quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Muda a Economia ou a Democracia ?



 
 "Se a Europa não muda, terá de haver uma revolução" - Mário Soares

"Ou muda a economia ou muda a democracia" - Freitas do Amaral



Curioso que a presente crise, que eu já não sei do que é pois começou como sub-prime e já vai no euro e mais além, tenha ,em declarações feitas no mesmo sentido, unido figuras políticas de esquerda e de direita. No caso,  Mário Soares e Freitas do Amaral. Bem sei que são figuras do passado algo distante e que já não têm quaisquer hipóteses de alterar, só com a sua opinião, o rumo das coisas na europa, mas também sei que quando pessoas de esquerda e de direita congregam opiniões relativamente a um tema  então será melhor estar atento às razões para tal. Os dois concordam que aquilo a que a europa está sujeita neste momento é a uma ditadura da Alemanha e complementarmente da França. Ambos acham que isto só já lá vai com uma ruptura, que não tem que ser necessariamente violenta, de paradigma. Os povos e dirigentes europeus que não se revêm já nesta europa  começam a agitar-se e a movimentar-se no mesmo sentido das declarações de Soares e Freitas. Ex-responsáveis do FMI vêm a terreiro dizer que o euro vai rebentar dentro de poucas semanas se não forem tomadas medidas sérias, urgentes  e concretas, e o leque das medidas que podem ser tomadas já está muito queimado pelo tempo que passou entretanto.

Há um novo imperialismo, não declarado nem assumido oficialmente, no ar. Alemanha e França são dois dos países com maior poder e dimensão em toda a europa, quer económico, quer geográfico. Ambos tiveram no passado recente sonhos imperiais que foram derrotados. Não sei se ainda aspiram a isso, mas aquilo que me parece é que, seja por inércia ou por existência de agendas não reveladas dos outros países europeus, Alemanha e França exercem actualmente um efectivo poder imperial que dita o que os outros países europeus têm e não têm que fazer. E isto não é aceitável nos tempos que vivemos. Não se pode permitir que países e nações soberanas sejam governados por ditames de um imperialismo económico que derruba governos e coloca outros, mais ao seu jeito, no seu lugar. Democracia rima com soberania.  

Eu estou até em posição de aceitar, em certa medida e grau, um federalismo europeu, mas quero ser eu a votar em quem comande essa federação europeia. Imposta anti-democraticamente não será aceite pela esmagadora maioria dos povos europeus, especialmente vindo de onde vem. 

Presumo que há já muito pouca gente que acredite nesta União Europeia, com esta configuração e naquilo em que se tem transformado, pelo menos eu não acredito. Mas é incontestável que a União Europeia foi a única "invenção" dos europeus que conseguiu manter este continente mais ou menos sem guerras ( descontada a da ex-jugoslávia )  nos últimos 50 anos. Basta olharmos para antes do tratado de Roma em 1957. Contudo Konrad Adenauer, Robert Schuman e Jean Monnet não validariam  certamente aquilo em que se transformou o seu sonho de  europa , que mais parece agora um pesadelo.

Não sei qual será o futuro, não sou adivinho nem acredito neles. Mas sei que esta europa não serve para os europeus, salvo se não se importarem de sustentar este neo-imperialismo que nos governa a partir de Berlim e que vai delegando pequenos poderes nos governos nacionais que cumprem sem questionar as suas ordens.

Lembrei-me de Mateus 24 e das palavras de Jesus: Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino.


Jacinto Lourenço