Quando eu já imaginava que mais nada que os políticos em Portugal pudessem fazer teria capacidade para me surpreender eis que o primeiro ministro de Portugal decide contrariar essa minha quase certeza. Passos Coelho deixa no ar a insinuação, muito pouco subliminar, que os portugueses mais credenciados academicamente, em particular os professores, deveriam ponderar a ideia de emigrar para outras latidudes longe do território português. Ora eu, que até já vivi uns anitos, nomeadamente alguns dos mais importantes da minha vida sob o antigo regime ditatorial do estado novo, não me lembro de alguma vez ter ouvido, da parte de nenhum primeiro ministro em exercício no país, uma proposta tão rasteira e tão pouco patriótica como esta. Inédita, deplorável, vergonhosa e indigna é o mínimo que se pode dizer da atitude de Passos Coelho de quem se esperava uma palavra de incentivo aos portugueses, de esperança, um sinal de que Portugal estará eventualmente a tentar melhorar para poder vir a criar novos empregos por forma a que os actuais desempregados não sejam esmagadoramente obrigados a emigrar, como acontece. Derrotista e alarmante esta atitude de um governante a querer dar um pontapé no traseiro aos portugueses que estão na difícil situação de não encontrar trabalho no seu país. Nem Salazar ou Marcelo Caetano, chefes da ditadura de antes do 25 de Abril, assumiram semelhante atitude, mesmo sabendo que, já nessa altura, como agora, os portugueses tinham que partir para granjear o seu pão longe da sua família, da sua terra, da sua pátria.
Uma vergonha, um político e governante a querer livrar-se dos problemas em lugar de os querer solucionar. Pelos vistos, para Passos Coelho, os portugueses representam um problema que ele quer ver bem longe, fora daqui, de preferência.
Jacinto Lourenço