sexta-feira, 1 de julho de 2011

O Amigo em Quem Confiamos



Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.

 Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.

 Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos dei a conhecer.


Palavras de Jesus no evangelho de João, cap. 15

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Todos os anos, quando folheamos a agenda dos nomes, somos, de repente, confrontados com a falta deste e daquele, desta e daquela. Afinal, no ano passado, ainda cá estavam e agora já cá não estão. E alguns - os amigos - a falta que nos fazem! É como se - quem o disse de forma inultrapassável foi Santo Agostinho, ao escrever, nas Confissões, sobre o amigo que partira - uma parte de nós estivesse morta. Também morremos com eles. Sem eles, como a vida se empobreceu!

Claro, refiro-me aos amigos mesmo. Porque, se temos saudades dos conhecidos, sem os amigos a vida já não tem o sabor que tinha. Ah! Sim, os amigos e não os simplesmente conhecidos. A amizade supõe três condições essenciais: a benevolência, a beneficência e a confidência. Querer bem - quem é que não quer bem ao amigo? Fazer bem - quem é que não faz bem à amiga? Mas a benevolência e a beneficência pertencem, de modo mais ou menos intenso, a toda a Humanidade: devemos querer bem e fazer bem a todos os seres humanos, na medida do possível. Mas o que caracteriza a amizade mesmo é a confidência: há aqueles e aquelas - muito poucos - em quem confiamos, com quem nos abrimos e que confiam em nós e se abrem a nós, com a certeza de que encontramos compreensão e de que não seremos traídos no nosso segredo mais íntimo nem eles serão atraiçoados no seu. Como seria possível a vida humana enquanto humana sem os amigos?




Prof. Anselmo Borges in Diário de Notícias de 31 de Dezembro de 2006