sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A Europa e o Buraco Negro...


Para a física moderna, em especial a cosmologia, a "singularidade" representa um dos mais intrigantes desafios aos limites do conhecimento humano do mundo material. Trata-se de um acontecimento do espaço-tempo em que a intensificação infinita da densidade, da temperatura e da pressão provoca como que uma suspensão das leis normais da matéria. O exemplo mais comum de singularidade é o dos buracos negros. O que ocorre dentro deles é, para nós, terra incógnita. Infelizmente, também na vida dos povos se registam singularidades. Raras, mas efectivas. Quem poderia prever que a progressiva e próspera Europa de Julho de 1914 iria desaguar no mar de barbárie e selvajaria da I Guerra Mundial, apenas um mês depois? Quem poderia imaginar que a queda da bolsa de Nova Iorque, em 1929, levaria, em virtude de uma série de opções políticas erradas, a 16 anos de pobreza e austeridade, ao triunfo de Hitler, ao segundo conflito mundial, e ao holocausto? Se a Zona Euro entrar em colapso viveremos a maior singularidade da história europeia, com repercussões mundiais. Não é difícil antecipar como começará (credit crunch, incumprimento de um ou vários países, uma combinação de ambos?), mas ninguém sabe como acabará. Uma vez aberta a caixa de Pandora, tudo é possível. O colapso do mercado interno, a rápida escassez de produtos básicos, querelas violentas sobre o futuro das dívidas, o penoso regresso a moedas nacionais, o império do proteccionismo, o eclipse da liberdade de circulação com o retorno das fronteiras, a inevitável derrota de Obama, fazendo a América cair nas mãos de alguém que pense ser a política um tipo de "reality show". Cara senhora Merkel: é para esse buraco negro que nos quer levar? Por favor, vá sozinha.


Por Viriato Soromenho Marques in Diário de Notícias online