...As transições que ultimamente protagonizámos ( do Estado Novo para a democracia liberal, desta para a massificação globalizadora ) crispou em nós tipos de violência descontínua. Não conseguiremos fazer nada como povo se continuarmos , por um lado, a pregar a paz, a esperança, o bem-estar, a confraternização e, por outro, a inflamar a contradição das injustiças que provoca uma clivagem esfacelante entre o que as pessoas sonham e o que a realidade lhes impõe.
Muitas vezes aqueles que matam são apenas a engrenagem última de uma cadeia difusa, que a todos cumplicia. A violência desgraçada dos desgraçados é, com frequência, antecedida da violência branca e fria, e legal dos intocáveis.
Somos por temperamento, avessos à revolta, à agitação, sublinhava Fernando Pessoa. Quando fazemos uma revolução é para implantar uma coisa igual ao que já estava. Não se conhece noutro povo tamanho apelo à desistência, à imolação.[...]
Fernando Dacosta em Nascido no Estado Novo - Notícias Editorial, pág. 337