Quando vimos e ouvimos os actuais responsáveis da União Europeia falar na televisão, ou quando lemos o que dizem na imprensa, ficamos convencidos de que vivemos um momento histórico único na europa. E esse momento histórico é desde logo marcado por ninguém saber do que fala quando fala de União Europeia, duas palavras desunidas que não passam neste tempo presente de uma metáfora da União sonhada nos anos cinquenta e sessenta.
Vem um responsável e diz que Portugal não é a Grécia, que são países muito diferentes e com realidades diversas. A novidade sobre isso é zero; já o sabemos desde que nascemos. Depois outros responsáveis da dita União vão a Espanha ou à Irlanda ou a Itália ou até à Grécia e dizem-lhes exactamente o mesmo, que Itália não é Portugal, que Espanha não é Itália que Portugal não é Espanha, blá, blá, blá, blá, lá, lá...
Ora o povo simples e humilde que vive em cada um dos países desta europa, que nos querem "vender" como União, pergunta-se todos os dias o que é que significa este discurso. Supostamente, os líderes europeus deviam andar a pregar a "unidade" da europa e não o contrário. Todos nós sabemos que cada país europeu, para o mal e para o bem, é uma realidade distinta, com fronteiras marcadas a nível cultural, social, económico, político, etc . Mas também pensávamos que o papel dos responsáveis da União Europeia seria pegar nesta manta de retalhos a que se chama europa e tentar que as diferenças políticas e sociais fossem amenizadas no sentido de que se conseguisse falar efectivamente de União Europeia e que isso tivesse algum impacto, em primeiro lugar dentro de portas, e depois nas outras regiões do mundo, permitindo que quando daí se olha para a europa pudessem fazê-lo com alguma consideração e respeito. O que se passa é precisamente o contrário: na China ou nos Estados Unidos, eu imagino que quando se fala nos corredores do poder, os políticos chineses ou americanos desatem a rir perdidamente e felizes da vida por haver uma europa que não se entende, facto que lhes é manifestamente favorável do ponto de vista económico e social.
Em lugar de trabalharem para o entendimento, solidariedade e unidade dos europeus, os actuais líderes da União Europeia, procuram sublinhar as diferenças de cada um, dividindo o que ainda resta. Ora isto contraria o espírito e objectivo com que a União Europeia foi criada e está a minar, todos os dias, os ténues laços que até há poucos anos ainda podiam fazer pensar numa europa, respeitadora sim das culturas e idiossincrassias próprias de cada povo mas que pudesse apresentar-se ao mundo unida e com uma voz forte no concerto das nações. Assim, não vale a pena nenhuma união, pois a que temos só serve para afundar os países com mais dificuldades em se afirmarem neste mundo global em que vivemos. A solidariedade desta União Europeia é feita do mais reles "cimento" que a história conheceu: o dinheiro, que foi eleito o rei da turba no domínio dos ricos pelos pobres.
Portugal, Grécia, Espanha, Itália, Irlanda, e outros que se seguirão, estão na arena deste coliseu europeu a enfrentar feras capitalistas sem rosto nem alma. Cada um destes países quer mostrar que é melhor que o vizinho do lado e defender-se à sua maneira. Ninguém confia em ninguém e toda a gente se defende como pode. Enquanto as feras atacarem o parceiro, "está-se bem". No meio da turba, que assiste ao combate feroz, sentam-se Alemanha, França, Inglaterra e outros que compraram os melhores camarotes com uma vista soberba para a destruição a que vão assistir. O sangue dos povos já jorra na arena, mancha-a de vermelho. Nas bancadas goza-se o espectáculo, o dinheiro corre de mão em mão; fazem-se apostas sobre quem vencerá ou sobre quem resistirá mais tempo. O festim promete e é acicatado "solidariamente" por quem organizou as festas. No final as feras capitalistas irão reclamar novas vítimas na arena.
Jacinto Lourenço