Conta-nos Heródoto de Halicarnasso a história da batalha de Termópilas na qual 300 guerreiros hoplitas terão resistido a Xerxes e aos muitos milhares de guerreiros persas que invadiam o território grego. Na verdade nem a Grécia existia como estado unificado, tal qual o conhecemos hoje, nem os guerreiros que ofereceram resistência ao imenso exército de Xerxes eram apenas 300. Leónidas, rei de Esparta conseguiu reunir um pequeno exército de alguns poucos milhares de homens, contando para isso com o apoio dum número considerável de cidades-estado gregas, na maioria dos casos pouco treinados e menos preparados ainda para a guerra que tinham que travar. Os 300 hoplitas espartanos, seriam mais do que isso, mas mesmo assim nem por sombras se aproximavam da força esmagadora dos persas.
A técnica militar grega e a estratégia guerreira de Leónidas conseguiram inflingir pesadas baixas a Xerxes levando-o a recuar diversas vezes na frente de batalha perante os entrincheirados espartanos que se acoitavam num praticamente inexpugnável desfiladeiro. Leónidas e os bravos gregos acabariam por sucumbir após a penetração dos exércitos de Xerxes depois de este ter recebido informação de traidores gregos sobre como penetrar na fortaleza natural do pequeno exército grego.
Parece uma história simples, mas traduz muito sobre a capacidade de resistância dos povos gregos à adversidade. Já o império romano do ocidente tinha sido desmantelado há muito e ainda os gregos faziam parte do império romano do oriente. Durante séculos resistiram também à força do islão mantendo-se fiéis à sua fé cristã.
Hoje, para os gregos, o perigo não vem do oriente mas do ocidente; já não são ameaçados por exércitos armados e numerosos. O perigo para os gregos, tal como para todos os europeus, em especial para as nações mais fragilizadas economicamente, reside num capitalismo selvagem e obsessivo que domina o mundo actual através do garrote financeiro e que não tem rosto nem alma e que não quer saber de democracia para nada nem de voto dos cidadãos para coisa nenhuma. Mesmo assim parece que os gregos se mantém fiéis à sua velha história de resistir contra as adversidades especialmente as que ameaçam destrui-los.
Não sei bem, e saberão muito poucos por agora, quais as verdadeiras intenções de Papandreou para, de repente, remeter todas as decisões para um referendo popular ao novo plano de austeridade para a Grécia. Mas sei que o capitalismo e os seus arautos não gostaram nada de ouvir que as decisões na Grécia deixariam de ser tomadas pelo circulo restrito do conselho de ministros para passarem para a esfera de decisão do voto popular. É claro que os obscuros capitalistas que dominam o mundo não gostam nada de votos populares. Preferem este fingimento de "democracia" em que o "voto" é planeado e direccionado na defesa dos seus particulares interesses mesmo que isso represente a falência e miséria dos povos.
Os gregos e os europeus em geral estão hoje confrontados por uma nova e moderna batalha de "Termópilas". Os hoplitas são poucos e muita gente, a esmagadora maioria dos europeus, nem consegue perceber o que se passa à sua volta. Mas sabemos que se os "traidores" não forem denunciados, a Grécia e a europa, país a país, irão desmantelar-se e retroceder civilizacionalmente uma boas décadas.
Jacinto Lourenço