terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A Vida Aprende-se à Bruta, em Portugal....


Hoje o sol acordou, tardio e preguiçoso como em todos os invernos. Iluminou o dia e espantou o frio que as madrugadas acoitam. O rádio dava as notícias duma europa letárgica e de um país que não encontra o caminho. Pensei na minha infância a caminhar para a escola primária, com a mala às costas para aprender o futuro numa sala fria, hostil em todos os invernos, pensei na professora Helena, todos os dias má e selectiva nos alunos. Havia os de "primeira" e os de "segunda", mesmo se isso não tinha nada a ver com a classe frequentada. Os de "primeira", normalmente de famílias mais facilitadas de vida,  eram poupados à pancada e sempre elogiados; ocupavam as primeiras filas. Os outros, os de "segunda", nas últimas filas e sempre candidatos à ponteirada e reguada, sempre na posição da frente, mas apenas para  o castigo, houvesse ou não motivo. O recreio era a libertação, tal como as segundas-feiras, quando a camioneta das onze, que vinha de Montemor e trazia a dona Helena,   nos davam sempre três horas de folga. 

Hoje de manhã, quando Deus, nos visitou no sol,  lembrei-me que Ele nasceu para todos e aquece todos por igual,  mas lembrei-me também que a vida no meio dos homens é normalmente aprendida à bruta. A rudeza dos dias castiga sempre os mais frágeis, os que pouco ou nada têm. Os governos,  normalmente,  fazem o papel da dona Helena, são selectivos e açoitam quem tem pouco para lhes dar. Distribuem castigos e ponteiradas aos que ficam nas últimas filas. Em Portugal, as coisas dificilmente vão mudar para quem está nas últimas filas... Restam-nos os pequenos recreios da história, quando ela se lembra de nós.


Jacinto Lourenço