quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Os Objectivos da nossa Fé num Mundo em Crise



Vivemos tempos de desafio para toda a gente mas em particular para os cristãos. O momento, para estes, não é de continuar a proclamar apenas um "evangelho de púlpito" ou mesmo propagandístico no sentido do proselitismo. As igrejas, os cristãos, os responsáveis não podem continuar de costas voltadas para as comunidades que os cercam ao mesmo tempo que vão brincando à "caridadezinha". Estar centrado sobre o seu próprio umbigo, numa mera atitude narcísica, é quase um "crime" face às necessidades e problemas sociais que  começam a levantar-se com grande violência mercê da própria crise mas também das  medidas governativas que se focam essencialmente sobre os mais castigados e frágeis.                               

Bem sei que podemos pegar em alguns versículos bíblicos e descontextualizá-los no sentido de justificar a falta de visão cristã para com os que nos cercam e que precisam de ajuda. Mas não é possível continuar a ilusão;  inaugurar gabinetes ditos de apoio social,  e meter lá pessoas a ouvir os pobres,  até pode encher o ego de muitos dirigentes e igrejas mas não passa de auto-justicação para o absentismo continuado, durante décadas, na opção por acções e atitudes credíveis e honestas. Para além do mais, os gabinetes, se dão algum conforto, é a quem lá está instalado comodamente no ar condicionado ou aquecimento; não resolvem problema nenhum.
                                                                                                                         
Durante muitos e muitos anos, os cristãos evangélicos estiveram apenas centrados em si próprios e a tentar obter alguma atenção da  sociedade envolvente no sentido de fazerem  passar a mensagem de que também são uma força viva dessa sociedade, mas na verdade isso não teve quaisquer resultados práticos  para além de acariciar o amor-próprio de alguns responsáveis que sobem aos palanques. Mais do que agitar bandeiras, importa agir. É quando agimos em Cristo e por Cristo que mostramos a dimensão e relevância  da nossa fé que se traduz no alcance e sublimação do sofrimento do nosso próximo, é isso que dá lastro às nossas acções, à nossa vida, à nossa missão. O mérito da igreja e dos cristãos está no serviço, não no ganhar  medalhas ou diplomas de reconhecimento, numa parte significativa das vezes completamente imerecido.  Um dos mais importantes papéis da igreja,  hoje, está em alcançar os que sofrem, não apenas na sua dimensão espiritual mas também, cada vez mais, na sua dimensão humana. Significativo não é dizer a um esfomeado que Cristo salva se, naquele momento, ele apenas está focado no facto de não ter nada para comer ou sequer onde dormir na noite fria que se aproxima.

Os cristãos, e em particular os evangélicos, deverão reconfigurar as suas preocupações e prioridades. Talvez menos exercício de auto-contemplação pela beleza das suas posições doutrinárias e mais olhar para os que sofrem. É inacreditável e inaceitável que, por exemplo, existam igrejas ditas cristãs evangélicas, que até há poucos anos nem sequer eram conhecidas, literalmente,  nas comunidades envolventes, pese embora décadas de presença, e mesmo assim continuem agora apenas preocupadas com o impacto sociológico  da sua imagem institucional. Não fazem falta igrejas destas, não passam de associações ou agrupamentos de cidadãos, pouco esclarecidos, aliás,  sobre os objectivos da fé que, dizem, os inspira, e menos ainda sobre as responsabilidades que um cristão, um homem ou mulher de Deus, carrega sobre os seus ombros. Associações destas já há muitas e não é por serem apenas religiosas ou com logotipo de igreja que devem ser preservadas. Confesso que ainda hoje me interrogo sobre as motivações de quem as defende e frequenta, ou melhor,  que tipo de "cristianismo" as move. O Amor de Deus   não busca apenas o que  é propriamente seu ou, como dizia Paulo:  Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine.


Jacinto Lourenço