  quando era necessária criatividade e imaginação para chamar à razão os partidos políticos afim de resolverem os problemas nacionais  "in house" antes de deixarem cair o país no buraco negro onde se encontra neste momento.  Olli Rehn disse-lhe, e eu estou com o comissário nessa matéria, que não falava com os políticos portugueses na praça pública.  Ou seja, mandou dizer que não calça o "chinelo" da baixa política à portuguesa nem mesmo que ela venha da parte da presidência.

Nesta fase da vida de Portugal, esperava-se que, pelo menos, o presidente da república se mostrasse como um esteio de maturidade política e de unidade nacional. Mas se é   alarmante e muito preocupante que Cavaco Silva tenha tido um início de mandato desastroso, prenunciado, alás, pelo seu discurso de vitória nas eleições, torna-se dramático que, para além de não se mostrar como uma referência de bom senso político e institucional, esteja a contribuir para o seu oposto. Pelos vistos, o verdadeiro Cavaco só agora se está a revelar, embora nós sempre desconfiássemos que debaixo daquele manto diáfono havia mais para recear do que para tranquilizar a nação.  É notório  que ele faz parte do problema e não da solução para Portugal.

Por mim, enquanto português, sinto-me naturalmente enxovalhado pelas declarações dos dirigentes  europeus dirigidas  a Portugal e aos portugueses  através das duras repreensões públicas aos políticos nacionais, mas sinto-me muito mais enxovalhado pela actuação desses mesmos  políticos  que se mostram  pouco dignos de Portugal e da história secular de um país que sempre soube fazer-se respeitar no mundo mais pela sua criatividade, imaginação, engenho e arte do que por outros poderes que nunca teve.


Jacinto Lourenço