quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Já Vimos este Filme...


Se não me falha a memória, passaram já 22 anos sobre a queda do muro de Berlim. Na altura, pensávamos nós, iria abrir-se um novo tempo para a europa, um tempo de liberdade, de novas dinâmicas sociais e económicas, de um novo paradigma para este velho continente. A esta distância temporal, era impossível adivinhar onde chegaríamos passadas pouco mais de duas décadas.

A UE está em frangalhos. A Comissão Europeia não manda nada. Os orgãos que a deviam dirigir, entregaram de bandeja o poder legitimado por milhões de europeus de diferentes nações a um dito directório franco-alemão que não tem legitimidade democrática nenhuma e  que ainda por cima só tem olhos para o seu próprio umbigo sendo em função disso que nos vai impondo decisões a esmo. Os tratados que deviam regular a vida e as decisões da UE são actualmente um anátema para este novo eixo que nos dirige. E o mais interessante é ver que todos os restantes países que compõem a UE e a Zona Euro sucumbiram por esmagamento às ordem franco-alemãs como se a europa fosse apenas a França e a Alemanha. Confesso que, para além de França, Alemanha, Itália, Grécia, Portugal e Irlanda é já difícil perceber se esta União Europeia é composta por mais alguns países já que,  quando se fala de UE,  é destes países que se fala.  Se imaginarmos a visita de um extra-terrestre ( se é que eles existem...) a este planeta, a imagem que reteria é  que há dois países de média dimensão, que são medianamente ricos, que mandam na europa e que esta europa em que eles mandam é composta por outros três ou quatro países, medianamente pobres, que não contam para nada para além de existirem para obedecerem  às estratégias de quem manda.

Os países que integram a União Europeia limitam-se hoje a pairar numa zona de influência e determinação de dois países que não têm legitimação para impor seja o que for a alguém, a não ser, claro, aos seus próprios governados. A isto, chama-se ditadura, seja qual for a aparência que tenha.

A europa e os europeus, são povos com uma história alargada de sobrevivência e determinados em defenderem a sua cultura, a sua história e a sua independência. Uma União Europeia que se submete a um eixo franco-alemão debaixo de um poder que subverte os próprios tratados comunitários, está condenada a desaparecer com mais ou menos dor para as nações europeias. Já vimos este filme quando Hitler e a Alemanha foram  invadindo e anexando territórios e nações à sua volta, debaixo do mesmo manto de cumplicidade e  silêncio inglês. Os ingleses, antes de 1939, imaginavam, como agora, que conseguiriam passar pelos "intervalos da chuva". Não conseguiram... A europa calou-se, como se cala agora, enquanto Hitler ia subvertendo o direito das nações existirem. A França claudicou e submeteu-se, como agora, aos interesses alemães, tornou-se, como agora, colaboracionista. Sarkozi não deslustra Pétain, passe o exagero.

As nações europeias estão a cair, uma a uma, aos interesses franco-alemães. Franceses e alemães acham que têm que ir mais longe, que o melhor é erguer um novo muro à volta de Paris, Berlim e mais algumas capitais europeias a norte. E nós os do Sul e outros periféricos que vamos à nossa vida. Por mim tudo bem, até porque se me é difícil confiar nos políticos e nas políticas do meu país, mais difícil me é confiar em quem já lançou a europa para duas guerras sangrentas. E que não se considere esta minha opinião como xenófoba ou primária. Xenofobia existe nas posições de alemães e franceses. Eu, por mim, gostava de continuar a partilhar, com todos os povos, incluidos alemães e franceses,  este espaço comum a  que chamam europa e que tem, ou  teve,  na sua génese, uma matriz cristã, mesmo que isso não pareça significar nada na actualidade. Não me pareçe que seja uma tarefa fácil, pelo menos enquanto os europeus se deixarem vergar às ordens franco-alemãs e mantiverem esta posição de tentar "passar pelos intervalos da chuva" 


Jacinto Lourenço