Perguntas martelam noite e dia: Infantis, por que ainda não deixamos de nadar no útero cósmico? O lago do mistério nunca tem margem? Não se conhece quem pode decifrar o enigma da angústia? A realidade dos sonhos, que expõe o universo do inconsciente, não seria ainda mais real que o mundo estreito da consciência?
Intuímos as respostas, sentados ou correndo. Sabemos que nunca nos acostumaremos com imensidões. A vida, imensurável, permanecerá complexa demais e nosso tempo por aqui, bem curtinho.
Temos medo do vazio. Entupimos os dias com barulhos. Divertimos a alma com lantejoulas falsas. Mas, talvez o imarcescível só caiba no vazio.
O Tao ensina:
Trinta raios unem um eixo,
A utilidade da roda vem do vazio.
Queima-se o barro para fazer o pote.
A utilidade do pote vem do vazio.
Rasgam-se janelas e portas para criar o quarto.
A utilidade do quarto vem do vazio.
Portanto,
Ter leva ao lucro,
Não ter leva ao uso.
Talvez a vida esteja na coragem de conviver com esse vazio, de nada ter senão a nós mesmos. A respostas que tanto procuramos podem não ser respostas, mas o desvencilhar-se de pesos. Viver talvez seja por-se no Caminho. Quem sabe, longe das demandas da competência, sem as vozes da cobrança, consigamos vencer os dragões que impedem de achar o verdadeiro self, essência de nós mesmos.
O Nazareno avisou: “quem quiser ganhar a vida vai perdê-la e quem ousar perder a sua vida vai ganhá-la”. O Espírito enche, mas precisa encontrar vasos vazios. Não seria esse, precisamente esse, o segredo de construir-se humano?
Soli Deo Gloria
Fonte: Ricardo Gondim