quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Há Justiça nesta Greve ?


Quero desde já fazer aqui uma declaração de intenções ( parece que  agora  está na moda fazê-lo...): não me reconheço nem me interpreto especialmente em nenhuma linha político-partidária do actual espectro  português, mas isso não significa que seja apolítico ou mesmo  não seja capaz de analisar a situação que está criada em Portugal, em particular para a classe média e para as classes mais desfavorecidas da população.

Hoje dei uma volta pelo FB e,  ao fazê-lo,  encontrei  expostas algumas ideias "peregrinas" de  amigos virtuais que se pronunciaram contra a Greve Geral: uns porque é uma "greve política", outros porque é uma greve "anti-democrática", etc, etc. Talvez fosse bom lembrar que muita da legislação que está hoje inscrita no código de trabalho, traduzida em  direitos  inalienáveis dos trabalhadores,  só existe porque tais direitos foram conseguidos após muita luta e algumas greves dos trabalhadores em geral e, o mais interessante, é que aqueles que se pronunciam contra esta Greve Geral são usufrutários desses direitos conseguidos por trabalhadores que anteriormente se expuseram,  por vezes com risco até da própria vida ou mesmo perdendo-a sob as balas disparadas por regimes totalitários como o que vigorou em Portugal até ao 25 de Abril.. Só para lembrar os mais esquecidos que pouquíssimos  anos antes de Abril de 1974, ainda vigorava no país o regime horário de trabalho de sol a sol,  sendo   a luta dos trabalhadores, especialmente os rurais, que conseguiu impor a jornada de trabalho de oito horas diárias. Ouve repressão dura, ouve tortura, houve mortes até. Admito que   muitos dos que se afirmam hoje contra esta greve tenham a memória curta ou não conheçam nada da história recente do seu país ou então que tenham vivido à sombra do conforto de benesses vedadas à população em geral e às classes trabalhadoras em particular...

A greve de hoje colhe o apoio de duas centrais sindicais que reunem à sua volta muitos sindicatos controlados por diferentes tendências políticas e nomeadamente  das cores partidárias que estão no governo e que são maioria na Assembleia da República. Não colhe, por isso,  o argumento de que esta greve é política. 

Das muitas greves que já se fizeram em Portugal, talvez nenhuma como esta seja tão justa e óbvia, particularmente quando se constata que todas as medidas governamentais têm como único objectivo empobrecer mais aqueles que ou já eram pobres ou  já viviam com um orçamento demasiado apertado para fazer face à sua vida.  Declaradamente o programa do governo só tem um ponto: empobrecimento. Não se vislumbra nenhuma ideia que devolva aos portugueses, pelo menos, alguma esperança de que no final deste ciclo infernal o país possa encontrar uma linha de rumo que o leve para o crescimento e desenvolvimento mais sustentados.

Nunca  como até agora se ouviu um coro de vozes, provenientes de todas as áreas políticas e sociais, nomeadamente da área das cores do governo e mesmo da igreja católica, chamar a atenção  para o facto de que este não é o caminho, ou melhor, este é o caminho do abismo.

Os portugueses estão a ser esmagados por políticas altamente injustas que só apontam numa direcção: a classe média e os mais pobres. É por isso que esta greve se afigura aos olhos de quem tem um mínimo de capacidade de observação como justíssima.

Sou cristão e, como cristão, procuro observar a vida e o que a rodeia com olhos de quem sabe observar e destrinçar o que é e o que não é justo. Como cristão foi assim que aprendi e é assim que me tenho conduzido. E, por isso,  também não me posso limitar  a ser um observador apático das condições de vida dos meus irmãos e dos meus concidadãos que sofrem os desmandos deste capitalismo selvagem que nos devora e que escolhe os "seus" governantes ditando-lhes as ordens que estes cumprem  escrupulosamente ignorando o mais importante: o seu povo, a sua nação, o seu país.


Jacinto Lourenço