segunda-feira, 4 de julho de 2011

As Águas não Fervem Abaixo do Equador...


Às vezes queremos iludir-nos e obliterar a triste realidade de que o    mundo em que vivemos dificilmente alguma vez irá ser      diferente.                                


Passada a infância, em que as preocupações são coisas que competem aos adultos e as nossas maiores realizações não vão além de sonhar um mundo à medida das nossas brincadeiras, entramos na adolescência brutalizados pela descoberta de que nada é como imaginámos na infância e os adultos, principalmente os nossos familiares mais próximos, são pessoas que "só querem o nosso mal" para além de insitirem em  adiar ad eternum o cumprimento dos nossos sonhos que passam, em primeiro lugar, por proclamar a liberdade do corpo que nos aprisiona a mente e o coração. Chegados à juventude, a tendência é normalmente a agregação a quem queira connosco partilhar a rebeldia e a revolta contra esse mundo adulto, feio e cinzento; a única coisa que desejamos dele é a liberdade de actuação que nos pemitirá, supostamente, seguir o nosso caminho conjuntamente com todos aqueles que o quiserem fazer connosco.


Atingida a idade adulta e,  confrontados com a realidade da vida, percebemos que o mundo é uma coisa muito pior do que alguma vez  imaginámos. Mas já não temos disponibilidade para o "fazer de conta" das bricadeiras de infância,  e a adolescência, percebemos agora, é uma época a que não queremos voltar por demasiado repetitiva e monótona face à prisão em que um corpo que estranhámos nos obrigou a viver. Também já não temos vontade nem dinâmicas que suportem a rebeldia juvenil embora desta tenham  sobrado algumas  quimeras que ainda levamos para a idade adulta afim de podermos afirmar que estamos vivos e que temos esperança no futuro.


Mais coisa, menos coisa, a vida e o mundo foram sempre percepcionados assim. Embora seja verdade que há sempre um grupo de gente mais ou menos alargado que nunca desistiu de o pensar de forma diferente, especialmente os inconformados com o padrão que condiciona a vida a alguns automatismos universais herdados de antanho. É por isso que se batem por fazer diferente, por experimentar, por analisar, por ensaiar novas fórmulas, por aplicar novas hipóteses à realidade correndo naturalmente o risco de errarem algumas vezes antes de atingir o sucesso. É aqui, neste grupo, que eu desejo estar. E é por isso que rejeito formatações impostas quando pergunto porquê e me respondem  apenas, porque sim, mesmo que por muito experimentadas, tais formatações   não prescindo de pensar por  mim próprio ainda que isso me leve a não estar do lado de alguma maioria pensante, padronizada sabe-se lá com que intenções. Mas  errar, pedir desculpa, e voltar ao início para fazer de novo é igualmente hipótese que não desprezo. Nunca pretendi o domínio da verdade ou a exclusividade da opinião.


O princípio a que obedece a observada triste realidade em que o mundo assenta é o da aceitação de que nada pode acontecer de melhor porque "a vida é mesmo assim". E Isso mata-nos lentamente, retira-nos capacidade de pensar, de fazer diferente, de corrigir, de rejeitar de ideias feitas que não têm sentido nenhum, mesmo que tenham servido muito bem para um tempo determinado, para pessoas que viveram num  contexto  passado.


Eu acredito que o mundo, encarado aqui como uma realidade astrofísica, um "ponto" no universo enquadrado numa regência universal, não irá sofrer grandes alterações a não ser as que lhe forem ditadas pela "gestão divina". Mas na superfície desse pequeno "ponto" integrado no vasto ambiente do universo  o homem, a mulher, o ser humano têm em si não só a capacidade de mudança do mundo como a necessidade de a fazer. Fomos criados com a natureza de Deus e aquilo que sabemos é que o Senhor que nos criou ensaiou diversos começos connosco e deu-nos total liberdade para ensaiarmos e experimentarmos a mudança para melhor. O mundo, visto como uma  realidade, geográfica, povoada por biliões de seres humanos e todo um conjunto de outros seres,  só mudará quando nós o mudarmos. Somos nós, cada homem, cada mulher, o factor fundamental da mudança e de correcção do que não fazemos bem. Mas haverá sempre gente que nunca quererá mudar, ne ousar mudar a realidade à sua volta; por egoísmo, por medo, por burrice, por incapacidade, ou apenas porque não quer porque isso irá "abalar" a sua pequena "zona de conforto". "O mundo pula e avança", como no poema de António Gedeão, quando acontece a mudança.


Na antiguidade acreditava-se que abaixo da linha do equador as águas do oceano ferviam e que isso seria mortal para quem ousasse passar daí; era o que se pensava face à realidade do aumento da verificada temperatura da água sempre que se navegava mais para sul. Os navegadores portugueses, que analisaram, estudaram, cartografaram e ousaram, provaram que isso era impossível e que não passava de mais uma ideia feita como tantas outras. Derrubaram o mito ! Eram homens com os mesmos receios que os outros, mas com uma diferença: queriam contrariar a virtual aparência do que os seus olhos viam ao perto ou das imagens de ilusão que outros carrearam através de fábulas antigas assentes em medos ou vantagens que alguns, noutro tempo, retiravam desses medos e por isso as faziam perpetuar. Os navegadores portugueses apostaram na mudança, no rompimento de "verdades absolutas"  fabricadas pelo stato-quo da época. No desafio de si próprios. Num virgem começo nunca tocado pela mão de homem algum. Feriram em definitivo o absurdo e a imbecilidade.


Cada época, cada tempo tem os seus mitos e alimenta monstros que querem contariar todos os que desejam a mudança e não pretendem  ver-se formatados ou conformados com um mundo feito muitas vezes pelo domínio da estupidez  de tantos que usam o medo e o mito como armas que lhes garantam domínio e preponderância nem que seja no seu "pequeno quintal". São os exibicionistas do situacionismo. Os fariseus do tempo que corre. "Os sepúlcros caiados", muito branquinhos e imaculados por fora mas  plenos de morte por dentro. Vida é mudança e novos começos, novas visões, novas possibilidades para pessoas que não querem uma sorte mesquinha ditada por  artimanhas, truques, situacionismo, hipocrisia e cinismo, maldade,  morte fingindo que é vida. Jesus traduziu isso na frase "Eu Sou a Ressurreição e a Vida".


Jacinto Lourenço