( Elsa Fornero )
Em Itália a ministra do trabalho foi à televisão explicar, em conferência de imprensa, os cortes que o actual governo teria que efectuar para tentar recolocar as contas do país em ordem. Também ali, perecebemos que quem vai pagar a crise não é quem a criou. A diferença para os nossos políticos, é que esta senhora não resistiu ao dramatismo do que anunciava e não conseguiu terminar o que tinha começado a dizer. Ela sentiu o peso do que estava para anunciar e eu senti que aquela mulher não era apenas mais uma política fria e seca mas antes alguém que percebia a verdadeira dimensão do que estava a fazer. Não era obrigatório que chorasse, mas ela chorou e não me parece que tenha saido dali diminuida por esse facto. Penso que os italianos terão percebido, na comoção da ministra, o que os espera, mas terão entendido também que ainda há políticos que sentem na pele os problemas do povo e que não estão ali só para cumprir um programa imposto por Berlim.
O primeiro ministro italiano anunciou igualmente que prescindia do salário correspondente ao cargo bem como ao de ministro das finanças que acumula. Esse facto, num país e numa economia como a italiana, não tem nenhuma expressão nem impacto mas transmite aos seus concidadãos a noção fundamental da pedagogia do exemplo do "capo" do governo. Enquanto isso, por cá, João Jardim passeia-se para Bruxelas em executiva, Mota Soares arruma a lambreta e passa para uma viatura topo de gama, políticos reformados recebem altas mais-valias por meia dúzia de anos ao serviço do estado e acham isso normal chamando-lhe até "direitos adquiridos" ( que só eles têm, claro...) , alguns ministros e secretários de estado prescidem de bons subsídios de alojamento mas só quando a marosca da casa própria em Lisboa ou arredores salta para os jornais...
Eu fiquei a gostar da ministra italiana. As suas lágrimas não me pareceram de fingimento mas de solidariedade e isso deixou seguramente os italianos, senão mais alegres, pelo menos mais consolados. Ninguém pede aos políticos portugueses que chorem cada vez que vêm à televisão exigir sacrifícios, mas pelo menos não nos ofendam com o vosso comportamento na forma como esbanjam o dinheiro que nos sacam. É que um dia o povo pode fartar-se de ser "saco de murros".
Jacinto Lourenço